domingo, 10 de maio de 2015

Palavras ocas





Recordo uma historinha de banda desenhada onde, numa cidade do Oeste, acontecem eleições.
O chefe dos “maus” começa a usar na sua campanha a palavra “ iniquidade”, que rapidamente se espalha, ficando todos a usá-la a torto e a direito.
Pergunta um dos do bando ao chefe:
“Mas, afinal, o que quer dizer iníquo?”
“Não sei. Encontrei-a no dicionário, é forte e toda a gente gosta. Vê o resultado.”

O mesmo acontece por cá!
Toda a gente hoje fala em “corrupção”, tal como ainda não há muito se falava em “estado social”, e antes disso em “paixão pela educação”, e antes disso…
As palavras são bonitas, fortes, algumas denunciadoras de escândalos e desvios. Mas de pouco servem!
São a demagogia alimentada por quem quer, efectivamente, o poder, mantendo-o ou assaltando-o. São usadas como arma de arremesso contra os adversários, ditas, escritas e intuídas quase até à exaustão.
Mas isso de pouco me importa. Que não são as palavras (que o vento leva) que realmente resolvem os problemas.
Até porque, e como terá dito há muito tempo alguém famoso então e hoje, “Que atire a primeira pedra quem nunca pecou.”

Aquilo que me deixa mesmo preocupado, e que é a base do que faço e digo, é que não é correcto entender-se que algumas barrigas são maiores que outras. Nem a minha, passe-se a comparação.
Não faz sentido que alguns comam e outros passem fome, não faz sentido que uns riam enquanto outros choram, não faz sentido morrer-se à porta do hospital, não faz sentido crianças adormecerem nas salas de aula porque sem pequeno-almoço, não faz sentido…

Enquanto se não cumprirem as palavras que estiveram na génese da actual sociedade ocidental – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – todas as palavras serão ocas e inúteis.
Excepto para os que ambicionam o poder!

By me

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