sábado, 2 de maio de 2015

World Press Photo - again



Por estes dias chegou a Lisboa, de novo, a exposição do World Press Photo. Já é uma rotina anual.
Tal como é uma rotina anual o eu não a ir ver. Há bastantes anos que assim é, com uma ou duas excepções pelo caminho só para verificar se os meus motivos se mantinham. Mantêm-se.
O concurso selecciona e premeia fotografias ou trabalhos fotográficos da imprensa. Quer imagens isoladas, quer trabalhos mais de fundo.
E, goste-se ou não, uma parte demasiadamente grande das fotografias seleccionadas, isoladas ou em conjunto, são imagens de coisas más.
Guerra, sofrimento, catástrofe natural, fome… mesmo as de desporto dão ênfase à competição, não à prática. Mesmo as de natureza, na sua maioria, falam-nos do viver e sobreviver, as mais das vezes o viver de um à custa de outro.
As descrições acima colocadas não se aplicam a todas as imagens expostas, mas à sua grande maioria.
Ora acontece que a fotografia de imprensa é muito mais que apenas isto. Há a fotografia de arquitectura, a fotografia de viagem, a fotografia de moda, a fotografia do jet set, a fotografia industrial, a fotografia publicitária…
Todos estes géneros de fotografia são feitos para a imprensa e publicados na imprensa. Mas não constam neste certame.
Certo é que estes géneros de fotografia não fazem capa na imprensa generalista. Nem mesmo são publicadas a duas páginas no seu centro.
Surgem apenas na imprensa especializada (as referida ou outras).
Mas são boas fotografias de imprensa, algumas excepcionalmente boas fotografias. A decoração é um bom exemplo.
Mas são liminarmente excluídas do certame.
Como se só as fotografias de coisas más fossem dignas de nota e meritórias de exposição e prémios. Não são!
Não ponho em causa, de forma alguma, a qualidade dos trabalhos apresentados. A sua grande maioria é de altíssima qualidade, tanto técnica como esteticamente, como mesmo de conteúdo. E é verdade que as coisas más que acontecem pelo mundo fora têm que ser denunciadas. E esse é um dos papeis “sagrados” da fotografia.
Mas é um dos papeis. Não é “O” papel. Não é a função exclusiva da fotografia.

Comparecer na exposição do World Press Photo é contribuir com a minha presença para as estatísticas dos presentes, dando força “comercial” à exposição. É contribuir com a minha presença para reforçar a ideia que fotografia de imprensa – a que é seleccionada neste certame – é apenas a de coisas más e que as de coisas boas ou bonitas não são de imprensa.
São! Afirmo que são, defendo que são e não contribuo para que se argumente o seu oposto.
Enquanto o World Press Photo não diversificar o tipo de fotografias de imprensa que exibe e premeia, eu não comparecerei.
Se não irei ver boas fotografias? Com toda a certeza que aquelas boas fotografias não verei!
Mas exibir boas fotografias não é um exclusivo desta organização e poderei encher o olho e alma com boas fotografias – de coisas boas e de coisas más – noutros locais e situações.

Nas actuais circunstâncias e no World Press Photo, comigo não!

By me

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