domingo, 31 de dezembro de 2017

Datas



Uma daquelas coisas que me intriga:
Porque raio ninguém me desejou ontem um bom 31 de Dezembro?
Ou será que só contam as datas assinaladas no calendário, tão arbitrárias como quaisquer outras, tornando os demais dias anónimos?
Só para que conste, no Irão, antiga Pérsia, celebra-se o ano novo com o equinócio da Primavera.


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Balanço



É sempre complicado fazer o balanço do ano. Que entre o que aconteceu e o que se nos ficou na memória, haverá sempre algo que se nos escapará no relato.
Deste, que agora termina, ficará para sempre na memória o ter encontrado aquilo que estava de todo fora dos meus planos ou horizontes.
Quanto ao resto, apenas posso dizer que devo ter sido alguém muito bom em encarnações anteriores para ter merecido o que me aconteceu este ano.
Deixo de parte os votos habituais desta data. É óbvio que vos desejo tudo de bom: tranquilidade, equilíbrio, felicidade. E tudo aquilo que seja necessário para que isso se concretize.
O futuro será o que dele fizermos e os deuses permitirem. Que o maior gozo dos deuses é rirem-se dos planos dos Homens.


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sábado, 30 de dezembro de 2017

Bom dia




Ao que sei, D. Sebastião não tem programado o seu regresso para este sábado.

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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Palavras e perspectivas



Vá-se lá saber porquê!
Mas de cada vez que vejo escrito a palavra “monarca” a minha primeira leitura é “cornaca”.
Talvez que dos livros do Emilio Salgari, predilecto na minha juventude, bem como outras aventuras nas Índias.
Ou talvez o associar o quem monta um elefante com quem monta um país.

Como em tantas outras coisas, é uma questão de perspectiva e imaginação.

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Datas



Ontem tive uma passagem de ano supimpa.
Porque fez ontem exactamente um ano que se estava em 28 de Dezembro. E essa é uma fronteira importante, que só se atinge uma vez a cada 12 meses.
Não nos enganemos: tudo aquilo que aconteceu antes de 28 de Dezembro não se repete e, nessa data, esperamos que todos os dias que se lhe seguirão sejam melhores que os anteriores.

A todos aqueles que hoje iniciam um ciclo de 52 duas semanas e uns trocos, espero que se divirtam e tenham a força suficiente para impedir o que os arautos da desgraça nos anunciam.

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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Orquestras



Não sabe a diferença entre um violino e uma viola de arco.
Não sabe a diferença entre um violoncelo e um contrabaixo.
Não sabe a diferença entre um oboé e um fagote.
Não sabe qual a mão mais importante num instrumento de cordas.
Não sabe qual o papel do primeiro violino.
Sabe que vai estar a trabalhar com tudo isto e muito mais mas não se preocupa em obter antecipadamente este tipo de conhecimento.
“Depois, se for preciso, logo me dizem.”, declara.
Mas intitula-se “profissional” e reclama como tal.

Ai se eu mandasse alguma coisa…!
Que a ignorância não é crime, mas a arrogância de não querer aprender é pecado capital.


(imagem roubada da net)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Relatividade

Isentar de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) todos os negócios efectuados por partidos políticos mas impor o seu pagamento aos cidadãos em artigos como água, leite, pão ou carne é relativizar de um modo estranho a importância de coisas como democracia e sobrevivência.


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Desabafo fotográfico



Faz-me pena ver o que vai acontecendo no mundo da fotografia “amadora”, fruto da ganância dos industriais.
Para conseguirem vender os seus equipamentos e proporcionar satisfação a quem os compra, os fabricantes de telemóveis, de algumas câmaras de película e de suporte digital decidiram que se os seus clientes não são capazes de fazer “boas fotografias”, iriam criar sistemas que “estragassem” os que faziam, com uns efeitos especiais (adulteração de cores, diminuição de definição, aberrações geométricas, etc.) e dizendo-lhes que aquilo permitia fazer “arte”. Mais ainda, foram convencendo os seus compradores que aquela “arte” é moderna e avançada e que quem a não entendesse seria, necessariamente, um atrasado ou conservador no que a arte concerne.
Vai daí, todo o “bicho careta” passou a fazer imagens em que a perspectiva é coisa do passado, o equilíbrio de cores resulta de uma dose de bom LSD ou quejando e a definição ou nitidez é, p’la certa, aquilo que se vê pelo fundo da garrafa depois de a beber por inteiro.
Os que assim fotografam e exibem estão convencidos que estão a produzir arte, os fabricantes de equipamento e software satisfeitíssimos, que vão vendendo o que produzem.
Aquilo que estes não anunciam e aqueles não sabem é que a “arte” não é fruto das tecnologias e muito menos fruto de não saber o que se faz!
A arte resulta de um processo interior, de escolhas de algo em desfavor de tudo o resto porque é aquilo que exprime os sentimentos do autor. A técnica apenas auxilia o processo criativo, não é a sua base inicial!
Aquilo a que vamos assistindo neste momento é um verdadeiro bombardeamento de imbecilidades visuais, disfarçando a péssima qualidade dos equipamentos e a ignorância dos seus utilizadores com nomes pomposos e pseudo-intelectuais.
E isto até que poderia não ser muito mau, que cada um exprime-se como quer. O pior mesmo é isto se ter transformado numa moda, levando a que milhões façam borrões iguais, sem um pingo de originalidade ou criatividade, ainda que convencidos que sim.
Ora batatas para as Lomo com sacos de plástico por objectiva! Ora batatas para os telemóveis sem resolução e aplicações que mostram imagens como se tivessem acabado de sair da máquina de lavar, com as tintas ainda a escorrer.

Para mim, as fotografias têm que ser feitas com tanta nitidez quanto uma boa objectiva de vidro permite, com as cores tão fieis ao que vejo quanto o possível e com a geometria da perspectiva rigorosa. Aberrações, alterações, subversões a isto será, sempre, na sequência de uma decisão, porque será exactamente esse resultado que se adequará ao que sinto ou quero mostrar!
Faço o que faço porque o quero e não porque alguns fabricantes descobriram a árvore das patacas fotográfica!



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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

The big pigeon is watching you.



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Prendinhas



E agora, que o tal de natal já acabou, será que podemos concentrarmo-nos nos nossos problemas reais?


Ou será que vamos continuar a fazer de conta que há Pai Natal, que a ecologia é substituirmos a gasolina por renas e que os laçarotes coloridos são pacotes de saúde, alimentação em kit, justiça em fascículos e devoluções de impostos em calda?

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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

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É bom ver noticiários televisivos a abrirem com a ida do Presidente da República à missa de Natal em Pedrogão Grande.
Isto significa que nada de mais importante aconteceu, nem no país nem fora dele. Nem de bom nem de mau.
E isto recorda-me aquele 25 de Dezembro de 1914, numas trincheiras da Grande Guerra. Trégua declarada pelos soldados no local, troca de presentes e canções e até um jogo de bola entre ambas as partes.
Claro que no dia seguinte voltaram a metralha e os bombardeamentos.

Mas Natal é Natal, caramba!
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Apetites



Hoje estou de apetites.
Não me apetece manter tradições de décadas e apetece-me criar novas tradições. Que se manterão por décadas. Ou que se misturarão umas com as outras.
Hoje o tasco das portas de Santo Antão não me terá como cliente. Nem os vendedores de kebab. Nem irei ver os turistas a passearem de mão dadas, mesmo que com nevoeiro. Nem irei ver aqueles que fizeram dos vãos de escada o abrigo de consoada. Nem passarão por mim os que vão à missa deste dia na baixa lisboeta. Nem cumprimentarei o decano dos ciganos na praça do Comércio. Nem darei cigarros aos que os têm por único luxo. Nem verei a rua Augusta vazia como só hoje. Nem farei registos de gente ou de locais, conhecidos ou desconhecidos. Menos ainda, não irei ali para as avenidas para um almoço dispendioso.

Hoje estarei onde quero agora estar e onde me sinto bem como nunca.

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domingo, 24 de dezembro de 2017

Seguranças



A história foi-me contada por um compincha e ter-se-á passado na localidade onde viveu, na margem sul do Tejo.
Um fulano costumava usar a bicicleta para se deslocar de sua casa até ao centro da aldeia, para embarcar no autocarro que o levaria ao trabalho.
Fazia isso todos os dias mas, para evitar que lhe roubassem a bicicleta, deixava-a presa a um candeeiro com dois cadeados.
Uns malandrins da zona resolveram pregar-lhe uma partida. E um dia colocaram-lhe mais um cadeado. Sem lhe entregarem a respectiva chave.


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Boas festas



Fica-me aquela pergunta insidiosa:
Com tantos desejos de felicidade e de ano bom, porque será que isso não chega aos céus? Serão os deuses surdos? Ou gostam de parodiar com os humanos? Ou ainda será que isto é como nas prisões: uns dias para vir ao pátio, ver o sol e respirar ar livre, e depois voltar para cela?

Mais que desejarem felicidades e anos bons, façam por o terem e o proporcionarem a quem vos cerca: na família, no bairro, no trabalho.

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Números e estatísticas

Eis um artigo interessante. Publicado no Jornal I.
Interessante sobre a actividade dos media e interessante sobre a influência da política nos media.
Faltam, infelizmente, duas informações vitais para que possamos, todos nós, aquilatar o que acontece realmente.
Por um lado, dados bem mais concretos. Com números reais sobre a proporcionalidade dos tratamentos partidários. Números ou gráficos permitiriam que fossemos nós, os cidadãos, a tirar as nossas próprias conclusões.
Por outro, dados relativos a anos anteriores a este agora relatado. Para que possamos perceber se o aqui contado é uma constante ou fruto das alterações parlamentares e governamentais que resultaram das últimas eleições legislativas.
Por muito exactos que os números e estatísticas possam ser, contam o que quisermos consoante são apresentados desta ou daquela forma, neste ou naquele contexto.
Conhecem a história das duas pessoas e do frango ao almoço?

O Governo teve em destaque nas peças jornalísticas de política da RTP e da TVI. Já a SIC deu, este ano, maior cobertura aos partidos com assento na Assembleia da República.
De acordo com a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), "a cobertura informativa dos canais generalistas RTP1, RTP2 e TVI destaca o conjunto do Governo e o PS, seguida dos partidos com representação parlamentar".
Já na SIC, revela o relatório de acompanhamento da observância do princípio do pluralismo político de 2016, “os partidos parlamentares têm maior destaque, seguindo-se o Governo e o PS".
De acordo com a análise do regulador dos media, em 2016, a RTP, SIC e a TVI transmitiram 761 peças jornalísticas abordando temas como o Governo, governos regionais, partidos políticos e Presidência da República. Destas, 227 foram emitidas no "Telejornal" da RTP1, 205 no "Jornal da Noite" da SIC, 174 no "Jornal das 8" da TVI e 155 no "Jornal 2" da RTP2.
O relatório da ERC indica ainda que "no que se refere aos partidos extraparlamentares, a sua presença é exígua ou nula" e que as presenças do Governo e do PS surgem como governantes ou de partido do Governo. “Em ambas as qualidades, refere o documento, citado pela agência Lusa, têm um peso entre os 22% e os 25% nos programas destes quatro canais.
"No caso do conjunto dos partidos parlamentares, a variação de valores entre os serviços de programas é mais expressiva, sendo que o ‘Jornal das 8’ da TVI se constitui como o noticiário com menor representação deste conjunto de partidos, e o ‘Jornal da Noite’ da SIC aquele que mais visibilidade lhes confere", escreve a ERC.
Em 2016, dois terços das peças de pluralismo político emitidas nos telejornais destas estações em horário nobre, no ano passado, eram sobre actividades e acontecimentos relacionados com o Governo. Seguiu-se a cobertura jornalística das acções do Presidente da República e das políticas económicas. Só depois surgiram as actividades/propostas dos partidos políticos.”
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sábado, 23 de dezembro de 2017

A pilhas



Se tivesse pilhas, o telemóvel emitiria luz para a sua cara e as suas pernas abanariam para cima e para baixo pelo joelho.
Vi uma em funcionamento, que foi comprada por um homem. Nesta banca de rua, em cima de um oleado e perto de uma grande superfície.
Pobres crianças que se identificam com algo assim.
Confesso que estive perto de ser perdulário e trazer uma. Por cinco e meio.
Pouca utilidade teria que para uma fotografia que talvez fizesse e um texto que talvez escrevesse.
Mas, daqui por dez anos ou mais, serviria para nos rirmos sobre o como as crianças que hoje assim se comportam estão dependentes dos gadgets.

Ou chorarmos com isso.

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De pouco adianta ser nos correios, num banco ou no trânsito.
A fila do lado não anda mais depressa que a minha.

São todas!
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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Luz



De passeio.
É a luz, é sempre a luz, que faz querermos fotografar.

A exterior ou a interior.

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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Ambiências



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Panelas de natal



Dezembro é época de tradições. Pelo menos nesta zona do globo.
Usemo-la e contemos histórias ou estórias apropriadas.

Panelas de Natal

A tradição familiar dizia que o Menino Jesus descia pela chaminé para pôr prendas no sapatinho.
Assim, depois do jantar, a cozinha era imaculadamente arranjada, o fogão forrado com papeis “bonitos” e os sapatos colocados em cima deles.
Na manhã de Natal os pequenos, depois de toda a família acordada, eram autorizados a entrar na cozinha onde, para deslumbre total, lá estavam os presentes. Poucos, que os sapatos eram muitos, mas apetecidos e apreciados.
O mais velho dos quatro foi, naturalmente, o primeiro a ser informado da verdadeira história e a ser incluído na cerimónia da colocação das prendas.Depois do fogão decorado e dos mais pequenos terem recolhido à cama, foi a sua vez de colocar as suas prendas para toda a família, indo então deitar-se, que não podia ver as que lhe eram destinadas antes dos outros acordarem.
Acordou ele a meio da noite, com vontade de urinar e dirigiu-se à casa de banho. Mas logo lhe passou a vontade. Com receio que furasse o bloqueio de acesso à cozinha, tinham atado uma cadeira com tachos e panelas ao puxador da porta de seu quarto. Quando a abriu, tudo se espalhou pelo chão, acordando a casa por inteiro.
Não me recordo ao certo qual ou quais as prendas que recebi nesse ano. Mas tenho a vaga ideia de ter sido um famoso Renault 16 do “Tour” que esventrei e em cujo interior coloquei um pesado imã de bicicleta. Com ele, ganhava todas as provas de todo o terreno que na rua se faziam.
Ainda hoje, quando a família se reúne, ninguém me acredita que, então, apenas queria ir à casa de banho.



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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Feliz Natal etc



“Um feliz Natal”, “Um santo Natal”, “Um bom Natal”!
É um corrupio,  por estes dias! Tudo quanto é gente afirma isto para tudo quanto é gente. À laia de despedida, no último dia em que se vêem antes da data em causa, deseja-se “um bom Natal”, “um feliz Natal”, “Um santo Natal”. Com a mesma ligeireza ou indiferença com que se deseja “um bom fim-de-semana”.
Eu, confesso, canso-me até à medula de o ouvir. Porque, no fundo, incomoda-me por um ror de motivos.
À uma porque a maioria das bocas que o proferem não têm realmente esse desejo e usam-no como forma coloquial, de bom-tom, quase que obrigatório.
Depois porque muitos do que o dizem fazem-no para com pessoas com quem passaram todo um ano, senão em guerra, pelo menos em indiferença. Um ignorar permanente apenas quebrado por uma data arbitrária assinalada a vermelho no calendário. Hipocrisia pura e dura!
Em seguida porque maioria que tal diz nem sequer é crente. Crente convicto, daqueles que fazem questão de seguir todo o ritual da igreja e que, no seu íntimo, fazem por ser o que os mandamentos mandam. Dos que assim não são, alguns talvez tenham uma fézinha lá no fundo mas, na prática, não celebram o Natal como a festa maior da sua fé. Antes como a festa grande do consumismo. Pelo que, ao fazerem tais votos sobre o Natal, não sei se se referem ao festejo do nascimento de Cristo, há mais de 2000 anos se à existência de mesa farta e presentes abundantes, de preferência dispendiosos.
Acrescente-se que, ao fazer votos sobre o Natal (ou Páscoa), está-se a presumir que quem os recebe partilha da mesma fé ou crença. O que nem sempre é verdade. Desejar “Bom Natal” a um Islâmico ou Judeu é, no mínimo, caricato. Para já não falar em Animistas, Budistas, Xintoístas ou outros menos comuns por cá. No meu caso particular, e se me quiserem desejar um “Bom Qualquer-coisa”, que seja antes um Solstício ou Equinócio. Estes sim, são datas comuns a todos, já que dispensam qualquer tipo de crença: estão aí para serem constatáveis por quem o quiser fazer e disso quiser fazer festa.
Por fim, quem faz votos de “Um bom Natal” pode ser acusado de sovinice aguda! Porque será que só se deseja de bom o Natal e apenas um? Se os desejos são positivos e significam “Tudo de bom para si!”, então não será apenas “um” dia por ano e não forçosamente um só ano, deixando de fora todos os Não-Natais e todos os restantes anos a serem vividos ou existenciados.
Para usar uma frase ouvida da boca de quem até nem gosto, prefiro antes o “Façam o favor de serem felizes!”
Ou, como eu mesmo costumo usar, “Divirtam-se e aproveitem bem a luz”.
Seja qual for o dia do ano e todos os anos do provir. Que divertirmo-nos e aproveitarmos o que de bom a natureza nos dá é uma boa forma de sermos felizes!



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Vendo bem as coisas...



Alguém me pôs a pensar:
Ainda não ouvi o nosso amado presidente a pronunciar-se sobre o próximo despedimento de quase vinte por cento dos trabalhadores dos CTT.
Nem sobre o facto de ter sido entregue dividendos aos accionistas dessa empresa privatizada num valor total superior aos lucros obtidos.
Interessante silêncio, como outros que gritam por entre todas as intervenções que a ilustre figura faz e os assuntos sobre que se pronuncia.

Ou então sou eu que ando mal informado.

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Café



A esta hora da madrugada, em que muitos ainda não provaram o quente da cama, ou há café quente e forte, ou regresso a ela.

Recusando-me terminantemente a fazer o que quer que seja que não voltar a dormir.

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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O velhote



Alguém me explique porque é que o bom do velhote, que por sinal até era Turco, desde que não seja representado em insufláveis e não esteja pendurado de uma qualquer janela, tem que ter óculos.
Será que idade implica falta de vista?
E se ele vê mal e precisa de óculos, como é que lê os pedidos de prendas das crianças, escritos, como sabemos, em letra nem sempre das melhores?

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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Alertas



Um companheiro de outros tempos, na altura a dar os primeiros passos no ofício, publicou algumas fotografias dessa época.
Fiquei a olhar para elas.
Alguma nostalgia, p’la certa, mas também alguma amargura.
 É que olho para o equipamento ali mostrado e constato que parte dele está em uso. Hoje. No quotidiano. A dar duro todos os dias.
São fotografias de há quinze anos e, na altura, parte dele já nada tinha de novo.

Quando quiserem dizer mal da RTP lembrem-se que se trabalha com material vetusto, mantido em funcionamento por vezes quase que por milagre. E não fora o “carinho” com que é tratado por quem lá labuta, há muito que teria que ser substituído.
Sem orçamentos para tal.
E com toda a crítica pública que se conhece em torno da empresa.

Ao público em geral um alerta: o equipamento envelhece e deixa de poder fazer muita coisa.

Àqueles que lá vão, ao dia e sem vínculo laboral, também um alerta: se não tratarem bem aquilo com que vos entregam para trabalhar, não terão como ganhar a vida.

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Uma questão de princípio



E se lerem que um tipo de barbas longas e brancas, mesmo que não vestido de vermelho, foi detido e levado para uma esquadra, não pensem que foi o Pai Natal.

Fui mesmo eu, que não aceito ter que entregar documentos ou ser revistado na via pública.

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Presépio



Dezembro é época de tradições. Pelo menos nesta zona do globo.
Usemo-la e contemos histórias ou estórias apropriadas.

Há muito, muito tempo, numa terra muito, muito longe, o sr. Pilim e a srª Narta tiveram um filho. Carinhosamente deram-lhe o nome de Dinheirinho.
Sabendo do acontecimento e exultantes com a boa nova, de imediato três magos de reinos distantes se dispuseram a venerar e ofertar. Vinham eles do reino do Fisco, do reino da Banca e do reino do Comércio.
Ajoelhando-se à chegada, logo lhe entregaram o que traziam: um cartão de crédito, um cartão de cliente e um cartão de contribuinte. E disseram-lhe:
“Aqui tendes as nossas oferendas. Acreditamos que com elas sereis maior e mais poderoso. Usai-as como entenderdes.”
E assim aconteceu: o recém-nascido cresceu, a sua palavra e influência espalhou-se pelos quatro cantos do mundo e tornou-se omnipotente, omnipresente e omnisciente.
Os magos, por sua vez, deram graças pelo seu desenvolvimento e trataram de erguer, em tudo quanto é lugar, templos de veneração: Repartições de Finanças, Instituições de Crédito e Centros Comerciais.
E hoje, todos acorrem aos locais de culto em datas como esta, fazendo as suas preces e doando as suas oferendas, num ritual sempre acarinhado pelos sacerdotes.

Contada esta fábula, tenho que ir ali ao balcão agradecer com uma oferenda este bolo e bica e seguir depois para fazer uma promessa por uns cigarritos que gastarei. Alguém aí tem lume?



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domingo, 17 de dezembro de 2017

Privacidades



A todos aqueles que gostam de ir para a rua e “caçar” desconhecidos e desconhecidas nos seus afazeres e que argumentam que é “arte”, que é “fotografia de rua”, que é legítimo fazerem e divulgarem sem uma palavra aos “caçados”, deixo uma pequena tarefa:
Vão ver na net ou nas bibliotecas (se souberem o que isto!), públicas ou privadas, quantos fotógrafos de renome, daqueles que vos servem de inspiração, mostraram ou fotografaram parentes. Filhos, avós, esposas ou maridos, primas…
Constatam, com toda a certeza, que muito poucos o fizeram. E que a maioria dos que o fizeram guardaram a bom recato essas imagens.
Talvez que esses “grandes”, que vocês pretendem copiar, tenham uma séria noção do que é a privacidade (da imagem e da vida).
Se querem ser como eles, ou mais que eles, aprendam com eles tudo o que há a aprender, nas práticas e nas teorias.
E percebam que a posse de uma câmara e o “título” de fotógrafo não dá o direito de tudo desprezar.

E, já agora, leiam um belo romance, aproveitando que os dias frios e curtos convidam ao recolhimento: “O pintor de batalhas”, de Arturo Péres-Reverte. Ficarão mais ricos, p’la certa.

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Assusto-me

Quando leio que um dos candidatos à liderança do maior partido da oposição defende que, e cito, “um sistema de saúde plural assente na liberdade de escolha”, penso no que sucederá ao Serviço Nacional de Saúde e aos cuidados de saúde para os que menos têm.
Não sou sequer simpatizante do PSD.
Mas assusta-me que alguém que assim argumenta venha a estar, mesmo que hipoteticamente, numa posição que o possa conduzir à liderança política e social do País.

Que os deuses nos protejam dos Santanas que por aí andam.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Perdidos e achados



Encontrei os sete quilos que perdi.

Mas fiquei de cabeça a andar à roda.

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Uma história



Um photógrapho é um recolector das histórias dos outros. Um cronista também. Diferencia-os a luz da tinta. Mas que dizer de um photo-cronista?
Esta história, que reconto tal como me recordo da sua oralidade, foi-me contada em primeira-mão:

“Vivia sozinho e o meu orgulho impedia-me de ir pedir ajuda aos pais, apesar de, naquela altura, os pagamentos da empresa onde trabalhava estarem atrasados. Naquele dia não tinha dinheiro nem para tomar um café. Revirei tudo em casa em busca de uma moedinha que fosse e nada.
Acabei por me meter no carro e ir a casa de uma amiga, que me poderia emprestar algum, pouco, para os dias que ainda faltavam até vir o guito.
Mas acabei por me enganar no caminho e entrei na via-rápida no sentido oposto. Com a pouca gasolina que tinha, não sabia se daria para inverter a marcha mais à frente, pelo que decidi seguir em frente e ir a casa de uma outra amiga, que me haveria de ajudar.
Não estava em casa. Mas estava lá uma amiga dela. Não nos conhecíamos, mas já ouvíramos falar um do outro. Ajudou-me.
É hoje a minha mulher.


E se isto não é uma bonita história de necessidade, coincidências, solidariedade e final feliz, adequada a qualquer época em geral, incluindo a que atravessamos, não sei o que o será.


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Matinas



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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

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Pela janela do autocarro vejo um "restaurante asiatico - chinês e japonês".
Suponho que em Pequim ou Tokyo haja um restaurante ibérico - português e espanhol.
Imagino: paelha e cozido, tapas e migas. O gaspacho dá para os dois lados.
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Entro num centro comercial para comprar cigarros. (Sim, voltei a fumar há algum tempo)
Não encontrei a tabacaria e perguntei por ela num quiosque de cafés.
A resposta surgiu com uma expressão e um modo como se tivesse perguntado aquela senhora em que trottoir trabalhava a mãe dela.
Na tabacaria sou atendido em inglês e, quando falei a minha língua natal franziu o sobrolho, aquele caramelo.
Não espanta que o Saldanha Residence esteja a fechar lojas.
Não fora a excelsa livraria que possui e lá não voltaria.
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Aqueles não souberem dominar a perspectiva não sabem dominar a imagem.

E se não souberem dominar as suas perspectivas não sabem dominar a sua vida.
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Tradições



Dezembro é época de tradições. Pelo menos nesta zona do globo.
Usemo-la e contemos histórias ou estórias apropriadas.
Neste caso, um texto de um excelente autor, maldito para uns, magnifico para outros.
E, se excluirmos algum exagero aqui ou ali, certamente que reconhecerão o descrito.

Como a família da Lurdinhas passou a consoada do ano passado:

Para estreitar os laços familiares, não há nada que chegue à festa do Natal, lá isso é verdade, mas espero que neste ano as coisas corram melhor do que o ano passado e não seja preciso o meu pai ir mudar de roupa a meio do jantar por ter apanhado em cheio com o galheteiro do azeite nos cornos, atirado pela minha mãe que o topou a apalpar o cu à D. Filomena, uma prima da minha madrinha que veio de Angola e vive numa pensão em Almirante Reis e anda a estudar para manicure.
A minha mãe ficou bera e com razão, não é por ser minha mãe, esteve quase a dar-lhe o fanico e só gritava: «Tirem-me essa puta da frente! Tirem-me essa puta da frente!» Mas quando as pessoas são educadas, as coisas acabam por compor-se e bastou tirarem a D. Filomena de ao pé do meu pai para ficar tudo em sossego. No fim até estiveram as duas a falar de crochés e da telenovela, que nessa altura dava na televisão, e a D. Filomena ofereceu-se para tratar os pés da minha mãe, assim que acabasse um curso de calista que andava a tirar ali para os lados da Fonte Luminosa.
Essa bronca portanto foi o menos; o pior veio a seguir quando a minha avó teve a infeliz ideia de perguntar à prima Otília que presente de Natal é que lhe tinham dado os patrões do escritório onde ela trabalha e a parva descaiu-se a dizer que, do senhor Benjamim, recebeu um jogo de calcinhas e soutien em nylon, e do senhor Canelas, um vibrador-masturbador japonês, muito bonito, todo transistorizado.
Ora, ao ouvir isto, o Fernando, que é o marido da Otília e tinha metido na boca uma grande garfada, engasgou-se, engoliu uma data de espinhas de bacalhau, cuspiu o resto no prato do meu avô e desatou ao bofetão à mulher: «Sua cabra! Sua ordinária!» e a dizer que ia enfiar o vibrador pelo cu do Canelas acima e partir os cornos ao porcalhão do Benjamim.
E a palerma da Otília, em vez de se calar, como era a obrigação dela, cresceu para o marido que até parecia uma leoa: «Tire as patas de cima de mim, seu cabrão! Você é que tem cornos e dos grandes, ouviu?» E ele, todo a tremer: «Eu?! E ainda o dizes, grandessíssima puta?» E a Otília: «Pois digo para vergonha tua, que nem és marido nem nada! Se não fossem os meus patrões não sei o que seria de mim?». E desatou a chorar baba e ranho e então o Fernando agarrou na faca de cortar o bolo-rei e toda a família se pôs a gritar «Ai que ele mata-a! Ai que ele mata-a!», mas o meu pai tirou-lhe a faca e o tio Arnaldo obrigou-o a sentar-se na cadeira, deu-lhe palmadinhas nas costas e disse-lhe: «Não ligues ao que ela diz, pá, que as mulheres são todas umas putas», e ele ao ouvir estas boas palavras, ficou mais sossegado e até alargou um furo ao cinto para continuar a comer.
O pior é que a tia Palmira não gostou da conversa do marido e começou a refilar que não queria confusões, que se as outras eram putas ela era uma mulher séria, que quem não se sente não é filho de boa gente, etc., etc., mas o tio Arnaldo que é um bocado bruto atirou-lhe logo esta a matar: «Escusas de armar em séria, que todos sabem que andaste enrolada com o Gonçalves da farmácia quando ele te tratou do eczema»; e ela, logo: «E tu com a Gracinda da peixaria, que até escamas de pargo trazias para casa nas cuecas!» E o tio Arnaldo, muito fodido: «As escamas de pargo não são aqui chamadas para nada, porra!» E, ao dizer isto, deu tal murro num prato de filhoses que saltou calda para todo o lado e até eu fiquei com o cabelo enchapoçado dela. E o meu pai que ia acudir pela tia Palmira, esteve vai não vai para apanhar outra vez com o galheteiro, pois a minha mãe tinha-o sempre debaixo de olho; enfim, só visto!
O que valeu para que a festa de Natal não ficasse estragada foi a minha madrinha impor-se, visto ser ela a dona da casa, e avisar que não consentia faltas de respeito, que aquilo ali não era nenhuma taberna e que achava uma sacanice estarem a encher o bandulho à custa dela, com a comida cara como estava, e a portarem-se que nem javardos em vez de se mostrarem agradecidos. «Ou comem de bico calado ou vai tudo para o olho da rua!» disse ela e ninguém refilou; durante algum tempo só se ouviu mastigar, até que o senhor Aguinaldo, o sacana do velhote que está amigado com a minha madrinha e que até aí só abria a boca para meter para dentro, resmungou lá do canto que no olho da rua já nós devíamos estar há muito e que se a família dele fosse ordinária como a nossa já a tinha rifado. Um gajo bera, palavra de honra; não são coisas que se digam assim na frente das pessoas e ainda gostava de ver que merda de família é a dele; cheira-me que é para ali uma ciganada cheia de putas, chulos, sovaqueiras e arrebentas.
Mas a minha mãe, que tem muito jeito para compor as coisas quando não está com a bolha, disse que o melhor era a minha madrinha abrir a televisão, que tem programas muito bonitos no Natal, porque as conversas não fazem falta para nada e a gente não estava ali para conversar mas para comer e que assim as crianças sempre estavam mais distraídas. Foderam-me!
Foi assim que tive de gramar duas horas de chachadas como essa porcaria das canções do Natal, das entrevistas do Natal, das tradições do Natal, dos votos de Natal e até dos anúncios do Natal, sem ter feito mal a ninguém. Não é que eu goste de chavascal e sarrafada, mas, mal por mal, ainda preferia ver os parentes todos à porrada e a descobrir o cu uns aos outros do que ver a merda da televisão.

Texto: by José Vilhena
Imagem: by me


Apetites



O vazio da noite, os últimos transportes e a vontade de fotografar, mesmo que com um telemóvel.

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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Sinais dos tempos



A influência da forma como se usam os telemóveis para fotografar é de tal forma grande que até as marcas de câmaras fotográficas publicitam-se a serem usadas na vertical.
Sinais dos tempos, apesar de nos relacionarmos com o universo na horizontal. Ou não tivéssemos os olhos lado a lado e não em cima e em baixo.


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Condenado



Faz tempo que este coitado está condenado.
Creio que o mais difícil de resolver terá sido o desalojar do comércio no piso térreo, que as habitações há muito que estavam vazias. E com janelas abertas ou partidas como se vê.
Acredito que a sua estrutura esteja em mau estado. Vetusto que é, deve remontar ao início da urbanização destas “avenidas novas” da cidade.
Dirão os menos observadores: “Não tem nada de especial. Uma fachada lisa que se prolonga até à esquina e faz a curva, sem elementos que o distingam de tantos outros pela cidade ou país.”
Estão enganados.
Se observarem bem, cada um dos pisos tem a fachada diferente dos demais.
Pela disposição das janelas e porta-janelas, o interior será semelhante. Com variações na luminosidade, naturalmente.
A diferenciação dos pisos no seu exterior é algo de importante, gostemos ou não da forma como é feito.
Sendo certo que o ser humano é gregário, também é territorial. E a identificação do território, a afirmação “é meu” é vital para muitos. A simples colocação por parte dos residentes de cortinas, vasos ou outros objectos não é gratuita mas antes uma forma de dizer “esta janela é minha”. Ou de ajudar a identificar, perante terceiros, onde se reside.
Quem desenhou e construiu este edifício, destinado maioritariamente a habitação, considerou isto. Ou conscientemente ou porque era o hábito de então.
A assimetria das varandas e sacadas, as pequenas variações nas respectivas cantarias são disso evidência, mesmo que só tenha dois modelos ou desenhos de cada. Para reduzir custos, suponho.
Consigo imaginar alguém a descrever a outrem a janela do seu quarto: “Onde tem quatro varandas, é a segunda.”
Poderão os estetas de hoje pouco ou nada gostar destas fachadas irregulares nos detalhes, indo procurar a uniformidade, a descaracterização territorial para baixar custos e todos nivelar por igual. Edis, arquitectos e donos de obra gostam de ver monovolumes, como que “stencis” residenciais.
Por mim, gosto de ver fachadas que, tendo características próprias, defina residências, espaços pessoais, famílias com as suas próprias características.
Não sei o que aqui irá acontecer.
Talvez que seja bem mais barato a demolição e construção de raiz que o aproveitar as paredes exteriores. E sabemos que a construção civil, com honrosas excepções, se pauta pela relação qualidade/custo.
Acho que ficaremos todos bem mais pobres se esta fachada desaparecer, ajudando a descaracterizar e a desaparecer a memória da cidade que foi.
Que se estas são tecido vivo, pulsante e evolutivo, não deve o seu passado ser apagado sistemática e levianamente.
Indo mais longe, consigo imaginar que onde existe um edifício habitacional, ainda que neste estado, venha a surgir algo relacionado com hotelaria ou outros serviços.
Ou, tão mau quanto isso, um edifício habitacional de muito alto custo, reservado a classes mais que endinheiradas que, sabemos, não habitam o espaço público mas antes se reservam ao interior das suas habitações e outros espaços reservados. E, com isto, retirar das ruas e do espaço comum, os cidadãos, fazendo “morrer” a cidade e as suas características.
O investimento na hotelaria e restauração tem sido grande, na ilusão do “boom” turístico.
Quando Lisboa deixar de ter as suas características próprias e for apenas mais uma urbe estereotipada, como tantas outras pelo mundo, o que fará atrair o turismo? E o que acontecerá aos investimentos apressados e quase caóticos de hoje?


Gosto deste prédio, como de tantos outros equivalentes na cidade. Matando-o, matam um pouco de mim. E de todos nós.

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