A fotografia é
comunicação e esta vive de códigos.
São estes,
partilhados pelos dois extremos da via de comunicação, que permitem que as
mensagens sejam descodificadas e percebidas.
É banal isto e
passa-se em tudo o que fazemos: da escrita, à palavra falada, da música à
arquitectura, da pintura à condução automóvel. Códigos.
E os códigos são o
arquétipo do conservadorismo. Alterações que lhes sejam introduzidas podem
conduzir – e muitas vezes conduzem – a más interpretações, julgamentos,
reacções colectivas. Ou mesmo à total ausência de comunicação, em que o que é
emitido não é de todo recebido.
Um dos códigos que
mais usamos, variando um pouco de cultura para cultura mas não muito, é o das
cores.
Temos por verdade
que o preto é a cor do luto (e sabemos não ser uma verdade universal), que o
vermelho é a cor da proibição ou pecado, que o verde é a cor da esperança ou do
futuro, que o azul é a cor do infinito… vamos buscar os significados que
atribuímos às cores à experiência que temos do que nos cerca na natureza e da
nossa relação com ela.
Mas há códigos de
cores que mudam com o tempo, não apenas com a região.
Há vários exemplos
disso ao longo da história, alguns tendo por origem a nossa própria história de
Portugal. Um deles é a cor que atribuímos à água.
Sabemos ser a água
incolor e, quando o é, dizemos que é límpida, pura, apetecível. No entanto,
reproduzimos cromaticamente a água com a cor azul.
Sejamos honestos:
sendo ela incolor, a cor que dela vemos não é a da água mas do que nela vemos
reflectido ou o que nela estiver em suspensão.
E, continuando
numa via de honestidade, é raro ver-se a água azul. Apenas em locais a que
chamamos de paradisíacos, com ela límpida ao limite, reflectindo o céu se e só
se este estiver limpo e azul.
Sem ser nestas
circunstâncias, vemos a água em tons esverdeados ou acastanhados. Ou, sendo
límpida, em tons de cinzento se o céu assim estiver.
O que estiver em
suspensão, vegetal ou mineral, e o puder reflectir.
Nas origens da
representação pictórica, em particular os mapas e cartas, a questão dos códigos
era (e é) particularmente importante. E as cores são vitais para uma
interpretação rápida e inequívoca. A água, rios, lagos e oceanos, era
representada em tons de verde. Aquilo que se vê, contrastando com os castanhos
da terra. E, durante muitas centenas de anos assim foi.
Acontece que,
aquando da época dos descobrimentos portugueses, esta codificação foi alterada.
Por motivos práticos, meramente.
Ao contornar por
mar terras desconhecidas, uma das funções dos navegantes era o reconhecimento
do existente em terra, fazendo relatos escritos e mapas, para que quem lhes
seguisse a pegadas soubesse o que iria encontrar. E um dos aspectos vitais era
a água. Potável para se abastecerem e os rios como via de comunicação com o
interior. Mas em África a vegetação era densa e um factor importante a
considerar na possibilidade de avanço pelo continente dentro E haveria que a
representar nas cartas e mapas. Com um qualquer código, naturalmente.
Mas sendo a
vegetação verde, não fazia sentido usar a mesma cor com dois significados
diferentes. Aliás, confuso seria. E mudaram os códigos: verde para vegetação e
azul (a alternativa possível) para a água.
Termos por certo e
vindo de antanho um qualquer código é um absurdo. Eles ajustam-se às necessidades
humanas, ou não fossem eles resultado da actividade do Homem.
Mantermo-nos
absurdamente agarrados a códigos só porque sempre foram usados é um atavismo
desesperante, que mais não faz que castrar a evolução e a criatividade.
Isto é válido em
tudo quanto é comunicação, fotografia incluída.
Faz todo o sentido,
e é uma imposição vital, conhecermos os códigos vigentes (cor ou outros), se
queremos que o nosso trabalho seja entendido pela maioria de quem o vê, e com
facilidade.
Mas nada os define
como eternos ou imutáveis!
É obrigação dos
comunicadores usá-los ou subvertê-los, adaptando o seu uso ou criando novos.
Adaptando-os à sociedade em que se inserem e às necessidades criativas de cada
um.
No caso específico
da fotografia e da imagem fotográfica, será recomendável que quem as produz
conheça um pouco para além da superfície o uso das cores e os seus
significados.
Para que tire o
máximo proveito na sua utilização, indo ao encontro da interpretação
generalizada ou, ao invés, subvertendo-a com as consequências que queremos.
By me
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