O meu olhar foi
atraído na montra por dois artigos: aquilo que me parecia ser uma lata de
sardinhas com uma objectiva e um projector de imagens usando um smartphone como
base.
Quando me
mostraram a “lata” e percebi que se tratava de mais um artigo da “Lomo” franzi
o nariz e disse qualquer coisa como “Pronto! Mais uma das da Lomo.”
“Mas porquê essa
reacção?” perguntou-me um dos empregados. “Tem alguma coisa contra as Lomo?”
“Claro que tenho!
A fotografia deverá ser feita com a melhor qualidade possível, nos seus
diversos aspectos. O conceito das Lomo, que é a total descontracção e nenhuma
preocupação com o que se faz, é a antítese da fotografia.
A falta de
qualidade das objectivas, quais fundo de garrafa numa caixa de sapatos, pode
ser usada como opção estética, como ferramenta comunicativa. Não como modismo
para disfarçar a incapacidade de quem fotografa.
É um pouco como a
diferença entre usar o termo “tirar uma fotografia” e o termo “fazer uma
fotografia”.
Que o verbo tirar
é negativo, de tirar algo a alguém, coisa que ensinamos as crianças a não
praticar. Já o verbo fazer implica criar algo, construir algo de raiz, por
vezes do nada. É uma atitude positiva.
E fotografar é um
acto criativo, mesmo que partindo de assuntos e luz que não são nossos e que
não dominamos.
O fazer negócio
tendo por base a má qualidade do equipamento é usar o termo tirar no sentido
original da palavra.”
Ficaram, ele e
ela, a olhar para mim. Afinal, o negócio deles é o fast-food fotográfico, as
modas efémeras, o low-cost qualitativo.
Mas saí eu de lá
com algo que não esperava encontrar: um rolo fotográfico formato 110, e a
informação de quem o processa. Terei assim, mesmo que seguindo modas inúteis,
oportunidade de usar a primeira câmara que comprei, com os trocos possíveis de
um estudante liceal com poucas posses. Que apesar de ser baratinha e cabendo no
bolso, tinha e tem objectiva de vidro com a melhor qualidade possível para o
tamanho e complexidade.
By me
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