quarta-feira, 25 de setembro de 2019

E depois da ribalta?




A grande vantagem das crianças é a sua vida ser em alto contraste.
Não há cinzentos, meios-tons, desculpas ou justificações: as coisas são ou não são, gosta-se ou não, o tempo é o agora.
É o crescer, sob a influência dos adultos, que os torna em gestores de argumentos, hipócritas, peritos em jogos de cintura.
É assim que não me espanta ver uma adolescente a bater-se por algo em que acredita. A bater-se mesmo. Tal como não me espanta que, face à qualidade e veemência da sua argumentação, tenha sido levada para a ribalta. Ao fim e ao cabo, “a verdade está na boca das crianças”, diz o povo.
E, convenhamos, ver uma adolescente a dizer verdades incómodas na cara dos grandes do globo tem impacto. Tem impacto nas consciências, tem impacto nos media, “descobre carecas” e leva muitos a perguntar sobre as razões de não se levar esta jovem a sério.
Claro que os tubarões sabem que, como com qualquer outro produto muito publicitado, também esta jovem cansará em breve a opinião pública. Outros temas se levantarão, a sua cara esgotará a novidade e ela deixará de aparecer nas televisões. Tal como os artistas pop ou os prémios dos Óscares.
A questão está em saber se o mediatismo de hoje e o esquecimento de amanhã ficará alguma consequência global. Se faremos alguma coisa com as suas acusações e “ingenuidade política”.
Por que ela, amanhã, será apenas uma ex-adolescente que protagonizou uma causa justa e premente, mas que terá uma vida apagada, cercada dos problemas óbvios de quem teve excesso de mediatismo mas que regressou ao cinzentismo dos bastidores e da vida adulta.



By me

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Hoje




Para os mais esquecidos, aqui fica um lembrete: Hoje acontece o equinócio do Outono.
Pouco importante, dirão muitos. Ah, já nem me lembrava disso, dirão outros. Isso é o quê, perguntarão tantos.
Na verdade, trata-se do posicionamento do planeta em torno do sol, no seu movimento elíptico, e da orientação do seu eixo de rotação.
Nada que não aconteça uma vez por ano.
E convencionámos chamar a este dia equinócio porque hoje são tantas as horas em que o sol é visível quantas as em que está oculto. E do Outono porque convencionámos que os próximos três meses se chamarão “Outono”.
Pouco importante, excepto no que isso altera as nossas vidas. Para além da redução das horas de sol e no que isso provoca nos nossos humores, os casaquinhos de malha saem dos armários, a vontade de regressar a casa mais cedo manifesta-se, começamos a pensar em ir comprar lenha, os “putos” regressam a casa molhados… Outono!
Para os fotógrafos começa uma época especial, se bem que todas sejam especiais: O pôr e o nascer do sol acontecem cada vez mais a sul, alterando a orientação das sombras; o céu que começa a ficar mais encoberto também altera a características da luz que usamos; as cores mudam, dos amarelos secos para os acastanhados das folhas, nas árvores e no chão, os óculos escuros vão ficando em casa, deixando ver os semblantes de quem passa; bosques e florestas ficam menos densas, com outras luzes; …
Há toda uma panóplia de condicionantes para os fotógrafos nesta época que agora começa.
Claro que a celebração do equinócio pelos nossos antepassados em nada se prendia com fotografia.
Mas para celebrar os fenómenos naturais, que a natureza é bem mais forte e duradoira que nós, frágeis e efémeros, não necessitamos de condicionantes culturais.
Os equinócios acontecem pela graça de deus, de buda, zeus ou iemanjá. Ou muito para além deles.
E nós, que em nada os podemos alterar, o mais que podemos fazer é aproveita-los. Observando-os ou fotografando-os.



By me

domingo, 22 de setembro de 2019

Conformismos




Grave, mas grave mesmo, é quando se ouve alguém dizer:
“Eh pah, que queres que eu faça? Ele é o chefe, ninguém lhe toca!”
Mas se isto vai sendo comum, o conformar perante os “grandes”, considerando que são intocáveis, é muito pior quando quem se conforma ainda está na casa dos vintes. Naquela idade em que a revolta e contestação ainda deveriam fazer parte da sua forma de estar.
Que é da revolta e contestação juvenil ou pós juvenil que as mudanças acontecem, que as revoluções se fazem, que os títeres caiem.
Ver os mais novos conformados perante o poder, quase nem protestar entre-dentes, deixa-me assustado perante o futuro que antevejo.
Convém que nunca nos esqueçamos que os grandes só são grandes porque estamos de joelhos.

Nota do autor: A ética impede-me de aqui contar com exactidão o que provocou este desabafo.
Mas não me impedirá de agir em conformidade, demonstrando que os tais grandes só o serão se o forem de dentro para fora e nunca o inverso. E que, apesar das primaveras que já cá cantam, ainda tenho uns resquícios de juventude.
E mau feitio!



By me

sábado, 21 de setembro de 2019

Esquemas




É sabido que o transporte em táxi é polémico. Tem sido e, pelo andar da carruagem, vai continuar a ser.
Foi a questão dos “uber”, é a questão dos táxis do aeroporto e as taxas que querem criar só por ali estarem à espera de cliente, são os esquemas pouco honestos com que os incautos são ludibriados por alguns taxistas… são muitas as confusões que abrangem a actividade.
Mas algumas são perfeitamente legais. E ontem levei com mais um “barrete”, este pela última vez.
Fora do concelho de Lisboa existem os táxis descaracterizados. Sem cor padrão, sem lanterna no tejadilho, passam discretos onde quer que sejam. Mas possuem taxímetro, cobrando pelo trajecto percorrido. No entanto cobram mais, sempre afinados pela tarifa nocturna ou de fim de semana.
Como passam discretos, não são mandados parar no trânsito. Como são discretos e diferentes, mesmo que estejam na praça de táxis, só se embarca se se quiser, pese embora não possuírem nenhum aviso de cobrarem mais caro em condições normais.
Mas o pior não passa por aí.
Chamado um táxi por telefone, foi-me enviado um carro destes. Sem aviso no telefonema, sem aviso no embarque. Não soubesse eu da “marosca” e teria pago mais quase 20% sem saber que estava a ser “roubado”. Sem saber que poderia ter o mesmo serviço bem mais barato.
Indo mais longe: liguei para a respectiva central de táxis e reclamei. A resposta foi fantástica: “Para a próxima vez especifique que não quer uma viatura não caracterizada.”
Por outras palavras: existem táxis mais caros sem aviso e forçam os clientes a usa-los.

Imagem roubada da net
By me

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Fotografia e tempo (ou não)




Nota prévia: sei que para alguns o conjunto de pensamentos abaixo expresso será um “chover no molhado”. “Lá está ele outra vez com isso!” dirão alguns.
Mas ser honesto naquilo que se diz e relembrar o que vai caindo no esquecimento não creio que seja pecado. E, ao contrário de tantos, não imponho comportamentos nem defino leis. Apenas refiro aquelas que, por muito que nos esforcemos, não dominamos nem compreendemos.

Por aquilo que vou vendo do que se fotografa e fotografou ao longo do tempo, há quatro assuntos, excluindo o ser humano, que são os mais registadas: roupa, automóveis, monumentos e contadores de tempo.
A roupa, muito naturalmente, como publicidade. As modas variam todos os anos, ou os fabricantes não venderiam nem os consumidores se evidenciariam pela diferença, pelo que a roupa (e calçado e assessórios) surgem em tudo quanto são publicações, da especialidade ou não.
Os automóveis (e motos) também pela publicidade, que o negócio impera e há que convencer os potenciais compradores das vantagens dos novos modelos. Mas outro motivo há para que se os fotografe, ou se mostre as respectivas fotografias: afirmação. Desde quase sempre que a posse de um automóvel é uma forma de se demonstrar o seu lugar na sociedade: o último modelo, o mais rápido, o mais confortável, o mais espaçoso, o mais aventureiro… Personalidade e carro andam de mão dada, apenas limitada esta união pela disponibilidade económica.
Já os monumentos, para além da publicidade das agências de viagens, são pura afirmação pessoal. Fotografam-se (ou exibem-se postais ilustrados) para demonstrar que se esteve ali. Por vezes isolados, muito frequentemente como fundo a alguém, é o orgulho da viagem, a demonstração inequívoca do que se relata. “Eu estive lá”. Testemunho quantas vezes exibido para demonstrar o cosmopolitismo do fotógrafo e, ainda que quase inconsciente, para fazer alguma inveja aos demais.
Já os contadores de tempo (relógios ou outros) têm, parece-me, três motivos distintos: Publicidade, como não poderia deixar de ser; afirmação social, através da complexidade, preço ou aparência do exibido; controlo do que não se controla. Podemos registar os espaços e os volumes, vivos ou inertes, mas nunca o tempo. Podemos possuir ou dominar espaço e objectos nas suas três dimensões. Mas, no que ao tempo concerne, o mais que podemos é usa-lo e mostrar que existe. Nada mais.
Da marcação da passagem do tempo, contando-o por dias ao mais minúsculo intervalo de tempo com os atómicos contadores, o mais que podemos fazer é regista-lo. Relógios, calendários, riscos na parede… só o podemos contar, nunca dominar. E mesmo entendê-lo é complicado, quase tanto ou mais ainda que todas as teorias sobre o universo.
Este registo ou contagem é questão antiga. Quase tão antiga quanto a existência do Homem. Relógio de sol, clepsidra, ampulheta, mecanismos e electrónica, tudo tem sido usado para a sua contagem ou constatação.
Os antigos, os muito antigos, regulavam-se pelos astros: sol, lua, constelações…
O dia, o ciclo lunar e as suas fases definindo as semanas, o ano pela posição do sol no zénite ou no horizonte…
Ainda hoje os ciclos astrais estão na base de algumas das nossas contagens de tempo: o dia (o meio dia e a meia noite são importantes), as semanas nas gestões comerciais e laborais, os anos nas efemérides pessoais ou sociais… Mesmo algumas actividades primárias, como as pescas e a agricultura definem os tempos de acção pela lua e a sua influência no planeta.
Se consultarmos os escritos antigos, as mais das vezes de cariz religioso e onde as regras sociais ficaram definidas, o factor tempo e a sua relação com os astros está lá: o sol e a lua, nos seus movimentos regulares, marcaram eventos e definiram, até hoje, a passagem temporal e as actividades humanas.
Mas, anterior a livros sagrados, anterior mesmo à escrita codificada em caracteres, já o tempo e a sua evolução era objecto de pasmo, celebração e registo. Apenas com recurso aos meios então disponíveis: observação e força humana.
Refiro-me aos monumentos megalíticos. E se alguns celebravam ou honravam morte ou vida de alguns humanos, outros organizavam-se de forma a assinalarem momentos importantes. Marcados pela posição do sol ao longo do ano.
Solstícios e equinócios estão marcados um pouco por todo o planeta, independentemente das civilizações e suas complexidades. O esforço para o fazerem deixa-me espantado: toda a sociedade deveria intervir nos arrastar e orientar penedos de toneladas. Em datas que nem sempre seriam constatadas, que as nuvens nem sempre permitem saber o momento exacto do zénite ou do ocaso.
Chamamos hoje a esses dias de “mudança de estação”. A duração do dia e da noite altera-se na sua proporção, estios, invernos e intermédios dizem-se começar ou terminar. E ainda hoje há onde o ciclo anual se celebre num equinócio e não numa data arbitrária ou numa celebração de actividade humana.
A próxima segunda feira é um desses dias celebrados desde sempre: o equinócio do outono. Muito menos celebrado que a passagem do ano ou festividade religiosa. Nem sequer dá direito a brindes, descanso ou referência na comunicação social.
Sugiro que, à revelia das modernidades, parem um pouco.
Pensem nos antigos a verem as sombras a projectarem-se no local previsto e a questionarem-se sobre o motivo.
Pensem nos ciclos que se completam e no tempo que não dominam.
Pensem se, para além de um deus, o vosso ou qualquer outro, esta manifestação da natureza não será mais constatável e venerável.
Pensem que não dominamos o tempo mas tão só podemos gerir a utilidade que lhe damos, com prazeres e desprazeres.
Pensem que tivemos os sábios, as bibliotecas, as enciclopédias e agora os googles. Mas que os antigos honravam aquilo que hoje desprezamos mas continuamos a não dominar: o tempo.

By me

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Corrida para Oclahoma




Na coleção de livros de banda desenhada do Luky Luke, existe um título que não me tem saído da cabeça nos últimos tempos.
Trata-se do “Corrida para Oklahoma”.
Relata-nos a abertura de um território à colonização e o que aconteceu com os primeiros colonos. E, para além da corrida propriamente dita, a história acontece numa das primeiras cidades construídas então, Boomville, caótica e sem regras.
É então sugerido que se realizem eleições para a autarquia, nomeadamente para presidente da câmara. Os candidatos são mais que muitos, animados das mais variadas intenções, nem todas as mais honestas.
De entre os candidatos salienta-se Dopey, o “bobo da aldeia”, um semi-idiota, ingénuo mas honesto, de quem todos faziam chacota. No aceso da campanha eleitoral, havia quem afirmasse preferir votar nele que em qualquer outro, face às trafulhices entretanto se iam descobrindo.
O ponto alto da “aventura política” é ter sido ele, o idiota, a ganhar, apesar de todos dizerem que haviam votado nele só pela graça.

De algum modo encontro semelhanças entre isto e o que por cá vai acontecendo, com uma certa formação política que, mais que aparentar alguma ingenuidade nos seus programas apresentados a público, está a ganhar popularidade entre os cidadãos.
Claro que ignoram o que esse partido pretende quanto a questões importantes, como saúde, justiça, educação e, claro, como obter os meios materiais para tal. Divulgam apenas o que aparenta colher simpatias e o restante fica escondido nos textos que não divulgam ou nas meias palavras que proferem. Mas é assustador, comparado com o que outras formações políticas propõem.
Sugiro que leiam mesmo, até nas entrelinhas, o projeto de sociedade apresentado ou defendido pelo PAN, para além dos que a cães e gatos diz respeito. Até porque corre-se o risco de, nem que seja por piada, conseguir eleger mais deputados do que se poderia imaginar.

Na imagem: uma das cidades cogumelo criadas aquando da corrida para os terrenos virgens, no Oclahoma. Roubei-a da net e, por mais que procure, não consegui saber o autor.



By me

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Acidentes




Especial para os que dizem que não têm o que fotografar.
Tudo serve, desde que se queira. Mesmo os acidentes.



By me

Sobre educação



Ray Bradbury, “Fahrenheit 451”, 1953

“- Porque não estás na escola? Vejo-te todos os dias a vaguear por aí.
- Oh, não sentem a minha falta. – disse ela – Sou anti-social, dizem. Não me misturo. É tão estranho. Sou bastante sociável. Tudo depende daquilo que se entender por sociável, não é? Sociável para mim significa conversar consigo sobre coisas como estas. – Fez chocalhar umas castanhas que tinham caído da árvore no pátio da frente. – Ou dizer que o mundo é tão estranho. Estar com as pessoas é agradável. Mas não me parece social juntar um grupo de pessoas e depois não as deixar falar, não lhe parece? Uma hora de aula com a TV, uma hora de basquetebol ou basebol ou corrida, mais uma hora de História da Transcrição ou pintura, e mais desportos, mas sabe, nunca fazemos perguntas, pelo menos a maioria não faz; apenas nos fazem perguntas, bing, bing, bing, e nós lá sentados mais quatro horas a ver o professor no filme. Para mim não tem nada de social. É uma série de tubos e muita água a esguichar, e dizem-nos que é vinho quando não é. Ao fim do dia estamos tão desfeitos que não conseguimos fazer mais nada a não ser ir para a cama ou para um parque de diversões para arreliar pessoas, partir vidraças no Quebra-Janelas, ou destruir carros no Destruidor de Carros com uma enorme bola de aço. Ou sair de carro e fazer corridas nas ruas, tentando aproximarmo-nos o mais possível dos candeeiros e pregar sustos e arrancar os tampões das rodas. Creio que sou aquilo que dizem que sou. Não tenho amigos. Isso prova que sou anormal. Mas toda a gente que conheço ou grita ou andas às voltas como louca ou a espancar-se. Reparou como as pessoas fazem mal umas às outras nos nossos dias?”

Não é muito diferente dos dias de hoje, pois não?

Imagem: by me

Menos é mais?




O advento das câmaras digitais, seja qual for o tamanho e qualidade, tem muitas vantagens e quase que outras tantas desvantagens.
Por um lado, o das vantagens, o baixo custo. Tanto no equipamento como nos consumíveis. Depois de comprada, câmara ou telemóvel, já quase se não gasta nada, excepção se se quiser passar a papel. A divulgação on-line é multi abrangente e custa zero.
Por outro lado, a quantidade de gente que passou a poder fotografar e exibir é mais que enorme. Qualquer um fotografa, tanto como afirmação social, como seguindo modas. Mas, no meio de tantos, muitos foram os que, pela facilidade de acesso, descobriram não apenas o prazer em o fazer como que tinha “jeito” para tal. E, com isto, emergiu uma nova geração de fotógrafos, que fazem o que fazem de modo mais clássico ou de forma mais experimental. Mas com qualidade e criatividade. No tempo da película tal seria quase impossível.
Mas, do lado das desvantagens, a forma de fotografar.
Não vou falar da moda de o fazer na vertical. Moda, sugestão dos equipamentos, diversa forma de ver a imagem… várias respostas.
Nem vou falar que o baixo ou nulo custo faz com que menos se pense no acto fotográfico. “Carrega-se no botão e logo se vê. É de borla!” E se não “sair à primeira”, muitas outras se podem fazer. Aliás, fazem-se tantas fotografias que mais uma, menos uma, pouca importância tem.
Nem sequer vou falar no processamento electrónico. Menos, bem exposta, menos bem enquadrada, pouco nítida… Nada que um qualquer “Photoshop” não resolva. E sempre estarei sentado no computador, que é a poltrona lá de casa.

Vou antes falar na forma de ver as imagens e de como isso condiciona o fazer as imagens.
Uma fotografia, vista on-line ou no arquivo de um disco, é vista em poucos segundos. Por pouco refiro dois segundos, quatro se as virmos “demoradamente”. Uma fotografia vista numa revista ou livro tem um tempo de vida nos nossos olhos maior. Se for apelativa, por este ou aquele motivo, podemos gastar dez, quinze, mesmo sessenta segundos a olhar e degustar o que vemos. Mas se for numa galeria ou exposição, e se for de mediana para cima, estar dois ou mais minutos não será nada que espante.
A questão condicionante é que vendo fotografias rapidamente perdemos os detalhes. Ou, ainda pior, se tiver muitos detalhes significativos desinteressamo-nos dela. Que a ânsia de ver as outras nos leva a tal. Imagens mais complexas, tanto de luz, como de assunto ou de composição perdem-se no que a público diz respeito.
Acontece que quem publica fotografias on-line, nas redes sociais, nos fóruns ou nos sites de fotografia, fá-lo na expectativa de obter algum tipo de feed back. Um comentário, um “gosto”, uma pergunta técnica ou de circunstância…
Se as imagens forem difíceis ou demoradas de ver, por boas que sejam, não despertam a curiosidade não há feed back. E quem publica desinteressa-se por o fazer.
Ou, pior ainda, percebe que imagens simples, com pouca elaboração de luz ou de composição, são as que mais reacções têm, pelo que, mesmo sem se dar por isso, acaba-se por optar por essa forma de fotografar. Por outras palavras, nivela-se por baixo, do ponto de vista de qualidade ou criatividade.
A fotografia digital está, infelizmente, a fazer decrescer a qualidade do que se produz, ao invés de fazer surgir muitos criativos, na proporção quase directa com o aumento dos praticantes de fotografia.
Acresce a este rol de “defeitos” da fotografia digital, o ser relativamente fácil tornar uma fotografia apelativa no computador: saturações, inversões de cor, ausências de cor, contrastes exacerbados… é toda uma panóplia de soluções que, no fim de contas, mais não são que tentar melhorar o que nasceu mal ou menos bem.
A fotografia digital tem enormes potencialidades. Positivas e negativas. Haverá que saber usar as boas e não as más.
Um bom método é parar para pensar antes de premir o botão.
Outro método é considerar que se vai fazer apenas uma fotografia da situação.
Outro ainda é considerar que o tratamento posterior é um recurso, não o método. A menos que, aquando da tomada de vista, já se tenha em mente o que fazer depois, como uma questão de estilo ou correcção daquilo que sabemos não conseguir aquando da obturação.
“Menos é mais” é uma boa abordagem.

Na imagem: “Biafra, o terror da guerra”, por Romano Cagnoni, 1968

By me

Três em um




Ontem aconteceu o debate televisivo entre António Costa e Rui Rio.
Não prestei muita atenção.
No fim de contas, conheço mais ou menos as opções de sociedade de cada um deles e no próximo dia seis, em indo votar, sei de ambos qual a minha escolha. Como se a escolha fosse exclusivamente entre ambos.
Mas o que me prendeu a atenção não foram os dois mas os três. Os três jornalistas que estiveram a “distribuir jogo”, a “moderar” o debate, a fazer as perguntas que, supostamente, seriam as perguntas que os cidadãos gostariam de ver respondidas por aqueles dois ali em confronto.
E o que achei graça foi verificar que os três tiveram a mesma origem televisiva.
Pese embora sejam agora concorrentes, que disputem as audiências ferozmente, a verdade é que todos surgiram televisvamente no mesmo canal, todos tiveram a mesma escola, todos devem à casa-mãe o que são hoje.
Variando no tempo e no espaço, foi interessante ver o “três-em-um”.
Uma espécie de shampoo informativo.



By me

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O dono da chave da retrete




O poder corrompe, vai-se dizendo aqui e ali.
O problema é quando quem chega ao poder já é, por natureza, alguém corrompível, capaz de usar poder em prol de si mesmo e dos seus, deixando que as simpatias e antipatias se sobreponham aos deveres que o poder público impõe.
Soube, um destes dias, a forma como um autarca (um presidente de junta de freguesia) gere o pessoal que ali trabalha e como realiza contractos de prestação de serviços.
Sempre dentro da lei, mas com uma imoralidade atroz, celebra e cancela contractos de acordo com as suas simpatias, chegando ao ponto de desfazer promessas de eventos apenas porque “não lhe pediram desculpa”.
É lamentável que os fregueses, vulgo eleitores, não saibam destas coisas. E que só uma movimentação massiva possa retirar do poder quem nem merece sequer gerir uma tasca de esquina.
Quatro anos é tempo demasiado para quem sofre com autocracias. Contractos, gestão de pessoal, aplicações de recursos públicos em favor de moradas e ruas preferenciais…
Diz-se que a justiça se faz nos tribunais e que o julgamento dos políticos nas urnas eleitorais. É pena que assim seja!

Nota adicional: o descrito não sucede onde resido, que eu saiba.



By me

sábado, 14 de setembro de 2019

Ética na produção de imagem




Enquanto profissional da imagem e, consequentemente, de comunicação, enquanto amador de fotografia, tanto na sua prática como no seu disfrute, enquanto formador de jovens na área do audiovisual, estática e animada, enquanto pensador e autor de conteúdos sobre este campo, e desculpem-me a imodéstia, não posso deixar de me indignar com o que tenho visto nas televisões.
Em programas informativos genéricos são inseridas imagens divulgadoras de acontecimentos fotográficos. Tanto exposições, como prémios e óbitos de notórios autores de fotografia. Aprecio o facto, já que os noticiários podem e devem ser variados e não exclusivos de política e desporto, sendo a arte, nas suas diversas formas, assunto a ser falado e noticiado.
Já não aprecio, de todo, que os jornalistas que produzem esses conteúdos, ao escolherem imagens que ilustrem o que contam, se entendam autorizados a adulterar os trabalhos que divulgam. Não apenas não aprecio como condeno veementemente.
A prática tem sido fazer “aproximações” a parte das fotografias, cortando-as, alterando a sua interpretação ou leitura ao truncar parte delas, alterando centros de interesse, excluindo conteúdos pertinentes ou complementares, modificando ou abastardando o trabalho original. Indo mais longe, no final de tal violação da imagem, aquilo que é perceptível em pouco coincide com o trabalho original, levando a leituras que em pouco se assemelham às que o autor quis que existissem.
Se um fotógrafo decidiu que este ou aquele ponto ou assunto seriam o mais importante e usou da sua arte, técnica e perícia para o colocar em evidência, não será um terceiro, apenas com o intuito de divulgar a obra, que poderá “dizer” que o que importa não é isto mas antes aquilo ou aqueloutro. Que é o que estão a fazer ao alterar o enquadramento original.
Este trabalhar o trabalho de um autor é admissível se se estiver a fazer uma dissertação ou comentário, explicando a obra individual ou o conjunto de obras do autor. Ou fazendo uma análise semiótica dos trabalhos. Fará sentido, neste caso, exibir detalhes, conduzir o olhar do espectador, condicioná-lo de acordo com a crítica ou comentário em torno da obra. Agora apenas para divulgar uma exposição, um prémio, um óbito, será querer dizer que “a obra existe mas a minha visão de jornalista é mais importante”.
Também admissível, em contexto lectivo, a prática do método de “apropriação”. São os estudantes ou formandos convidados a trabalharem com obras de terceiros, notórias ou não, usando partes de várias e criando novas obras. Trata-se, neste caso, de trabalhar com “matéria-prima” para aprender, com o correspondente estudo dos trabalhos originais e razões específicas para a sua adulteração ou destruição. Um professor ou formador, consciente da sua tarefa, proporá o exercício, assumindo que se trata de um exercício de estilo e que o respeito pelo autor e a sua obra é algo que deve ser sempre acautelado.
A prática do truncar ou subverter trabalhos originais, imagens, textos, discursos, é comum em pasquins, redigidos ou dirigidos por maus profissionais. Também é prática de autores consagrados, assumindo que se trata de um trabalho autoral sobre o trabalho de terceiros. É igualmente prática de humoristas, que recorrem a este método para melhor passarem a sua mensagem original. De igual forma as redes sociais estão pejadas de tristes exemplos de apropriação e abastardamento da criatividade de outros, desta feita para reclamarem para si os louros que não lhes pertencem.
Mas é particularmente mau que estações de televisão, que reclamam ser e são referências no panorama nacional, o façam.
Deitam por terra todos os créditos que possam reclamar com tais práticas.
Que não pode um jornalista, seja qual for o suporte ou a sua especialidade, no acto de divulgação de uma obra, evento ou autor, querer assumir-se mais criativo que o que exibe, abastardando a obra original.
No âmbito da minha actividade profissional tenho tido discussões sérias sobre o tema com quem o faz. Tenho sido recebido com sorrisos amarelos, encolher de ombros, justificações esfarrapadas. E, principalmente, inconsequentes. Que o colocar em causa o trabalho de um jornalista roça o sacrilégio, do ponto de vista dos jornalistas.
Fica o desabafo público, que talvez venha a ser mais dirigido. Ainda estou por decidir.
E o pedido que quem pode impeça tal prática. Quer por instruções específicas a quem tal pratica, quer por protesto público contra tal prática.


Na imagem, uma fotografia icónica do séc. XX: o enfrentar carros de combate na praça Tianammen, em Pequim, em 1989.
A imagem da esquerda é uma das que o fotógrafo Charlie Cole fez então. A da direita é o reenquadramento fruto de uma “aproximação” lenta feito numa estação de televisão, para ilustrar a notícia da morte do autor.
Note-se a diferença de interpretação entre ambas: Se na original o estudante está colocado em frente do carro de combate, na segunda ele está encurralado em frente do carro de combate. Na primeira é uma opção do estudante, na segunda uma agressão por parte dos militares.
Não creio que tenha havido qualquer motivo subjectivo para esta alteração. Apenas não houve o cuidado de respeitar a imagem original, conduzindo a outras leituras apenas por desleixo. Ou por ignorância. Ou por arrogância. Mas, pela certa, pela falta de ética jornalística.


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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

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O maior receio de um político não é a derrota eleitoral. Que essa faz parte do jogo!
O seu maior medo é que o poder, a gestão da coisa pública, deixe de ser feito por políticos e passe para as ruas. Que passe a ser feito e gerido pelo povo, do mais anónimo ao mais ilustre.
Que, nessa mudança de organização da sociedade, se constata da utilidade (ou o seu oposto) daqueles que constituem a chamada “classe política”.
E não há nada pior para o amor-próprio de um político que a demonstração da sua inutilidade!

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Uma questão de identidade



Foi há trinta e tal anos que, fruto de um conflito politico-laboral, passei a ser conhecido por JC Duarte, em vez de “primeiro-nome” Duarte como desde a escola primária e como quase toda a gente.
E se na altura a coisa foi complicada, chegando a implicar o formalizar junto da entidade patronal este “nome artístico” ou “nome de guerra” ou “pseudónimo”, acabei por o assumir como nome próprio e profissional em tudo quanto é lado ao constatar que já havia alguém com o meu primeiro e último nome na campo da fotografia em Portugal.
Ficou o JC Duarte, p’ro melhor e p’ro pior, aceite em tudo quanto é lado excepto no arquivo de identificação e nos bancos, que não gostam desta coisa de apenas consoantes sem vogais.
Aliás, a maior parte das pessoas não gosta disto, deitando-se a adivinhar o que significarão o J e o C, não lhes passando pela cabeça que, ao fim de tantos anos não são um J e um C, duas letras, mas sim um JC, um vocábulo, tal como “Pedro” é um nome composto por cinco letras e não cinco iniciais.
Não será muito comum que alguém tenha por nome próprio um pequeno conjunto de duas letras. Sem vogais, ainda por cima.
Mas também não será muito comum que seja o próprio a escolher o seu nome, mesmo que sem formalidades e documentos oficiais.
A esmagadora maioria das pessoas vive com o nome que pais ou padrinhos lhes impuseram, sem serem ouvidos ou achados sobre os seus gostos ou preferências. No meu caso, mesmo que começando por ser casual, acabei por mandar às urtigas essa tirania e decidi como quero ser tratado: JC.
Apenas um círculo de gente muito restrito, muito restrito mesmo, me trata pelo primeiro nome que consta do meu registo de nascimento.
E sou tão rigoroso nessa exclusividade que já interpelei gente com altos cargos, perguntando-lhes se lhes tinha dado confiança suficiente para me tratarem de outra forma que não fosse como JC ou como Duarte. Abanaram, tentaram responder, mas ficaram-se pelo silêncio.
Creio que toda a gente, mais cedo ou mais tarde, uma ou mais vezes, se terá questionado com “Quem sou eu?”.
Cedo na minha idade adulta decidi que nas relações interpessoais sou o JC.

Quanto ao resto, ainda estou à procura de respostas.

By me

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Tampas e cronologia




Este projecto acaba por me levar bem mais fundo do que eu esperaria, mesmo tratando-se de fotografar tampas de acesso ao subsolo.
Acaba por ter graça prestar atenção às variantes dos relevos, mesmo da mesma empresa.
E se algumas tampas exibem orgulhosamente a fundição que as fabricou, outras são particularmente discretas, ou mesmo omissas, sobre tal.
Se algumas incluem o ano de fabrico, pista interessante para algum estudioso, outras primam por nada dizer sobre tal.
Mesmo a indicação do dono da peça, a empresa que gere o que lhe está por baixo, varia com o tempo, não apenas com o seu nome como com o logotipo.
No caso presente, o logotipo está em fase de transição, possuindo em evidência aquele que seria o novo na altura mas mantendo o anterior em tamanho reduzido.
Fica-me uma dúvida entre várias, a esclarecer se e quando tiver oportunidade e energia para pesquisar: Quando terá sido decidido que as tampas de acesso ao subsolo deveriam ter códigos indicativos das características técnicas do material e respectiva capacidade se suportar carga.



By me

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Fotografia e barricadas



Calhou, num outro local virtual que não este, falar de barricadas e dos que estão de um lado e de outro.
E, a esse respeito, relembrei-me desta fotografia, já por mim exibida, e da história que a ela está associada, que também já aqui contei.
Mas sendo que certos alertas nunca são demais fazer, aqui fica o que aconteceu a um dos lados de uma barricada:

Saiba-se que essa coisa de as autoridades usarem imagens para procurar e deter manifestantes nada tem de novo.
Em 1871, aquando da Comuna de Paris, muitos foram os cidadãos que se deixaram fotografar nas barricadas. O orgulho na acção e a novidade da fotografia assim induziam. E os fotógrafos de então faziam uma das primeiras intervenções de foto-reportagem em situações de conflito, desta feita sem ser às ordens de nenhum jornal.
Terminada a Comuna com a vitória das forças do poder, os arquivos dos fotógrafos foram vasculhados pelas polícias. Os retratados foram assim identificados, tendo o seu fim visível na imagem aqui exibida: fuzilados!
Há 142 anos.
Imagem: by Désideri

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Democracias



Tenho vindo a afirmar o meu repúdio pela exclusividade partidária no acesso a lugares no parlamento.
A minha tese não tem colhido grande apreço junto de quem dela toma conhecimento. Ou nem contestam, ou fazem um sorriso irónico ou, aqueles que se dão ao trabalho de responder fazem-no com um “Pois, mas são os partidos que garantem a pluralidade de opiniões” ou “São eles o garante da democracia” e coisas semelhantes.
Mas continuo com a mesma opinião.
Não há leis ou vontades eternas, nem circunstâncias que se não alterem. E se, aquando da redacção da actual constituição, fazia sentido essa exclusividade, hoje não o faz.
Na época, 1975, os portugueses estavam ainda a aprender o que era viver em democracia, depois de mais de uma geração sem ela. A taxa de analfabetismo era gigantesca. O acesso à informação era diminuto e mesmo condicionado pelas lutas de poder e manipulação de conteúdos. Fazia sentido juntar em torno de organizações as tendências para que as escolhas no acto eleitoral fossem mais fáceis ou óbvias.
Hoje não é assim!
Ainda que existam analfabetos, a taxa é quase menos que residual. A democracia tem mais de quarenta anos. A informação está ao alcance de todos e de variadíssimas formas. A ausência de conhecimento sobre propostas e percursos dos candidatos só acontece se e só se os cidadãos as quiserem ignorar. Estejam os candidatos agrupados em torno de partidos ou não.
Por outro lado, o limitar o acesso ao parlamento à exclusividade de partidos impede que outras sensibilidades aí se façam ouvir. Limita a responsabilização dos actos dos deputados perante os eleitores. Facilita a disciplina partidária em desfavor da relação deputado-eleitor.
Mas eu explico um pouco melhor:
Um partido político, mesmo tendo por objectivo o estar ao serviço do país, é uma entidade privada. Só a ele acede quem pelos seus membros for aceite, tem que cumprir os estatutos previamente definidos, tem que respeitar a disciplina interna e a obediência às estruturas dirigentes. Por outras palavras (e de novo) um deputado eleito por um partido tem responsabilidades e fidelização ao partido bem antes e mais importantes que as que terá para com os eleitores.
Mais ainda: aquando de eleições as opções propostas aos eleitores são as de listas de pessoas pertencentes a partidos ou nelas aceites com o estatuto de independentes. Mas essas listas não são disponibilizadas aos cidadãos de uma forma clara e aberta. Quem as quiser saber terá que se dirigir algures a um local que não as assembleias de voto. O que impede, por exemplo, o recusar eleger alguém sobre quem se tem uma opinião negativa, já que nem se sabe que consta na lista daquele partido.
Da mesma forma, a substituição de deputados no parlamento acontece com um mínimo de publicidade. Uns saem, outros avançam e os eleitores nem se apercebem do facto. Excepto se forem muito atentos às notícias ou se se tratar de alguma figura proeminente no panorama político.

Indo mais longe na questão da disciplina partidária acima do respeito pelo eleitor, temos alguns casos relativamente recentes que bem o evidenciam.
Um deputado que foi punido pelo seu partido por, no parlamento, ter votado à revelia da disciplina partidária o orçamento de estado do ano em curso;
A ameaça de expulsão de militantes que se candidataram ou apoiaram outras candidaturas que não as do seu partido aquando de eleições autárquicas;
O ser notícia de primeira página haver deputados que se propõem votar contra o orçamento de estado de um dado ano, ainda que apresentado pelo seu partido.
Ou seja: os membros de um partido devem obediência, antes de mais, ao seu próprio partido. E só depois podem agir em prol dos seus eleitores, tal como se comprometeram.

Ora eu tenho como dogma que um eleito representa os interesses dos eleitores antes de mais. E isso não é possível se ele tiver outros interesses mais relevantes.
Defendo, assim, que o acesso ao parlamento, onde são feitas as leis que regem o país e as relações entre cidadãos, deve ser aberto a todos os cidadãos, inscritos ou não em organizações privadas. E que respondam, antes de mais, aos eleitores que os elegem.
Que isto de ter entidades privadas a gerir a coisa pública a que chamamos de País só se encaixa na democracia à luz das opiniões dos partidos que têm estado a governar e cujo objectivo é, claramente, destruir o estado em favor de privados.


A democracia não é privada!  

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Hábitos




Há uns anitos, em resultado de um incidente na rua, rua fiquei com uma mão partida. Nada de muito grave: gesso e cinco semanas de imobilidade, vulgo “braço ao peito”. Hoje não tenho resquícios, pelo menos não os sinto fisicamente.
Claro que foram cinco semanas a tentar sobreviver só com uma mão activa, com o auxílio de três dedos da outra. A quantidade de coisas que não conseguimos fazer só com uma mão é incrível. Desde o apertar o cinto das calças até lavar a cabeça ou as costas, passando por cortar um bife ou abrir um frasco de conserva dos teimosos. Ou fotografar!
Inventei algumas estratégias, que é isso apanágio do ser humano, e sobrevivi como seria de esperar. Com neuras descomunais, mas sobrevivi. Com duas aprendizagens enormes, de assuntos que, sem isso, nunca teriam o mesmo valor.
Por um lado, e muitíssimo superficialmente, aquilo por que passam os deficientes, limitados que estão na sua mobilidade. E eu tinha as duas pernas sãs! Não damos o devido valor às suas dificuldades.
Por outro, o como fazer coisas simples só com uma mão.
Por absurdo que pareça, ficou-me de então o hábito de fazer muitas coisas só com a mão direita. Inconscientemente. Dou comigo a abrir um maço de cigarros, ou a preparar café, ou a calçar-me, apenas com a mão direita, mantendo a mão esquerda pendente e inactiva. Nada me impede de a usar, mas o meu cérebro a tal me obriga.
Cinco semanas apenas. Um episódio efémero que moldou muito do meu comportamento.



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terça-feira, 3 de setembro de 2019

Coimas e beatas




Entra em vigor amanhã a penalização para quem atirar pontas de cigarro – beatas – para o chão. As coimas podem ir de 25 a 250 euros.
Já os estabelecimentos comerciais, que devem disponibilizar cinzeiros, podem ser coimados entre 250 a 2500 euros. Incluem-se os estabelecimentos, comerciais, de restauração e os edifícios que proíbam o consumo de tabaco no seu interior.
Mas os apoios a tal implementação chegam apenas em 180 dias. Até estarão isentos de coimas.
Por outras palavras, não podem os fumadores atirar beatas para o chão mas não haverá, durante meio ano, onde as colocar.
Sim, porque as papeleiras escasseiam, são em plástico e, na sua grande maioria, não têm onde se possa apagar o cigarro em segurança.
Cheira-me a que, mais que querer implementar uma medida de higiene e ecológica, se prepara uma caça à multa aos viciados.



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Penalizações




Leio por aí, algures, uma pergunta aos leitores: “deverão as multas de trânsito serem mais pesadas?”
Estou em crer que não.
Em muitos casos, as penas para certas infracções de trânsito deveriam ser mesmo pena de prisão, sem apelo nem agravo.
Eis um exemplo: estacionar em cima dos passeios, obrigando os peões a caminharem nas faixas de rodagem não é um acidente, não é um descuido. É um acto deliberado, consciente, que pode provocar um acidente grave a terceiros.
Indo mais longe, as consequências de tal acto acontecem, as mais das vezes, na ausência do condutor, já que este estaciona e vai à sua vida.
As penas em dinheiro são, para muitos, algo a não considerar. Ou porque estão sempre à espera que prescrevam face ao volume de coimas a processar, ou porque o infractor não se preocupa muito com o pagar: trata disso e pronto.
Não acredito que quem passe uma ou duas semanas numa prisão, com o que isso implica de privação de liberdade e perca de rendimentos porque não ganha a vida trabalhando, tenha a veleidade de repetir a façanha.
E as penalizações legais são para isso mesmo: para que não se repita o crime.



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Geometrias




É para estas ocasiões, em tendo comigo um tripé, que gostava de ter uma objectiva “shift”. Claro que não carrego comigo a todo o instante um tripé.
Mas são estes detalhes de perspectiva, estas geometrias trapezoidais, que me incomodam. As coisas são o que são e ou bem que são, ou bem que não são. O faz de conta, o “ninguém repara”, o “pode ser que escape”, que me chateia.
Também poderia ter corrigido no editor de imagem. Claro que poderia.
Um toque aqui, outro ali, uma grelha para ajudar, e ficaria quase perfeito.
Mas não era a mesma coisa!
Mesmo sendo a fotografia aquilo que se exibe depois de todo o tratamento que lhe é dado, pouco importando os químicos ou os editores usados, a verdade é que gosto de obter na tomada de vista aquilo que imagino. Umas vezes sabendo de antemão que terei que alterar, ou presumindo que após a obturação, está pronta.
Neste caso não tinha certezas, ainda que calculasse que estaria pronta, pese embora alguns ajustes de contraste.
Mas se corrigisse a perspectiva, se as linhas verticais e horizontais o fossem realmente aqui, não teria o que escrever sobre ela.
Falhei ao fazer esta imagem!
Mas também mostro imagens falhadas, que diabo.



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domingo, 1 de setembro de 2019