quinta-feira, 23 de julho de 2020

A máscara



Sabemos que a máscara tem vantagens sanitárias: impede-nos de propagar algum tipo de doenças e também de as receber.

Mas também nos impede de exibir ou de ver os sorrisos!

Ficam os rostos visíveis reduzidos aos olhos e às testas que, por muito que estes e estas possam falar das emoções, serão sempre limitadas na comunicação. Faltará sempre a boca, com os seus cantos subidos ou descidos, as covinhas laterais que se acentuam, as rugas de expressão ou de idade que assume formas ascendentes ou descendentes de acordo com o que vai na alma…

Nos casos femininos, ficam ocultos os cambiantes cromáticos escolhidos cuidadosamente para a ocasião, que muitas vezes definem predisposições para as relações sociais. Nos casos masculinos, escondem o cuidado (ou falta dele) no escanhoar, a frequência com que é feito ou o rigor nos recortes.

Mas as máscaras são também absolutamente inúteis! Não evitam elas que o som se propague e as palavras saem quase que como nada obstruísse o seu trajecto.

Bom seria, em tantos casos, que as máscaras tivessem uma espécie de surdina acústica (ou rolha) para evitar ouvirmos impropérios, parvoíce verbalizada, estupidez crónica ou demências sociais congénitas.

Indo mais longe, se a máscara nos protege (e aos outros) de algumas doenças, também protege a nossa identidade (e a dos outros). A quantidade de vezes que nos cruzamos com alguém e necessitamos de procurar outros elementos visuais de identificação (como o corte da pelagem, o tipo de indumentária, os tiques do gesticular, as cores da pele visível e dos olhos…) ou o tom de voz para evitarmos falar com quem não conhecemos ou não falar com quem conhecemos.

Já nem quero falar nas opções de formatos e tecidos das máscaras sociais. Nalguns casos são identificações grupais, noutros afirmações pessoais, noutros ainda “alter egos” bem evidentes.

Muito ainda se falará ou escreverá sobre os efeitos desta pandemia, para além do que vamos sabendo dos números e hospitais. Psicólogos e sociólogos têm aqui muito para investigar e concluir.

Sobre a máscara que nos protege (e aos outros). E sobre a máscara que nos agride (e aos outros).


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