O advento das câmaras digitais, seja qual for o tamanho e qualidade,
tem muitas vantagens e quase que outras tantas desvantagens.
Por um lado, o das vantagens, o baixo custo. Tanto no
equipamento como nos consumíveis. Depois de comprada, câmara ou telemóvel, já
quase se não gasta nada, excepção se se quiser passar a papel. A divulgação
on-line é multi abrangente e custa zero.
Por outro lado, a quantidade de gente que passou a poder
fotografar e exibir é mais que enorme. Qualquer um fotografa, tanto como
afirmação social, como seguindo modas. Mas, no meio de tantos, muitos foram os
que, pela facilidade de acesso, descobriram não apenas o prazer em o fazer como
que tinha “jeito” para tal. E, com isto, emergiu uma nova geração de
fotógrafos, que fazem o que fazem de modo mais clássico ou de forma mais experimental.
Mas com qualidade e criatividade. No tempo da película tal seria quase
impossível.
Mas, do lado das desvantagens, a forma de fotografar.
Não vou falar da moda de o fazer na vertical. Moda, sugestão
dos equipamentos, diversa forma de ver a imagem… várias respostas.
Nem vou falar que o baixo ou nulo custo faz com que menos se
pense no acto fotográfico. “Carrega-se no botão e logo se vê. É de borla!” E se
não “sair à primeira”, muitas outras se podem fazer. Aliás, fazem-se tantas
fotografias que mais uma, menos uma, pouca importância tem.
Nem sequer vou falar no processamento electrónico. Menos,
bem exposta, menos bem enquadrada, pouco nítida… Nada que um qualquer “Photoshop”
não resolva. E sempre estarei sentado no computador, que é a poltrona lá de
casa.
Vou antes falar na forma de ver as imagens e de como isso
condiciona o fazer as imagens.
Uma fotografia, vista on-line ou no arquivo de um disco, é
vista em poucos segundos. Por pouco refiro dois segundos, quatro se as virmos “demoradamente”.
Uma fotografia vista numa revista ou livro tem um tempo de vida nos nossos
olhos maior. Se for apelativa, por este ou aquele motivo, podemos gastar dez,
quinze, mesmo sessenta segundos a olhar e degustar o que vemos. Mas se for numa
galeria ou exposição, e se for de mediana para cima, estar dois ou mais minutos
não será nada que espante.
A questão condicionante é que vendo fotografias rapidamente
perdemos os detalhes. Ou, ainda pior, se tiver muitos detalhes significativos
desinteressamo-nos dela. Que a ânsia de ver as outras nos leva a tal. Imagens
mais complexas, tanto de luz, como de assunto ou de composição perdem-se no que
a público diz respeito.
Acontece que quem publica fotografias on-line, nas redes
sociais, nos fóruns ou nos sites de fotografia, fá-lo na expectativa de obter
algum tipo de feed back. Um comentário, um “gosto”, uma pergunta técnica ou de
circunstância…
Se as imagens forem difíceis ou demoradas de ver, por boas
que sejam, não despertam a curiosidade não há feed back. E quem publica desinteressa-se
por o fazer.
Ou, pior ainda, percebe que imagens simples, com pouca
elaboração de luz ou de composição, são as que mais reacções têm, pelo que,
mesmo sem se dar por isso, acaba-se por optar por essa forma de fotografar. Por
outras palavras, nivela-se por baixo, do ponto de vista de qualidade ou
criatividade.
A fotografia digital está, infelizmente, a fazer decrescer a
qualidade do que se produz, ao invés de fazer surgir muitos criativos, na
proporção quase directa com o aumento dos praticantes de fotografia.
Acresce a este rol de “defeitos” da fotografia digital, o
ser relativamente fácil tornar uma fotografia apelativa no computador:
saturações, inversões de cor, ausências de cor, contrastes exacerbados… é toda
uma panóplia de soluções que, no fim de contas, mais não são que tentar
melhorar o que nasceu mal ou menos bem.
A fotografia digital tem enormes potencialidades. Positivas
e negativas. Haverá que saber usar as boas e não as más.
Um bom método é parar para pensar antes de premir o botão.
Outro método é considerar que se vai fazer apenas uma
fotografia da situação.
Outro ainda é considerar que o tratamento posterior é um
recurso, não o método. A menos que, aquando da tomada de vista, já se tenha em
mente o que fazer depois, como uma questão de estilo ou correcção daquilo que
sabemos não conseguir aquando da obturação.
“Menos é mais” é uma boa abordagem.
Na imagem: “Biafra, o terror da guerra”, por Romano Cagnoni,
1968
By me
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