domingo, 12 de junho de 2022

Auto-crítica



O meu cão não gosta de ser fotografado. Tal como algumas pessoas.

Só que estas protestam contra o acto ou conformam-se com o haver um fotógrafo por perto. Já ele, por seu lado, não protesta. Quando vê uma objectiva apontada para ele afasta-se ou vira-se costas, o que vem a dar no mesmo.

Conseguir “apanha-lo” é assim uma questão de sorte ou de teimosia.

Neste caso, o truque foi que ele não desse por mim a usar uma câmara. Tentando não ser notado, nem pensei em ir buscar uma câmara: foi mesmo com o telemovel.

O problema é que o seu ângulo de visão é bem aberto e a minha atitude de não lhe chamar a atenção impediu-me de me aproximar.

O recurso foi “enquadrar dentro do enquadramento”. Por outras palavras, foi usar os objectos em redor, truncando-os e criando um outro rectângulo, de modo a que o olhar fosse conduzido irremediavelmente para onde eu queria. O chão vazio não ajudava, mas o colocar os pés encheu-o.

Está torta, a fotografia. Está sim senhor!

Não me apercebi disso quando fotografei, que a minha posição e a do telemovel não me permitiram dor pela coisa. Mas pouco depois, ao editá-la, vi que estava e decidi, mesmo assim, não a corrigir. O declive do chão e a instabilidade de algo que sabemos vertical são assumidos, tentando demonstrar a contradição da pacatez de uma pouco mais que madrugada ainda tépida, mas que se antevê vir a ser bem quente, com o nervosismo de quem fotografa e não quer deixar passar a ocasião.

Não gosto de fotografias “só um poucochinho” tortas. Mas esta aceito-a. Talvez porque existe uma linha não real – a do olhar dele – que olhando para o horizonte por entre as cortinas, está horizontal.


By me

Sem comentários: