sábado, 4 de junho de 2022

Presente/futuro




A fotografia e o texto têm dez anos, mais dia, menos dia. Tão actual hoje como então!


Uma das coisas que a rapaziada nova se vai queixando, e com alguns motivos para tal, é de a escola ser como que uma prisão!

Em boa verdade, a escola, como ela é hoje e tem sido ao longos dos tempos, obriga a disciplina, ao silêncio, ao prestar atenção a matérias nem sempre fáceis de entender, a trabalhar quando o clima e os afectos pedem outras coisas… E, principalmente, a gestão do tempo é decidida por toques de campainha e façanhudos adultos que repetem até à exaustão “É proibido, é obrigatório, é a hora de!”

Na prática, estes impositores de acções apenas vão preparando a canalha miúda ou os irrequietos adolescentes para uma vida activa e integrada na sociedade, onde essas imposições e proibições sucedem sem o olhar complacente ou protector de professores ou funcionários e onde a lei do “salve-se quem puder” é a base do relacionamento.

Claro que esta preparação para o futuro, na escola, pode ser divertidíssima, numa mescla do lúdico e da aprendizagem, desde a creche até à universidade. Assim saibam os gestores e decisores do sistema de ensino criar as condições para que tal aconteça.

Mas, por muito agradável que possa ser o que se passa entre muros escolares, por muito simpáticos e divertidos que sejam quem lá trabalha e os conteúdos que por lá se aprendem, certamente que não é apetecível entrar na escola se esta tiver os seus limites desta forma decorados: com arame farpado!

Estas barreiras dolorosas, física e psicologicamente agressivas, são certamente um motivo de desânimo e desinteresse para quem, querendo viver a vida a seu bel-prazer, se vê obrigado a franquear estes portões todos os dias.

Foi isto que fui encontrar um destes dias, bem como cacos de vidros cimentados no topo dos muros, num liceu que frequentei na minha própria juventude, bem no centro de Lisboa. No liceu Rainha Dona Leonor, ali ao Alvalade.

Foi neste espaço, que frequentei nos anos que se seguiram à revolução, que aprendi na prática e na teoria, o que era liberdade, civismo, respeito pelo individuo e pelo grupo, solidariedade…

Duvido muito que o tivesse aprendido até ao tutano como o sei hoje, se tivesse que frequentar um local cercado de arame farpado, que não sei se serve para impedir a entrada se para dificultar a saída.


Não se espantem os pedagogos de hoje, se os jovens que agora ensinam os desprezarem amanhã.

Afinal, que vontade haverá de apoiar e ajudar na velhice aqueles que, na nossa juventude, nos colocaram num redil de arame farpado?


By me

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