À época a última
novidade no campo das tecnologias de comunicação era o telefone portátil.
Não falo de
iphones, smartphones ou mesmo de simples telemóveis: telefones portátil mesmo.
Particularmente
pesados, entre outros motivos devido às características da sua bateria, eram
maiores que um telefone de campanha militar e transportavam-se num estojo, uns
sintéticos outros de couro, pendurado por uma alça, ao ombro.
O seu preço era
absurdamente elevado, tanto o equipamento quanto a sua utilização, pelo que apenas
os possuíam empresas em que a permanente comunicabilidade de alguns dos seus
elementos fosse vital. Ou como elemento definidor de status social do seu
possuidor. Chegaram mesmo a ser considerados como elemento de luxo a ser
acrescentado a viaturas de alta gama, em que volume e peso não eram factores
importantes.
Tive um compincha
que tinha à sua disposição um desses aparelhos. Não era seu mas antes fornecido
pela empresa onde trabalhava e a sua utilização era restrita ao ofício que
desempenhava.
Mas a sua raridade
e o status que atribuía eram tais que ele não largava o dito aparelho fosse
para que fosse, desde que o pudesse exibir.
A tal ponto que o
simples encontro para jantarmos em qualquer lado era um verdadeiro puzzle de
planificação e estratégia: não poderia ser em local com paredes muitos grossas
e antigas, ou não haveria rede; teria que haver uma cadeira extra para colocar
o telefone, qual convidado de honra; imperiosa seria a existência de uma tomada
de corrente junto à mesa, que a bateria tinha pouca capacidade e haveria que
estar em carga.
Nunca o vi usar o
telefone portátil. Mas enquanto esteve a trabalhar naquela função para aquela
empresa sempre o vi a carregar aquela coisa, mais pesada que um bem equipado
saco fotográfico.
Os tempos mudaram
e a portatibilidade das comunicações de voz e de dados banalizou-se. E os
tamanhos e pesos diminuíram. Notoriamente.
Passaram a caber
num bolsinho de camisa ou das calças uns, ou, no caso de computadores, num saco
ou mochila negligentemente dependurados do ombro ou costas.
O negócio dos
telemóveis, smartphones, tablets floresceu a ponto de haver lojinhas da
especialidade quase que a cada esquina, com os acessórios de personalização
visual ao gosto do comprador.
E se já não
necessitam de uma cadeira de convidado à mesa do jantar, é vê-los hoje ocupando
um lugar reservado ao lado dos talheres, nem sempre protegidos dos salpicos e
nódoas, e manuseados entre duas garfadas e um golo de vinho ou cerveja.
O que está a
regressar em termos de comunicações móveis é a exigência (ou quase) de uma
tomada de energia nas imediações.
A miniaturização
dos componentes junto com as exigências energéticas dos ecrãs e altifalantes,
bem como dos programas instalados, faz com que as pobres coitadas das baterias
não tenham a durabilidade desejada.
E o que mais se
ouve, nos tempos que correm, é um “Tens aí um carregador que me emprestes?” ou
um “Não há aí uma tomada livre por um pedaço?” ou ainda “Prefiro aquela mesa,
que tem uma tomada logo ao lado!” Nalguns casos, o uso de uma tomada de energia
atrás do balcão já não é um pedido mas antes uma exigência.
Como diz um
companheiro de trabalho, os telemóveis estão a transformar-se em telefixos!
E eu acrescento
que, e para além das questões de energia, é no seu ecrã que estão fixos os
olhares em permanência, muito para além das mais elementares regras de
convivência, desempenho laboral ou mesmo segurança e integridade física.
Acredito que os
especialistas em doenças mentais não tivessem mãos a medir se um dia houvesse
um apagão nas telecomunicações moveis.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário