Há uns anitos, em resultado de um incidente na rua, rua
fiquei com uma mão partida. Nada de muito grave: gesso e cinco semanas de
imobilidade, vulgo “braço ao peito”. Hoje não tenho resquícios, pelo menos não
os sinto fisicamente.
Claro que foram cinco semanas a tentar sobreviver só com uma
mão activa, com o auxílio de três dedos da outra. A quantidade de coisas que
não conseguimos fazer só com uma mão é incrível. Desde o apertar o cinto das
calças até lavar a cabeça ou as costas, passando por cortar um bife ou abrir um
frasco de conserva dos teimosos. Ou fotografar!
Inventei algumas estratégias, que é isso apanágio do ser
humano, e sobrevivi como seria de esperar. Com neuras descomunais, mas
sobrevivi. Com duas aprendizagens enormes, de assuntos que, sem isso, nunca
teriam o mesmo valor.
Por um lado, e muitíssimo superficialmente, aquilo por que
passam os deficientes, limitados que estão na sua mobilidade. E eu tinha as
duas pernas sãs! Não damos o devido valor às suas dificuldades.
Por outro, o como fazer coisas simples só com uma mão.
Por absurdo que pareça, ficou-me de então o hábito de fazer
muitas coisas só com a mão direita. Inconscientemente. Dou comigo a abrir um
maço de cigarros, ou a preparar café, ou a calçar-me, apenas com a mão direita,
mantendo a mão esquerda pendente e inactiva. Nada me impede de a usar, mas o
meu cérebro a tal me obriga.
Cinco semanas apenas. Um episódio efémero que moldou muito
do meu comportamento.
By me
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