Disse um mestre na matéria: “Um fotógrafo é um taxidermista
do tempo”.
Eis um bom exemplo de algo irrepetível registado para sempre
pelos processos da escrita da luz:
Esta árvore não mais poderá ser fotografada desta forma. Elas
crescem, os galhos alongam-se e as folhas espraiam-se de modo diferente de ano
para anos;
Aquela mocinha ali sentada, talvez estudante universitária,
talvez esperando pelo namorado, não mais ali se sentará assim. Passados que são
doze anos sobre o registo, se ali se voltar a sentar talvez esteja a cuidar de
um pimpolho que corre atrás dos pombos no jardim;
Aquela parede, com idade para ser minha avó, já não existe,
tal como ela. Na voragem da modernidade urbana, foi criteriosamente demolida
para dar lugar a um qualquer empreendimento residencial ou de serviços. Que os
valores do centímetro quadrado não se compadecem com os valores históricos da
arquitetura industrial.
Porque é que fiz esta fotografia? Bem, deste espaço por onde
passo amiúde, tenho diversas fotografias. Mas dele também tenho a frustração de
ainda não ter conseguido registá-lo de forma satisfatória. A sensação que
tenho, conhecendo-lhe a história, é que ainda não captei a sua “alma”, que
todos os espaços possuem uma.
Aguardo que termine o interregno entre a demolição e a inauguração
para tentar descobrir que “alma” sobrevem por aqui.
By me
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