A história tem
quase três decénios.
Decidi eu, uma
ocasião, fazer umas fotografias nocturnas na Av. Defensores de Chaves, em
Lisboa. Já por lá havia passado e tinha gostado da luz nas fachadas e nas árvores.
Depois de uma
visita técnica para decidir o local e condições, fui, equipado com a minha
Linhoff Tecnika 70.
Estava eu com a
tralha montada na faixa central de estacionamento, entretido com a minha vida,
quando surge um carro patrulha. Vinha rápido, parou do mesmo modo e os agentes
saltaram com igual velocidade.
Dirigiram-se a mim
e questionaram a minha presença, pedindo-me a identificação e demais mimos
normais em tais situações. Azar o meu, um dos primeiros cartões que sai da
minha carteira é o profissional que, gostemos ou não, abre muitas portas.
Depois de o verem
os ânimos acalmaram e pouca atenção deram aos demais que lhes passei para mão:
BI, Segurança Social, Sindicato, Fiscal, Bombeiros, passe e o que mais por ali
tinha.
Questionei-os
sobre o que os havia ali levado para me interrogarem e assim tratarem e recebi
desculpas esfarrapadas, entre as quais uma eventual denúncia sobre o haver ali
alguém a “filmar” (a câmara é grande e pouco discreta).
Acabaram por se
irem embora, depois de me dizerem que estava tudo bem e que não havia nenhum
problema. E eu acabei o que queria fazer.
No regresso ao
Campo Pequeno com a mala às costas e tripé debaixo do braço, onde haveria de
apanhar um transporte para casa, é que percebi o que efectivamente tinha
acontecido.
Os “piropos” com
que fui mimoseado, por elas e por eles, fizeram-me saber que a minha presença
espantava a clientela das prostitutas que ali trabalhavam e os proxenetas haviam
chamado a patrulha. Que compareceu.
Ainda hoje estou para
saber o que me aconteceria se não tivesse tido aquele cartão e aquela atitude para
com aqueles dois agentes que, pese embora não me tivessem agredido, de cordatos
ou cordiais nada tiveram.
No entanto, e tal
como já disse, o episódio tem quase trinta anos. E a floresta não pode ser
tomada pela maçã.
By me
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