quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Em branco


 


Faz tempo que não me acontecia:

Ter um assunto sobre o qual perorar e faltar-me a arte ou o engenho para o fazer.  

O tema é por si só complexo: as ligações afectivas com uma imagem fotográfica. Ligações positivas e negativas, o modo de o manifestar, as consequências dessas manifestações e emoções e as diferenças disto tudo entre a imagem em formato digital e em suporte físico.

Tenho tentado dar corpo a essas ideias sob a forma de texto e imagem passível de ser acedido por aqui, nas autoestradas da informação e nas redes sociais. Mas estou em crer que ainda não estiveram essas ideias em “banho maria” aqui na minha cabeça o tempo suficiente para as colocar cá fora organizadas e sucintas o suficiente.

Que, para cada ponto acrescentado, muitos são os que surgem correlacionados, qual deles o mais complexo e com mais ramificações.

Talvez que não tenha pensado o suficiente sobre o assunto. Talvez que não tenha lido o suficiente de outros pensadores sobre o assunto. Talvez que, enquanto produtor de imagens fotográficas, não consiga o distanciamento suficiente. Talvez que tenha que deixar de ter afectos (positivos ou negativos) com as imagens para sobre isso discorrer.

Mas as ideias estão aí, batendo-me forte até porque com motivos recentes. Quase que me brotam da testa, quando não do teclado ou da caneta.

Mas o síndroma do papel virgem ou do ecrã vazio é terrível e doloroso.


By me

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Não me fΘd@m!


 


Volta e meia recordo uma expressão que um chefe que tive usava amiúde: “Oh pah, fΘd@-se, não me fΘd@s!”

Vem isto a propósito do conceito bacoco de a representação pictórica (pintura ou fotografia) ter que ser objectica, clara, legível, inequívoca.

Não me fΘd@m! Não tem que ser!

Tem que ser, antes de mais, um equivalente do que a alma de quem criou “viu”, sentiu, pensou, idealizou. A partir do momento em que o que fez corresponda a isso, está feito e bem feito.

O ser interpretável por quem isso veja é outra questão, bem mais complexa.

Começa, desde logo, pela decisão do autor sobre se essa questão é ou não pertinente.

Se for pertinente o autor terá, naturalmente, que se expressar usando códigos visuais que o público entenda. Óbvia ou implicitamente. E terá que adaptar aquilo que sente ou imaginou a esses códigos. A isto chama-se “comunicação visual”. E só será um trabalho bem feito se conseguir comunicar com o público. Se este conseguir “ver” ou sentir aquilo que o autor quis que “visse” ou sentisse. Mesmo dando uma “margem de manobra” muito grande, permitindo múltiplas interpretações.

Mas se não for pertinente, se o factor “comunicação” não for importante... Não me fΘd@m! O autor pode fazer o que muito bem entender, explícito ou confuso ao público, mesmo não interpretável, que a única coisa que conta é a sua satisfação em ter conseguido materializar o que “viu” ou sentiu.

E o público, especialista ou não, o mais que pode dizer é “não entendo”. Qualquer outro tipo de comentário é um disparate, porque o que está a ver não foi feito para que entenda ou interprete.

Claro que no caso da fotografia a coisa é mais complicada que na pintura. Que se admite a um autor pintar sem ser representativo, mas não se aceitam fotografias que não sejam “legíveis”! A ideia, oriunda dos primórdios do processo fotográfico, de que a fotografia é uma cópia da realidade ainda hoje vinga. É um disparate, mas ainda hoje vinga.

E como a esmagadora maioria dos utilizadores de câmaras fotográficas procura o agrado do público, procura igualmente produzir imagens interpretáveis, quantas vezes castrando a sua própria criatividade em prol do aplauso.

Oh pah! Não me fΘd@m!


By me