Sabemos que a máscara tem vantagens sanitárias: impede-nos
de propagar algum tipo de doenças e também de as receber.
Mas também nos impede de exibir ou de ver os sorrisos!
Ficam os rostos visíveis reduzidos aos olhos e às testas
que, por muito que estes e estas possam falar das emoções, serão sempre
limitadas na comunicação. Faltará sempre a boca, com os seus cantos subidos ou
descidos, as covinhas laterais que se acentuam, as rugas de expressão ou de
idade que assume formas ascendentes ou descendentes de acordo com o que vai na
alma…
Nos casos femininos, ficam ocultos os cambiantes cromáticos
escolhidos cuidadosamente para a ocasião, que muitas vezes definem
predisposições para as relações sociais. Nos casos masculinos, escondem o
cuidado (ou falta dele) no escanhoar, a frequência com que é feito ou o rigor
nos recortes.
Mas as máscaras são também absolutamente inúteis! Não evitam
elas que o som se propague e as palavras saem quase que como nada obstruísse o
seu trajecto.
Bom seria, em tantos casos, que as máscaras tivessem uma
espécie de surdina acústica (ou rolha) para evitar ouvirmos impropérios, parvoíce
verbalizada, estupidez crónica ou demências sociais congénitas.
Indo mais longe, se a máscara nos protege (e aos outros) de
algumas doenças, também protege a nossa identidade (e a dos outros). A quantidade
de vezes que nos cruzamos com alguém e necessitamos de procurar outros elementos
visuais de identificação (como o corte da pelagem, o tipo de indumentária, os
tiques do gesticular, as cores da pele visível e dos olhos…) ou o tom de voz para
evitarmos falar com quem não conhecemos ou não falar com quem conhecemos.
Já nem quero falar nas opções de formatos e tecidos das
máscaras sociais. Nalguns casos são identificações grupais, noutros afirmações
pessoais, noutros ainda “alter egos” bem evidentes.
Muito ainda se falará ou escreverá sobre os efeitos desta
pandemia, para além do que vamos sabendo dos números e hospitais. Psicólogos e
sociólogos têm aqui muito para investigar e concluir.
Sobre a máscara que nos protege (e aos outros). E sobre a
máscara que nos agride (e aos outros).
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