sábado, 31 de março de 2018

Ser previdente




Dizem que amanhã cairá um satélite chinês, em pedaços, e que há possibilidade de ser cá neste jardim à beira mar plantado (e mal amanhado).
Por via de dúvidas, protejo-me.
Claro que aqui o cãopanheiro nem se preocupa com isso.



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Tempo




No meu passo lento, de quem caminha vagarosamente apenas para matar o tempo até à chegada do comboio seguinte, gastei 1’45” para percorrer o cais de ponta a ponta.
Cronometrei-o.
Aquela senhora, com a mala a tiracolo, o passe pendurado ao pescoço, uma bota num pé, uma pantufa de lã no outro e caminhando com duas muletas, gastou 8 (oito) minutos para o fazer.
E não foi todo, que antes do fim embicou para a direita, para o elevador.
Pensando onde fica a saída do metro e a distância a que se encontram os prédios mais próximos, nem desconfio quando tempo depois terá chegado a casa.
E queixamo-nos nós quando o trânsito está parado ou o acesso à net está lento!



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sexta-feira, 30 de março de 2018

Urbanidades




Já foi uma loja de fotografia.
Retratos e fotografias de passe, minilab, películas, câmaras e acessórios.
Apesar de ser uma “loja de bairro”, tinha artigos de fabricantes menos comuns por cá, o que a tornava competitiva com muitas outras igualmente de bairro.
Nos meus deambulares pela cidade, esta fazia parte do roteiro nesta zona, que nunca sabia o que por poderia vir a encontrar.
Fechou. Há muito tempo.
E esteve anos assim, ao abandono, acumulando pó dentro e fora, com as grades de lagarto sempre fechadas.
Tropeço agora nela assim transformada.
Não é nem bom nem mau. É a evolução, a transformação da cidade, a imposição dos grandes contra os pequenos espaços comerciais.
A cidade é viva e pulsa, com as suas idiossincrasias e modernidades.
Pena é que, no processo de evolução, parte da sua alma também se perca, como o comércio de proximidade, de bairro. E que os artigos alternativos escasseiem.



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Liberdade




A cada um a sua prisão.
Se pensarmos bem, os humanos estão presos numa coisa chamada Planeta Terra.
E na tentativa de fuga inventam técnicas, teorias e teologias para dela se libertarem.



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quinta-feira, 29 de março de 2018

Estratégias




Uma ocasião, era eu o administrador do prédio em que morava, havia que fazer uma assembleia de condóminos extraordinária para resolver um problema urgente.
Eu sabia que a maioria não compareceria, o que implicaria não haver quórum para as decisões necessárias.
Decidi então incluir como primeiro ponto da ordem de trabalhos algo como “aumento da quota mensal de condomínio”.
Quase que fui linchado ali mesmo, mas conseguimos ter gente suficiente para decidir o que havia a decidir.

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On photography



“...
Photography implies that we know about the world if we accept it as the camera records. But this is the opposite of understanding, which starts from “not” accepting the world as it looks.
…”

Texto: by Susan Sontag, in “On photography”

quarta-feira, 28 de março de 2018

Sun set




O pôr-do-sol número 157.763.409.000 da história da fotografia.



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Histerias




Continuo sem perceber porque é que um atentado político está a provocar tanta histeria internacional, com consequências não previsíveis.
Em primeiro lugar trata-se de um espião. E é sabido que os espiões arriscam a vida, seja qual for o lado para que trabalhem. Pior: o destino dado aos espiões raramente é público ou judicialmente publicitado.
Em segundo lugar, ainda não encontrei nenhuma prova irrefutável da sua autoria. O mais que li foi algo como “é altamente provável” ou “fortes indícios”. Qualquer tribunal manda um réu em liberdade se a acusação se ficar por estas afirmações.
Em terceiro lugar, parece esta atitude por parte do Reino Unido uma forma de afirmação no cenário internacional, contrapondo à sua saída da União Europeia. O “apelo às armas” em torno deste atentado mais parece um “contar espingardas” político interno e externo que uma retaliação perante um crime político internacional com autoria inquestionável. Principalmente quando o “Brexit” é questionado internamente e a união do Reino Unido está posta em causa. Nada de novo, a técnica de criar “inimigos públicos” como cortina de fumo em torno de assuntos domésticos incómodos.
Claro que é politicamente incorrecto afirmar isto. Corre-se mesmo o risco de ser apelidado de traidor e tombar vítima de um qualquer “acidente” ou respirar um qualquer gás venenoso. Tal como um espião duplo.



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terça-feira, 27 de março de 2018

D'arquivo




Uma brincadeira em torno de uma canção


Era uma casa
muito engraçada
Não tinha tecto
não tinha nada
Ninguém podia entrar nela não
porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero...
na Rua dos Bobos, nº 0!


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segunda-feira, 26 de março de 2018

Ferramentas




Nem sempre é fácil dar as ferramentas.
Ou porque são “antiquadas”, ou porque já se sabe “a olho”, ou porque a autoconfiança é elevada, ou porque se desconfia do acto de dar…
Nem sempre é fácil.
Mas as ferramentas, por si só, não são nem boas nem más. É o uso que lhes damos que faz com que a obra aconteça.



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O romper da aurora



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domingo, 25 de março de 2018

Dificuldades




O difícil é conseguir fotografar antes da primeira dentada.
A solução é mesmo a porta fechada e um cigarro na boca.


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Rigores




Mudou a hora legal. Certo.
Mas a mim importa a hora do sono, a hora do intestino, a hora do estômago…
E, acima de tudo, a hora da alma.


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sábado, 24 de março de 2018

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Parece que houve uma rixa entre dois grupos motards rivais: “Hell’s Angels” (uns 40) e nacionalistas da “Nova Ordem Nacional” (uns dez).
Estes últimos estão, aparentemente, ligados ao movimento “Portugal Hammerskins”
Apesar de não ser defensor da violência, não posso deixar de perguntar se há sobreviventes a lamentar.

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Não gosto




Lamento aqueles que publicam por aqui fotografias, ilustrando textos seus, que não referem a origem das imagens.
É sabido que as imagens são um factor apelativo com muita força e usar o trabalho de terceiros sem os referir, mesmo que seja um simples “palmado da net”, é querer reverter para quem publica os méritos ou deméritos da fotografia usada e rapinada.
Já nem falo no pedir permissão para usar, que isso até parece mal nos tempos que correm. Mas, ao menos, referir quem teve arte e engenho para criar uma fotografia que se entende como suficientemente boa para que a usem.


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Um livro




Garanto que é daquelas coisas que também me dá prazer:
Olhar para os livros que tenho em estante (nem falo dos que ainda estão ensacados) e descobrir um que ainda não li. Ou vi, com olhos de ver.
No caso, este. De Rui Daniel Galiza (texto) e João Pina (fotografias).
Um pequeno apanhado de imagens e entrevistas a 25 ex-presos políticos.
A edição é de 2007, mas não me recordo de quando o encontrei numa livraria que também esqueci qual. Aliás, estava ainda no preservativo original, sem factura ou respectivo preço.
Conto tirar partido dele nos próximos dias e, com ele, ficar mais rico.
Com o mesmo prazer que teria se o tivesse adquirido hoje mesmo.



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sexta-feira, 23 de março de 2018

Moto continuo




O Moto Continuo, ou Movimento Perpétuo, é algo que o Homem procura há muito.
Um movimento ininterrupto, sem necessidade de usar energia externa ou combustível, e que esse movimento seja passível de ser usado como forma de energia para uso em prol do Homem.
Claro está que a Ciência tem demonstrado através daquilo que sabe, e de que faz lei, que o Moto Continuo é impossível. Atritos, perdas térmicas e outras minudências técnicas impedem que a energia produzida seja maior que a energia aplicada.
Aquilo que conhecemos de mais próximo ao Movimento Perpétuo será o movimento dos astros e as forças de atracção e repulsão entre eles.
No entanto, julgamos saber que mesmo isso é finito, já que presumimos que toda as estrelas (ou corpos celestes emissores de luz ou outras formas de energia) cedo ou tarde se esgotam e se apagam ou explodem.
Portanto, perpétuo coisa nenhuma. Não há movimentos, e consequentes energias, perpétuos!
Claro que podemos sempre tentar definir o conceito de”perpétuo”: À escala da vida de um ser humano? À escala da existência da humanidade? À escala, calculada, da idade da Via Láctea e do que dela podemos prever que ainda existirá?
Donde, o Moto Continuo ou Movimento Perpétuo não pode existir porque o próprio conceito de “Perpétuo” não passa de um sonho teorizado, derrubado pela especulação científica.
Mas devo confessar que me agrada a impossibilidade da existência do Movimento Perpétuo. Porque se assim é quando aplicado a dois ou mais pedaços de matéria, quiçá energia também, nos referentes espaço/tempo, então o Movimento Perpétuo também não é aplicável ao Homem, porque parte integrante, e não excepção, do universo que conhecemos e especulamos.
E haver movimentos criados pelo Homem que sejam perpétuos é algo que me assusta para além do terror.
Que um movimento que seja perpétuo, seja ele científico, esotérico ou estético, acaba por se tornar numa sensaboria, num conservadorismo atroz, numa situação que, pareça embora uma contradição, não o é: um movimento intelectual perpétuo acaba por se tornar imóvel e imutável, deixando de ser movimento, ainda que perpétuo.
Agrada-me assim, de sobremaneira, que o Movimento Perpétuo não exista. Que o Homem se sinta tentado em quebrar os rumos e impulsos do passado e procurar novas fronteiras, dentro e fora de si, que procure inovar contra todos os que se acomodaram aos pseudo Moto Contínuos criados no pensamento.
Abaixo o Movimento Perpétuo! Acima o fim das coisas e o nascimento de novas ideias. Eu mesmo e o universo incluídos!


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quinta-feira, 22 de março de 2018

Smartcâmara




Quando, há uns anitos valentes, decidi comprar um telemóvel que fizesse fotografias, esse era o meu objectivo: fazer fotografias com um telemóvel.
Pesquisei na net as diversas características de diversas marcas e modelos e, ainda assim, quis ouvir as opiniões de vendedores, supostamente mais sabedores da matéria.
Mas quis também levar a coisa na brincadeira, pelo que ia entrando nas lojas de telemóveis de centros comerciais e perguntava: “Procuro uma câmara fotográfica que também faça chamadas telefónicas. O que tem para venda?”
As pessoas a quem dirigia a pergunta ficavam a olhar para mim, como se um ET eu fosse, pela inversão de valores e prioridades.
Acabei por comprar um excelente aparelho, na altura, que só retirei de uso porque a sua bateria, após anos de trabalho, “deu a alma ao criador”.
Hoje vejo campanhas de aparelhos equivalentes em que a principal característica anunciada é a câmara fotográfica: resolução, ajustes, efeitos, qualidade final.
Já não é a capacidade de comunicação (voz ou dados) que importa. A fotografia, e o vídeo, passaram a ser a principal função (ou a mais apelativa) nos telemóveis ou smartphones.
Acredito que, nos tempos que correm, as capacidades de imagem desses aparelhos seja a primeira pergunta que é feita nas lojas. E que os vendedores do shopping, agora actualizados com as preferências de mercado, não estranhem e estejam à altura para responder.
Por mim, continuo a usar um desses, uma câmara de bolso ou uma reflex (e lamento não ter grande formato) de acordo com as necessidades do que quero fazer, a portatibilidade e o prazer que me dá manusear cada um desses aparelhos.
Mas, e acima de tudo, importa considerar que Fotografia é tudo aquilo que medeia entre o vermos algo (com os olhos da cara e os olhos da alma) e aquilo que mostramos aos demais e que possa entrar-lhes nos olhos e na alma.



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quarta-feira, 21 de março de 2018

Poesia




No dia mundial da poesia, deixo-vos uma quadra popular, adaptada ao Face:

Oh mar das grandes vagas.
Oh mar dos vagalhões!
Fui até à beira d’água,
E molhei-me até aos joelhos.

Não rima? Esperem pela maré-cheia.


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As marcas do tempo




Feliz ano novo!
Não, não estou desfasado do calendário! Em última análise, o calendário estará desfasado da realidade.
Na antiga Pérsia, hoje Irão, a passagem de ano celebrava-se aquando do Equinócio da Primavera. E ainda hoje se mantém a tradição.
Convenhamos que faz mais sentido marcar o tempo, no caso um ano, pelas manifestações naturais que por uma qualquer data arbitrária que de modo algum pode ser assinalada naturalmente.
Claro que temos que nos ater ao que vai vigorando pelo mundo fora. Os prazos, ao futuro e ao passado tal implicam. E se sabemos a confusão que é a mudança de hora, que está por dias, imagine-se a mudança de marcas no calendário.
Isso já foi feito e foi complicado, (calendário Juliano para calendário Gregoriano) mesmo numa era em que os escolares é que dominavam a escrita e os registos.
E até nos nossos dias. Em Dezembro de 2011 Samoa, um pequeno país insular na Polinésia, avançou um dia no calendário (de 29 para 31) por motivos comerciais e de proximidade territorial. Ao que sei, os menos de 200.000 samonianos concordaram com a mudança nas duas ilhas.
Em qualquer dos casos, conte-se o tempo como se contar, um ano é um ano e a Terra continua a girar em torno do Sol.
Feliz ano novo!



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terça-feira, 20 de março de 2018

Feriado universal




Para os que não sabem, e admito que muitos sejam, hoje é dia de festejo.
Aliás, é dia de festejo no mundo inteiro. E é celebrado há muitos milhares de anos.
Trata-se do equinócio da Primavera, o dia em que a duração do dia é igual à da noite.
O momento da transição, na trajectória da Terra em redor do Sol, aconteceu pelas quatro e pouco da tarde, hora portuguesa.
Tenho que confessar que, de todos os feitos da Humanidade, saberem os pré-históricos destes dias e acharem-nos suficientemente importante para lhes erguerem monumentos megalíticos é do que mais me impressiona.
Numa sociedade em que os registo escrito era minimalista, se algum, em que a esperança de vida era reduzida, em que o conhecimento era transmitido por via oral, em que o movimento do universo era apenas constatável e não previsível, em que nada garantia que nos equinócios ou nos solstícios o céu estivesse descoberto para a constatação, saberem eles que isto acontecia e marcarem-no como datas importantes, é obra.
Tem-se discutido sobre quais os feriados a serem celebrados e quais os que podem cair no esquecimento. Mandasse eu alguma coisa e os solstícios e os equinócios seriam feriados oficiais, com direito a celebrações públicas à vida e ao universo.
Afinal, estes eventos são tão antigos quanto o sistema solar, transversais a todas as culturas e religiões, e continuarão a acontecer muito depois de o Homem ter sido esquecido na memória do tempo.
Por mim, celebrei-o por uns momentos ao sol quentinho, abrigado do vento. Vendo-o e à minha sombra, ponderando na minha efemeridade no universo, por muito que nos entendamos o seu centro.

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Libelo



Tem já uns anitos esta afirmação. Que a esta hora da madrugada não me apetece ser original.
Mas continuo a pensar da mesma forma.


As actuais estruturas de ensino são, na sua essência, desonestas!
Violenta a afirmação? Eu explico:

Diz-se que o aluno (estudante, aprendiz) deverá sair da escola com um conjunto de saberes e competências bem definidos. Durante todo o percurso escolar, é o aluno (estudante, aprendiz) submetido a avaliações sobre essas aquisições, onde lhe vai ser dito se se ficou pelos mínimos, se aquém ou além deles. Se passou, se ficou num dos lugares cimeiros ou se chumbou.
Mas o papel do professor não é ensinar. Não é, do alto da sua cátedra, despejar o conhecimento, usando para isso técnicas standard, e esperar que tudo isso tenha ficado na cabeça dos alunos (estudantes, aprendizes).
O standard, o padrão, as medidas e técnicas universais são funcionais quando falamos de parafusos ou barris de petróleo. Ao entrarmos no campo do ser humano, existem tantas medidas e padrões quantos os indivíduos considerados. E a capacidade de aprender de cada um é tão diversa quanto uma estrela de outra.
Daí que, e para que os alunos (estudantes, aprendizes) obtenham os saberes e competências previstos, há que trabalhar com cada um deles enquanto individuo e não com cada um deles enquanto elemento de uma turma ou sistema de ensino padrão.
É assim que o professor não deve ensinar mas antes ajudar a aprender. Usar do tempo e esforço necessários e suficientes para que cada aluno (estudante, aprendiz) não se fique pelos mínimos mas antes atinja o pleno. Porque é para tal que lá estão e é isso que esperam. Aprendiz (aluno, estudante) e professor.

A avaliação, enquanto elemento do processo de aprendizagem, é importante, mas perigosa.
Nos moldes actuais, mede as competências adquiridas pelos estudantes (alunos, aprendizes) dentro dos valores padrão, colocando-os nos pelotões da frente, do meio ou de trás. E fica o assunto resolvido.
Nos aprendizes (alunos, estudantes) em que os resultados são medianos ou abaixo deles, fica a sensação de frustração, a quebra da auto-estima, a rebeldia contra o sistema que não reconhece o seu esforço em aprender, por comparação com outros. Que com facilidade atingem a excelência.
E, com isto, estamos a preparar cidadãos plenos, ex-alunos (ex-estudantes, ex-aprendizes) que se auto-nivelam pela mediania ou por baixo, orientados e classificados que foram assim durante 15 ou 20 anos da sua vida.

A avaliação (testes, trabalhos, orais) avalia de igual forma o trabalho de quem aprende e de quem ajuda a aprender. Porque um professor não deve ensinar mas antes ajudar a prender.
Se os objectivos deste trabalho de conjunto falham ou se ficam pela mediocridade, se o mais novo dos dois se fica pelos mínimos ou aquém deles, pelo menos metade do trabalho, o do mais velho, foi deficiente.
Não usou do tempo e trabalho suficientes para que a equipa terminasse com satisfação.

Uma avaliação escolar bem concebida deverá ser construída não em função da mediania dos alunos (estudantes, aprendizes) mas antes em função do binómio aluno/professor. E se, num teste ou prova de avaliação escolar, cada aluno é avaliado uma vez por um professor, cada professor é avaliado por cada um dos alunos (estudantes, aprendizes). E se o resultado de uma turma se fica pelos mínimos ou lá perto, o professor é apenas sofrível no seu trabalho de ajudar a aprender.

No actual sistema de educação (e como este termo educação é odioso!), tenta-se combater o insucesso escolar. Não através do incremento dos métodos de aprendizagem e do investimento do sistema em cada aluno enquanto individuo, mas através da descida dos níveis mínimos e da satisfação da sociedade quando eles são atingidos. A diminuição dos chumbos ou reprovações.

Acrescente-se que avaliações mal concebidas, analisadas ou baseadas num mau trabalho de um professor podem condicionar negativamente o futuro daqueles que estão a ser avaliados. É demasiadamente importante para ser feito de ânimo leve!

É por isso que afirmo que o actual sistema de educação ou ensino é desonesto!
Os estudantes (alunos, aprendizes) não passam por ele aprendendo a fazer perguntas e a ter dúvidas mas antes a serem formatados por métodos e programas padrão, moldados pela sociedade e não adaptados a cada um deles. Os alunos são considerados como matéria-prima, como farinha numa padaria.
Não são consideradas as características individuais e o percurso de cada um. Nem são satisfeitas as expectativas de sucesso que cada um tem!

Durante o tempo que estive ligado a escolas profissionais, a minha maior satisfação foi ver o brilho nos olhos daqueles com quem estava a trabalhar provocado por um “já percebi” e logo seguido de dúvidas e perguntas sobre a continuidade do trabalho que vínhamos fazendo.
E um orgulho tremendo de, querendo ir sempre mais e mais longe com eles, nunca ter reprovado um só que fosse.

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segunda-feira, 19 de março de 2018

Os excluídos




Hoje é o dia do Pai.
Nas escolas fazem-se prendinhas para o pai, há o direito a um beijo ou abracinho especial e, nalguns casos, um jantar extra.
Celebra-se o pai, o que gerou, que acompanhou a gravidez, o que foi aos jogos e festas da escola, o que deu os castigos e os elogios, o que esteve lá quando fez falta. E também quando não fez.
Inclui-se nesta celebração os pais ausentes, porque forçados pela vida ou por quaisquer outros motivos.
Mas exclui-se desta celebração aqueles que não são pais mas que fazem esse papel. Os que têm o nome geralmente maldito de “padrasto”.
Todos aqueles que, não tendo gerado, feito festas ou cantado para uma barriga grande ou visto o parto, estão lá, com amor como se o tivessem feito, a quem alguns chamam pai mas sempre com reticências.
A paternidade não se baseia na questão genética. A paternidade, diga o que disser a lei, são os afectos, o estar não importa onde ou a que horas. O levar ao hospital, o ficar acordado até ouvir chegar, o saber tranquilo e bem na vida aqueles que, mesmo que não gerados, são amados como se o fossem.
Quando celebrarem o dia do pai, incluam no rol aqueles que, de facto, merecem o nome, mesmo sem partilharem os genes.


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Spot




Uma simples olhada nos motores de busca ou nas redes sociais, ou mesmo nos sites turísticos, e veremos grandes quantidades de referências a “belos locais para fotografar”.
Com sorte, ou com falta dela, encontraremos também indicações de eventos onde “pode fazer excelentes fotografias”.
Faltará a indicação de que nesses locais ou eventos estarão especialistas a dizerem-lhe para onde apontar, como regular a exposição e em que momento deve premir o botão do obturador.
A criatividade, a relação emocional entre o fotógrafo e o assunto, o domínio técnico e estético de quem fotografa é de pouca monta.
Importa, antes sim, é regressar de lá com algo no seu telemóvel ou câmara fotográfica que ateste o “saber fazer” e que testemunhe que esteve lá. E que sirva para exibir a parentes e amigos.
Sugiro a estes hipotéticos “fotógrafos”, em alternativa, o recurso a algo bem antigo: o postal ilustrado. As condições de luz são excelentes, o momento exacto, a perspectiva a melhor, a qualidade de impressão muito boa.
E sempre se evita o trabalho de carregar a tralha, mesmo que no bolso.
Bastará depois fotografar o postal, mesmo que com o telemóvel ou com o scanner, e enviá-lo para as redes sociais.

Infelizmente esta não é questão nova.
Recordo ter lido que em certos locais nos EUA existiriam sinais equivalentes a este, fictício, indicando ser o spot correcto “para mais tarde recordar”. Com o óbvio patrocínio de uma conhecida marca de película e câmaras “point and shot”.


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domingo, 18 de março de 2018




Brincando com flores (num vaso), um flash e um reflector.


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Não podemos julgar a floresta por uma árvore.
Mas quando entramos na floresta e começamos a encontrar, uma após outra, árvores com as mesmas características, podemos começar a fazer um julgamento válido.
O mesmo se passa com a política e os políticos!
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Disciplina




Comecei a fazer fotografia publicitária há quase quarenta anos, com um compincha de muitas andanças e uma câmara emprestada.
Não se tratavam de imagens de glamour, p’lo menos de início, mas antes de produtos que constariam em catálogos.
Os primeiros trabalhos aconteceram na casa dele, de noite, depois de a sua família recolher à cama e a sua sala ficar disponível. Mais tarde aluguei um espaço, que funcionou como laboratório e estúdio, onde trabalhávamos.
A câmara era como esta, cuja imagem fui rapinar na net: uma MPP 4x5 ou, se preferirem, 9x12. Ou seja, o negativo tem nove por doze centímetros. A objectiva era uma Schneider Xenar 150mm F:5,6. Quando pude, comprei uma Linhoff 9x12, deixando de recorrer a empréstimos.
Gastávamos horas para fazer uma fotografia, por vezes uma noite inteira. A nossa inexperiência e o improviso com equipamento (iluminação, uma só objectiva, ausência de espaço e mesa de trabalho adequada…) a isso levava.
De manhã, ensonado de uma noite em claro, zarpava eu para o laboratório da AGFA, nos arrabaldes da cidade, para entregar os trabalhos. Horas depois, duas ou três, ia buscá-las.
Eu, e os demais que ali tinham ido p’lo mesmo, “batíamo-nos” por um espaço confortável na grande mesa de luz que ali havia para, com uma lupa, verificar a qualidade do que havíamos feito.
Com os preciosos diapositivos (que os trabalhos eram fotografados e entregues em diapositivo 9x12) na caixa e esta na pasta, dirigia-me a uma cabine telefónica para informar o sócio que tudo estava bem e que não havia que repetir nada.

Estas vivências, já velhas, deram-nos algo que hoje já é difícil de encontrar: disciplina.
As incertezas sobre o resultado, o só o sabermos horas depois e longe do local do trabalho, a ansiedade da espera e o respectivo custo dos materiais e laboratório, levavam-nos a que cada vez que disparávamos a câmara tivéssemos todas as certezas possíveis. Luz (quantidade e qualidade), composição, nitidez e profundidade de campo, controlo de perspectiva… tudo isto tinha que ser perfeito antes de colocarmos o chassis com a chapa no lugar do despolido onde víamos a imagem, invertida, através da lupa de focagem.
Hoje, todos estes aspectos são verificados segundos depois, minutos se houver como ver no ecrã de um computador. As imagens de teste e ensaio são passíveis, que não há custos associados, e as correcções acontecem em função de uma imagem feita e não apenas antevista p’la experiência (que não tínhamos muita).

Não seria correcto dizer que esses eram tempos melhores. Apenas diferentes. Nos suportes, nas tecnologias, nos métodos. Até nos custos e preços de mercado.
Mas mesmo a “disciplina” de então será possível hoje, desde que para tal estejamos dispostos.
Saber “ver” a imagem resultante ainda antes do click é, do meu ponto de vista, vital. Saber olhar p’lo visor da câmara e, aí, aquilatar e gerir a composição e gestão de espaço; saber olhar para o assunto e saber avaliar e medir a luz, nas vertentes de quantidade e qualidade; saber de que forma o suporte (película ou sensor) reage às cores e contrastes; saber decidir qual o ponto de vista adequado, mesmo antes de colocar a câmara e tripé…
Tudo isto é possível seja qual for a tecnologia empregue. É apenas uma questão de “disciplina pessoal”. De saber pensar antes de fotografar, de saber ver mais que olhar.
E, nos tempos que correm, com a enorme vantagem de não ter que esperar, ensonado e num qualquer café, que o laboratório faça o seu trabalho e bem.

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sexta-feira, 16 de março de 2018

Obj e subjectiva




A minha objectiva é isso mesmo: objectiva e não subjectiva. Não tem emoções, afectos ou desafectos. É democrática e igualitária, já que na sua convergência, refracção e difracção da luz, trata tudo e todos por igual. Do mais abjecto ao mais ilustre, a todos capta e transmite com a mesma limpidez e perspectiva. Na frieza do vidro e metal, na maciez do plástico e borracha, e na suavidade do seu mecanismo, não distingue amigos de inimigos.

Já o homem por de trás da objectiva é subjectivo. Músculos e neurónios conjugam esforços no bombear do sangue e emoções fazendo sempre comparações entre bom e mau, avaliando afectos e desafectos e reagindo em conformidade. O calor das emoções aproxima-o ou afasta-o do que o circunda, amando, odiando, desprezando ou desejando pessoas, objectos ou situações.

Quando eu, Homem da objectiva, tenho que o ser por dever, entro na objectiva e tento ser uno com ela.
A tudo e todos que à sua frente se exibem ou são apanhados, são tratados por igual, tentando não conhecer amigos ou inimigos, abafando ou tentando abafar emoções endócrinas.

Mas eu, Homem da objectiva, quando o sou porque quero e gosto, deixo e quero que a objectiva se una a mim e assuma a minha subjectividade.
Vê, transforma, refracta em sintonia com as minhas emoções, boas ou más, positivas ou negativas. Ama o que gosto, despreza o que ignoro, odeia o que me maltrata. Assume o vermelho do meu sangue ou o cinza dos meus neurónios, abrindo ou fechando a íris ao ritmo do coração.

E no espaço que medeia entre o homem da objectiva e objectiva do homem?
Como, defeco e durmo como qualquer outro animal.
E gasto uns litros de tinta a escrever umas linhas…

(Nota fotográfica adicional – Esta imagem tem bem mais que um decénio e foi feita com a há muito descontinuada Olympus C3030Z, com uns “míseros” 3,3Mp.
Fica a informação para os que se batem pela última novidade tecnológica.)



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No tempo e no espaço




Não creio que os medievos pintores soubessem alguma coisa sobre semelhança de triângulos. As proporções do que fizeram são em função da importância do representado e não de umas quaisquer leis de geometria.
E, no entanto, o que deles conhecemos é belo!
Suspeito que os Rapanui, quando fizeram as mais que conhecidas esculturas da Ilha de Páscoa, nem desconfiassem da existência de um tal de “número de ouro”.
E como são belas as esculturas!
Acredito que os Aruaque que vivem nas florestas amazónicas não saibam identificar frequências luminosas e as suas harmónicas, ao escolherem estas e não aquelas cores para se decorarem em momentos de festa ou de luto.
E são belas aquelas cores!
Nada nos leva a crer que os antigos japoneses, ao pintarem as paisagens que sobraram até hoje, se preocupassem com rigores numéricos ou geometrias euclidianas.
Mas são belas as suas pinturas.

Mas mesmo que larguemos o passado e as culturas baseadas na antiguidade clássica, veremos, por exemplo, que a fotografia chinesa pré-ocidentalização, feita por chineses e para consumo nacional, ignora o que seja a regra dos terços.
E que belas são!
Tal como a iconografia ortodoxa não sabe o sejam perspectivas lineares.
E como são belos os seus ícones religiosos!
A propaganda desenhada, fotográfica, cinematográfica, da era soviética também não era profícua no recurso aos conceitos clássicos de estética e perspectiva.
Mas são belos os seus trabalhos!
E se olharmos para o cinema produzido, por exemplo, por Yimou Zhang com o seu filme “Herói” ou por Edward Yang, com o seu filme “Yi-Yi”, mesmo que o que nos mostram seja o resultado de uma perspectiva linear resultante de uma objectiva, não depende facilmente de regras de equilíbrio ou harmonia ou proporções definíveis por fórmulas matemáticas.
E como são belos os seus filmes!

A beleza, ou a estética, depende antes de mais da cultura de quem produz e de quem aprecia. Os números, regras, fórmulas, podem justificar algumas coisas, mas não tudo. E, principalmente, não estão na raiz da criatividade.
Somos o que somos porque temos um passado que alicerça o presente e projecta o futuro.
A antiguidade, o renascimento e a revolução industrial vieram mudar muito no que à criação e expressão pessoal concerne. E ainda bem, que muito de belo foi feito com base nesses pensamentos.
Mas quando, hoje, tudo queremos reduzir a fórmulas, regras, cânones, academismos, estamos a padronizar o ser humano, querendo impor normas à criatividade e, com isso, destruir o que de mais belo o ser humano tem: fazer diferente e ter prazer nisso!

Nota extra provocatória: tentem lá colocar on-line uma imagem triangular.



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O ponteiro



Todos os dias dou corda ao meu relógio.
E é tão bom ouvir o seu tic-tac, sabendo que tenho um dos ponteiros no bolso e que o outro o perdi há muito…

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quinta-feira, 15 de março de 2018

O melhor cartaz publicitário do ano!



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Em torno de uma fotografia




Esta fotografia tem uns cinquenta anos, mais ou menos uns meses.
Foi feita aquando da minha quarta classe, no pátio da escola que frequentei.
Dos que aqui estão recordo quase todos. Pela cara a maioria, pelo nome alguns. A uns acompanhei por uns anos, noutras escolas e aprendizagens, aos outros perdi o rasto.
Mas o que recordo, pessoas, espaço, árvore e janelas, não é agora importante. Esta fotografia, encontrei-a num envelope, junto com mais quatro, onde consto. Terão sido feitas por um fotógrafo profissional, que deveria correr pelas escolas da zona, aceitando as encomendas da memória para a posteridade. Várias da mesma criança, em várias situações, para que os familiares se sentissem tocados e as comprassem. Nenhuma espontânea, mas todas marcando uma época.

Mas o que também marca essa época, e acredito que o fotógrafo não contasse com isso, é o que consta no envelope que as contém: o preço.
Escrito a lápis a quantia de 100$00. Vinte escudos por cada fotografia.
E, se eu bem me recordo daquilo que minha família contava de quanto ganhava na altura, e éramos bastantes em casa, uma verdadeira fortuna. Para ser sincero, não quero imaginar o que, nessa altura, terá sido deixado de fazer para que estas fotografias tivessem sido compradas.

Pergunto-me agora se hoje, em pleno séc. XXI, na era das tecnologias da informação e da banalização da imagem, se alguém faria tamanha despesa. De uma forma ou de outra, toda a gente tem uma câmara, tenha ela a qualidade que tiver. E aqueles que não as têm, provavelmente já nem têm os seus filhos na escola.
E terão as imagens feitas hoje o valor comercial que esta teve nessa altura? Ou, indo um pouco mais longe: durarão as fotografias deste género, feitas com as técnicas e os suportes de hoje, tanto tempo?

Fica o alerta para os pais e avós dos tempos modernos para que acautelem e preservem as suas fotografias. E, se quiserem por a sorrir ou pensar daqui por umas dezenas de anos os que hoje são pimpolhos, ponham-lhes o preço atrás.

By me