Volta e meia recordo uma expressão que um chefe que tive
usava amiúde: “Oh pah, fΘd@-se, não me fΘd@s!”
Vem isto a propósito do conceito bacoco de a representação
pictórica (pintura ou fotografia) ter que ser objectica, clara, legível, inequívoca.
Não me fΘd@m! Não tem que ser!
Tem que ser, antes de mais, um equivalente do que a alma de
quem criou “viu”, sentiu, pensou, idealizou. A partir do momento em que o que
fez corresponda a isso, está feito e bem feito.
O ser interpretável por quem isso veja é outra questão, bem
mais complexa.
Começa, desde logo, pela decisão do autor sobre se essa
questão é ou não pertinente.
Se for pertinente o autor terá, naturalmente, que se
expressar usando códigos visuais que o público entenda. Óbvia ou
implicitamente. E terá que adaptar aquilo que sente ou imaginou a esses
códigos. A isto chama-se “comunicação visual”. E só será um trabalho bem feito
se conseguir comunicar com o público. Se este conseguir “ver” ou sentir aquilo
que o autor quis que “visse” ou sentisse. Mesmo dando uma “margem de manobra”
muito grande, permitindo múltiplas interpretações.
Mas se não for pertinente, se o factor “comunicação” não for
importante... Não me fΘd@m! O autor pode fazer o que muito bem entender,
explícito ou confuso ao público, mesmo não interpretável, que a única coisa que
conta é a sua satisfação em ter conseguido materializar o que “viu” ou sentiu.
E o público, especialista ou não, o mais que pode dizer é “não
entendo”. Qualquer outro tipo de comentário é um disparate, porque o que está a
ver não foi feito para que entenda ou interprete.
Claro que no caso da fotografia a coisa é mais complicada
que na pintura. Que se admite a um autor pintar sem ser representativo, mas não
se aceitam fotografias que não sejam “legíveis”! A ideia, oriunda dos primórdios
do processo fotográfico, de que a fotografia é uma cópia da realidade ainda
hoje vinga. É um disparate, mas ainda hoje vinga.
E como a esmagadora maioria dos utilizadores de câmaras fotográficas
procura o agrado do público, procura igualmente produzir imagens interpretáveis,
quantas vezes castrando a sua própria criatividade em prol do aplauso.
Oh pah! Não me fΘd@m!
By me
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