quarta-feira, 25 de setembro de 2019

E depois da ribalta?




A grande vantagem das crianças é a sua vida ser em alto contraste.
Não há cinzentos, meios-tons, desculpas ou justificações: as coisas são ou não são, gosta-se ou não, o tempo é o agora.
É o crescer, sob a influência dos adultos, que os torna em gestores de argumentos, hipócritas, peritos em jogos de cintura.
É assim que não me espanta ver uma adolescente a bater-se por algo em que acredita. A bater-se mesmo. Tal como não me espanta que, face à qualidade e veemência da sua argumentação, tenha sido levada para a ribalta. Ao fim e ao cabo, “a verdade está na boca das crianças”, diz o povo.
E, convenhamos, ver uma adolescente a dizer verdades incómodas na cara dos grandes do globo tem impacto. Tem impacto nas consciências, tem impacto nos media, “descobre carecas” e leva muitos a perguntar sobre as razões de não se levar esta jovem a sério.
Claro que os tubarões sabem que, como com qualquer outro produto muito publicitado, também esta jovem cansará em breve a opinião pública. Outros temas se levantarão, a sua cara esgotará a novidade e ela deixará de aparecer nas televisões. Tal como os artistas pop ou os prémios dos Óscares.
A questão está em saber se o mediatismo de hoje e o esquecimento de amanhã ficará alguma consequência global. Se faremos alguma coisa com as suas acusações e “ingenuidade política”.
Por que ela, amanhã, será apenas uma ex-adolescente que protagonizou uma causa justa e premente, mas que terá uma vida apagada, cercada dos problemas óbvios de quem teve excesso de mediatismo mas que regressou ao cinzentismo dos bastidores e da vida adulta.



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