Por estes dias chegou a Lisboa, de novo, a
exposição do World Press Photo. Já é uma rotina anual.
Tal como é uma rotina anual o eu não a ir
ver. Há bastantes anos que assim é, com uma ou duas excepções pelo caminho só
para verificar se os meus motivos se mantinham. Mantêm-se.
O concurso selecciona e premeia fotografias
ou trabalhos fotográficos da imprensa. Quer imagens isoladas, quer trabalhos
mais de fundo.
E, goste-se ou não, uma parte
demasiadamente grande das fotografias seleccionadas, isoladas ou em conjunto, são
imagens de coisas más.
Guerra, sofrimento, catástrofe natural,
fome… mesmo as de desporto dão ênfase à competição, não à prática. Mesmo as de
natureza, na sua maioria, falam-nos do viver e sobreviver, as mais das vezes o
viver de um à custa de outro.
As descrições acima colocadas não se
aplicam a todas as imagens expostas, mas à sua grande maioria.
Ora acontece que a fotografia de imprensa é
muito mais que apenas isto. Há a fotografia de arquitectura, a fotografia de
viagem, a fotografia de moda, a fotografia do jet set, a fotografia industrial,
a fotografia publicitária…
Todos estes géneros de fotografia são
feitos para a imprensa e publicados na imprensa. Mas não constam neste certame.
Certo é que estes géneros de fotografia não
fazem capa na imprensa generalista. Nem mesmo são publicadas a duas páginas no
seu centro.
Surgem apenas na imprensa especializada (as
referida ou outras).
Mas são boas fotografias de imprensa,
algumas excepcionalmente boas fotografias. A decoração é um bom exemplo.
Mas são liminarmente excluídas do certame.
Como se só as fotografias de coisas más
fossem dignas de nota e meritórias de exposição e prémios. Não são!
Não ponho em causa, de forma alguma, a
qualidade dos trabalhos apresentados. A sua grande maioria é de altíssima
qualidade, tanto técnica como esteticamente, como mesmo de conteúdo. E é
verdade que as coisas más que acontecem pelo mundo fora têm que ser
denunciadas. E esse é um dos papeis “sagrados” da fotografia.
Mas é um dos papeis. Não é “O” papel. Não é
a função exclusiva da fotografia.
Comparecer na exposição do World Press
Photo é contribuir com a minha presença para as estatísticas dos presentes,
dando força “comercial” à exposição. É contribuir com a minha presença para
reforçar a ideia que fotografia de imprensa – a que é seleccionada neste
certame – é apenas a de coisas más e que as de coisas boas ou bonitas não são
de imprensa.
São! Afirmo que são, defendo que são e não
contribuo para que se argumente o seu oposto.
Enquanto o World Press Photo não
diversificar o tipo de fotografias de imprensa que exibe e premeia, eu não
comparecerei.
Se não irei ver boas fotografias? Com toda
a certeza que aquelas boas fotografias não verei!
Mas exibir boas fotografias não é um
exclusivo desta organização e poderei encher o olho e alma com boas fotografias
– de coisas boas e de coisas más – noutros locais e situações.
Nas actuais circunstâncias e no World Press
Photo, comigo não!
By me
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