sexta-feira, 2 de março de 2012

As fotografias que não se tiram




Excerto do livro de Martine Joly “A imagem e a sua interpretação”, 2002


As fotografias que não se tiram
Por exemplo, num filme de Michel Deville, “Le Voyage en Douce”, (1979), há uma cena exemplar desta situação: duas amigas, no decurso se uma viagem-escapadela, tiram constantemente fotografias uma à outra, enquanto vão acumulando recordações, cumplicidades, revelações sobre si mesmas. Em dado momento, estão num jardim: uma delas começa a despir-se, enquanto a outra a fotografa. Sente-se que cada peça de roupa a menos é mais uma etapa rumo à autenticidade, ao abandono algo provocador. No momento em que está completamente nua e se oferece sem reticencias à objectiva, a que está fotografar exclama “acabou-se o rolo” e não pode tirar mais fotografias. Não há “tomada” no momento mais intenso: muitas pessoas contam todo o tipo de histórias semelhantes à de “Le Voyage en Douce”: pessoas que preparam fotografias com grande antecedência e de forma obstinada e complicada (autorizações, abertura excepcional de determinados sítios) ou ainda outras que, tendo consciência que estão a viver um momento excepcional (acontecimento, encontro com uma personalidade) tiram cuidadosamente as suas fotografias, para logo de seguida verificarem que não havia rolo…

(imagem: by me)

1 comentário:

joaquim bispo disse...

Certa vez, em Budapeste, visitava eu um bunker subterrâneo da II Guerra, transformado na década de 60 em hospital para os bigs em caso de ataque nuclear.
http://hungarystartshere.com/gallery?group=O56629&index_img=0&offSetId=3
Não se podia fotografar. No final, pedi para tirar só uma, como recordação, o que foi concedido. Só que as pilhas algo já gastas e sujeitas durante 3/4 de hora a temperaturas baixinhas só me aconselharam: "Substitua as pilhas"