Não era para ser
nem assim nem hoje.
Mas o que mais faz
rir os deuses, quando se encontram num tasco lá no Olimpo, é conversarem sobre
os planos dos Homens.
Portanto, fui ver
hoje a exposição fotográfica de Sebastião Salgado.
Sabia ao que ia,
mas nem esperava tanto. Tanta qualidade ali, a transbordar daquelas
fotografias.
Claro que me
encheu o olho e a alma os assuntos fotografados. Andou ele por meio mundo para
os procurar e registar, fazendo com que tenhamos uma visão talvez diferente de
quem somos, onde estamos e o que fazemos com a nossa civilização.
Na prática, uma
continuidade do seu trabalho. Do seu excelente trabalho.
Mas o que me deixou
rendido foi o seu olhar. Foi a capacidade de conjugar o que lá estava com a luz
e de o registar. Caramba! Fiquei boquiaberto com tão bom.
Depois… depois
fiquei satisfeito comigo mesmo.
Porque aquilo que
ali me encheu até aos bordos é exactamente aquilo que procuro fazer.
Não falo dos
assuntos mas da luz.
É aquela luz que
eu gosto, é aquela luz que eu quero usar.
Aquela luz que vem
de lá, do outro lado do assunto, que mostra os relevos e as texturas…
É notória essa
abordagem na esmagadora maioria das imagens mostradas. Até mesmo numa situação
em que se esperaria que fosse o contrário – o interior de uma cabana construída
no alto de uma árvore, a opção foi estar de frente para a luz. Lindo!
Claro que não
gostei da luz da sala a reflectir-se nos vidros, obrigando a gincanas entre o
restante público para ter a riqueza da totalidade da gama tonal.
Tal como não
gostei do ecoar nas paredes das conversas de grupos de galináceos, que com isso
impediam a concentração no exposto. Quase pareciam estar numa loja em saldos.
E odiei o livro à
venda à saída! Não tanto pelo preço, e era bem caro. Mas há coisas cujo valor não
se mede em euros. Odiei a péssima impressão gráfica, com os pretos profundos
transformados em meros cinzentos-escuros.
E detestei belas
fotografias completamente estragadas porque impressas a duas páginas. Caramba!
Uma fotografia, tal como um quadro, é para ser vista num todo e não com a sua
geometria e gestão de espaço selvaticamente truncados e adulterados pela
curvatura das páginas na sua união. Para já não falar que essa mesma união,
porque branca, cria uma risca dissonante mesmo a meio dos tons da fotografia.
Claro que daqui
por dois, cinco ou dez anos poucos se lembrarão dos tons profundos e puros
pendurados naquelas paredes. Os que tiverem a oportunidade de agora os ver. Mas
acabadinho de sair das salas, de me sentir esmagado pela qualidade do mostrado,
ser confrontado com aquilo… não o comprei.
Mas o que vi
ficou-me na memória.
Para quem ainda não
foi, vá! Que os tugas têm o péssimo hábito de guardar tudo para a última e
aquilo cheio de gente a ver as fotografias a vinte centímetros de distância, a
fazer selfies e a perorar observações jocosas sobre corpos nus…
E não se enganem:
a porcaria da fotografia que aqui está é minha, não do mestre.
By me
1 comentário:
Sabendo que rubrica de "discos pedidos" estão longe desta aragens...
Ainda assim gostaria de o ler a
opinar acerca do documentário
"Sal da Terra"
e exposição
"Gênesis"
Desde já grato pela sua atenção
Assíduo leitor anonimo :)
Enviar um comentário