sábado, 2 de maio de 2015

Ética fotográfica





A questão da “verdade fotográfica” é tão antiga, quase, quanto a fotografia ela mesma.
A ideia, quase infantil, de que uma fotografia não mente, que por ser um registo técnico do que nos cerca não induz em erro quem o vê, é dos maiores enganos que a arte possui.
Desde muito cedo quem fazia fotografia se apercebeu que era relativamente fácil adulterar o registo físico, acrescentando, modificando ou retirando elementos, de modo a que o resultado final estivesse de acordo com a vontade do seu autor.
Nalguns casos, como numa imagem que aqui mostrada recentemente (Two ways of life) essa adulteração tinha por mero objectivo a questão artística, utilizando os processos fotográficos para criar a partir do nada aquilo que a imaginação do autor visualizara.
Noutros casos, como esta imagem (Stalin mandara executar o comissário da sua confiança Nicolay Yezhov e ele foi apagado de fotografias oficiais com o líder) trata-se de um re-escrever a história, negando factos “incómodos”.
Noutros casos ainda, como uma imagem recente de guerra em que o fumo e as explosões foram acrescentados à fotografia original, a edição ou “ajustes” posteriores mais não fazem que criar “ambiente” para contar a história implícita na fotografia.
E hoje, com as poderosas ferramentas de pós-tratamento que possuímos, qualquer dessas técnicas estão ao alcance de qualquer um, mesmo os menos habilidosos, fazendo da fotografia um mundo de enganos.
Enganos porque o mostrado não corresponde à realidade, enganos porque quem mostra nos “afirma” que aquilo é verdade, enganos porque quem vê quer que ali esteja a realidade.

Sendo certo que tenho para mim que o primeiro relato de uma “fotografia” é a famosa “alegoria da caverna” de Platão, a questão da verdade e da mentira naquilo que vemos é muito antigo mesmo. Aquilo que hoje ponderamos ou discutimos mais não é que uma velharia com mais de vinte e três séculos, ainda que com outras roupagens.
Resta a cada fotógrafo definir onde termina o melhorar de uma imagem e onde começa a falsidade.
Resta a cada fotógrafo assumir as linhas éticas pelas quais se rege, se algumas. 

By me

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