sábado, 31 de janeiro de 2015

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O que acontece a um maitre d’hotel quando serve a um cliente, como sobremesa, um bolo podre?
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A nesga



Por vezes, são apenas as nesgas de luz que me alegram o dia.

By me

Informação meteorológica minimalista



By me

A tampa e a luz





Ao longo dos anos vários têm sido os que me questionam sobre a minha preferência de uma luz de recorte (ou contra-luz, ou back light ou hair light ou luz de trás) intensa.
Curiosamente só de há uns anos a esta parte me apercebi que, de facto, essa é a minha luz preferida, seguida de perto por uma luz lateral em relação ao eixo de observação ou de captação.
Por resposta encontrei várias possíveis, de índoles bem diversas.

Numa primeira abordagem, uma luz de recorte intensa é fácil de trabalhar e de, com ela, se obterem resultados se não espectaculares, pelo menos menos comuns. É que basta que a luz vinda de perto do eixo de observação seja suficiente para se perceberem os detalhes e sem sombras contrastadas. A outra, a de recorte ou de trás, pode ter a intensidade que se quiser (1:3, 1:5, 1:10, por comparação com a frontal) que é aceitável alguma falta de controlo sobre ela desde que fique a “queimar” ou quase.
Desta forma, as definições dos diversos planos, os jogos de contraste assim criados e o evidenciar do ou dos centros de interesse na imagem não só são fáceis de criar como de fácil leitura por parte do público. Talvez que o factor preguiça me tenha levado por este caminho.

Mas outras repostas podem ser encontradas, não tão simples.
A luz que vemos e que fotografamos é, as mais das vezes, a reflectida dos objectos. Vinda de uma qualquer fonte (natural ou artificial, apenas disponível ou laboriosamente trabalhada) os raios luminosos incidem no assunto e são reflectidos. Em regra não na totalidade, já que parte dessa energia luminosa é absorvida pelos materiais (e chamamos a isso cor) ou atravessa-os na proporção em que são permeáveis (e chamamos a isso translucidez ou transparência).
Em qualquer dos casos, definimos leis e regras científicas para a radiação, reflexão e refracção, regras essas que quem usa a luz como matéria-prima tem que conhecer medianamente bem.
Mas a verdade é que a esmagadora maioria da luz que traduzimos em “ver” e em “fotografar” é a reflectida. O que significa, na prática, que aquilo que vemos e registamos é, apenas, a superfície dos assuntos. O seu interior, quer lhe chamemos “recheio”, “alma” ou “para além de” fica oculto ou ofuscado por essa reflexão de superfície.
Sendo verdade sou um eterno curioso (um eufemismo para metediço) em relação ao que me cerca, tenho tendência para tentar conhecer o mundo um pouco mais além da superfície aparente.
Uma forte luz de recorte ou contra-luz permite que, ao resvalar nas arestas ou atravessar o assunto se for esse o caso, aquilo que vejo e registo vá um pouco para além das aparências da superfície. Não apenas no conceito metafórico do termo mas também no real, usando a translucidez ou transparência dos assuntos fotografados.
Claro está que este “ir para além da superfície” será, as mais das vezes, uma questão interpretativa. Mas também o é toda e qualquer fotografia, por muito técnica ou “fiel”que queiramos que seja.
E, muito naturalmente também, esta não será uma abordagem que eu use exaustiva ou exclusivamente. Mas, em situações normais, tenho tendência para a procurar ou provocar.

As explicações quanto a esta minha preferência não se ficam por aqui: acontece que sou do contra!
Tenho uma atitude de contestação generalizada na vida (já me disseram que a primeira palavra que terei dito conscientemente terá sido “Não!”). Assim, e se a grande maioria dos fotógrafos, conceituados ou anónimos, procura a luz frontal, mais suave ou mais contrastada, na moda, na arquitectura, na paisagem, no retrato, na reportagem, faz todo o sentido que a minha atitude contestatária me leve a procurar outros caminhos, no caso, outros tipos de luz. O próprio termo “contra-luz” é bem elucidativo!

Um outro motivo, desta feita não congénito, pode explicar esta preferência por fortes contra-luzes:
Há mais de uma vintena de anos perdi a capacidade de visão normal da vista direita. Mantive a visão periférica, mas a frontal, a de detalhe, transformou-se numa mancha cinzenta, irremediavelmente.
Com esta “menosvalia” perdi também a capacidade de avaliar distâncias de forma convencional: a visão estereoscópica desapareceu por completo. O que me levou a encontrar soluções no quotidiano para resolver as coisas mais simples, como o saber a que distância se encontra um carro, ou o enfiar uma linha numa agulha ou o descer de uma escada.
Mas o cérebro humano é bem mais poderoso que aquilo que imaginamos e encontrei inconscientemente soluções alternativas: o tamanho aparente dos objectos ou a sua sobreposição (perspectiva, a ferramenta do fotógrafo) e, obviamente, as sombras que eles provocam (luz, a matéria-prima do fotógrafo).
Acontece que se as sombras se projectarem para além do objecto, não são visíveis porque tapadas. É bem mais fácil calcular distâncias se as sombras se projectarem para o nosso lado. Ou seja: se a fonte de luz que as provoca estiver para além do objecto – contra-luz.

Seja como for, há que admiti-lo, esta preferência por este tipo de luz para fotografia tornou-se bem mais fácil de pôr em prática com o recurso à fotografia digital e ao processamento no computador. A tentativa e erro no controlo de contrastes é muito mais acessível e bem mais barato (a custo zero e tempo mínimo) que nos tempos do diapositivo ou do negativo.
Em qualquer dos casos, e seja qual for o principal motivo ou motivos para se gostar de um dado tipo de luz (ou composição, ou perspectiva, ou proporções de imagem ou o que quer que seja) será bom que cada um o perceba e saiba.
Para saber porque o faz e disso tirar proveito ou, pelo contrário e se as circunstâncias assim o exigirem como seja um cliente, poder evitar o excesso de personalização.
E parar para pensar naquilo que fazemos e de que gostamos, mais que gastar tempo, é saber usá-lo.

By me

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

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O livro do “Deve & Haver” da vida tem duas colunas.
Gosto de as manter equilibradas. 
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Não me apetece





Nada tenho a esconder sobre a minha vida. Pelo menos não mais que qualquer outro cidadão que faça uma vida honesta e sem pretender fazer mal a ninguém.
Apesar disso, continuo a defender que a vida privada de cada um é privada é isso mesmo – privada – e como tal deve permanecer.
Exactamente por isso me desagrada até ao tutano a transformação que a sociedade está a sofrer, para gáudio de alguns: a total vigilância sobre a vida privada de cada um.
Ele é a entrega do NIF em cada negócio privado, ficando o respectivo registo – quando, quanto e o quê – nos arquivos estatais; ele é a revista a pessoas e bens a cada viagem de avião, ficando os agentes privados de segurança a saber o que cada um transporta e para que efeito; ele é as câmaras de segurança nos espaços privados e públicos, nem todas controladas por forças de segurança, que registam cada movimento e presença; ele é o registo e escrutínio permanente da localização de cada aparelho de comunicação móvel, bem como a obrigatoriedade e manter esses registos à disposição dos agentes da justiça e não só; ele é, agora e uma vez mais em nome da segurança, o arquivo e respectiva distribuição por todo o espaço Schengen de uma série de dados pessoais de cada vez que se viajar de avião; ele é o “cartão-cliente” das grandes superfícies e o registo de cada transacção feita com cada cliente…
Não tenho nada a esconder, não mais que qualquer outro cidadão normal. Mas não me apetece ter a minha vida privada assim escrutinada e divulgada.
Não me apetece que a menina do supermercado me pergunte se eu estou com problemas anais por ter mudado de suavidade no papel higiénico; não me apetece que me batam à porta e me questionam por estar a ler livros proibidos; não me apetece que um agente de polícia, numa operação stop, me pergunte porque é que ando a fazer raio-x; não me apetece que me telefonem a perguntar se quero entrar na loja cuja montra estou a ver; não me apetece que me perguntem se quero emitir opinião sobre um museu em Barcelona que visitei amiúde nos últimos cinco anos; não me apetece…

Onde quer que esteja, Orwell deve estar a rir-se à brava.

Na imagem: um pedacinho do ficheiro “CDPLAYER.INI” onde constam todos os CD’s que ouvi no meu computador e respectivas faixas desde a última vez que instalei o sistema operativo.

By me

Sobre fotografia





O Homem é gregário! Sobre isto não sobram dúvidas. É-o para procurar a força que o grupo dá e é-o para encontrar a segurança que o grupo oferece. E, acessoriamente, é-o porque o Homem é uma animal que comunica e necessita de um igual para comunicar.
Mas o Homem necessita também de se afirmar no grupo em que se insere. Afirmar-se como pertencendo ao grupo e afirmar-se como alguém especial no grupo.
Pouco importa que este grupo seja no campo da política, do desporto, da religião ou filosofia ou das artes. Ele diz que é adepto de, praticante de, crente em e, ao dizê-lo, procura os adeptos de, os praticantes de, os crentes em com os quais se identifica e com quem pode partilhar interesses.
Mas também diz que é o maior adepto de, o melhor praticante de, o mais fervoroso crente em. E fazem-se competições, avaliações, demonstrações para provar que não só se pertence ao grupo como, dentro dele, se é especial.
Há ainda uma outra forma de grupo com a respectiva identificação e consequente tentativa de afirmação no seu seio: a posse! A posse de bens móveis ou imóveis define grupos de possuidores. E o gosto pela posse do possuído ou pela sua utilização. A evidência do indivíduo no meio do grupo de possuidores é aferida pelas qualidades do que se possui: a maior biblioteca, o melhor carro, o luxo da dómus, a tecnologia.

No caso da fotografia sucede o mesmo.
Podem-se considerar dois, talvez três tipos de grupos: os que gostam de ver fotografia e os que gostam de fazer fotografia.
A afirmação individual dentro do primeiro grupo passa pelo conhecimento que se tem sobre autores, técnicas, estéticas e história e pela posse de documentação sobre isso. Quantidade e qualidade: muitos livros, muitas fotografias, trabalhos de mestres, obras de mestres.
Já a identificação e afirmação no grupo dos que fazem fotografia se pode dividir em dois sub-grupos: os que possuem os meios técnicos de a fazer e os que possuem qualidade no que fazem.


Nota intercalar:
A fotografia de Daguérre tal como a imprensa de Gutemberg podem ser – e são – considerados marcos na história da comunicação e do desenvolvimento da humanidade. E se a imprensa veio substituir o trabalho elaborado e elitista dos copistas, fazendo com que a mensagem por códigos-padrão (escrita) fosse acessível a todos e em todos os lugares, a fotografia veio “paralelizar-se” com a pintura no acesso à mensagem gráfica sem códigos-padrão (imagem).
Simplificou os processos de produção da imagem, passando a ser possível a qualquer um a sua produção e globalizou o seu consumo, passando a ser possível um sem-número de exemplares, fiéis entre si, todos originais (ao invés da pintura), e fora dos museus e galerias privadas.
Indo mais longe, e com a simplificação das técnicas fotográficas, deixou de ser necessário ser-se um especialista para produzir fotografias. A indústria evoluiu no sentido de deixar ao consumidor apenas o trabalho de apontar e premir o botão, deixando o trabalho monótono e elaborado da revelação e impressão para os laboratórios e técnicos especializados.
Actualmente, com os suportes digitais, mesmo aqueles estão quase que condenados à extinção, já que câmara e computador pessoal se completam.
Acontece que a simplificação dos processos elaborados (hardware) não veio alterar profundamente os processos intelectuais (software) da criação da imagem.
Continua a ser necessário “Pensar” na imagem, imaginar o resultado final, saber-se o que se quer mostrar ou contar, conhecer como transformar a tridimensionalidade e os cinco sentidos na bidimensionalidade e na exclusividade da visão. E, neste campo, não há tecnologia que simplifique. Há que pensar e sentir, mesmo que não se pense ou sinta que se está a pensar ou sentir.
E não nos enganemos: Isto dá trabalho! Muito trabalho! É a tentativa e erro, é o estudo, são as inúmeras frustrações por cada satisfação, é a paciência, é a pré-disposição diária para o fazer…
Mas, se pensarmos um pouquinho no comportamento humano, chegamos à conclusão que o bicho-homem não gosta de trabalhar. Toda a evolução das civilizações e das técnicas foi e é no sentido de facilitar as tarefas, de minimizar o esforço, de aumentar a satisfação. Fotografia incluída!
Donde a lei, quase universal, do menor esforço, não se coaduna com o trabalho físico e intelectual. Aquilo que se procura – uma forma fácil e sem esforço de fazer fotografia – é quase uma impossibilidade!

Temos assim que, no grupo humano dos fotógrafos, a evidencia do individuo se torna difícil porque trabalhosa.
Mais ainda, esta evidência não depende apenas do esforço do próprio mas também (e muito) do reconhecimento que o grupo lhe dá. Não basta fazer fotografias que agradem ao próprio: Têm que agradar ao grupo dos fotógrafos.
Mas o conceito “Agradar” é particularmente variável. Depende das correntes estéticas em voga, depende da opinião dos lentes académicos e daquilo que o mercado e negócio impõe.
Desta forma, aqueles que fotografam para “agradar”, que procuram o destaque no grupo, estão dependentes das variações culturais e das opiniões de quem influi. O ser-se bom não depende do esforço próprio.
Resta assim, àqueles que se querem evidenciar na fotografia e que não conseguem ser reconhecidos pela sua actividade, gritarem bem alto “Eu posso fazer porque tenho a melhor ferramenta!”
Deixou de ser uma afirmação no grupo pelo desempenho para passar a ser pela posse. E esta, porque material e mensurável, é comparável. E o que tiver a câmara mais sofisticada, a objectiva mais potente ou luminosa ou o laboratório ou PC mais completo é um “mais” no grupo. Afirma-se como elemento de destaque!

Claro que, no meio desta análise bastante cínica e materialista, quiçá minimalista, falta incluir alguns elementos da espécie humana: aqueles que, pertencendo a um grupo, não se preocupam em o ser ou em serem especiais no seu seio.
São aqueles que fotografam apenas e só porque lhes dá prazer fazê-lo e não para reconhecimento no grupo dos que fotografam. E para quem o reconhecimento é um factor acessório e não vital. Usam a fotografia como forma de expressão pessoal como outros fazem com a escrita, a pintura e outras artes. E se os outros gostam ou não, problema deles. E, muito naturalmente, não se preocupam em se afirmarem pela ferramenta que possuem!
Alguns desta categoria obtêm do grupo – e da humanidade – o reconhecimento de qualidades. Alguns mesmo acabam por tirar proveito disso, já que conseguem juntar a actividade que lhes agrada com a actividade que lhes dá o sustento.
Alguns outros só tarde na vida, senão mesmo depois de mortos, são objecto desse reconhecimento de qualidade.
A uns e outros, é dada a categoria de mestria!

E, em chegando a este ponto e porque mais não me apetece escrever por agora sobre o tema (e muito haveria para dizer), resta-me deixar uma afirmação:
Nenhum daqueles que são considerados “Bons fotógrafos”, façam ou não disso o seu objectivo ou ofício, o conseguiram sem muito trabalho. E sem conhecerem, em profundidade, o mundo e o Homem!


 Imagem: “Um homem de caridade”, by Eugene Smith
Texto: by me

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Esta noite





Esta noite vai ser assim:
Tal como eu irei dormir, também o despertador vais descansar.
Suponho que os vizinhos agradecem. 

By me

Smile





“Boa tarde”, disse-me.
“Para si também: boa tarde”, respondi.
Levantou os olhos da caixa registadora à sua frente e encarou-me, tentando perceber se ouvira um insulto ou uma saudação. O meu sorriso esclareceu-a e igualou-o.
“Estaria uma boa tarde se não fosse este frio e chuva”, acrescentou.
“Frio? Chuva? Isto não é chuva, é só humidade intensa. Chuva estará quando for tomar banho. E também não está frio, está só fresco. Que frio mesmo espero que esteja no meu frigorífico”, retorqui.
O sorriso transformou-se em gargalhada e perguntou-me se eu queria um café cheio, como de costume.
Confirmei-o e bebi-o. E, nos entretantos, guardei na carteira aquele riso, que me fez ganhar o dia. 

By me

Ferramenta





A história li-a já não sei onde nem quando, e era mais ou menos assim:

Um fotógrafo de um jornal queixava-se ao director da qualidade do material que lhe forneciam para fazer as reportagens.
“Ainda se, ao menos, tivesse uma daquelas da última geração, com aqueles pixels todos…”
A resposta foi lapidar:
“Acha que é a ferramenta que faz o génio? Então tome!” e entregou-lhe uma Mont Blanc, em ouro, que tirou do bolso do casaco. “Vá escrever um best seller.”

By me

Matemática social





Um pequeno episódio (ou grande episódio), vivido ontem e que ainda me marca a manhã, fez vir à tona da memória todo um conjunto de outros pequenos (ou grandes) episódios equivalentes. Que o tempo é uma sucessão de episódios e o seu tamanho aquilata-se na exacta medida de quem os vive.
Aqui fica um deles, contado palavra por palavra como já o contei e com a mesma imagem.

“Carrego a merda que os outros fazem!”
Foi assim que ele se descreveu e ao seu ofício. O nome oficial será “Cantoneiro Municipal” e, em tempos, chamávamos-lhes “Almeidas”, ainda que eu não saiba porquê.
A abordagem inicial foi a costumeira: Querer saber se num outro dia poderia vir para eu lhe “tirar o retrato”. É a atitude habitual de quem quer saber detalhes mas não tem a coragem de perguntar quanto custa, por não ter dinheiro para o pagar.
Em sabendo-o grátis não o acreditou mas, perante a minha insistência no preço, quis fazer uma. Estou convencido que estaria na disposição de pagar no final, ainda que não soubesse o valor e correndo o risco de ser demasiado para ele. É que o seu espanto e gratidão quando, no fim e depois de a receber, constatou que era mesmo a custo zero, foi sincero. Até a forma de o demonstrar.
Para além das expressões e gestos usados, foi a oferta de um copo de tinto, pago no tasco vizinho de sua casa, nas imediações do pátio onde reside, ali na vizinhança. E a firmeza com que me apertou a mão e, muito estranhamente, a levou aos dois lados da sua cabeça, não me permitem duvidar que, em lá indo, terei um copo à minha espera.
É particularmente curioso constatar que são quem tem proventos mais modestos, quiçá nenhuns, alguns mesmo a “carregar a merda que os outros fazem”, que mais insistem em pagar a fotografia recebida, que mais genuinamente ficam agradecidos por ela e em quem se vê um sorriso mais sincero.
Talvez porque, em regra, a solidariedade é inversamente proporcional ao nível económico!

By me

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Merda! É a única palavra que me vem à cabeça. Merda!



Pediu-me para uma sopa e fomos por ela. E disse-lhe que pedisse o que quisesse, já que não sabia se naquele snack de estação e àquela hora ainda haveria sopa. Já não e olhou-me, perguntado, se poderia ser um salgado e um sumo.

Disse-me depois, já no cais e enquanto esperávamos pelo comboio, que queria mesmo era uns trocos para poder pagar o quarto. Há três noites que estava a dormir num vão e não sabia se ainda lá estaria a roupa.

O que lhe faltava era menos ainda que o que eu havia recebido de troco, ao balcão. Dei-lho.

Olhou para mim, bem nos olhos pela primeira vez, e disse-me:

“Sabes? Isto hoje não é para mais nada. É mesmo só para o quarto. Estou tão cansada!”

“Não te perguntei nada, pois não? E ainda não me deste motivos para que não acreditasse em ti, pois não?”

Sorriu ainda mais.

E ficámos mais um nico à conversa, sobre a sua família lá na terra, os seus filhos e as idades, as reacções do pai e da mãe quando lá vai…

A dado passo, e antes de subirmos para a composição, mete a mão no bolso do casaco coçado e diz-me:

“Olha! Já vi que fumas. Não queres ficar com este maço? Está quase cheio. Deram-mo hoje.”

Mostrei-lhe os meus e disse-lhe que preferia fazê-los eu, obrigado.



Merda! Não me recordo de me terem oferecido algo de tão valioso. Merda!



Quando, uns vinte minutos depois, se levantou do seu banco para sair na estação dela, debruçou-se e deu-me dois chochos, dizendo baixinho:

“Vemo-nos por aí.”

Dei-lhe uma palmadinha no ombro e só me ocorreu dizer-lhe de resposta, também baixinho:

“Porta-te bem!”

Ficou no ar o seu sorriso, triste, e o seu odor.

Talvez que por isso ninguém tivesse ocupado o seu lugar no banco, não sei.

E talvez que nos vejamos por aí.


By me

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Oraculo radical



Vivemos num mundo de imagens. Algumas bem claras e inequívocas, como a fotografia, o cinema e o vídeo. Outras, meros códigos ou convenções, como os sinais de trânsito ou os ícones informáticos. Outras ainda de interpretação nem sempre imediata, como é o caso dos logótipos comerciais.
De uma forma ou de outra, este produzir e consumir imagem tem por objectivo a simplificação da comunicação. Dentro da linha de “uma imagem vale mil palavras!”
E a evolução e a complexidade da tecnologia também assim o impele e obriga. Quem se recorda, no caso dos computadores das linhas de comando complexas, com palavras, letras e sintaxe rigorosas? Hoje o consumidor banal desconhece-as, usando tão só imagens e códigos visuais coloridos. Tal como noutras máquinas, os painéis de controlo são essencialmente compostos de símbolos e ícones, no lugar de palavras ou letras. Gradual mas firmemente, a imagem vai substituindo a palavra escrita.
E se isto sucede nos comunicadores formais de grande volume (industriais, media, audiovisual), sucede também com os comunicadores de pequeno porte mas a quem se destinam os primeiros: os consumidores individuais.
A tecnologia da imagem (fotografia, vídeo, infografismo) está ao alcance de quase qualquer um nas sociedades ocidentais, sendo que a sua posse e uso se torna quase que um símbolo de posição social, tal como o automóvel ou a marca de roupa que se veste.
A própria comunicação escrita convencional – a palavra – está a sofrer mutações. A técnica vai permitindo substituir as palavras e letras por símbolos gráficos – ícones de emoção, animados ou estáticos. Ou, mais simples ainda e menos tecnológico, a quantidade de letras usada na escrita vai diminuindo, com siglas, contracções e aglutinações.
De uma forma ou outra, a sociedade tecnológica e de consumo em que vivemos nos chamados “países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento”, a palavra escrita vai definhando em favor da imagem ou do grafismo visual.
Indo ainda mais longe e fazendo futurologia radical, estou em crer que dentro de algumas gerações (quatro, cinco, seis?) a escrita como a conhecemos hoje será um atavismo, usada apenas por lentes e estudiosos. Talvez também em documentos formais ou oficiais.
Esta hipotética evolução que antevejo não é nem boa nem má: é evolução. Mudanças nos hábitos e culturas, levadas a cabo pela tecnologia e globalização, tal como os copistas monásticos e o iluministas o foram com o advento da imprensa.

Mas, no meio de tudo isto, nesta sociedade em mutação baseada na imagem e comunicação, falha um aspecto vital: a preparação dos cidadãos.
A formação académica de base, de crianças e jovens, baseia-se nas letras e palavras que ainda é a base actual da comunicação.
Mas não os prepara para saberem produzir ou consumir imagens. Prepara-os para saberem interpretar um texto escrito (por um romancista, jornalista ou um formulário) mas não para saberem ler uma fotografia, interpretarem um filme ou vídeo, descodificarem publicidade. E se não o souberem ler, interpretar, descodificar, serão estes agora jovens, futuros adultos analfabetos. E serão alvos fáceis para os que, em sabendo-o, usem desse conhecimento em favor dos seus interesses económicos, políticos, ideológicos de qualquer género.

A cultura dos códigos iconográficos e da imagem está já aí! Sem que a maioria de nós de tal se aperceba. E um povo ignorante, inculto, desatento, é o sonho de qualquer governante, magnata ou líder religioso: dócil e obediente!

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As camisas





Foi há uns trinta anos, não posso precisar.
Fui contratado por uma agência para fazer as fotografias de uma campanha publicitária de uma fábrica de camisas. Um trabalho de envergadura, com produção complexa, que envolvia fotografar modelos em locais alugados, o produto acabado em lojas e a fábrica em laboração.
Fotografado em formato 9x12, com uma câmara Linhof que havia comprado pouco tempo antes.
Quando o trabalho me chegou às mãos já quase tudo estava combinado entre o produtor e o cliente, ficando a meu cargo as questões técnicas e estéticas, e pouco de publicidade ou comunicação.
O trabalho correu mais ou menos bem, com alguns episódios caricatos e algumas falhas da minha parte, mas que fui resolvendo como podia.
O último dia de produção era na fábrica. A mais complicada em termos de luz, considerando a enormidade do espaço: uma nave grande, cheia de gente a costurar, com uma mistura de luz natural entrada pelas janelas e telhado e luz fluorescente vinda do tecto. Um pesadelo, se considerarmos que o trabalho era a cores e não havia photoshop para correcções posteriores.
Enquanto o produtor e o cliente ficavam à conversa, eu passeei-me pelo espaço, tentado senti-lo: máquinas, pessoas, luz, acções…
E apercebi-me de sorrisos constrangidos das senhoras que iam costurando ou cortando as peças de tecido. Fui metendo conversa com elas.
Fiquei sabendo que tinham sido avisadas da nossa vinda, que haveriam de vir com uma bata lavada e penteadas para as fotografias. Mas bastantes, algumas com idade para serem minhas avós, não queriam ser fotografadas. Ou por timidez, ou porque não gostavam da forma como ali eram tratadas, ou tão simplesmente porque não gostavam de fotografias. Sempre em tom baixo de conversa, não fosse serem ouvidas.
Eu era ainda puto, a experiência reduzida e o trabalho poderia lançar-me para outros voos. Mas aquilo foi-me batendo forte. Muito forte! Eu iria fotografar gente que não queria ser fotografada mas que era obrigada a isso pelo patrão. Não gostei. Nem um nico!
Regressei para junto do grupo que me aguardava: O dono da fábrica, a sua secretária, o produtor e o Jorge F., o meu assistente, inigualável no seu desempenho, que me entendia e me completava nas tarefas como nenhum outro com quem trabalhei. E disse-lhes que o trabalho não podia ser feito como combinado.
Ficaram a olhar para mim com ar espantado. E expliquei com argumentos técnicos e estéticos não iriam ser possível fazer boas imagens com a presença humana, já que ficariam tremidas ou com cores estranhas e que a solução seria fotografar a fábrica e a maquinaria por pedaços em vez de por inteiro e sem a presença das operárias.
A discussão foi renhida, entre mim, o dono da fábrica e o produtor. De parte, o Jorge, junto da tralha entretanto já descarregada, olhava para mim e sorria discretamente. Disse-me, mais tarde, que havia percebido o que eu queria com aquilo.
Acabei por ganhar a batalha. Afinal, mesmo sendo puto, eu era o “expert” na coisa e aquilo que propunha não iria alterar em muito o conjunto do projecto inicial. E, depois do almoço, a produção parou por algumas, não muitas, horas.
As imagens foram feitas, com as máquinas bonitas, brilhantes e eficientes, com peças a meio do tratamento tanto de corte como de costura ou dobragem e embalamento. Mas sem ninguém contrariado nelas. Nem com sorrisos contristados nem com mãos calejadas ou com cicatrizes.
Quando, no final dos trabalhos, estávamos a arrumar a tralha e as operárias regressaram às suas máquinas, os sorrisos de algumas pagaram muito bem pago o só ter feito mais um trabalho, já agendado, para este produtor.
Ainda hoje as recordo.

Nota extra: A fotografia não da época. Os originais, em diapositivo 4x5, foram entregues ao cliente na altura. Esta foi feita ali, a correr, para acompanhar o texto. 

By me

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Deu-me na bolha





A fotografia não serve apenas para documentar um acontecimento, mostrar uma forma, exprimir um sentimento. Pelo menos para mim tem mais significados que apenas isso.

O jantar correra-me bem.
Não apenas a comida estava como de costume (vantagem dos fast-food), como conseguira fazer um texto sintético sobre algo complexo, como, e principalmente, tinha tido oportunidade de estar de conversa com uma mocinha com curiosidade sobre a vida no seu todo, com um sentido de humor notável e que estava atrapalhada com lumens, candelas por pé quadrando, radianos e correlativos, no curso que frequenta.
Como se isso não bastasse, o seu projecto de vida (do pouco que contou) é sólido, argumentado e sentido. Cereja no topo do bolo: tal como eu, gosta da cidade de Barcelona.
Sorte a nossa – minha que estava com veia p’ro paleio e dela que havia poucos clientes – a colega ou chefe não parecia incomodada com o bate-papo.
Já cá fora, à espera do autocarro, senti que havia que celebrar o jantar com uma fotografia. Não importava o quê, desde que a fizesse.
Foi o que me saiu. 

By me

O tema do dia



Um dos temas do dia foi, se me não engano, o holocausto e a barbárie dos campos da morte nazis.
Tema terrífico, horrendo, uma vergonha para a espécie humana. O simples facto de nisso se pensar provoca arrepios na espinha.
No entanto algo há no tratamento deste triste momento da história que me desagrada profundamente: a memória selectiva.
Falamos dos milhões de judeus que foram dizimados cientificamente, com a metodologia e eficiência que elogiamos no povo alemão.
Mas deixamos de fora, quiçá convenientemente, os muitos milhares de ciganos que tiveram a mesma sorte. Pelo mesmo método e com a mesma eficiência. Tal como os homossexuais. E os comunistas. E os sindicalistas. E os anarquistas.

Da história contamos o que queremos e o que é “aceitável” que se saiba. Bom exemplo é o período dos descobrimentos portugueses e os negócios de escravos. Ou quem se lembra (ou mesmo sabe) dos meninos judeus enviados para São Tomé em 1492 e do seu destino? Ou o massacre de 1506, em Lisboa? Ou quem sabe a origem das nossas afamadas alheiras?

Da história contamos o que queremos e sabemos o que é conveniente.

Sobre o holocausto nazi, não deixemos ninguém de fora!

By me

Questão de princípios



Eu não viajo de avião. Definitivamente.
Não que tenha medo, nem pouco mais ou menos. Aliás, falta-me apenas andar num ultra-ligeiro, num caça militar e num helicóptero para ter a colecção completa. E é divertido constatar como o homem é capaz de vencer as leis da natureza, usando-as em seu proveito, e andar lá pelos ares.
Eu não viajo de avião porque não quero ser insultado.
Na minha cartilha todas as pessoas são consideradas inocentes até prova em contrário. Na sociedade securitária e vigilante, todos as pessoas são consideradas possíveis terroristas com vontade de derrubar aviões e terão que mostrar, através das identificações e revistas de bagagem e corporais que não tencionam fazê-lo. As autoridades consideram todos culpados até prova em contrário.
Não é a minha forma de me relacionar com o mundo e não aceito ser assim tratado!
E se esta minha posição me impede de ir a alguns locais (muitos) no mundo, paciência. Há muitos outros, belos e interessantes, que não implicam aviões.

De igual modo não fotografo desconhecidos sem seu consentimento. Não vou impor a terceiros as minhas atitudes e desejos de troféus fotográficos, obrigando-os a terem que se pronunciar contra esse meu acto. A minha vontade não se sobrepõe aos demais.
Ao invés, trato de saber se o posso fazer e apenas nessas circunstâncias dou ao gatilho. Parto do princípio que a vontade do outro sobre si mesmo é mais importante que a minha vontade sobre ele. Tal como o contrário é verdade.
Não quero ter que contestar os actos de terceiros sobre mim. A minha vontade e decisão é mais importante.
Donde: ou há consentimento prévio ou não há fotografia.
E se isso me impede de fazer algumas imagens bonitas ou mesmo originais, não me preocupo. O mundo está cheio de locais, luzes e pessoas que poderei fotografar sem agredir o menosprezar as suas vontades.


É que, na vida, temos que ter princípios e regermo-nos por eles. Que quando abdicamos dos princípios estamos no fim. No fim da nossa própria liberdade de acção e decisão. 

By me

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E depois de tantos serem Charlie,
depois de tantos serem Gregos,
a favor de uns ou de outros,
que mais seremos nós,
levados, levados sim,
pela voz do som tremendo,
das tubas, televisões sem fim.
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Dificuldades





Ao caminhar na rua encontrou aquele insólito objecto caído no chão. Baixou-se, pegou-o e sacudiu-lhe o pó.
De imediato de lá saiu um estranho ser que lhe disse:
“Meu amo e senhor: Obrigado por me libertares. Tendes direito a um desejo!”
“Mas…. Quem és tu?”
“Sou um aprendiz de génio da lâmpada e tens direito à satisfação de um desejo.”
“Um desejo?! Mas o génio dá sempre três desejos!”
“Pois é, mas eu sou apenas um estagiário, pelo que só posso conceder um. E pede-me uma coisa simples, que ainda estou a aprender isto da magia.”
“Se é só um, tenho que pensar bem!
Podia ser um carro… Um monte de dinheiro… Juventude…
Não! Vou ser magnânimo!
Se é apenas um, será algo para bem da humanidade!
Desejo que termines com a guerra no médio Oriente! Esse é o meu desejo!”
“Eh lá! Olha que isso é muito difícil! Pede antes uma coisa mais fácil, por favor, que ainda estou a aprender…”
“Bem, então sendo assim… Desejo que termines com a crise em Portugal!”
“Ora bem, vejamos! Onde é que era mesmo essa guerra?”

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Apeteceu-me, no quente e frio do sol e sombra.

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

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“Onde é que compraste esse livro? Numa livraria?”
“Bem, eu tentei num retroseiro, mas o mais parecido que havia era o catálogo das lãs, linhas e agulhas. E já era do ano passado.”


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Opções



Às dez e meia da manhã os jornais portugueses, na sua versão on-line, noticiam que já há um acordo parlamentar para formação de governo na Grécia.
Esta notícia é tanto mais importante quanto: A – há um prazo legal de três dias para que se forma governo; B – O partido com o qual foi formada coligação é de direita e anti-europeísta.

É interessante constatar a fotografia escolhida pelo nossos jornais, considerando que vieram todas, presumivelmente, de uma ou várias agências noticiosas, pelo que à partida estavam todos em pé de igualdade.
Se numa imagem se mostra ambos os lideres em conversações, na outra se mostra os mesmos dois com sorrisos.

E, acredito, já estaria tudo ou quase tudo combinado antes do acto eleitoral, pelo que as fotografias apenas nos mostram o acto público do acordo.

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Ou bem que pensas, ou...





Esta “crise” resulta de não haver riqueza no país!
Não há riqueza nos bolsos dos cidadãos nem há riqueza nos cofres do estado. Sendo que esta segunda só existe quando houver a primeira, quanto menos a primeira, menos a segunda.
É fácil fazer estas contas.
Podemos então perguntarmo-nos porque é que não há riqueza.
A riqueza advém da existência de bens: de comer, de vestir, de habitar (os mais básicos), e da capacidade de os transaccionar. A isto acrescente-se a possibilidade de fazer chegar esses bens a quem deles precisa, a capacidade e os conhecimentos de bem os produzir, o bom estado de saúde que quem os produz…
Claro que a riqueza advém também da capacidade de se produzirem e comercializarem coisas e serviços que, não sendo as mais básicas, proporcionam bem estar a quem as usa e que, sendo produzidas para além do necessário aos produtor, permite comercializar junto de quem não as tem: automóveis, electrónica de consumo, turismo…
Nestes últimos anos, talvez vinte, talvez trinta, temos vindo a descurar a produção dos bens mais essenciais, os que produzem a riqueza básica: importamos mais que produzimos em comida, em vestuário, em materiais de construção. Vergados ao peso de acordos internacionais, temos vindo a incentivar o fecho de explorações agropecuárias, a abater os navios de pesca, a reduzir a capacidade de produção mineira… E a incentivar igualmente a aprendizagem de ofícios que, numa sociedade rica seriam úteis, mas que numa pobre de pouco servem: profissões de actividades não produtivas de bens (e de riqueza): advogados, historiadores, politólogos…
Por outras palavras: perdemos a capacidade de auto-suficiência e passámos a depender quase que em exclusivo daquilo que outros países produzem e que nos vendem para riqueza… deles.
Esta alteração da sociedade e da capacidade de produzir riqueza tem vindo a acontecer aos poucos desde há uma vintena de anos, mas a passos decididos. Conduzindo-nos ao ponto em que nos encontramos: incapazes de produzir riqueza e dependentes das boas vontades exteriores, governamentais ou privadas.
Será então pertinente perguntarmo-nos quem nos tem levado a esta situação.
Os nomes são muitos, uns mais públicos, outros mais privados, uns mais odiados, outros cujos nomes chegamos mesmo a ignorar.
Mas o certo é que os agrupamentos a que pertencem, pelo menos boa parte deles, são conhecidos. Pelo menos aqueles cujas decisões ou acatamento de decisões acontecem supostamente em nosso nome: são partidos políticos com assento na Assembleia da República, que vão redigindo e aprovando leis que têm vindo a incentivar ou aceitar a permanente redução da capacidade de produção de riqueza no país.
Na sua essência, são três partidos políticos que isoladamente ou coligados o têm feito, passando o tempo cada um deles a atribuir as responsabilidades dos acontecimentos aos outros.
Mais interessante ainda é que esses mesmos partidos políticos, e os membros que os constituem, têm ocupado os diversos cargos porque nós, cidadãos, ao votarmos, é neles que confiamos: nos agrupamentos e nas pessoas.
Por outras palavras, fomos nós que os incumbimos de fazer o que fizeram, quer decidindo, quer acatando as decisões de outros.
Está na altura, provavelmente, de pormos a mão na consciência e de concluirmos que a situação que atravessamos é culpa nossa. E que, quando ou se tivermos que tomar novamente decisões, devemos aprender com o que estamos a viver e as suas causas.
Chamando pelos nomes, o exercício da governação tem sido, nos últimos vinte ou trinta anos, executado pelo PS, PSD e CDS, sozinhos ou coligados. E, com maior ou menor velocidade, foram estes agrupamentos partidários e os seus membros que nos conduziram a este ponto. E fomos nós, os cidadãos, que exercendo a Democracia os escolhemos para tal.
Se em breve tivermos que escolher gente para remendar este buraco em que nos encontramos, não nos esqueçamos de quem o criou e alimentou!
E sejamos capazes de, 2.000 anos passados, demonstrar que já não é verdade o que afirmou um general Romano ao seu imperador:
“Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar!”

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