segunda-feira, 11 de maio de 2015

Automatismos



Um destes dias necessitei de tomar uma refeição fora de casa. Infelizmente, a isso sou obrigado com frequência.
Desta feita, e sendo o tempo um factor decisivo, optei por uma loja fast-food num centro comercial. Não ia eu na mira de uma refeição, com o prazer da comida incluído. O meu objectivo era mesmo e só a questão do combustível energético que me mantivesse activo até à refeição seguinte.
Nos centros comerciais há muito disso por onde escolher, de acordo com gostos e preferências. No caso e local específico escolhi um que, não sendo um local de gastronomia requintada, consegue ser um degrauzito acima de muitos outros.
E, como se isso não bastasse, tem um atractivo comercial interessante:
A cada refeição fornecem (ou forneciam) um carimbo num cartão-cliente. A décima refeição é oferta. Simpático e já tenho aproveitado a coisa.
Acontece que, com a modernidade e com o intuito de atrair mais clientes, substituíram o cartão por um sistema electrónico.
Uma “APP”. Em tempos chamavam-lhe programa, depois executável, abreviaram a coisa e passou a exe. Agora é aplicação. Que, neste caso, é grátis.
Basta descarregar da “loja” e na loja, apontar o tetelé ao sensor. Tudo rápido. E o ambiente agradece, sem papeis ou tintas. E o comerciante agradece, que se gasta menos tempo. E o cliente fica convencido que está na linha da frente. E está!
Algures no folheto (hoje chamam-lhe flyer), onde as vantagens do sistema são descritas, contam-nos:
“Facturas preenchidas automaticamente com o número de contribuinte que inseriu quando o seu registo. Uma chatice a menos.”
Fixe! Baril! Do best!
Agora, a pretexto de ofertas e promoções, ficam com o registo do cliente e transformam-se automaticamente em bufos do regime. A denúncia passa a inconsciente, como se fosse o mais natural deste e de todos os mundos o andar cada um a fazer de polícia de costumes e economia de cada um e de todos os cidadãos.
Eu não o faço!
Em tempos andei a fugir de bufos, denunciantes e agentes de uma polícia que tudo inspeccionava em busca dos dissidentes da normalidade e do regime.
Não será agora, depois de já velho, que irei colaborar. Não enquanto vivo!
Claro que a alternativa seria fornecer dados falsos aquando do registo. Também esse expediente me é interdito!
A minha consciência proíbe-me de andar a mentir, mesmo que em casos destes.

Passei eu a perder uma refeição grátis a cada dez que ali consumisse. Mas como passei, desde esse dia, a evitar o local…


By me

1 comentário:

Anónimo disse...

A chatice é que agora a "bufaria" passou a ser legal e obrigatória.

Sim, obrigatória!
Os documentos tem de ter nif e serem valiados no "portal da bufaria financas" para serem aceites na declaração do irs de 2015.

Ou és bufo ou pagas

"E esta heim...???"