Na mesa atrás de mim,
ao jantar, um casal que não vi chegar esteve o tempo todo com uma conversa que
raiava o racismo e a xenfobia. Já me estava a incomodar, o ter que ouvir tudo
aquilo, mas sendo certo que não estavam de facto a agir sobre ninguém, fui
tentando fazer de conta que não os estava a ouvir e fui-me concentrando (ou
tentando) na escrita de um texto que me estava atravessado desde o fim da
tarde.
Quando a
empregada, face ao meu pedir de conta, me fez a sacramental pergunta “E quer o
número de contribuinte na factura”, respondi-lhe como é meu costume:
“Nãããão!”,
acrescentando: “Sabe, a senhora não tem idade para isso. Mas se tivesse andado
a fugir à PIDE também não quereria fazer tal coisa: por o NIF numa factura e
colaborar com tamanha chibaria.”
Atrás de mim fez-se
um silêncio sepulcral, quase que dando para ouvir os relógios, se os tivessem.
Silêncio esse que
se manteve, até porque, e além da minha, era a única mesa ocupada, até eu ter
cruzado a porta para o exterior.
Não lhes vi a cara
de propósito.
É que não me
apetece poder entrar em qualquer outro estabelecimento comercial – de restauração
ou outro – e recusar a sua proximidade.
By me
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