sábado, 11 de junho de 2022

À espera do namorado




Disse um mestre na matéria: “Um fotógrafo é um taxidermista do tempo”.

Eis um bom exemplo de algo irrepetível registado para sempre pelos processos da escrita da luz:

Esta árvore não mais poderá ser fotografada desta forma. Elas crescem, os galhos alongam-se e as folhas espraiam-se de modo diferente de ano para anos;

Aquela mocinha ali sentada, talvez estudante universitária, talvez esperando pelo namorado, não mais ali se sentará assim. Passados que são doze anos sobre o registo, se ali se voltar a sentar talvez esteja a cuidar de um pimpolho que corre atrás dos pombos no jardim;

Aquela parede, com idade para ser minha avó, já não existe, tal como ela. Na voragem da modernidade urbana, foi criteriosamente demolida para dar lugar a um qualquer empreendimento residencial ou de serviços. Que os valores do centímetro quadrado não se compadecem com os valores históricos da arquitetura industrial.

Porque é que fiz esta fotografia? Bem, deste espaço por onde passo amiúde, tenho diversas fotografias. Mas dele também tenho a frustração de ainda não ter conseguido registá-lo de forma satisfatória. A sensação que tenho, conhecendo-lhe a história, é que ainda não captei a sua “alma”, que todos os espaços possuem uma.

Aguardo que termine o interregno entre a demolição e a inauguração para tentar descobrir que “alma” sobrevem por aqui.


By me

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