Eu
sei que é um voltar a um assunto de que já falei. Também sei que não será algo
que incomode muita gente. Afinal, estamos em crise, os ecologistas vão ganhando
adeptos e as indústrias batem palmas.
Mas
relembrei-me do tema ao ver um vídeo sobre os potenciais perigos das actuais
tecnologias de iluminação.
Ponho
em causa algumas das suas afirmações, mas não deixo de concordar que são
perigosas. Por outros motivos, que passo a explicar.
Desde
a sua origem que o ser humano se relaciona com o que o cerca usando a visão
como órgão fundamental. E, para que ele funcione, necessita de luz.
Esta
luz, natural ou artificial, é resultado da combustão de algo: O sol, a madeira,
o carvão, o azeite, o petróleo, o gás…
Há
pouco mais de um século passou a usar-se a electricidade como fonte energética
para a luz que produzimos: fazendo-a passar por um filamento muito resistente,
este aquece e torna-se radiante. Emite luz, uma vez mais, através de combustão.
O
problema desta luz é que, embora não deixando resíduos sólidos ou gasosos junto
do utilizador final, e mesmo tendo um rendimento luminoso muito superior aos
sistemas que o antecederam, tem um grande consumo energético, implicando
grandes fábricas com os correspondentes resíduos. Bem como o gastar fontes
energéticas não renováveis.
As
energias hídricas, eólicas, nucleares e solares vieram solucionar parte do
problema. Mas não a quantidade de energia que se perde por via térmica.
Foi
então que, em meados do século XX, se encontraram outras formas de produzir
luz: com o mesmo rendimento luminoso mas sem aquecimento, pareciam ser a
solução ideal. Falo das lâmpadas de gás.
Fluorescentes,
de sódio, de iodo, de xénon, de árgon… são bastantes os que são usados, sós ou
combinados.
Este
sistema baseia-se no facto destes gases, quando excitados pela energia
eléctrica, emitirem luz. Muita, considerando a quantidade de electricidade
consumida e a quase ausência de aquecimento.
Têm,
no entanto, vários problemas.
Desde
logo a questão dos seus componentes que, quando libertos no ambiente e devido à
sua concentração, serem poluentes. Tóxicos, se respirados directamente.
Em
seguida, a quantidade de energia necessária à sua produção, quando comparadas
com as de filamento. É muito mais simples, rápido e económico a construção de
uma lâmpada de vácuo com filamento que qualquer outra. Acresce-se que, e no
caso das lâmpadas ditas “economizadoras” conterem na sua base componente
electrónicos com metais raros e poluentes. Mas as técnicas de acondicionamento
e reutilização dos seus componentes podem solucionar a questão.
O
que não fica de todo resolvido é o tipo de luz que emitem!
O
espectro visível da energia, a que chamamos luz, vai do infravermelho ao ultra
violeta. Dos 350 nm aos 800 nm (nm=nanómetro, unidade de medida do comprimento
de onda).
E
todas as fontes de luz resultantes de combustão mostram todo ele de uma forma
continua, ainda que em maior ou menor percentagem de uma ou da outra ponta do
visível.
As
fontes de luz que não de combustão, como as fluorescentes, as que alumiam as
ruas e monumentos, as economizadoras e as mais modernas LED, não emitem todo o
espectro. Nalguns casos quase todo, com fortes predominâncias nos verdes,
amarelos ou azuis, noutros casos com ausência total de algumas das cores da
luz.
Isso
não será por demais importante, pensarão muitos. Afinal, o que queremos é luz
para vermos o que fazemos na vida ou no trabalho, fazendo render o tempo ou o
espaço em que não temos luz solar.
“Certo!”,
digo eu.
Mas
também digo que, à medida em que nos vamos habituando a ver o mundo com luz que
não a natural (todo o espectro mais ou menos equilibrado), vamos alterando a
forma de reagir perante estímulos externos.
Habituados
que estejamos a ver o circundante a reflectir luz mais esverdeada, deixamos de
ser sensíveis aos demais comprimentos de onda. E passamos a encarar essas
outras cores como estranhas. E o que for esverdeado como natural.
“E
isso é importante ou notório?”, perguntarão. Darei um exemplo, na primeira
pessoa.
O
meu ofício exige que tenha uma acuidade visual muito boa. Entre outros
aspectos, às diversas cores que produzo e ajusto.
Um
dia notaram-me que estava com tendência esverdeada no que fazia. Estranhei,
ponderei, testei e encontrei a causa. E a solução, pelo menos para já.
Mudei
as lâmpadas que tenho em casa.
Usava
“economizadoras” tom quente. Depois de medir os seus espectros luminosos,
fiquei com a certeza que a sua dominante verde era demasiada. E o meu olhar,
parcialmente constituído pela retina e respectivos cones bem como a
interpretação cerebral que é feita aos seus impulsos neurológicos, passou a
aceitar o tom esverdeado como natural. Em faltando, tentava inconscientemente
reconstitui-lo.
Substituí
em casa parte das lâmpadas por outras, igualmente “economizadoras” mas de tom
“frio” (mais azulado) e consegui um equilíbrio bem mais próximo do espectro
total.
Entenda-se
que apenas próximo. Não igual.
O
que acaba por piorar a situação é que o rendimento cromático destas lâmpadas
não é constante. Desde logo, e os próprios fabricantes avisam disso ainda que
naquelas letras tão pequeninas que só se encontram em alguns sites
especializados, o seu rendimento luminoso e cromático só atinge o máximo ao fim
de uns dez a quinze minutos de funcionamento. O que significa que naquelas
utilizações curtas nem quantidade nem qualidade estão correctas ou naturais.
Por
outro lado, e a maioria disso não se apercebe, com o uso ou envelhecimento a
dominante verde aumenta. O rendimento cromático de uma lâmpada nova ou de uma
com, digamos, cem horas de uso, não é de todo igual, ganhando na risca verde
(ou perdendo nas demais).
Dito
tudo isto de uma forma mais simples: as actuais formas de produzir luz
politicamente correctas modificam o modo como vemos o mundo. E quanto mais
tempo estivermos sob esta iluminação, ou se começarmos a ver sob esta luz, a
forma como nos relacionamos com a natureza muda substancialmente.
Estamos,
fruto das tecnologias, a transformar o corpo humano. Não apenas com aquilo que
ingerimos como na a forma como o vemos.
Recordam-se
da alegoria da caverna, de Platão? Estamos a concretiza-la, com o beneplácito
dos ecologistas e o aplauso dos industriais.
Junto,
fica um link que, de uma forma muito simples, explica o espectro do visível e
compara o natural (combustão ou incandescência) com o artificial (lâmpadas de
gás ou economizadoras).
E
não se fiem apenas na minha palavra ou no que aqui é dito ou mostrado. Dêem
vocês mesmos uma voltinha extra esclarecedora. E podem começar por usar como
teste as diversas calibrações que a vossa câmara fotográfica digital possui: a
mesma calibração que não a automática, fotografando o mesmo assunto, sob
diferentes fontes de luz.
Na
imagem, dois reflectores iguais. No da esquerda, como se constata, uma lâmpada
de incandescência. No caso, de 75w. No da esquerda, uma lâmpada economizadora,
tom quente. No caso, de 20w.
Fotografadas
aos pares, nas duas de cima a calibração da câmara estava afinada de fábrica
para “luz incandescente”. Nas duas de baixo a calibração estava, de fábrica,
para luz de sol descoberto. Por outras palavras, para 3000K e 5500K
respectivamente.
Nenhuma
correcção foi feita que não a justaposição das duas imagens e a sua redução
para um tamanho conveniente na web.
A
opção do que fareis com a vossa vida e com o futuro dos vossos filhos é vossa.
Mas convém que saibam de tudo.
www.euhou.net/index.php/exercises-mainmenu-13/classroom-experiments-and-activities-mainmenu-186/179-observations-of-various-spectra-with-a-home-made-spectroscope
By me
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