segunda-feira, 27 de junho de 2022

Chamem-me o que quiserem




Uma das questões que mais atrapalha e comanda os comportamentos é o estar-se ou não integrado numa dada sociedade ou grupo.

E, com isso, controlar os seus comportamentos pelos comportamentos medianos, por aquilo que a “sociedade” define como correcto e não criticável.

Nada de mais errado, absurdo, contraproducente e castrante!


Esta atitude não permite o desenvolvimento e a felicidade do indivíduo, com todas as suas características e potencialidades!

Apenas o transforma em mais um número, ajustando-se à mediania, com receio de ser diferente, notado, apontado a dedo, marginalizado em última análise.

E o erro, a meu ver e ainda ninguém argumentou e me convenceu em contrário, está na definição de “pertencer à sociedade”!

O que de facto acontece, e que poucos são os que o reconhecem ou afirmam e menos ainda os que agem em conformidade, é que no lugar de se pertencer, é-se a sociedade.

A sociedade é o conjunto de todos, com todas as vantagens do grupo e de cada um dos indivíduos. Não se integra a sociedade mas antes molda-se a sociedade à medida de cada um. E a soma de todos os “uns” forma o conjunto!

A contribuição que cada um faz nela, o empurrão que cada um dá no seu trajecto é que define o seu rumo, as suas regras, as suas leis e os comportamentos do todo.

Estas não são definidas por uma qualquer entidade obscura, mítica e autocrática, mas antes pela vivência e vontade de cada um dos seus componentes.

Andar nu, de fraque ou com nariz vermelho e grande é igualmente legítimo!

Ter este ou aquele comportamento apenas porque o grupo o define e não porque o queremos, é integrar um grande rebanho onde os pastores, filósofos, gestores ou políticos nos conduzem pela certa através de um pasto verdejante até ao matadouro ou altar onde nos sacrificam aos seus interesses privados ou entidades divinas.


Pela parte que me toca, tenho comportamentos que estão de acordo ou em desacordo com os que me cercam, não porque eles o querem ou o censuram mas antes porque eu o quero e eu sou a sociedade.


Sem todos os eus, a sociedade não existia!  


By me

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Dos arquivos de um photógrapho à-lá-minuta – Uma fotografia que não mostro



 

Eram duas famílias: Mãe e uma filha, mãe e três rebentos. E se a primeira já era conhecida e queria fazer uma fotografia, desta feita apenas com a filha, a segunda estanhava tudo aquilo e escondia-se atrás dos seus grandes óculos escuros.

Mas uma piada aqui, um elogio ali, bem como o pedir para ver o que se escondia, acabou com alguma inibição e também quiseram ficar com uma recordação. Mas sempre com desconfiança!

Aquando das perguntas habituais, inquiri se também não queria a fotografia na web e se pelos mesmos motivos. Tristemente, a resposta foi que sim, e mais não adiantámos sobre o assunto. Mas as perguntas sacramentais e inocentes fizeram-se e foram respondidas.

Pela mãe a seu respeito e sobre as crianças mais pequenitas. Com a mais velhinha, que ainda era um pirralho de gente mas já capaz de responder, falei directamente. Estava de cenho franzido e cara zangada. E, quando questionada, soube dizer o seu nome e idade, tal como desmentiu a mãe sobre os restantes membros da família, tanto em nomes como em idades.

O sorriso da mãe, percebido pelo canto do olho, foi confrangedor mas não me dei por achado. Não alterei uma virgula ao que já tinha escrito, anotando apenas o que à pequenita dizia respeito.

A fotografia, entretanto pronta, foi entregue e, com mais uns elogios aos olhos e sorrisos que eram de facto lindíssimos, afastaram-se após a saudação e os desejos de que aproveitassem a tarde que estava apetitosa.

Mas ficou-me a cutucar cá por dentro a história recente não contada desta família e a desconfiança escondida. Não resisti:

Aproveitando uma paragem, fruto de umas corridas dos pequenotes, aproximei-me e chamei-a de parte. Em tom baixo, e aproveitando a brancura e tamanho das minhas barbas, lembrei-lhe que nem todo o mundo é merecedor de desconfiança. Talvez mesmo até pelo contrário.

Sorriu, baixou os olhos e murmurou um obrigado. E afastou-se, chamada que foi por uma das crianças.

 

Fiquei a ver todos eles a afastarem-se, minorcas e maiorcas. E com a esperança que, em breve, tenham motivos para acreditarem no que lhe disse. Podendo, nessa altura, voltarem a este espaço com sorrisos reais e menos tristeza na alma.


By me

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Livros




Acabo de ler um post de um editor e livreiro, com alguma amargura, a falar da actual tendência para a leitura em suporte digital.

Entendo-o, enquanto profissional e enquanto amante de livros. Tal como entendo, em parte, a tendência actual.

Por mim, enquanto amante da leitura em papel, que não resiste a uma livraria ou alfarrabista, entristece-me a digitalização do livro.

O cheiro, a posse do objecto, o manuseio, a identificação da capa ou lombada... há coisas que o digital não substitui.

Mas há outra coisa que me entristece: saber que o meu acumulo de livros, com uma quantidade de obras relacionadas com a imagem, mais antigos ou mais actuais, será algo para ignograr, vender a peso ou apenas para queimar aquando da minha morte.

Os conteúdos ali registados perder-se-hão sem aproveitar a mais ninguém. Não creio que algum familar ou amigo dê algum valor ao que aqui consta, seja económico ou imaterial.

Com sorte, o que deles consegui aprender ou irei aprender, passei-o ou irei passá-lo a quem me queira ouvir ou ler. Mas será sempre a minha interpretação do que absorvi, não o prazer de o fazer e disso reter a sua própria interpretação e escolha.

Em breve o espaço aqui em casa irá diminuir notoriamente com o que irei receber de uma biblioteca particular da qual sou um dos herdeiros. Espero ter tempo de todos ler e com eles aprender. Que disso nunca desistirei.


By me

domingo, 12 de junho de 2022

Auto-crítica



O meu cão não gosta de ser fotografado. Tal como algumas pessoas.

Só que estas protestam contra o acto ou conformam-se com o haver um fotógrafo por perto. Já ele, por seu lado, não protesta. Quando vê uma objectiva apontada para ele afasta-se ou vira-se costas, o que vem a dar no mesmo.

Conseguir “apanha-lo” é assim uma questão de sorte ou de teimosia.

Neste caso, o truque foi que ele não desse por mim a usar uma câmara. Tentando não ser notado, nem pensei em ir buscar uma câmara: foi mesmo com o telemovel.

O problema é que o seu ângulo de visão é bem aberto e a minha atitude de não lhe chamar a atenção impediu-me de me aproximar.

O recurso foi “enquadrar dentro do enquadramento”. Por outras palavras, foi usar os objectos em redor, truncando-os e criando um outro rectângulo, de modo a que o olhar fosse conduzido irremediavelmente para onde eu queria. O chão vazio não ajudava, mas o colocar os pés encheu-o.

Está torta, a fotografia. Está sim senhor!

Não me apercebi disso quando fotografei, que a minha posição e a do telemovel não me permitiram dor pela coisa. Mas pouco depois, ao editá-la, vi que estava e decidi, mesmo assim, não a corrigir. O declive do chão e a instabilidade de algo que sabemos vertical são assumidos, tentando demonstrar a contradição da pacatez de uma pouco mais que madrugada ainda tépida, mas que se antevê vir a ser bem quente, com o nervosismo de quem fotografa e não quer deixar passar a ocasião.

Não gosto de fotografias “só um poucochinho” tortas. Mas esta aceito-a. Talvez porque existe uma linha não real – a do olhar dele – que olhando para o horizonte por entre as cortinas, está horizontal.


By me

sábado, 11 de junho de 2022

À espera do namorado




Disse um mestre na matéria: “Um fotógrafo é um taxidermista do tempo”.

Eis um bom exemplo de algo irrepetível registado para sempre pelos processos da escrita da luz:

Esta árvore não mais poderá ser fotografada desta forma. Elas crescem, os galhos alongam-se e as folhas espraiam-se de modo diferente de ano para anos;

Aquela mocinha ali sentada, talvez estudante universitária, talvez esperando pelo namorado, não mais ali se sentará assim. Passados que são doze anos sobre o registo, se ali se voltar a sentar talvez esteja a cuidar de um pimpolho que corre atrás dos pombos no jardim;

Aquela parede, com idade para ser minha avó, já não existe, tal como ela. Na voragem da modernidade urbana, foi criteriosamente demolida para dar lugar a um qualquer empreendimento residencial ou de serviços. Que os valores do centímetro quadrado não se compadecem com os valores históricos da arquitetura industrial.

Porque é que fiz esta fotografia? Bem, deste espaço por onde passo amiúde, tenho diversas fotografias. Mas dele também tenho a frustração de ainda não ter conseguido registá-lo de forma satisfatória. A sensação que tenho, conhecendo-lhe a história, é que ainda não captei a sua “alma”, que todos os espaços possuem uma.

Aguardo que termine o interregno entre a demolição e a inauguração para tentar descobrir que “alma” sobrevem por aqui.


By me

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Projecto formativo




Tivesse eu a oportunidade e a coragem de conceber de raiz uma formação em imagem (fotografia), e seria radical na diferença.

Presumindo que alguém alguma vez teria a coragem de querer aprender o pouco que sei e os primeiros tempos, talvez dois meses, seriam passados sem recurso a câmaras fotográficas, computadores ou quejandos.

Cada sessão, de duas a três horas, seria passada em laboratório. Preto e branco. Não a imprimir imagens já feitas mas a fazer imagens no papel, recorrendo a objectos opacos ou mais ou menos translúcidos.

Um pouco à imagem e semelhança do que fez Man Ray e outros, com os seus conhecidos Rayogramas.

Claro que isto implicaria alguma coragem e aceitação por parte dos formandos. Tanto tempo sem produzir uma fotografia que fosse…! E paciência.

Há várias vantagens nesta invulgaridade.

Desde logo a disciplina pessoal. O laboratório, com o seu rigor de método, a impossibilidade de se acelerar os processos, o respeito pelos demais participantes no trabalhar em ambiente de luz controlada, a sistematização de raciocínio… Tudo isto vai permitir que o formando se discipline e que seja capaz de aceitar o tempo como parte do processo criativo e não como um obstáculo.

Em seguida, o permitir antever os resultados na mente antes de executar algo. E com certezas. A opacidade ou a translucidez dos objectos tem comportamentos diferentes à vista e no papel sob a luz. Ser capaz de prever os resultados e de gerir a experimentação em função da experiência e do desconhecido faz parte do processo criativo. Fotográfico ou outro.

Do ponto de vista estético, este método permite gerir manchas mais escuras ou mais claras, antevendo-as, no rectângulo do papel. Mais que regras de composição, linhas de fuga, proporções anatómicas ou jogos de perspectiva, a produção de rayogramas permite descobrir e explorar o equilíbrio de massas, áreas, densidades de claro escuro dentro do espaço disponível. Definição de equilíbrios e importâncias na forma para além do conteúdo.

Vai ainda permitir a descoberta da gestão das relações de contraste do claro escuro em função da emoção que se pretende reproduzir, para além de conteúdos conhecidos e formas definidas. E antever isso mesmo olhando para uma superfície branca, antes de nela incluir qualquer obstáculo à luz.

Mas, acima de tudo, irá permitir que o formando de habitue à sua própria sensibilidade na disposição dos elementos no espaço definido à margem de regras, códigos ou imposições sociais. O formando consigo mesmo, sujeito apenas às opiniões de colegas e formadores, sem outros códigos que as suas sensibilidades.


Só depois disto, só depois de ter criado formas e lidado com o rectângulo passaria a incluir elementos concretos, agora com o recurso a tudo o que a fotografia permite: a câmara e a objectiva, com o tratamento posterior num editor de imagem.

Mas em aqui chegando, vai sem mais vícios que os que tinha ao entrar, nem desconfia que existam regras de composição e já se habituou a gerir o espaço.


A ideia não é minha de raiz mas antes o resultado de algumas leituras e experiências.

Mas não acredito que algum industrial da educação ou formação alguma vez arriscasse a investir em tal projecto.

Fica naquele canto onde guardamos projectos que sabemos só concretizar se houver meios e oportunidade.


By me

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Só um bocadinho




Oh pah! Vocês que me desculpem, mas se há coisa que me tira do sério em fotografia é ver imagens ”um bocadinho” tortas.

Claro que a criatividade e a representação do universo como o vemos ou sentimos não tem limites. Nem pequenos nem grandes.

Sabemos que o mar, lá no horizonte, é tão curvo quanto o planeta. Mas este é tão grande que criámos um termo para a forma como o vemos: horizontal!

Também sabemos que candeeiros e prédios têm uma verticalidade matemática. A tal ponto que a Torre de Pisa é icónica por o não ser. E só uma situação de perspectiva forçada mostra postes e empenas tortas. Ou então deduzimos de imediato que houve um acidente ou que o prédio está para cair.

O “só um bocadinho” torto incomoda-me. Não apenas põe em causa o equilíbrio do universo (supondo que ele existe) como demonstra falta de cuidado do fotógrafo. Na tomada de vista ou na edição.

Claro que até pode ser propositado. Criar desconforto em quem vê a imagem, demonstrar um estado de desânimo ou de bebedeira, de protesto contra as regras instituídas... claro que pode ser propositado, este entortar o que é horizontal ou vertical. Mesmo que “só um bocadinho”.

Se o objectivo é incomodar-me, conseguem-no. Mas as mais das vezes não é. Paisagens paradisiacas, fins de dia explêndidos, urbes plenas de geometrias e movimento... ver isto “só um bocadinho” desnivelado incomoda-me porque se percebe, para além de qualquer dúvida, que não foi intencional mas tão só descuido.

Por favor: nivelem ou desnivelem as vossas imagens, mas façam-no propositadamente.


By me

sábado, 4 de junho de 2022

Presente/futuro




A fotografia e o texto têm dez anos, mais dia, menos dia. Tão actual hoje como então!


Uma das coisas que a rapaziada nova se vai queixando, e com alguns motivos para tal, é de a escola ser como que uma prisão!

Em boa verdade, a escola, como ela é hoje e tem sido ao longos dos tempos, obriga a disciplina, ao silêncio, ao prestar atenção a matérias nem sempre fáceis de entender, a trabalhar quando o clima e os afectos pedem outras coisas… E, principalmente, a gestão do tempo é decidida por toques de campainha e façanhudos adultos que repetem até à exaustão “É proibido, é obrigatório, é a hora de!”

Na prática, estes impositores de acções apenas vão preparando a canalha miúda ou os irrequietos adolescentes para uma vida activa e integrada na sociedade, onde essas imposições e proibições sucedem sem o olhar complacente ou protector de professores ou funcionários e onde a lei do “salve-se quem puder” é a base do relacionamento.

Claro que esta preparação para o futuro, na escola, pode ser divertidíssima, numa mescla do lúdico e da aprendizagem, desde a creche até à universidade. Assim saibam os gestores e decisores do sistema de ensino criar as condições para que tal aconteça.

Mas, por muito agradável que possa ser o que se passa entre muros escolares, por muito simpáticos e divertidos que sejam quem lá trabalha e os conteúdos que por lá se aprendem, certamente que não é apetecível entrar na escola se esta tiver os seus limites desta forma decorados: com arame farpado!

Estas barreiras dolorosas, física e psicologicamente agressivas, são certamente um motivo de desânimo e desinteresse para quem, querendo viver a vida a seu bel-prazer, se vê obrigado a franquear estes portões todos os dias.

Foi isto que fui encontrar um destes dias, bem como cacos de vidros cimentados no topo dos muros, num liceu que frequentei na minha própria juventude, bem no centro de Lisboa. No liceu Rainha Dona Leonor, ali ao Alvalade.

Foi neste espaço, que frequentei nos anos que se seguiram à revolução, que aprendi na prática e na teoria, o que era liberdade, civismo, respeito pelo individuo e pelo grupo, solidariedade…

Duvido muito que o tivesse aprendido até ao tutano como o sei hoje, se tivesse que frequentar um local cercado de arame farpado, que não sei se serve para impedir a entrada se para dificultar a saída.


Não se espantem os pedagogos de hoje, se os jovens que agora ensinam os desprezarem amanhã.

Afinal, que vontade haverá de apoiar e ajudar na velhice aqueles que, na nossa juventude, nos colocaram num redil de arame farpado?


By me

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Praxis




A fotografia pode ser doce e suave ou amarga e forte ou aquilo que quisermos, dependendo principalmente da forma como a fazemos e a vemos.

Abaixo vos deixo um pedaço, por sinal o fim, de uma obra de Vilém Flusser: “Ensaio sobre a fotografia”.

Recomendo-a vivamente a todos os que se debruçam sobre fotografia, sobre a produção de imagem e, principalmente, sobre a vida.

Deixo, no entanto, o sério aviso de que não sou responsável p’los vossos actos depois de a lerem.


"…/…

A tarefa da filosofia da fotografia é dirigir a questão da liberdade aos fotógrafos, a fim de captar a sua resposta. Consultar a sua praxis. Eis o que tentaram fazer os capítulos anteriores. Várias respostas apareceram:

1. o aparelho é infra-humanamente estúpido e pode ser enganado;

2. os programas dos aparelhos permitem introdução de elementos humanos não previstos;

3. as informações produzidas e distribuídas pelos aparelhos podem ser desviadas da intenção dos aparelhos e submetidas a intenções humanas;

4. os aparelhos são desprezíveis.

Estas respostas, e outras possíveis, são redutíveis a uma: a liberdade é jogar contra o aparelho. E isto é possível.

No entanto, esta resposta não é dada pelos fotógrafos espontaneamente. Só aparece como escrutínio filosófico da sua praxis. Os fotógrafos, quando não provocados, dão respostas diferentes. Quem lê textos escritos por fotógrafos, verifica crerem eles que fazem outra coisa. Crêem fazer, "obras de arte", ou que se comprometem politicamente ou que contribuem para o aumento do conhecimento. E quem lê uma história da fotografia (escrita por um fotógrafo ou por um crítico), verifica que os fotógrafos crêem dispor de um novo instrumento para continuar a agir historicamente. Crêem que, ao lado da história da arte, da ciência e da política, há mais uma história: a da fotografia. Os fotógrafos são inconscientes da sua praxis. A revolução pós-industrial, tal como se manifesta, pela primeira vez no aparelho fotográfico, passou despercebida aos fotógrafos e à maioria dos críticos da fotografia. Eles nadam na pós-indústria, inconscientemente. Há, porém, uma excepção: os chamados fotógrafos experimentais; estes sabem do que se trata. Sabem que os problemas a resolver são os da imagem, do aparelho, do programa e da informação. Tentam, conscientemente, obrigar o aparelho a produzir uma imagem informativa que não está no seu programa. Eles sabem que a sua praxis é uma estratégia dirigida contra o aparelho. Mesmo sabendo, não se dão conta do alcance da sua praxis. Não sabem que estão a tentar dar resposta, através da sua praxis, ao problema da liberdade num contexto dominado por aparelhos, problema que é, precisamente tentar opor-se.

Urge uma filosofia da fotografia para que a praxis fotográfica seja consciencializada. A consciencialização dessa praxis é necessária porque sem ela, jamais captaremos as aberturas para a liberdade na vida do funcionário dos aparelhos. Noutros termos: a filosofia da fotografia é necessária porque é uma reflexão sobre as possibilidades de se viver livremente num mundo programado por aparelhos. Uma reflexão sobre o significado que o homem pode dar à vida, onde tudo é um acaso estúpido, rumo à morte absurda. Assim vejo a tarefa da filosofia da fotografia: apontar o caminho da liberdade. Filosofia urgente por ser ela, talvez, a única revolução ainda possível."


By me