O meu cão não gosta de ser fotografado. Tal como algumas
pessoas.
Só que estas protestam contra o acto ou conformam-se com o
haver um fotógrafo por perto. Já ele, por seu lado, não protesta. Quando vê uma
objectiva apontada para ele afasta-se ou vira-se costas, o que vem a dar no
mesmo.
Conseguir “apanha-lo” é assim uma questão de sorte ou de
teimosia.
Neste caso, o truque foi que ele não desse por mim a usar
uma câmara. Tentando não ser notado, nem pensei em ir buscar uma câmara: foi
mesmo com o telemovel.
O problema é que o seu ângulo de visão é bem aberto e a
minha atitude de não lhe chamar a atenção impediu-me de me aproximar.
O recurso foi “enquadrar dentro do enquadramento”. Por outras
palavras, foi usar os objectos em redor, truncando-os e criando um outro
rectângulo, de modo a que o olhar fosse conduzido irremediavelmente para onde
eu queria. O chão vazio não ajudava, mas o colocar os pés encheu-o.
Está torta, a fotografia. Está sim senhor!
Não me apercebi disso quando fotografei, que a minha posição
e a do telemovel não me permitiram dor pela coisa. Mas pouco depois, ao
editá-la, vi que estava e decidi, mesmo assim, não a corrigir. O declive do
chão e a instabilidade de algo que sabemos vertical são assumidos, tentando demonstrar
a contradição da pacatez de uma pouco mais que madrugada ainda tépida, mas que
se antevê vir a ser bem quente, com o nervosismo de quem fotografa e não quer
deixar passar a ocasião.
Não gosto de fotografias “só um poucochinho” tortas. Mas
esta aceito-a. Talvez porque existe uma linha não real – a do olhar dele – que olhando
para o horizonte por entre as cortinas, está horizontal.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário