No seu filme “Yi-Yi”,
premiado em Cannes em 2000, Edward Yang presenteia-nos com algumas
preciosidades.
Desde logo o como
fazer enquadramentos verticais usando um formato horizontal. Delicioso!
Mas, e o que me
interessa neste caso, o ter colocado nas mãos de uma das principais personagens
– uma criança – uma câmara fotográfica. De película.
O pai observa,
posteriormente, as fotografias feitas e estranha a quantidade de imagens de
gente de costas.
Quase no fim do
filme, o catraio entrega ao tio uma fotografia contendo a respectiva nuca. E
acrescenta:
“É para que vejas
de ti aquilo que nunca vês.”
Fantástica, a
ideia.
Efectivamente, é
sempre interessante ver aquilo que crianças fotografam sem que lhes digam o que
fotografar. O que lhes chama a atenção, a forma como enquadram, se já jogam ou
não com primeiros planos…
E sendo certo que
as crianças, em regra, aprendem por ver fazer e mimando o que vêem – os adultos
ou iguais – parte daquilo que fazem é fotografar o que, de algum modo, chama a
atenção dos outros.
Para os pequenos,
com a sua relativização do tempo, a fotografia raramente é um registo para a
posteridade ou “para mais tarde recordar”.
Fotografam porque
aquele assunto, naquele momento e naquelas circunstâncias, lhes interessa.
E é essa a atitude
que muitos de nós, fotógrafos entusiastas ou profissionais, temos: parte do
nosso gesto de fotografar resulta da motivação de aquilo nos interessar naquele
momento e naquelas circunstâncias.
É muitas vezes o
factor “afirmação social” que nos leva, mais tarde, a recuperar essas imagens,
mesmo que não muito bem feitas, e atribuir-lhes algum valor: documental, estético,
comercial… Mostrar aos outros que, num dado momento e local, aquilo nos
interessou. E como somos bons a registar aquilo que nos interessou, mesmo que o
resultado não seja grande coisa.
Só os bons fotógrafos
conseguem ultrapassar esta questão do “agora interessa-me” e fazer imagens que
perduram no tempo.
By me
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