terça-feira, 30 de setembro de 2014

A parede



Acredito que para a maioria de quem isto vir ou leia, a imagem nada diga.
No vosso lugar, também nada me diria, por si só.
Mas saiba-se que tenho uma especial predilecção por esta parede.
Não por ser parede. Todas as casas têm, pelo menos, quatro paredes, o que significa que o que não falta são paredes eventualmente fotografáveis.
O que me atrai nesta em particular é que, ao fim do dia, esta parede vazia funciona como tela, onde o sol projecta a sua luz e o prédio ao lado se lhe opõe, formando aquilo a que costumamos chamar de sombras.
E, nesta parede, a cada dia que passa, a cada estação do ano, as sombras são diferentes, com contrastes e posicionamentos diferentes.
Quando aqui passo, e são horas deste espectáculo, não resisto e fotografo.
Hoje as coisas foram um nico diferentes: em aqui chegando, as sombras lá no topo do prédio estavam a desaparecer. Mas as de baixo – estas – estavam para surgir. E quedei-me à espera, encostado a uma árvore.
Devagarinho, vi a luz entrar na empena, ténue que as nuvens baixas não permitiam grandes contrastes, vi o aparecer da sombra e… isto foi o que mais se viu, que logo de seguida começaram a diminuir até desaparecerem.
Foram uns minutos – poucos, quatro ou cinco – em que vi o tempo passar ou, em alternativa, senti a terra a rodar. Senti mesmo.


Sei que nem esta fotografia nem este texto fazem jus a esses minutos. Mas é o melhor que consigo.

By me 

Livros e editoras



A facilidade com que qualquer um, nos dias que correm, coloca um livro nas livrarias e supermercados depende, na proporção directa, da popularidade de quem o escreve, da actualidade do tema e das vendas que se esperam.
Já da qualidade do seu conteúdo, forma ou assunto, é pouco relevante.
Procurar boas obras, de bons autores, alguns contemporâneos, outros “imortais” é, hoje em dia, tarefa ingrata.
O caso típico é a fotografia.
Quer se trate de monografias, que se trate de ensaios, a escassez de obras relevantes é confrangedora.
Já o “faça você mesmo” ou o “fotografia para totós” pululam em tudo quanto é sítio. E já nem quero falar dos erros de física, conceptuais ou mesmo de nomenclatura que muitos destes têm.
Os livros hoje são publicados como pão ou bolos: são feitos para se venderem rapidamente antes que se estraguem.
Um dos exemplos mais flagrantes foi o ter andado esgotadíssimo anos a fio o “Ensaios sobre a fotografia”, de Susan Sontag, na tradução portuguesa.
Apenas alguns anos depois da sua morte, e porque os media fizeram eco do seu trabalho, lá foram aparecendo nos escaparates. E, mesmo assim, discretos.
O mesmo se dirá, também, sobre “Ensaio sobre a fotografia”, de Vilém Flusser, este bem mais filosófico que o outro. Esgotada a edição, não creio que, tão cedo, exista outra por cá.
Ou ainda os trabalhos de John Berger ou Joan Fontcuberta. E tantos outros, caramba!

Os livros são para a alma como o pão é para o estômago. Só que perduram.

By me

Tristezas

Triste mesmo é ver a facilidade com que se critica a decisão de um juiz de futebol, quer seja por marcar uma falta, quer seja por não a marcar, e as mesmas pessoas não comentarem a celeridade com que um inquérito judicial ao primeiro-ministro foi arquivado, mesmo considerando a existência de outros envolvidos. 
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Imaginemos



Façamos um pequeno exercício de imaginação.
Imaginemos que contrato uma empresa para fazer a limpeza e pintura exterior de um prédio: paredes e telhado. Andaimes, mão-de-obra, tintas e demais consumíveis, responsabilidade civil, prazos e orçamento.
Acontece que a empresa não cumpre. Não faz o trabalho de limpeza, instala os andaimes mas não há gente neles a trabalhar, bloqueia portas e janelas, ninguém consegue dormir descansado ou mesmo sair de casa em segurança.
Junto com isso, os andaimes estragaram o jardim do prédio, caíram peças em cima de automóveis sem que houvesse tempestade, duas janelas ficaram danificadas, o telhado ficou sem telhas e os algerozes entupidos.
Que se faria a uma empresa destas? Que opinião teriam os moradores e os dos demais prédios da rua, que impropérios e correspondência seria feita? Por quanto tempo se aguentaria esta situação? Com que consequências?
Certo!
E se for um governo para gerir a coisa pública? Educação, segurança, justiça, legislação, redes viárias, saúde…

Por quanto tempo? Com que consequências?

By me

Técnicas

Como tudo o mais na natureza, também o vinho deve respirar. Com calma.
Abra a garrafa sem pressas e deixe que respire, naturalmente.

Se não funcionar, recorra ao “boca-a-boca”.
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Heroi



Sou um herói!

Ontem deixei de fumar um montão de vezes!

By me

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A vergonha



E pronto! Aí estamos nós (ou está muita gente) a confundir a floresta com a maçã. E a confundir as regras da democracia em Portugal.

Começando pelo princípio.
Se um partido político é um conjunto de pessoas que partilham de um mesmo ideal político, porque é que a simples mudança de líder fará a diferença?
Ou será que o tal conjunto de pessoas se subjuga a um líder, independentemente das opiniões que as pessoas possam ter?

Terminando no fim.
Quando os cidadãos são chamados a votar em eleições legislativas, estão a votar em listas de candidatos a deputado. Apresentadas por partidos, mas candidatos ao lugar de deputado na Assembleia da República.
O Chefe do Estado, ou Presidente da República, deverá de seguida ouvir os partidos com representação parlamentar e convidar alguém para o cargo de primeiro-ministro.
Este, formando um gabinete ministerial, deverá apresentar à Assembleia da República um programa de governo, que terá que ser aprovado.
Em parte alguma da Constituição da República consta que os eleitores escolhem um primeiro-ministro. A escolha e nomeação pertence ao Presidente da República e ponto final.
Claro que fará sentido que a escolha da personalidade colha a simpatia da maioria parlamentar, para que o seu programa seja aprovado.
Mas nada obriga, sequer, que a escolha recaia sobre alguém da maioria no Parlamento.

O que aconteceu este domingo, independentemente do resultado, foi uma subversão das leis vigentes e um atirar de poeira (grossa) para os olhos dos cidadãos.
Indo mais longe, foi uma verdadeira farsa no uso da democracia.
E não entendo como alguns dos fundadores da Democracia actual, que redigiram e votaram a Constituição em vigor, consentiram nisto, colaborando ou tão só calando-se, permitindo que o embuste sobrevenha.

Por fim, vergonha última, não entendo como é que os partidos políticos que não estiveram em causa este domingo estiveram tão calados quanto à verdade da lei eleitoral e da Constituição.

By me 

Gostos



Há gostos que, uma vez adquiridos, dificilmente se perdem.
Talvez por ter feito o que fiz e ter pago o que paguei, continuo ferozmente a gostar de ser subversivo.

E o valor de uma factura não se relativiza com o mercado mas com o que cada um sabe, pode e está disposto a pagar.

By me 

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Há quem tenha estranhos objectivos na vida.

Por exemplo, um dos meus mais importantes é conseguir sobreviver, todos os dias e mantendo a sanidade mental, ao que se conta sobre política e economia nacionais.
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O insulto



Há uns tempos, um colega insultou-me. Não eu em particular, mas englobando-me naquilo a que chamou de “burgueses de esquerda”.
Senti-me insultado. Não lhe respondi (talvez que se leia estas linhas entenda-as por uma resposta) porque entendi que talvez ele não entendesse alguns dos meus argumentos. E há discussões que são inúteis.
Mas senti-me insultado.
Se outros motivos não existissem , porque me não considero um burguês.
É verdade, sim, que tenho trabalho. Mais: além de trabalho, é certo o acontecer e o respectivo pagamento. Até ver, assim é. Mas isso, só por si, não faz de mim um burguês. O que como e onde durmo sai-me das mãos e do intelecto.
A menos que entenda por burguês quem vive num burgo. Também aí ele errou. Vivo num subúrbio. Um dormitório a trinta quilómetros do trabalho, que percorro diariamente. Em transportes públicos. Que também não me considero burguês ao não possuir viatura própria. Aliás, nem sequer tenho carta de condução ou conduzi um carro. Excepto, e creio que esses não contam, os carrinhos de choque das feiras. E há muito que lhes perdi o gosto.
Acrescente-se que se vivo onde vivo não se tratou de uma escolha: fui empurrado para lá, que não tinha como habitar mais perto. E, goste-se ou não, também não sou proprietário de imóveis. A casa em que vivo é alugada e não tenho terras ou prédios herdados ou de férias.
Tal como não possuo outros bens moveis, jóias ou quejandos. O meu relógio foi comprado, há muitos anos, de contrabando a um colega e mantém-se no meu pulso. Apenas alternado com relógios de bolso, de pilha, cujas pilhas em esgotando-se, fazem com que fiquem numa gaveta até me lembrar de as substituir. Ou poder.
Também não tenho depósitos, acções, obrigações ou o que quer que seja. Os meus rendimentos são os do trabalho e é particularmente difícil (impossível) fazer reservas para especular. 
Seguros de saúde também não. Entendo que o SNS é para todos e faço parte do “todos” e não de uma elite endinheirada. 
A minha única “riqueza” será, talvez, os livros que possuo ou aquilo com que faço fotografia. Mas, e mesmo esses, foram comprados com sacrifício de roupas e calçado. Compro este onde é mais barato e só quando o que uso está no fio. 
Não creio, dê-se a volta por onde se der, que seja correcto chamarem-me de burguês.
Já quanto ao ser de esquerda… 
Ser de esquerda ou de direita é uma moda, um conceito de classe, uma identificação grupal. Mais ainda, nos tempos que correm, ser de esquerda corresponde a alinhar com uma organização política, sendo-lhe tão obediente quanto eram ou são os que alinhavam ou alinham nas organizações de direita. E isto é tão válido nas esquerdas e direitas moderadas quanto nas extremadas. 
O meu conceito de sociedade ideal está bem para além de líderes e organizações, de partidos e parlamentos, com zonas de esquerda ou de direita. 
Dizerem que sou de esquerda é, na sua essência, um apodo e insulto que recuso liminarmente.

Se, um dia, me quiserem chamar de algo, chamem-me de cidadão militante, de ser humano, que acertam. Qualquer outro rótulo será, sempre, um insulto.

By me

Pedaços de que gosto



Numa tarde que se previa de fotografia em diversas vertentes, e sem saber sequer com quantos participantes, que melhor para matar o tempo antes que comece que um tête-à-tête com uma florzinha, enquanto uma catraia minorca, ao lado, vai construindo a sua tenda com folhas de palmeira caídas no chão e, um nico mais lá, a esplanada está cheia de gente que se entretém a ler: Nietzsche, Paul Auster, El Pais, um velho e surrado exemplar de “Les caiher du cinema”, Expresso…

Gostei do jardim Botto Machado.

By me

Pôr-do-sol estilo bilhete postal



No início da tarde o belo do São Pedro, só para dizer que ele é que manda, ainda nos atirou com umas pinguitas, que não chegaram a ser uma por centímetro quadrado. Foi só mesmo para marcar posição.
Depois… Bem, depois lá nos fez o jeito, dando-nos o céu limpo e o sol que queríamos, incluindo algumas nuvens no horizonte no pôr-do-sol, exactamente como pedi em adenda.
Directo na câmara, sem enfeites ou correcções posteriores.

Fico curioso de saber o que os outros sensores de outras marcas fizeram, seguindo a mesma abordagem na tomada de vista.

By me 

domingo, 28 de setembro de 2014

Na parede



Estava escrito num muro que fica a meio caminho de minha casa para o liceu.
Passado algum tempo, esse caminho passou a ser o de casa para o trabalho, que muitas vezes fiz a pé.
Por isso o vi muitas vezes, até ficar indelevelmente gravado na minha memória:
“Liberdade para todos, menos para os fascistas”
Foi escrito naquele tempo que se seguiu à revolução de Abril, prolífero em mensagens com sentido nas paredes, umas mais simples, outras bem coloridas, algumas verdadeiras obras de arte.
Esta, a preto sobre o já não branco do muro, sempre me incomodou. Muito! Muito mesmo!
Qualquer um que me conheça, por pouco que seja, saberá que não defendo a ideologia fascista. Ou qualquer outra ideologia totalitária, seja qual for o quadrante.
A liberdade é algo de sagrado na minha cartilha e limitá-la é pecado nela também. A liberdade dos actos e a liberdade dos pensamentos.
O simples facto de alguém pensar diferente de mim, por muito oposto que seja, não é motivo para lhe impor castigo ou impedir de o pensar. Mais ainda: o facto de alguém defender em público teorias que se opõem ás minhas, por mais opostas ou que me incomodem, não me dá o direito de o fazer calar.
Liberdade é liberdade, sem peias ou limites.
Não posso aceitar é que teorias que me prejudiquem ou que prejudiquem outros sejam postas em prática.
Assim, quem tentar por em prática teorias totalitárias terá a minha oposição, demonstrando publicamente o seu erro e perigo e impedindo, mesmo que fisicamente, que as liberdades de pensamento ou expressão sejam limitadas. Ou a segregação racial, ou religiosa, ou sexual, ou económica, ou o que quer que seja.
Agora que o possam pensar, que possam dizer o que pensam…
Se eu exijo para mim a liberdade de pensar e de dizer o que penso, bater-me-ei para que os demais o possam fazer. Mesmo que não concorde com o que dizem.

Será pantanoso este terreno. Mas não poderei aceitar uma “polícia do pensamento”. Ou o regresso dos lápis azuis. Ou a recuperação de um qualquer Tarrafal. Ou de goulags. Ou de piras de livros. Ou de índex. Ou…


By me

sábado, 27 de setembro de 2014

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Aproveitando a vaga de prescrições que parece estar a acontecer, informo que no distante ano de ‘87, e estando com regime de ajudas de custo, enfiei com violência o meu cotovelo esquerdo na avantajada barriga do então primeiro-ministro.

É crime? Já prescreveu? Devo manter o anonimato? Devo recorrer a uma off-shore?
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E quando, numa embalagem de um produto alimentar, leio a expressão “Abertura fácil”, fico logo a imaginar facas, tesoiras, abre-latas, turqueses, maçaricos, martelos pneumáticos…
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Juro!



Juro por minha honra (e nunca trabalhei numa ONG) que quinze minutos antes e dez minutos depois desta fotografia chovia e trovejava nesta rua.

By me

Um clássico com rodas



É verdade que não tenho carro. Aliás, não tenho carta de condução nem nunca conduzi uma viatura.
Uma opção que, se começou em tempos por não ter meios para o ter, acabou por ser uma forma de vida. Acho que sou muito mais rico em não o tendo, naquilo que aprendi e conheço do mundo em que vivo.
Em qualquer dos casos, não significa isso que não preste atenção (não muita mas alguma) aos automóveis. Em particular ao seu aspecto.
E, confesso, cada vez mais me desagradam.
São todos iguais, ou quase, sendo realmente difícil identificar alguns deles pala marca ou modelo a menos que leiamos o que neles está escrito.
Mas não foi sempre assim.
Os construtores de automóveis faziam questão que, e para além das características técnicas, os seus modelos fossem eles próprios publicidade pelo desenho, pelo aspecto. Tornando-se inconfundíveis.
É o caso do velho carocha da VW, ou do 2CV da Citroen. Ou ainda do velho “ora bolas” da Anglia. No caso dos dois primeiros, caramaba!, até pelo barulho do seu motor eram e são reconhecíveis.
Também este é um clássico. Inconfundível no seu desenho. Não foi, ou é, um carro barato ou popular, que apenas uma elite endinheirada lhe chegava por cá. Mas é um clássico.
Mais ainda, e do pouco que sei do assunto, foi um inovador em medidas de segurança a vários níveis, trazendo para os carros de série características pouco comuns.
Se algum dia vier a ter carro ou carta, não será este o modelo que procurarei. Até porque, sejamos honestos, do ponto de vista ecológico será muito pouco satisfatório.

Mas é um daqueles que, em o vendo, uso um pouquinho do meu tempo a apreciá-lo. Merece.

By me 

Uma questão de pele



As coisas são como são! Por vezes temos motivos sérios e sólidos para fazer o que fazemos (ou não fazemos) outras é por palpite ou por reacção de pele que os fazemos (ou não fazemos).
Apesar de viver em Lisboa, há um sem número de locais nesta cidade que não conheço. Uns mais clássicos, outros mais na moda. Por vezes penso “tenho que lá ir meter o nariz”, mas há sempre este ou aquele motivo que me leva a não o fazer. Ou porque quando me lembro de tal não tenho tempo disponível, ou porque não é assim tão apelativo, ou porque em o programando, alguma outra coisa se sobrepõe…
Um desses locais que tem estado fora dos meus roteiros é o LX Factory. Alguns dos eventos que lá acontecem parecem ser apelativos, algumas reportagens que tenho visto ou lido falam de coisas interessantes, mas… por um qualquer motivo tenho tido uma reacção negativa a lá ir. Não tenho opinião formada sobre o local, que não o conheço, mas é uma questão de reacção de pele. Não me tem apetecido o suficiente para me decidir.
Hoje leio um artigo de jornal sobre uns artistas, ou empreendedores de arte, que funcionam nas marginalidades das convenções mas que fazem coisas. Não os conheço nem ao seu trabalho, mas fui lendo o artigo. E, a dado passo, contam eles:

“Instalaram-se no LX Factory, lugar de eleição na capital portuguesa, multi-artístico onde – “supostamente”, diz-nos Dilen – cabe tudo. “Sentimos que era um espaço muito elitista. Fiz uma proposta à direcção do LX para no Open Day termos lá marchas populares com música electrónica e afins. A resposta foi prontamente negativa porque disseram que não queriam lá chungaria, foi aí que percebemos que aquele espaço não era para nós”.

Fico agora a perceber porque é que, sem o conhecer pessoalmente, tenho tido uma reacção de pele quanto a esse local.

Quanto a quem assim se pronuncia… guardo para uma ocasião que não uma inauguração, o ir dar uma olhada ao que está a fazer e que talvez seja “chungaria”. De vontade mesmo.

By me 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Foi a correr



Eu sei que alguns dos que comigo partilhavam aquele autocarro não ficaram lá muito satisfeitos com a minha saída intempestiva. Sei que dei uns encontrões e que o saco que trago pendurado no ombro deu outros. Não muito suaves, se bem me recordo. Mas…
Raios me partam!
Se não saio a correr, antes que o autocarro seguisse para a paragem seguinte, entre o lá chegar e o voltar a pé a este local, o momento passava e eu não conseguia esta fotografia.
Que me perdoem os que estavam de regresso a casa, no fim de um dia de trabalho, mas não resisti ao que vi p’la janela.

E que, mesmo que não o tenham fotografado, o tenham visto também, com o mesmo sentimento de que um dia enfadonho pode terminar bem. Ainda que só com uns reflexos numas janelas espelhadas.

By me

Um olhar - Diana



By me

Boris Vian



Boris Vian foi um francês prolífero naquilo que produziu.
Enquadrando-se no surrealismo e no anarquismo, e para além da música, escreveu romances policiais. O chamado “policial negro”.
Acontece que na época, os romances policiais só eram aceites se de autores americanos. Os autores franceses não eram bem recebidos em França.
Assim, tem ele alguns livros assinados com o pseudónimo “Vernon Sullivan”, acrescido da nota “traduzido para o francês por Boris Vian”. Coisas!
Pois entre os seus romances negros, tem um com um título sugestivo. “Morte aos feios”. Se bem recordo do que li, há uns trinta anos, era uma paródia nada cómica ao conceito de arianismo nazi. Recorde-se que o autor nasceu em 1920 e morreu em 1959.
Concordo em absoluto com o título. Mas entendo-o por incompleto. Faltam-lhe as palavras “de espírito”.

E bem se aplica neste país!

Imagem da net

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Dizia um velho companheiro de fotografias que vive do outro lado do Atlântico:
“Um internauta típico lê dez linhas e escreve duas”.
Eu não sou um internauta típico!
Aprendi a ler e a usar as palavras em livros que contêm bem mais que dez ou duas linhas.


(Esta é uma excepção!)
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Hipocrisias



Se há coisa que me incomoda seriamente é a hipocrisia ou a mentira descarada.
Ver fotografias de jantares de colegas de trabalho, todos a sorrir para a câmara como manda a tradição, e saber que, no quotidiano, há quem não se fale, quanto mais sorrir…
Enoja-me esta hipocrisia!
Que acontece de quando em vez, por este ou aquele motivo, e regularmente pelo natal.
Por isso, não contem comigo para jantarinhos hipócritas na época que se avizinha. Que se estiver presente gente a quem mais não digo que o estritamente necessário no desempenho do meu ofício, eu não compareço.
É que não gosto de deixar envergonhado o tipo que vejo no espelho.


By me

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Telhados



Convém, de vez em quando, deixar de parte as emoções e recorrer à lógica para analisar os factos. Mesmo quando se trata de gente de quem não gostamos. Ou, principalmente, quando se trata de gente de quem não gostamos.
No caso concreto, a questão da Tecnoforma e de Passos Coelho.
Uma denúncia anónima acusa-o de ter recebido honorários quando estava em regime de exclusividade no Parlamento.
Bem! Ou é verdade ou não é verdade!
De acordo com os documentos fornecidos pelo parlamento, PPC requereu o pagamento posterior por estar nessa condição de exclusividade. Declarou-o sob sua honra.
Também de acordo com esses documentos, na sua declaração de rendimentos ao fisco nada consta desses recebimentos. Atesta-o quem os verificou na altura.
Portanto, e formalmente, não recebeu esses valores. Avultados, diga-se de passagem.
Acontece que, e perante as câmaras das televisões, PPC disse não se recordar do que se passou há tanto tempo.
Acontece que não é credível que tais valores se esqueçam assim, mesmo passados mais de dez anos. A acusação, anónima, refere montantes superiores ao que então PPC auferia enquanto deputado. Ninguém esquece tais montantes.
Donde, se PPC não recebeu, deveria afirmá-lo publicamente, atestando a sua inocência com as declarações de rendimentos, estratos bancários, etc. Deveria negar peremptoriamente tal acusação.
Mas preferiu dizer que não se recorda.
Donde, é legítimo deduzir que tal olvido esconde o facto de ter, efectivamente, recebido tais valores da tal empresa.
O que nos conduz a uma tripla irregularidade.
Por um lado, recebeu do parlamento quantias indevidas.
Por outro, atestou, por sua honra, factos falsos.
Por fim, ocultou rendimentos do fisco.

Veio a Justiça afirmar que não pode investigar esta situação, visto que prescreveu.
Se a inocência de PPC for real, seria legítimo ver a sua indignação perante tal acusação. Eventualmente torpe.
Mas apenas o ouvimos falar em esquecer passado tanto tempo.
Talvez que, efectivamente, não seja fácil provar a sua inocência. Aliás, neste país onde se supõe que o direito vigora, é à acusação que se requer que se prove o que afirma.
Mas como, e tal como a mulher de César que para além de ser séria haveria que parecer ser séria, faria sentido que tal acusação, a ser infundada, fosse desmentida com vigor.
E não está a ser.

Recorda-me este caso alguns outros: um exame feita ao fim-de-semana, uns créditos universitários estranhos, um centro comercial polémico, uns gravadores subtraídos, uma avioneta caída…
Casos que redundam em comissões repetidas, inquéritos inconclusivos, afastamentos discretos, arquivamentos judiciais, credibilidades postas em causa…

Estou mesmo já cansado de ver tantas telhas partidas mas de o raio do prédio não ruir de vez.

By me 

Penso eu de que



É verdade que sim. Dei-me ao trabalho de ver a documentação que o jornal Público divulga sobre o caso de Pedro Passos Coelho e o que recebeu na Assembleia da República.
Deixo a quem quiser o tirar conclusões, pese embora ter as minhas.
Mas o que me deixou realmente escandalizado foi a presença constante de alguns itens na folha de vencimento enquanto parlamentar do senhor em questão.
Então não é que recebia o “passe social”, no ano de 1992, no valor anual de 33625 escudos e ainda recebia num outro item identificado como “DESL. RESID/AR” com o valor anual de 251923 escudos? E nos anos seguintes repete-se, com valores maiores.

Espera lá!
Se recebia o passe social, significa que usava dos transportes públicos. Fica-lhe bem enquanto deputado ao serviço do país. Mas se recebia para se deslocar da residência para a Assembleia da República, é porque não usava de transportes públicos. Talvez que táxi ou carro alugado. Ou mesmo ao Km, em viatura própria.
Quer-me parecer que estes dois itens são incompatíveis (de novo esta expressão!).
A menos que seja habitual os deputados receberem a dois carrinhos: transporte de casa para o trabalho, em valores variáveis de mês para mês e ainda o passe social.
Se calhar esta questão das incompatibilidades não foi ou é um exclusivo deste ex-deputado.
Seria bom sabê-lo.


“Penso eu de que!”

By me

Faltava pouco



É uma daquelas brincadeiras inocentes sobre comportamentos que qualquer um pode fazer:
Em vendo alguém consultar um aparelho de medida de tempo (de pulso, de bolso, de parede ou num telemóvel), assim que for de novo guardado perguntar de imediato “Que horas são?”.
Constatarão que a esmagadora maioria das pessoas olhará de novo para o relógio, porque não o sabe de cor.
Na verdade, quando olhamos para um relógio, aquilo que queremos saber ou aquilatar não é o valor nele indicado mas sim a sua relativização. Quanto tempo falta para ou quanto tempo já passou desde que. É cedo ou tarde.
O valor real, em horas, minutos ou segundos de pouca monta é. Que no momento seguinte estará alterado, pertencendo ao passado.

Assim, não fiquei de todo surpreendido ou incomodado quando fiz esta fotografia.
Olhando para o que este relógio de sol me indicava e comparando isso com o meu relógio de pulso, o telemóvel e a indicação da câmara fotográfica, obtive quatro informações diferentes. Mas pouco relevantes, já que estava exactamente na hora de fazer uma fotografia. Ou, em o preferindo, faltava pouco para dali a um pedaço.

Em última análise, e para os cépticos ou cientistas, será a demonstração prática de uma das leis de Murphy: aparelhos de medida iguais, nas mesmas condições, mostram resultados diferentes.

By me 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Uma fábula moralista



O ratito corria desesperado pela quinta, perseguido pelo gato que o queria comer.
Entrando no estábulo e vendo a vaca, pediu-lhe:
- Oh vaca, tu que és grande, protege-me e ajuda-me a fugir do gato que me quer comer!
A vaca olhou para ele, pequenito, e disse-lhe:
- Hummmm. Está bem! Põe-te atrás de mim.
E vendo-o no sítio certo, largou uma enorme poia que o cobriu por completo.
Nesse instante entrou o gato que, olhando e farejando, não deu com o ratito e exclamou:
- Não deve estar aqui. Vou procurar noutro lugar.
E virou-se para a porta.
O ratito, lá do seu esconderijo, em ouvindo as palavras do gato suspirou e disse:
- Ufa! Desta já me escapei!
Mas o gato, que tem bons ouvidos, percebeu de onde vinha o som, deu um salto e papou-o.

Moral da história:
Nem todos os que te põem na merda te querem mal.
Ou de outra forma:
Nem todos os que te tiram da merda te querem bem.
Ou ainda:

Quando estiveres na merda não guinches.

By me 

Trens



Em momentos de calmaria, costumávamos entretermo-nos com uma versão “low-cost” (não se usava o termo então) do jogo “Master Mind”.
Recordam-se dele? Aquele jogo em que eram criados códigos secretos de cores com cinco pinos e tínhamos que adivinhar o código do adversário.
Apresentávamos uma chave e ele respondia quantas estavam certas no lugar certo e quantas certas mas no lugar errado.
Esgotava esse jogo nas lojas, tal era a moda.
Mas nós, nas pausas do trabalho, não tínhamos isso connosco. Usávamos então uma outra versão, em papel. A ecologia não é um termo novo e usávamos as partes de trás em branco de folhas já impressas.
A diferença com o original é que em vez de códigos de cores usávamos letras. E tínhamos a obrigação de usar termos existentes na língua portuguesa. Também com cinco letras.
Pois esta que aqui vedes é a única, que saibamos, que tem cinco letras mas apenas uma única vogal: Trens.
Claro que era o trunfo a usar com jogadores novatos mas cheios de prosápia, que achavam que era chegar e ganhar logo. A nós, batidos que estávamos na coisa. Ficavam logo de crista murcha.
Claro que a imaginação não tem limites e usávamos de outras estratégias para os tempos mortos. Como fosse jogar chinquilho com medalhas comemorativas, usando como pinos cargas terminais de 75 ohms. Ou xadrez com quatro tabuleiros sobrepostos, com o mesmo número e tipo de peças, objectivos e tipo de movimentos, mas também na vertical.

Mas desafio qualquer um a encontrar uma outra palavra que cumpra os requisitos: ser portuguesa, ter cinco letras e só possuir uma vogal.

By me 

Ai!



Sintra, centro da vila, fim da tarde.
Na zona própria pára um autocarro de turismo, de matricula portuguesa. Dele sai, desembestado, um bando de adolescentes, na maioria raparigas e entre os 14 e os 16 ou 17 anos.
A excitação e gritinhos que emitiam estavam em pleno de acordo com as idades e com o que aparentava ser uma viagem de estudantes.
Em bando, correram a atravessar a rua, assumidamente comum destino bem definido.
Achei graça e quedei-me a ver para onde iriam. E deixei de achar graça, bolas!
Então não é que entraram nesta mesma loja?! Igual a todas as outras e espalhadas pelo país, todas repletas de inutilidades.
Ainda atravessei a rua e fui espreitar, na secreta esperança que ali estivesse em venda um qualquer artigo especial, um “recuerdo” exclusivo de Sintra. Nem nada!
Limitavam-se a espreitar e mexericar naqueles objectos, iguais em tudo quanto é lado que tenha uma vaca à porta, coloridos e de durabilidade duvidosa. Mas na moda!

Ai!

By me

Dúvidas



Sou um tipo cheio de dúvidas. E quanto mais por cá ando mais as tenho, que a cada passo me surgem novas e não consigo a todas responder.
Por exemplo: duvido que a pizza que me apresentaram para o almoço satisfizesse um qualquer italiano, por pouco exigente que fosse.
Outro exemplo: duvido muito que qualquer membro de governo dos últimos dez ou quinze anos algum dia peça desculpa aos portugueses por decisões tomadas, por muito erradas ou prejudiciais que sejam ou tenham sido.
Um último exemplo: tenho muitas dúvidas que Byron, que era lord, se voltasse por cá glosasse como glosou Sintra, vila e serra. O tecno-romantismo p’ra turista ver, cheio de pseudo-velharias e fachadas arranjadas de fachada p’ra agrado de autarcas, comerciantes e visitantes, mas de supremo enfado e custo para residentes… Um tão grande faz-de-conta que duvido que as próprias madressilvas nas janelas sejam algo mais que plástico colorido.


By me

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Por um qualquer motivo obscuro, as recentes notícias sobre uma figura pública nacional me recordam de Al Capone.
Não foi apanhado ou condenado pelos crimes infames que cometeu mas apenas e só por ter fugido ao fisco e isso ter sido descoberto.

A vida, então e agora, tem destas coisas.

Em torno de uma fotografia



Esta é uma fotografia feita ontem para acompanhar um texto igualmente feito ontem.
O texto surgiu de um outro lido na net, em que se falava de troféus pessoais e recordações da actividade profissional. No meu caso, seria o objecto que seguro na mão.
A questão levantava, logo à partida, uma dificuldade. Ou o que para mim é uma dificuldade. O objecto em causa é particularmente longo e deve ser visto na vertical. O que poderia resultar numa fotografia vertical, coisa que evito sempre que posso, tentando encontrar soluções viáveis para a horizontalidade.
O local onde está pendurado este objecto em minha casa pouco apelativo é e, fazer uma horizontal, iria incluir demasiada parede e outros objectos que em nada correspondem ao assunto tratado.
A opção foi encontrar elementos acessórios que ajudassem a compor todo o “vazio” em torno do assunto principal e que, de algum modo, com ele se relacionassem. E sem lhe retirar a importância que tem.
Não querendo fazer demasiada “bagunça” em casa, e olhando em redor, o meu olhar caiu sobre este cartaz, que me acompanha desde os anos 70. O facto de serem jovens poderia ser útil e aproveitei a deixa.
Mas o estar junto a uma esquina, de um lado, e junto a uma porta, do outro, dava-me pouco espaço de manobra para junto a ele colocar o objecto. Com o acréscimo da diferença de dimensões, que iria retirar força exactamente onde eu a queria colocar.
O jogar com a perspectiva foi a alternativa.
Surgia então uma segunda questão: como o colocar no ar. O eu segurá-lo pareceu-me bem, até porque eu era interveniente na história contada. E a minha presença ajudaria a compor o espaço na horizontal, tal como eu queria.
Veio então outra dificuldade: como dar força a um objecto que, não sendo particularmente grande, estaria em “luta” pelo protagonismo na imagem com um cartaz contendo letras e duas figuras humanas de um lado e uma figura humana do outro?
A luz foi a solução.
Dois flashs portáteis, em frente um do outro e muito palados, de modo a que a luz produzida incidisse apenas onde eu queria: um de frente e apenas no objecto, outro atrás, fazendo o recorte dele e de mim contra o fundo que queria bem mais escuro. A própria reflexão nas paredes circundantes faria a penumbra suficiente para que a minha figura e o cartaz tivessem leitura mas pouca.
Tomada a decisão, foi questão de a executar. Tentativa e erro, que fazê-lo sozinho não é coisa fácil estando eu na imagem. Posicionamentos relativos, ajuste de intensidades e orientações, verificar cada disparo e regressar à pose, corrigindo o errado… foram 17 os disparos até ao resultado final.
Para os que acham que fotografar é apontar a câmara e carregar no botão, saiba-se que demorei uma hora e vinte, desde que peguei no objecto até que regressei ao computador sabendo-a feita. Mais uns dez minutos a arrumar a tralha: tripés, luzes, cabos, cadeiras…
Se ficou como eu a queria? É sempre um processo de construção, entre o que imaginámos e o que obtemos, acrescentando uma pitada aqui, outra ali, solucionando esta ou aquela dificuldade. Quando a dei por finda, ou por satisfação ou por saturação de andar às voltas com ela, estava aceitável.

Se hoje encontraria outra solução não sei.

By me 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Troféus



Uma ocasião, na escola onde dei aulas, surgiu um imprevisto.
Por um erro das agendas ou desatenção algures, duas professoras vindas de um país nórdico, e que vinham visitar a escola no âmbito de um programa de intercâmbio, apareceram um dia mais cedo.
A direcção não estava preparada com disponibilidade para lhes fazer as honras à casa e, por sorte ou por azar, acabei por ficar eu com o encargo. Mas sem interromper as aulas que tinha.
Fiquei à toa. Que fazer? Não é fácil atrapalhar-me, mas a coisa era complicada. Até por causa da língua.
Acabei por as levar comigo para uma turma. Assistiriam a uma das aulas (duas horas) e ficariam a saber como funcionávamos ali.
Mas ficarem de parte, apenas a assistir não era coisa simpática. Nem para elas, nem para os alunos, nem para mim.
Alterei o programado, avancei com outros conteúdos e fi-las participar na aula, teórica e prática, misturadas com os demais alunos, alternando entre as explicações para a geral em português com algumas coisas em inglês. Indo um pouco mais longe, coloquei alguns deles a explicarem-lhes este ou aquele assunto que serviria de base para os trabalhos do dia.
Com a tolerância recíproca entre todos, até que nem correu muito mal. Mas suspeito que todos suspirámos de alívio quando acabou. Pelo menos assim aconteceu comigo, que foi um petisco e peras.
Quando, uns dois ou três dias depois, a sua visita terminou, procuram-me.
Tinham elas para me entregar um objecto do seu país, que costuma ser colocado no cimo das casas aquando da sua construção e em atingindo o telhado ou viga mestra.
Traziam o encargo de o entregar à escola mas tinham decidido fazê-lo a mim, pela forma como as tinha recebido, esquecendo protocolos e integrando-as nas actividades lectivas daquele jeito.
Fiquei de cara à banda e tentei passar a distinção para a escola, que afinal é o resultado de todos os que lá trabalhamos – alunos, professores e não professores. Talvez que se alguém o merecesse mesmo tivessem tido os alunos, que as souberam receber tão bem no seu seio.
Insistiram e insistiram e acabei por aceitar, meio acanhado, que não sou destas coisas.
Mas está aqui em casa, na parede e em lugar de destaque.

Um daqueles troféus que ganhamos apenas por sermos o que somos e sem entrarmos em competições.

By me