Conheci em tempos
uma senhora que, tendo nascido e vivido na sua infância na Rússia, foi levada pelos
pais para Israel e acabou por migrar já adulta para os EUA, onde casou e vive.
Era divertido e
confuso conversar via texto com ela, que o seu teclado estava configurado para
os três tipos de caracteres que dominava (cirílico, hebraico e latino) e nem
sempre escolhia o certo para teclar comigo.
Uma ocasião lançou
ela um apelo aos seus amigos e conhecidos na net: Ia ter o primeiro filho, que
já sabia ser um rapaz, e queria escolher o respectivo nome.
O problema era que
esse nome deveria começar por uma letra (não recordo já qual), as pessoas que o
tivessem usado teriam que ter sido ilustres e não terem sido conhecidas por
actos nefastos ou maldosos, deveria ter um determinado número mínimo de letras…
todo um conjunto de condições um pouco estranhas para nós.
Todas estas
condicionantes advinham da sua cultura, onde o nome escolhido deveria ser
indicativo ou origem de boa-sorte e auguro de uma vida boa e honrada.
Faz sentido esta
preocupação de uma futura mãe sobre o advir do filho.
Não faz é sentido
algum que ela se preocupe com tudo isto e nem um nico sobre se a criança viria
ou não a gostar do nome.
O nome dado a um
recém-nascido é um carimbo que o acompanhará para o resto da vida, goste-se ou não
dele. É uma decisão imposta por terceiros que condiciona o indivíduo. Toda a
vida e após ela.
Serei dos poucos,
talvez, que recusou esta tirania.
Assumi há muito como
meu um fonema, composto apenas por duas letras, e recuso os pontinhos
indicadores de iniciais. O fonema transformou-se no meu nome, escolhido por mim
e a ele respondo.
O que surgiu quase
que por acaso, devido a uma questão política e de verdade factual, acabou por
ser um grito de independência e autonomia.
Que não sou o que
outros querem que seja mas o que quero ser, tudo fazendo por isso. Mesmo o
nome.
Liberdade também é
isso.
(Nota extra fotográfica
- A imagem já tem uns anitos. Mas serve para ilustrar a tal luz de que gosto e
o conceito que defendo: definir num espaço ou acção um ponto como origem da luz
de cena. O restante que possa usar apenas serve para controlo de contraste ou
modelação de sombras.)
By me
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