Era coquete, ela. Não particularmente
bonita, mas coquete.
Andou à minha volta uma vez, outra, ainda
outra. Uma delas tão perto que se lhe tivesse soprado teria volteado. Não
soprei, tentando perceber até que ponto estava ela interessada no que na estação
ferroviária se passava em geral e na minha pessoa em particular.
Acabou por parar ali, depois de umas
tentativas de passar pelo vidro. Frustradas, naturalmente.
Aproximei-me, quase que como quem não quer
a coisa. E ela ali, parada, fazendo de conta que não me via.
Baixei-me e estiquei a mão, aberta e de
palma para cima, em sinal de paz. Talvez que quisesse vir. Não quis.
Com cautela, retirei a câmara de bolso do
dito e preparei-a. Assim como quem não quer a coisa.
E ela, ali parada, fazia de conta que estava
interessada no que se passava lá em baixo, na rua.
Fiz uma fotografia. E duas. E outra ainda.
A minha câmara de bolso é versátil mas não tanto, e isto foi o melhor que
consegui.
E ela ali, como se nada se passasse.
Levantei-me e dei um passo atrás. Afinal, já
tinha as fotos, melhores ou piores, e nada de mal lhe queria.
Levantou-se ela e aproximou-se de mim.
Quase roçando a minha cara. E deu-me uma volta. E outra. E outra ainda. E eu a
rodar sobre mim mesmo, como pião no empedrado, ou borboleta em torno de lâmpada
acesa, olhando para ela e sorrindo.
Assim como veio, assim como se foi, leve e
despreocupada, ora subindo, ora descendo, dando ainda duas voltas sobre si
mesma, como que a olhar para trás.
Separámo-nos como bons amigos.
By me
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