quinta-feira, 30 de maio de 2019

Auxiliares de memória




Leio um artigo sobre fotografia de “eventos”. Aniversários, casamentos, etc.
Começa ele com: “Festa é sinónimo de alegria, descontracção, união, lindas decorações e muitos sorrisos espontâneos, não é mesmo? Mas o que seriam esses momentos se eles não fossem eternizados? Parte fundamental de qualquer evento, a fotografia só tem ganho status com o passar dos anos. É ela a responsável por trazer tudo à tona novamente para ser curtido e compartilhado.”

Eu sou fotógrafo. Pelo menos gosto de me pensar assim. Não ganho a vida com ela, mas encho a alma com ela.
Mas uma coisa eu garanto: aquilo que não fica na minha memória do que vivo a cada instante não se torna mais importante por ser fotografado.
Quando precisamos de fazer registo material das vivências para que as não esqueçamos, isso significa que o que vivemos tem pouca importância. Por si mesma ou porque outros acontecimentos vieram relativizar os significados e/ou importâncias.
Indo um pouco mais longe, a futilidade dos dias que correm, o termos que dar importância pública a cada acontecimento ou correndo o risco de sermos menorizados pelos que connosco o viveram, torna-nos ávidos coleccionadores de memórias fosfóricas, relegando bem para segundo plano a capacidade de recordar mais tarde o que não foi registado. A nossa vida, com essa avidez da fotografia de cada instante, acaba por ficar resumida ao que foi fotografado, ao fazermo-nos fotografar, ao que vemos que outros fotografaram. E aquele sorriso lindo mas fugaz, aquele paladar subtil mas inebriante, aquele som que se ergueu no meio da cacofonia ambiente… tudo isso perde importância. Por muito belo que seja. Confiamos a nossa memória ao auxiliar visual do instantâneo, ignorando os instantes significativos que vivemos.

Repito que quem escreve estas linhas faz da fotografia um dos alimentos da alma.



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A honra e a falta dela




Confesso que recordo com saudade os tempos em que pensava que a palavra dada valia ouro. E isso era tanto mais verdade quanto as cumplicidades existiam. Entre amigos ou familiares não havia necessidade de mentir: Apresentavam-se argumentos ou justificações e era quanto bastava. Os afectos eram a base da honra. Da palavra de honra. Nem sempre eram necessários os afectos, mas em existindo era um facto.
Talvez eu tenha vivido numa gaiola dourada, que me impedia sair dela, mas que também me protegeu, as mais das vezes, de decepções e enganos.
Com o passar dos tempos fui aprendendo que as barras dessa gaiola eram demasiadamente permeáveis. E que aquilo que eu pensava proteger-me na prática apenas era um doce engano. E, volta e meia, lá fui criando calos com os erros e as falsas honras.
Ainda hoje gosto e quero pensar que a palavra dada, a história contada, o argumento apresentado são verdade. A mentira não faz parte da minha prática e procuro calibrar os outros por aquilo que pratico.
E quando acontece o desengano doi! Doi por ter sido enganado, doi por a minha confiança ter sido quebrada, doi por perceber que, afinal, é mais o espaço vazio entre as grades que o ocupado por elas.
Claro que aprendo. Uma vez enganado por alguém, o conceito de honra cai por terra. E até que se volte a erguer… Como vi uma vez escrito numa parede alfacinha, “Não perdoamos nem esquecemos”!

Fica o recado para alguém que ainda não aprendeu que a sua palavra é o maior bem que pode possuir, que não há dinheiro que a compre. E que por muito importante que seja o seu umbigo o mundo não gira em seu redor.



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quarta-feira, 29 de maio de 2019

Um tipo porreiro. Ou não.




Conhecem aquele fulano que é tão bom, mas tão bom, que nem parte um prato?
Pois, eu é mais chávenas.



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Ainda sobre a abstenção




Há um montão de gente, de políticos a comentadores, de jornalistas a cidadãos anónimos, que acusam jornalistas e políticos do índice de abstenção neste último acto eleitoral.
Não me espanta que este tenha acontecido. E por quatro razões distintas.
Por um lado os políticos que se candidataram pouco fizeram para mostrar as suas ideias. Ideias novas ou ideias inovadoras. Pouco falaram do que fizeram, enquanto pessoas ou enquanto grupos, para que o que de bom aconteceu e evitar o que de mau aconteceu. Aquilo que mais se viu ou ouviu foram guerras de alecrim e manjerona, ataques pessoais ou partidários, alguns de muito baixo nível, diga-se de passagem.
Por outro lado, a comunicação social, o tal quarto poder mas que não democrático porque não sufragado, deu mais enfase às tais guerras e questiúnculas que aos programas ou ideias. Tanto nas reportagens feitas como nos debates e comentários. E se é certo que a comunicação social é um negócio e há que vender para que dê lucro, também tem deveres sociais e éticos. Alguns dos quais francamente ultrapassados.
A isto somam-se os próprios cidadãos. A descrença que têm no sistema e nos comportamentos dos intervenientes leva ao desinteresse. O conceito “é tudo farinha do mesmo saco” faz com que se sinta que não adianta participar se o resultado é sempre o mesmo, por vezes nem mudando as moscas.
Por fim, e não menos importante, a forma como o sistema está organizado. Temos uma democracia representativa, em que as decisões são tomadas por uma elite, em que os cidadãos atribuem a essa mesma elite o poder de as tomar, enjeitando responsabilidades. Porque não podem participar nelas que não aquando do acto eleitoral. As consultas populares, referendos ou outras, são mal acolhidas pela classe dominante, que lhe retira poder. E os cidadãos, ao não poderem participar na vida e decisões públicas, encolhem os ombros e afastam-se.
A isto junte-se também o não ser transmitido aos jovens, ainda antes de terem idade de votar, a noção da real importância de se participar nos actos da sociedade. Culpa do sistema, que não investe na educação nesta área. Culpa dos familiares que, eles mesmos, estão desmotivados.
Tal como as revoluções não se fazem por decreto, também a participação cívica não acontece por legislação obrigacional. É algo que tem que vir de dentro, em que cada um tem que entender que participar nas decisões e actos públicos é construir hoje o futuro. Nos impostos, na segurança, na saúde… em todos os aspectos que envolvem o estado e a sociedade. Mas também na demais legislação que regula os comportamentos, incentivando ou proibindo. Do código da estrada às relações comerciais, da liberalização das relações afectivas à gestão dos condomínios… As leis, que regulam as relações entre os cidadãos, não podem ser decisões de uma elite privilegiada, as mais das vezes alheada dos reais anseios e necessidades dos cidadãos.
Têm que ser eles, pelo voto e pela participação activa, que devem intervir e regular.
A democracia representativa é, em última análise, a antítese da liberdade de viver, apenas permitindo que os “comuns” escolham os seus algozes. E, sem irem aos actos eleitorais, ainda fazem com que sejam eles mesmos, os políticos, a decidirem a “distribuição do bolo”, no lugar de sermos nós a cortar as fatias e a distribui-las.

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segunda-feira, 27 de maio de 2019

Sobre a consequência da abstenção




Votar é, de algum modo, decidir sobre a coisa pública. É dizer qual dos projectos candidatos mais se ajustam às ideias sobre a gestão da coisa pública. E sobre as leis que gerem os nossos comportamento, dos crimes às penalizações. Sobre pessoas e bens.
Ora, entendo eu, quem acha que nenhum dos projectos apresentados o representa não deve esperar que algum deles, o que ganhe, actue sobre si. Lhe dê aquilo que quem não vota recusa.
Refiro-me, em particular, aos benefícios económicos que o colectivo dos cidadãos entende dar, através de leis e portarias. Fisco, emprego, justiça, saúde, educação, segurança…
Mandasse eu alguma coisa e continuaria a entender como legítima a abstenção. Mas todos aqueles que se abstivessem deveriam ser ausentes dos benefícios fiscais e outros (taxas moderadoras, subsídios, deduções fiscais…) até que regressassem a uma assembleia de voto.
Não creio na obrigatoriedade de voto. Mas acredito firmemente no conceito de “máxima liberdade com a máxima responsabilidade”. E não participar na coisa pública deveria implicar não receber da coisa pública benefícios adicionais.

Os meus cinco cêntimos
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Opções editoriais




Cinco jornais lidos on-line hoje de manhã (8.30h): Diário de Notícias, Público, Jornal I, Correio da Manhã, Expresso.
Sobre o resultado das eleições, que ainda não estão fechados a esta hora por faltarem apurar algumas mesas de alguns consulados.
Olhando para os respectivos títulos de notícias, Constata-se que o Diário de Notícias refere a queda da CDU mas não as do PSD ou do PP. O Expresso não fala de quem perdeu votos. O Público ignora a CDU e o Bloco. O Jornal I tem como notícia de destaque o condicionamento de trânsito no Porto devido a obras numa ponte. O Correio da Manhã é o único que, no seu título de abertura, refere todos os partidos que elegeram deputados.
As opções editoriais do jornais são sempre tristemente divertidas.



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domingo, 26 de maio de 2019

Publicidades




Este anúncio tem uns cinco anos bem medidos.
As marcas mudam, as tecnologias evoluem, as imaginações galopam.
Mas coisas há que são únicas, mesmo em publicidade.
Esta e o “Tou shim? É p’ra mim!”



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quarta-feira, 22 de maio de 2019

Em honra de




Eram as minhas primeiras férias enquanto trabalhador. Tinha assinado contrato no ano anterior e o desejo de mochila às costas e interrail na mão concretizava-se.
Embarquei sozinho em Santa Apolónia com destino a Londres, onde tinha previsto e agendada uma visita a uma famosa empresa do meu ramo. O resto do tempo seria um errar pela ilha, com alguns pontos e rotas pensados mas nenhum rigidamente definido.
Claro que os jovens, mesmo que viagem solitários, acabam por se agregar. E foi o caso. Algures entre Coimbra e a fronteira já quase todos haviam mudado de compartimentos na longa composição, juntando-nos por empatias insuspeitas.
Acabei por seguir até Paris com Americanos, Brasileiras e Suecos. Grupo que se desfez na passagem para França, que a mudança de bitola ferroviária implicava mudança de comboio e o nosso estava particularmente atrasado. Nada que espante então ou agora.
Em qualquer dos casos, e para além das demais peripécias dessa viagem inicial, recordo o contacto íntimo com uma canção.
Recém-lançada então no Brasil, duas das brasileiras conheciam-na de cor, letra e música. Por cá era ainda pouco conhecida, que os mercados musicais não são como os de hoje e a internet ainda era uma utopia só por alguns raros sonhada.
Juntei a minha harmónica ao violão de uma delas e foi o que aprendemos, tocámos e cantámos ao som do pouca-terra. Gente de aquém e além mar, falantes de português ou não, que fomos tratando de traduzir a letra na medida do possível para americanos e suecos. A força da música, mesmo que desafinada como foi tocada, junto com a enormidade da força da letra, fez com que todas as arestas se limassem. Depois…
Bem, depois foi o que se sabe da história da música e o que não se sabe do destino daqueles oito que ocuparam aquele compartimento mais uns quantos que a nós se juntavam pela música, pelos comes e pelos bebes que, sem restrições de qualidade ou quantidade, íamos partilhando.
O tema musical? “Geni e o Zepelim”, criado e interpretado pelo magnífico e agora honrado Chico Buarque.
Por cá, então, o seu tema que marcava pela mensagem directa e inconfundível, era o “Tanto mar”. Belo e bem datado, uma espécie de agradecimento, elogio e pedido de ajuda política ao “país irmão”.
Mas o “Geni e o Zepelim” ultrapassarão fronteiras e calendários na memória colectiva e na minha. Tal como “Mulheres de Atenas”.
Hinos que ainda hoje estão actuais.


Imagem roubada da net
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terça-feira, 21 de maio de 2019

segunda-feira, 20 de maio de 2019

O rádio



Este rádio era de meus avós.
Viviam eles numa casa de lavoura, no limite da aldeia e a electricidade não chegava lá. Ainda. Portanto, o rádio funcionava a pilhas.
Quando por lá ia, nas férias de verão, era uma das minhas companhias das tardes infindas, em que o calor apertava cá fora, mas o fresco provocado pelas caiadas e grossas paredes convidava a uma sesta musical.
Quando eu por lá não estava, onze meses e tal por ano, o rádio era ligado apenas duas vezes por dia, para que se ouvisse o “teatro radiofónico”, o antecessor das telenovelas de hoje. Mas quando o catraio lá estava – eu – o consumo de pilhas era substancialmente maior, pelo que ficava eu encarregue, da minha semanada, de as pagar, compradas na venda da aldeia, onde se ía umas duas a três vezes por semana, em busca de algum feijão, arroz, talvez sal, e dois ou três dedos de conversa com os patrícios. Claro que havia o dia em que vinha o homem do peixe, na sua motocicleta e anunciado de longe pela sua corneta.
E porque é que o rádio, na minha ausência, só se ligava para o teatro radiofónico? Porque o que mais que lá se contava, as notícias, eram sempre iguais: alguma inauguração governamental, informações, raríssimas, sobre a guerra lá longe, nas colónias, a previsão meteorológica, o vencedor do festival da canção e, casos bem raros, algum discurso ao país do títere. Nada de importante, que a política estava limitada à União Nacional, o partido sempiterno no governo. Não podíamos saber o que outros pensavam, os que outros diziam, o que outros faziam. E votar, então, se bem que não obrigatório, era quase que inconsequente, que os resultados se sabiam de antemão: vencia a União Nacional.

Os tempos mudaram, a electricidade chegou à casa de meus avós, foi acrescentado ao rádio, já não sei por quem, um transformadorzito, eu deixei de lá ir de férias, que a adolescência queria outras aventuras, e a União Nacional deixou de existir. 
Veio a Democracia, a possibilidade de podermos decidir sobre o nosso próprio futuro, de escolhermos os nossos governantes, de ouvirmos na rádio e na TV o que outros fazem, dizem, pensam. 
O rádio está aqui, testemunha muda porque já não funciona, do que foi, do que é e da transição dos tempos. 
E se hoje temos os que temos, vivemos como vivemos e sofremos o que sofremos, não culpemos o rádio, que ainda tem a capinha diligentemente costurada por minha avó.
Culpemo-nos a nós mesmos, que podendo saber o que outros pensam, dizem, fazem, continuamos a escolher – quando vamos escolher – os mesmos de sempre. Mantemo-nos – ou muitos de nós – apáticos, não optando por mudanças realmente sérias, mas tão só por pequeníssimas nuances, que mais disto ou mais daquilo acabam por ser mais do mesmo.

Já não nos juntamos, à luz do candeeiro de petróleo, a ouvir o teatro radiofónico. Das notícias, quando as ouvimos, preferimos as das catástrofes lá longe, preferencialmente, que nos sublimam os nossos problemas. Vibramos com as revoltas nos países ditatoriais, mas somos incapazes de resolver os nossos próprios problemas. Porque continuamos convencidos que o acto eleitoral está previamente decidido, entre o A e o B, e que, seja qual for o resultado, as consequências serão as mesmas. 

Este rádio está mudo, agora. Mas, de cada vez que para ele olho, ali na estante, grita-me ele que as mudanças estão na minha mão – na nossa mão – quer nas urnas quer no quotidiano. E que devemos passar de meros ouvintes do teatro radiofónico para o palco dos acontecimentos. De passivos a activos!
Que mais que ouvir a rádio devemos fazer ouvir a nossa voz! E fazer cumprir a nossa vontade!

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domingo, 19 de maio de 2019

De bestial a besta




O país está furioso com o homem!
Fazem-se campanhas contra os produtos que negoceia, protesta-se sobre o ter-se rido no parlamento, exige-se que pague o que deve, tiram-se-lhe as condecorações.
O país está furioso com o homem! A quem chamam de Joe Berardo, sem saberem que “Joe” não é o seu nome de baptismo.
No entanto fico sem saber se a fúria nacional, da populaça e dos importantes, se prende com a dívida e o desplante se contra os próprios furiosos. Se por ele os ter enganado se por eles terem deixado serem enganados.
É que, convenhamos, quando Berardo estava na mó de cima, com direito a entrevistas televisivas, homenagens presidenciais e inaugurações pomposas, não me recordo de ter ouvido ou lido sobre a origem da sua fortuna. Mesmo hoje, procurando na net, o mais que encontro é que saiu da Madeira pobre, foi para a África do Sul e fez fortuna em negócios. Destes, fala-se de umas minas, de uns hoteis, de um banco e pouco mais. Ah, e de ligações ao poder do Aparthaid. E, por cá, investimentos em bolsa. Enormes investimentos em bolsa.
Da lisura dos seus negócios, da forma como os seus lucros fabulosos surgiram, nada se diz. Discreto e opaco.
No entanto, quando regressou, qual filho pródigo, com dinheiro a rodos e obras de arte de encher olho, todos o veneraram. E, púdica e economicamente correcto, trataram de não aprofundar as reais origens. Não fora elas estragarem a festa do herói.
Agora, que se lhe descobriu a careca, que os seus esquemas correram menos bem ou que os bancos, aflitos com os seus negócios menos rentáveis, decidiram cobrar o que lhes fazia buracos nas contas, o bestial passou a besta.
E os cidadãos, anónimos ou de nomeada, escolheram-no como bode expiatório, como inimigo número um, como o culpado de todos os males. Esquecendo-se que um especulador ou um vigarista, um bom especulador ou um bom vigarista, não pede aos outros para entrarem nos seus negócios: encontra formas de as vítimas pedirem encarecidamente para neles participarem, com os olhos encadeados com a gula do lucro fácil e sem se preocuparem muito com a legitimidade daquilo em que se envolvem.
“Joe” Berardo foi um herói e agora é um proscrito. Elevado a herói pelo poder e pela populaça, agora amaldiçoado pelo poder e pela populaça. E a raiva que dele se tem prende-se mais ao facto de o poder e a populaça se ter deixado enganar, qual vítima do conto do vigário, que pelas dívidas que ele possui.
Cada acção contra “Joe” Berardo, institucional, legal ou popular, é um escapismo contra a inocência ou esperteza saloia de todos nós. Que não gostamos de ser enganados, a menos que lucremos com isso. E gostamos menos ainda que o vigarista (perdão, o empresário e especulador), nos olhe nos olhos e com um sorriso, nos acuse de palpavos.  

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quarta-feira, 15 de maio de 2019

Igualdades




Pese embora o Festival da Canção da Eurovisão nada me dizer, diz-me menos hoje do que já disse há vinte ou mais anos.
No dia ou dias seguintes, a canção vencedora estava nas ruas, trauteada por uns ou por outros, com melhor ou menor afinação. Mas havia conquistado um lugar efémero de fama pela letra ou pela música.
Hoje, dificilmente se reproduzem as coreografias ou efeitos visuais, que é aquilo em que acabou por se transformar o festival da canção: um mega espectáculo de audiovisual, em que o visual tem preponderância.
E, para além das músicas, melhores ou piores, havia sempre a questão da votação, em que se tentava adivinhar que país votava em quem, com que simpatias geopolíticas ou contrapartidas em relação à votação do ano anterior.
A qualidade musical, hoje, pouca importância tem! E é isto de tal modo verdade que há países – os cinco grandes – que estão sempre apurados para a final, não passando por crivo prévio algum: França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido.
É como as competições de futebol, em que jogam todos mas os maiores são os noticiados e com mais ou menos garantias de um deles estar na final.
Ou como o conselho de segurança da ONU, que é composto por quinze países membros, mas onde cinco – China, Estados Unidos, França, Rússia e Reino Unido -  têm lugar permanente e direito de veto nas decisões.
Ora batatas!

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terça-feira, 14 de maio de 2019

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Isto por cá anda tão bera que até o urso pardo desistiu de cá ficar.


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segunda-feira, 13 de maio de 2019

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Surpresas




Costumo perguntar a formandos ou novatos qual a cor do prédio em frente ao seu. A resposta leva alguns segundos e, por vezes, não vem.
Não prestamos atenção ao que nos cerca no quotidiano, àquilo que temos por garantido, procurando longe o que temos por perto: pessoas, assuntos, luzes, eventos. Um pouco como os museus, que visitamos todos nas cidades onde vamos em turismos mas negligenciamos os da nossa própria cidade.
Desafiei em tempos um grupo de adolescentes a todos os dias, em saindo de casa a caminho da escola, fazerem uma fotografia da sua rua. A proposta sugeria durante quinze dias. Gostaram tanto do desafio que o mantiveram durante mais de dois meses e, de acordo com o professor que os acompanhava em fotografia, com resultados surpreendentes. Tanto a nível fotográfico como a nível de maturação pessoal.
A fotografia, bem mais que técnica, estética, método e afins, é um olhar sobre o que nos cerca através daquilo que somos. E, as mais das vezes, revela-nos bem mais sobre os nosso interior que sobre o mundo circundante.



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quinta-feira, 9 de maio de 2019

Chulos




O dinheiro é o símbolo do valor daquilo que possuímos e do trabalho que fazemos. E usamo-lo para trocarmos bens ou serviços por outros bens ou serviços.
Existe desde muito longe no tempo e já teve diversas formas. Uma delas, que hoje é usada como decoração, assumia a forma de metais preciosos ou pedras preciosas, muitas vezes agarradas ao corpo como brincos ou piercings.
Hoje usamos notas, moedas e valores virtuais.
O que acaba por ser interessante é que não é possível usar daquilo que é nosso, mesmo que resultado do nosso trabalho, sem que nos relacionemos com um banco. Que a maioria dos pagamentos de salários ou honorários são feitos por transferência bancária ou usando cheque traçado. E este implica o seu depósito.
Acontece que para se ter uma conta bancária é necessário pagar a esse banco. Mesmo as contas de serviço mínimo, sem comissões, implicam limites ao levantamento diário através do multibanco. Ou, se ao balcão, comprar um cheque. Quem quer que queira levantar todo o seu salário de uma só vez tem que pagar ao banco para aceder ao que é seu.
E agora querem os bancos que os levantamentos em caixas automáticas também sejam pagos. Mesmo que quantias pequenas.
Por outras palavras: para termos o que é nosso, resultado do nosso trabalho, temos que pagar a entidades intermediárias: os bancos.
Pode-se dizer que culpa não é dos bancos. Na prática, eles são entidades privadas com o objectivo de lucrarem com a sua actividade.
A culpa é da sociedade que permite inserir nas actividades humanas entidades que têm que ser pagas e que em nada se relacionam com a nossa actividade profissional.
Dito de outro modo, a sociedade criou, em nome da comodidade e “segurança”, proxenetas do trabalho alheio.
De algum modo, podemos fazer um paralelismo com os traficantes de droga: começam por oferecer o “produto”, a título de experiência e quando o patego já está viciado começam a cobrar e bem por aquilo que vendem.
Não em meu nome e, no que me for possível, tentarei evitar o sistema!



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quarta-feira, 8 de maio de 2019

Do bom uso do calçado



Há pessoas com quem tenho muita dificuldade em lidar.
Dividem-se em dois grupos, o pequeno e o grande, e ambos são razoavelmente conhecidos.
O primeiro é composto de gente que ocupa altos cargos dirigentes na vida pública. Atingem o cargo por terem sido eleitos pelos seus patrícios mas, em lá chegando, estão mais preocupados na gestão do poder que lhes foi entregue (erradamente) que em cumprir e fazer cumprir as leis e as promessas eleitorais. Todos conhecemos muitos dos seus nomes e contra eles elevamos a voz ou o pensamento quase todos os dias.
O segundo grupo é composto de gente dita banal. Ocupam o cargo que ocupam porque são antigos na empresa onde trabalham ou dão-se bem com a chefia, ou têm o cartão com a cor certa ou ainda porque obtiveram uma qualquer graduação académica que lhes atribui conhecimentos teóricos. Mas mais nada. O seu principal objectivo é terem uma cadeira de espaldar mais alto porque isso lhes dá status; o seu grande desejo é terem uma mesa de maior área porque os distancia dos subordinados; o seu maior anseio é ter e usar de passwords, porque os coloca na prateleira de cima.
São aqueles que, em conseguindo um destes objectivos, ou semelhantes, mudam de vestuário, quase deixam de falar com os que ainda ontem partilhavam a sua mesa de refeições e passam a defender atitudes e decisões hierárquicas e monodireccionais que ainda na véspera condenavam em surdina.
Acredito que todos conhecemos um ou mais elementos deste grupo. O dos pequenos títeres cujo maior deleite é subir a escada, principalmente se esta for feita de cabeças.

Um dia terei botas de biqueira de aço. Talvez hoje!

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terça-feira, 7 de maio de 2019

Publicidades




Foi há duas ou três semanas.
Num conhecido e espaçoso centro comercial de Lisboa, promovia-se uma série televisiva famosa. Confesso que, como nunca tinha visto um só episódio que fosse, fiquei um pouco à toa sobre o que ali acontecia e necessitei de algum tempo para perceber.
Colocado num local amplo e concorrido, um trono como este e umas jovens dispunha-se a fotografar quem ali se quisesse sentar. Até aqui nada demais nem estranho.
O que me fez torcer o nariz é as fotografias eram feitas com um telemóvel. Na verdade, com três telemóveis, já que eram três as jovens, cada uma com o seu e com roupa identificatória da série. Depois das fotografias feitas, eram estas entregues aos curiosos ou fãs.
Costumo dizer que mais importante que a ferramenta é o que se faz com ela. Mas, confesso, ver uma campanha publicitária feita com telemóveis foi inédito para mim.
Mas pior: todas as fotografias eram feitas na vertical. Como se aqueles aparelhos não pudessem ser usados de outra forma. Como se a vida que vivemos não fosse vista na horizontal.
Mas o pináculo do meu desespero foi a forma como o faziam: com o aparelho a escassos 50 cm ou pouco mais do fotografado. Claro que com um telemóvel a probabilidade de ter uma maior ou menor angulo de captação é reduzido. Só os mais dispendiosos ou recentes possuem um sistema óptico que permita “fechar a zoom” e a alternativa é a zoom electrónica, fraquinha a generalidade das vezes.
Acontece que a esta distância a perspectiva vira circo: narizes tipo batata, peito tipo melões, orelhas tipo sementes de girassol…
Quem programou a campanha será, espero, um profissional. Quem pediu a campanha terá orçamento para tal, ou não teria construído o cenário, alugado o espaço, contratado a meninas… Mas será que não sabem um nico de perspectiva e de retrato? Será que não teriam orçamento para outro tipo de câmaras, mais capazes de produzirem imagens com uma perspectiva menos “violenta”?
Mas talvez seja eu que não percebo nada de telemóveis, de imagem ou de publicidade.

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segunda-feira, 6 de maio de 2019

Imago



Para quem não saiba, esta é a imago (ou a representação tri-dimensional) do rosto de Pancho Villas.
Foi feita a partir de uma máscara moldada na face do defunto, seguindo métodos bem antigos.
Tão antigos quanto os usados no império Romano, em que estas imagos eram colocadas em local de destaque na habitação senhorial, reverenciando os antepassados.
Saiba-se que o nosso termo "imagem" provem do milenar "imago".

Por outras palavras: as imagens, mesmo as fotográficas, mais não são que o perpectuar ou reverenciar o passado.

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domingo, 5 de maio de 2019

Ponto 42



Ainda não há muito tempo um amigo mostrou-me um link com cem dicas de um fotógrafo profissional.
Foi interessante de ler. A maioria conhecia, concordando com quase todas. Algumas desconhecia por completo e aprendi qualquer coisa ou, pelo menos, fiquei a pensar no assunto. Algumas discordo em absoluto.
Aquela que condeno veementemente recomenda: “Encontre o seu próprio estilo e mantenha-se nele”.
Talvez que seja uma boa sugestão para quem queira entrar no ofício, lutando com tanta concorrência. Ter um estilo próprio e aperfeiçoado é uma mais-valia no mercado. Mas é tão redutor!
Com o passar dos tempos, mais ou menos dependendo das pessoas, aquilo de que se gosta transforma-se em rotina e o prazer da criação transforma-se em obrigação, quiçá enfadonha.
Para quem queira vencer no mundo da fotografia pode ser um bom conselho. Para quem queira fazer da fotografia uma forma de expressão, tente tudo, por favor.
Procure o que não sabe fazer e aprenda. Procure usar as técnicas e estilos que encontra nos outros e decida depois se lhe convêm, se se sente satisfeito com aquela abordagem ou se prefere deixá-la de parte. Experimente! Tente e erre! Diga “não é isto que eu quero” só depois de o fazer! E, quando sentir que está a fazer qualquer coisa parecida com o que já fez e que não lhe está a dar a satisfação que espera, parta para outro caminho.
Que, se definir um estilo e se mantiver nele, em breve mais não será que um plagiador de si mesmo!
A menos que seja um génio, claro.

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sexta-feira, 3 de maio de 2019

Dia mundial de...




Parece que é o dia mundial da liberdade de imprensa.
E os media tratam de o evidenciar, debitando números de jornalistas vítimas de conflitos.
Pena é que não falem nos bombeiros mortos em serviço, nos enfermeiros mortos em serviço, nos taxistas mortos em serviço, nos polícias mortos em serviço…
Não falam, por exemplo, na ausência de cumprimento dos valores éticos por parte de alguns jornalistas e de alguns órgãos de comunicação social. Influências económicas, influências políticas, influências corporativas. E na moral usada ou nos actos de censura que ela impõe.
Tal como não falam da importância da imprensa livre, verdadeiramente livre, para a manutenção das democracias ocidentais.



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quarta-feira, 1 de maio de 2019

Termos e jornaleiros




Será muito difícil fixar que os veículos militares blindados, com rodas ou com lagartas, equipados com canhões ou armas automáticas não são tanques mas carros blindados ou carros de combate?
Mesmo quando são usados para atropelar cidadãos na Venezuela ou na China!
Os tanques são para lavar roupa ou conter líquidos, seus jornaleiros da treta!

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