segunda-feira, 27 de julho de 2020

Ide



Vejamos as coisas desta forma:

O meu conceito de liberdade impede-me de proibir quem quer que seja de pensar ou dizer o que quer que seja. Nunca o fiz, não o faço, acredito que nunca o farei.

Mas, de igual forma, o meu conceito de liberdade não inclui o querer ouvir ou concordar com o que possa ser dito.

Por isso, aqueles que, de algum modo defendam regimes ou organizações de sociedade que não respeitem a liberdade são liminarmente expulsos da condição de “amigos” aqui neste mundo virtual. Sem explicações ou comentários.

Não me apetece dar com os olhos em textos que defendam regimes totalitários, que menosprezem pessoas pela etnia, credo, condição física ou económica.

Isto independentemente de nos conhecermos apenas aqui ou na vida real.

E se não gostarem desta minha posição, ide… Ide comer croquetes, que toda a gente gosta de croquetes.


By me

quinta-feira, 23 de julho de 2020

A máscara



Sabemos que a máscara tem vantagens sanitárias: impede-nos de propagar algum tipo de doenças e também de as receber.

Mas também nos impede de exibir ou de ver os sorrisos!

Ficam os rostos visíveis reduzidos aos olhos e às testas que, por muito que estes e estas possam falar das emoções, serão sempre limitadas na comunicação. Faltará sempre a boca, com os seus cantos subidos ou descidos, as covinhas laterais que se acentuam, as rugas de expressão ou de idade que assume formas ascendentes ou descendentes de acordo com o que vai na alma…

Nos casos femininos, ficam ocultos os cambiantes cromáticos escolhidos cuidadosamente para a ocasião, que muitas vezes definem predisposições para as relações sociais. Nos casos masculinos, escondem o cuidado (ou falta dele) no escanhoar, a frequência com que é feito ou o rigor nos recortes.

Mas as máscaras são também absolutamente inúteis! Não evitam elas que o som se propague e as palavras saem quase que como nada obstruísse o seu trajecto.

Bom seria, em tantos casos, que as máscaras tivessem uma espécie de surdina acústica (ou rolha) para evitar ouvirmos impropérios, parvoíce verbalizada, estupidez crónica ou demências sociais congénitas.

Indo mais longe, se a máscara nos protege (e aos outros) de algumas doenças, também protege a nossa identidade (e a dos outros). A quantidade de vezes que nos cruzamos com alguém e necessitamos de procurar outros elementos visuais de identificação (como o corte da pelagem, o tipo de indumentária, os tiques do gesticular, as cores da pele visível e dos olhos…) ou o tom de voz para evitarmos falar com quem não conhecemos ou não falar com quem conhecemos.

Já nem quero falar nas opções de formatos e tecidos das máscaras sociais. Nalguns casos são identificações grupais, noutros afirmações pessoais, noutros ainda “alter egos” bem evidentes.

Muito ainda se falará ou escreverá sobre os efeitos desta pandemia, para além do que vamos sabendo dos números e hospitais. Psicólogos e sociólogos têm aqui muito para investigar e concluir.

Sobre a máscara que nos protege (e aos outros). E sobre a máscara que nos agride (e aos outros).


By me

quarta-feira, 15 de julho de 2020

terça-feira, 14 de julho de 2020

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Até ao próximo episódio



D'arquivo

Até ao próximo episódio
Já o tenho dito vezes sem conta: cada fotografia tem uma história e uma estória.
E um bom fotógrafo consegue contá-las sem mais que com a fotografia.
Talvez porque não o seja eu, é frequênte as minhas fotografias ficarem aquém das estórias em torno delas.
E neste projecto, com durou mais de  três anos e com mais de mil e duzentas fotografias feitas, algumas estórias acabam por, no geral, repetirem-se. Com pequenas diferenças nas abordagens, nas poses e reacções ao que recebem, para já não falar na questão do preço, mais de metade das que faço em cada dia de jardim da Estrela acabam por ser rotineiras na sua variedade.
Algumas há, no entanto, que primam por serem diferentes de todas as outras. Quer seja por aquilo que se constata na fotografia, quer seja pelas conversas tidas antes ou depois dela, quer seja pela empatia criada entre os dois lados da caixa de madeira.
Esta fotografia é, certamente, merecedora de pertencer a um álbum de selecção porque consegue, creio eu, retratar com razoável fidelidade as estórias que a antecederam e sucederam, bem como as pontes que se criaram entre os quatro intervenientes: os retratados, o retratista e a maquina de retratos.
Foi um privilégio tê-la feito e, como me foi dito em contra-ponto ao meu costumeiro “Divirtam-se!”:
“Até ao próximo episódio!”

By me

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Vã glória



É sempre interessante ver como o comum do cidadão procura um pouco da fama ou da gloria de terceiros ao querer um autógrafo ou uma fotografia com gente de renome ou que admira.

Da política, das artes ou das letras, do desporto, do espectáculo…

Como se, pelo facto terem estado na proximidade e terem um testemunho material disso os fizessem maiores, mais importantes ou mais famosos.

Incapazes (e aqui estou a ser bera) de fazerem a diferença, de fazerem melhor, de fazerem apenas, engrandecem-se com a grandeza dos outros.

Sendo mais bera ainda (e bera será um eufemismo) são os parasitas da grandeza de terceiros.

Provavelmente serão felizes assim. Aliás, são-no mesmo, pelos sorrisos que ostentam ou pelas exibições desses troféus. E, confesso, nada tenho contra a felicidade dos outros, bem pelo contrário.

Mas preferia que o fossem baseados naquilo que fazem no lugar daquilo que outros fazem.

Mas eu sou bera e hoje acordei azedo.


By me

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Velhos avisos



Os avisos têm sido mais que muitos:

O investimento maioritariamente no turismo, em Portugal, é empenhar o futuro.

Havia quem falasse na acalmia bélica do norte de áfrica e do médio oriente como fortes concorrentes a Portugal. Havia quem falasse em fortes investimentos na caraíbas e no índico para retirar movimento ao nosso país. Claro que ninguém aventava a possibilidade de não ser nada disto mas sim uma pandemia, fechando países e estancando o fluxo turístico.

Mas seja pela paz, seja pelo investimento, seja por doenças, a verdade é que estamos dependentes do turismo quase em exclusivo.

A hotelaria e a restauração surgiram como ervas por entre as pedras da calçada, necessitaram de mão de obra e as formações de jovens viraram-se para esse mercado.

Temos agora montões de gente formados em turismo e similares, comércio e serviços vocacionados para os estrangeiros e não temos gente, equipamentos ou indústria nos sectores capazes de fazer o país não dependente (ou pouco dependente) de gentes de outras paragens.

Não produzimos riqueza: aquele tipo de riqueza palpável, material, capaz de nos por a comer sem ter que andar a pedir a terceiros “venham cá, por favor”.

Transformamos o país de produtor a prestador de serviços. E em não havendo clientes não temos que vender ou, em último caso, de comer.

Bem avisado seria pensarmos a longo prazo, já que no curto é inconsequente, e tornar Portugal capaz de sobreviver sem tanto depender da sorte ou azar do clima, das guerras ou das doenças. Capaz de ser alguém e não um serviçal venerando e obrigado às esmolas ou vontades de terceiros.

A globalização, mesmo no turismo, tem destas coisas.

Como exemplo veja-se o desespero de políticos e afins com o destino de uma companhia aérea que é a transportadora de boa parte dos turistas que recebemos.

Há algo de errado na forma como projectamos o futuro, quando investimos tudo numa só via.


By me