sexta-feira, 15 de maio de 2015

Tempos modernos





À época a última novidade no campo das tecnologias de comunicação era o telefone portátil.
Não falo de iphones, smartphones ou mesmo de simples telemóveis: telefones portátil mesmo.
Particularmente pesados, entre outros motivos devido às características da sua bateria, eram maiores que um telefone de campanha militar e transportavam-se num estojo, uns sintéticos outros de couro, pendurado por uma alça, ao ombro.
O seu preço era absurdamente elevado, tanto o equipamento quanto a sua utilização, pelo que apenas os possuíam empresas em que a permanente comunicabilidade de alguns dos seus elementos fosse vital. Ou como elemento definidor de status social do seu possuidor. Chegaram mesmo a ser considerados como elemento de luxo a ser acrescentado a viaturas de alta gama, em que volume e peso não eram factores importantes.

Tive um compincha que tinha à sua disposição um desses aparelhos. Não era seu mas antes fornecido pela empresa onde trabalhava e a sua utilização era restrita ao ofício que desempenhava.
Mas a sua raridade e o status que atribuía eram tais que ele não largava o dito aparelho fosse para que fosse, desde que o pudesse exibir.
A tal ponto que o simples encontro para jantarmos em qualquer lado era um verdadeiro puzzle de planificação e estratégia: não poderia ser em local com paredes muitos grossas e antigas, ou não haveria rede; teria que haver uma cadeira extra para colocar o telefone, qual convidado de honra; imperiosa seria a existência de uma tomada de corrente junto à mesa, que a bateria tinha pouca capacidade e haveria que estar em carga.
Nunca o vi usar o telefone portátil. Mas enquanto esteve a trabalhar naquela função para aquela empresa sempre o vi a carregar aquela coisa, mais pesada que um bem equipado saco fotográfico.

Os tempos mudaram e a portatibilidade das comunicações de voz e de dados banalizou-se. E os tamanhos e pesos diminuíram. Notoriamente.
Passaram a caber num bolsinho de camisa ou das calças uns, ou, no caso de computadores, num saco ou mochila negligentemente dependurados do ombro ou costas.
O negócio dos telemóveis, smartphones, tablets floresceu a ponto de haver lojinhas da especialidade quase que a cada esquina, com os acessórios de personalização visual ao gosto do comprador.
E se já não necessitam de uma cadeira de convidado à mesa do jantar, é vê-los hoje ocupando um lugar reservado ao lado dos talheres, nem sempre protegidos dos salpicos e nódoas, e manuseados entre duas garfadas e um golo de vinho ou cerveja.

O que está a regressar em termos de comunicações móveis é a exigência (ou quase) de uma tomada de energia nas imediações.
A miniaturização dos componentes junto com as exigências energéticas dos ecrãs e altifalantes, bem como dos programas instalados, faz com que as pobres coitadas das baterias não tenham a durabilidade desejada.
E o que mais se ouve, nos tempos que correm, é um “Tens aí um carregador que me emprestes?” ou um “Não há aí uma tomada livre por um pedaço?” ou ainda “Prefiro aquela mesa, que tem uma tomada logo ao lado!” Nalguns casos, o uso de uma tomada de energia atrás do balcão já não é um pedido mas antes uma exigência.
Como diz um companheiro de trabalho, os telemóveis estão a transformar-se em telefixos!
E eu acrescento que, e para além das questões de energia, é no seu ecrã que estão fixos os olhares em permanência, muito para além das mais elementares regras de convivência, desempenho laboral ou mesmo segurança e integridade física.

Acredito que os especialistas em doenças mentais não tivessem mãos a medir se um dia houvesse um apagão nas telecomunicações moveis. 

By me

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