Uma ocasião tive
que fazer um livro!
Bem, vejamos:
“Tive que fazer” é
a expressão correcta.
Tratava-se de uma
acção de formação com duração menos que mínima para os conteúdos propostos e o
local onde decorria não possuía documentação sobre todos os temas abrangidos.
Melhor dizendo,
possuía. Mas eram tão antigos os livros ou manuais que, para além de nada
apelativos, estavam desactualizados nalguns aspectos técnicos e conceptuais.
Já “um livro” não
será bonito de dizer.
Considerando a
urgência e a impossibilidade de os formandos lerem umas quatro ou cinco dúzias
de livros no tempo da acção de formação, a minha opção foi o criar uma
“sebenta”. Um conjunto de excertos de livros, abrangendo a técnica, a estética,
a semiótica e a ética. Que não só consubstanciasse o que falaríamos em sala ou nas
práticas com equipamento como servisse de pista para leituras e aprendizagens
mais profundas a quem tivesse vontade.
Recorri à minha
própria biblioteca, sendo que alguns trechos tiveram que ser traduzidos a
partir dos originais em inglês, francês ou castelhano. Outros tiveram que ser
corrigidos no seu português, já que tinham sido editados no Brasil. Outros
ainda tiveram que ser produzidos de raiz, texto e ilustrações, por falta
publicações suficientemente condensadas para o efeito.
O resultado? De
cada vez que lhe passo os olhos arrepio-me!
Não contem erros,
tanto quanto me é dado a perceber, mas é uma verdadeira manta de retalhos mal
amanhada, em que os estilos de escrita e o tipo de ilustrações se misturam
assustadoramente, sendo muito menos apelativo ou didáctico do que gostaria ou
faria sentido.
Não estou
particularmente arrependido de o ter feito, já que se tratou de uma urgência
imperiosa, mas garantidamente que nunca o faria deste modo tendo tido tempo
para pensar, pesquisar e escrever. Principalmente pensar.
Infelizmente, este
meu fiasco não é original.
O que mais não
falta por aí, nas estantes das livrarias, nos escaparates dos supermercados e
mesmo na internete, são arremedos de livro, sebentas mal amanhadas, arrojos de
sabedoria colados com cuspo.
Nada disso seria
particularmente grave se um livro não tivesse a terrível responsabilidade de
ser permanente. Mais ainda, de ser considerado, por parte de quem o lê, como
saber. Quer esteja impresso, quer esteja nos servidores virtuais.
A responsabilidade
de quem escreve com intuitos didácticos é demasiado elevada para ser encarada
com leviandade.
Os autores, para
além de terem que se aplicar no que fazem, não podem ser pressionados com o
factor tempo ou popularidade. E devem ter a humildade de fazer passar os seus
escritos, antes de publicarem, por revisores. Pessoas honestas, que vejam o que
está escrito sob diversas perspectivas, que vão da correcção das ideias às
qualidade do português, passando pela coesão do conteúdo.
Exactamente aquilo
que não fiz!
Ao longo dos
tempos, principalmente os últimos, têm-me questionado amiúde porque não publico
eu. Em papel.
Tenho arremedos de
livros, esboços de coisas inúteis e um ou outro que talvez estejam completos.
Mas, exactamente
por lhes saber fraca a qualidade – literária e de conteúdo – remeto-os para os
confins de arquivos escuros e secretos.
Prefiro a
ligeireza das crónicas ilustradas, on-line ou não, com a facilidade de dar um
princípio, meio e fim em 400 ou 600 palavras, escritos ao correr da pena e
fruto da inspiração do momento.
Tenho razoável
consciência dos meus limites e da responsabilidade de um livro ou de uma
sebenta académica.
By me
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