sexta-feira, 29 de abril de 2011

Literatura



Recordo um livro de ficção científica onde, num universo paralelo, a governação era obrigatória e rotativa por todos os cidadãos.
Ficavam apenas excluídos aqueles que manifestavam algum tipo de interesse em exercer o cargo.
Justificação do autor:
“A governação da coisa pública dá tanto trabalho e é tão incómoda que só quem tiver motivos obscuros a pode querer exercer. E esses não os queremos lá!”

Eu disse que era num universo paralelo.

Oráculo radical



Vivemos num mundo de imagens. Algumas bem claras e inequívocas, como a fotografia, o cinema e o vídeo. Outras, meros códigos ou convenções, como os sinais de trânsito ou os ícones informáticos. Outras ainda de interpretação nem sempre imediata, como é o caso dos logótipos comerciais.
De uma forma ou de outra, este produzir e consumir imagem tem por objectivo a simplificação da comunicação. Dentro da linha de “uma imagem vale mil palavras!”
E a evolução e a complexidade da tecnologia também assim o impele e obriga. Quem se recorda, no caso dos computadores das linhas de comando complexas, com palavras, letras e sintaxe rigorosas? Hoje o consumidor banal desconhece-as, usando tão só imagens e códigos visuais coloridos. Tal como noutras máquinas, os painéis de controlo são essencialmente compostos de símbolos e ícones, no lugar de palavras ou letras. Gradual mas firmemente, a imagem vai substituindo a palavra escrita.
E se isto sucede nos comunicadores formais de grande volume (industriais, media, audiovisual), sucede também com os comunicadores de pequeno porte mas a quem se destinam os primeiros: os consumidores individuais.
A tecnologia da imagem (fotografia, vídeo, infografismo) está ao alcance de quase qualquer um nas sociedades ocidentais, sendo que a sua posse e uso se torna quase que um símbolo de posição social, tal como o automóvel ou a marca de roupa que se veste.
A própria comunicação escrita convencional – a palavra – está a sofrer mutações. A técnica vai permitindo substituir as palavras e letras por símbolos gráficos – ícones de emoção, animados ou estáticos. Ou, mais simples ainda e menos tecnológico, a quantidade de letras usada na escrita vai diminuindo, com siglas, contracções e aglutinações.
De uma forma ou outra, a sociedade tecnológica e de consumo em que vivemos nos chamados “países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento”, a palavra escrita vai definhando em favor da imagem ou do grafismo visual.
Indo ainda mais longe e fazendo futurologia radical, estou em crer que dentro de algumas gerações (quatro, cinco, seis?) a escrita como a conhecemos hoje será um atavismo, usada apenas por lentes e estudiosos. Talvez também em documentos formais ou oficiais.
Esta hipotética evolução que antevejo não é nem boa nem má: é evolução. Mudanças nos hábitos e culturas, levadas a cabo pela tecnologia e globalização, tal como os copistas monásticos e o iluministas o foram com o advento da imprensa.

Mas, no meio de tudo isto, nesta sociedade em mutação baseada na imagem e comunicação, falha um aspecto vital: a preparação dos cidadãos.
A formação académica de base, de crianças e jovens, baseia-se nas letras e palavras, que ainda é a base actual da comunicação.
Mas não os prepara para saberem produzir ou consumir imagens. Prepara-os para saberem interpretar um texto escrito (por um romancista, jornalista ou um formulário) mas não para saberem ler uma fotografia, interpretarem um filme ou vídeo, descodificarem publicidade. E se não o souberem ler, interpretar, descodificar, serão estes agora jovens, futuros adultos analfabetos. E serão alvos fáceis para os que, em sabendo-o, usem desse conhecimento em favor dos seus interesses económicos, políticos, ideológicos de qualquer género.
A cultura dos códigos iconográficos e da imagem está já aí! Sem que a maioria de nós de tal se aperceba. E um povo ignorante, inculto, desatento, é o sonho de qualquer governante, magnata ou líder religioso: dócil e obediente!


Texto e imagem: by me

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Vertigens?



uns meses estive de conversa com um empregado de um café onde páro de quando em vez.
Vinte anos, ou pouco mais, nunca eu o havia visto por lá e teve ele curiosidade em saber o que era o “A” que trago na lapela.
Brinquei com ele sobre o que poderia ser um “A” como início de palavra, de “amor” a “à toa”, passando por “anarquia” e etc.. E a conversa acabou comigo a recomendar-lhe que procura-se na net o significado de “Acracia” e que procurasse numa livraria o livro “O banqueiro anarquista”, de Fernando Pessoa.
Hoje, na estação de caminho-de-ferro a caminho do trabalho, eis que nos vemos de novo. Vem ele ter comigo, meio pesaroso, pois havia perdido o papel onde havia apontado as minhas sugestões e se me não importaria de as repetir.
Confesso que fiquei com o ego cheio de ele ter dado importância ao que lhe havia recomendado e, claro está, que lhas repeti. Aliás, acrescentei-lhe mais um título: “Para uma filosofia da fotografia”, de Vilem Flusser. Com o habitual aviso de não ser eu responsável pelos seus actos depois de o ler.

Fiquei foi na dúvida se estas janelas diferentes não provocarão demasiadas vertigens a um jovem estudante de direito. Mas, talvez, fosse esse mesmo o meu objectivo!

Texto e imagem: by em

Alivio de alma

Siga estes pequenos passos:
1. Criar um ficheiro qualquer (Word, Excel, Bloco de Notas);
2. Guardá-lo com o nome "José Sócrates";
3. Eliminá-lo e Enviá-lo para a reciclagem;
4. Clicar em "Esvaziar Reciclagem" ...
5. Aparece uma mensagem de confirmação no ecrã, com a seguinte pergunta: "Deseja eliminar permanentemente" José Sócrates"?"
6. Responder: SIM Não serve de nada, mas alegra o dia... até respiramos melhor!

"Roubado" da net

Sobre fotografia



O Homem é gregário! Sobre isto não sobram dúvidas. É-o para procurar a força que o grupo dá e é-o para encontrar a segurança que o grupo oferece. E, acessoriamente, é-o porque o Homem é uma animal que comunica e necessita de um igual para comunicar.
Mas o Homem necessita também de se afirmar no grupo em que se insere. Afirmar-se como pertencendo ao grupo e afirmar-se como alguém especial no grupo.
Pouco importa que este grupo seja no campo da política, do desporto, da religião ou filosofia ou das artes. Ele diz que é adepto de, praticante de, crente em e, ao dizê-lo, procura os adeptos de, os praticantes de, os crentes em com os quais se identifica e com quem pode partilhar interesses.
Mas também diz que é o maior adepto de, o melhor praticante de, o mais fervoroso crente em. E fazem-se competições, avaliações, demonstrações para provar que não só se pertence ao grupo como, dentro dele, se é especial.
Há ainda uma outra forma de grupo com a respectiva identificação e consequente tentativa de afirmação no seu seio: a posse! A posse de bens móveis ou imóveis define grupos de possuidores. E o gosto pela posse do possuído ou pela sua utilização. A evidência do indivíduo no meio do grupo de possuidores é aferida pelas qualidades do que se possui: a maior biblioteca, o melhor carro, o luxo da dómus, a tecnologia.

No caso da fotografia sucede o mesmo.
Podem-se considerar dois, talvez três tipos de grupos: os que gostam de ver fotografia e os que gostam de fazer fotografia.
A afirmação individual dentro do primeiro grupo passa pelo conhecimento que se tem sobre autores, técnicas, estéticas e história e pela posse de documentação sobre isso. Quantidade e qualidade: muitos livros, muitas fotografias, trabalhos de mestres, obras de mestres.
Já a identificação e afirmação no grupo dos que fazem fotografia se pode dividir em dois sub-grupos: os que possuem os meios técnicos de a fazer e os que possuem qualidade no que fazem.


Nota intercalar:
A fotografia de Daguérre tal como a imprensa de Gutemberg podem ser – e são – considerados marcos na história da comunicação e do desenvolvimento da humanidade. E se a imprensa veio substituir o trabalho elaborado e elitista dos copistas, fazendo com que a mensagem por códigos-padrão (escrita) fosse acessível a todos e em todos os lugares, a fotografia veio “paralelizar-se” com a pintura no acesso à mensagem gráfica sem códigos-padrão (imagem).
Simplificou os processos de produção da imagem, passando a ser possível a qualquer um a sua produção e globalizou o seu consumo, passando a ser possível um sem-número de exemplares, fiéis entre si, todos originais (ao invés da pintura), e fora dos museus e galerias privadas.
Indo mais longe, e com a simplificação das técnicas fotográficas, deixou de ser necessário ser-se um especialista para produzir fotografias. A indústria evoluiu no sentido de deixar ao consumidor apenas o trabalho de apontar e premir o botão, deixando o trabalho monótono e elaborado da revelação e impressão para os laboratórios e técnicos especializados.
Actualmente, com os suportes digitais, mesmo aqueles estão quase que condenados à extinção, já que câmara e computador pessoal se completam.
Acontece que a simplificação dos processos elaborados (hardware) não veio alterar profundamente os processos intelectuais (software) da criação da imagem.
Continua a ser necessário “Pensar” na imagem, imaginar o resultado final, saber-se o que se quer mostrar ou contar, conhecer como transformar a tridimensionalidade e os cinco sentidos na bidimensionalidade e na exclusividade da visão. E, neste campo, não há tecnologia que simplifique. Há que pensar e sentir, mesmo que não se pense ou sinta que se está a pensar ou sentir.
E não nos enganemos: Isto dá trabalho! Muito trabalho! É a tentativa e erro, é o estudo, são as inúmeras frustrações por cada satisfação, é a paciência, é a pré-disposição diária para o fazer…
Mas, se pensarmos um pouquinho no comportamento humano, chegamos à conclusão que o bicho-homem não gosta de trabalhar. Toda a evolução das civilizações e das técnicas foi e é no sentido de facilitar as tarefas, de minimizar o esforço, de aumentar a satisfação. Fotografia incluída!
Donde a lei, quase universal, do menor esforço, não se coaduna com o trabalho físico e intelectual. Aquilo que se procura – uma forma fácil e sem esforço de fazer fotografia – é quase uma impossibilidade!

Temos assim que, no grupo humano dos fotógrafos, a evidencia do individuo se torna difícil porque trabalhosa.
Mais ainda, esta evidência não depende apenas do esforço do próprio mas também (e muito) do reconhecimento que o grupo lhe dá. Não basta fazer fotografias que agradem ao próprio: Têm que agradar ao grupo dos fotógrafos.
Mas o conceito “Agradar” é particularmente variável. Depende das correntes estéticas em voga, depende da opinião dos lentes académicos e daquilo que o mercado e negócio impõe.
Desta forma, aqueles que fotografam para “agradar”, que procuram o destaque no grupo, estão dependentes das variações culturais e das opiniões de quem influi. O ser-se bom não depende do esforço próprio.
Resta assim, àqueles que se querem evidenciar na fotografia e que não conseguem ser reconhecidos pela sua actividade, gritarem bem alto “Eu posso fazer porque tenho a melhor ferramenta!”
Deixou de ser uma afirmação no grupo pelo desempenho para passar a ser pela posse. E esta, porque material e mensurável, é comparável. E o que tiver a câmara mais sofisticada, a objectiva mais potente ou luminosa ou o laboratório ou PC mais completo é um “mais” no grupo. Afirma-se como elemento de destaque!

Claro que, no meio desta análise bastante cínica e materialista, quiçá minimalista, falta incluir alguns elementos da espécie humana: aqueles que, pertencendo a um grupo, não se preocupam em o ser ou em serem especiais no seu seio.
São aqueles que fotografam apenas e só porque lhes dá prazer fazê-lo e não para reconhecimento no grupo dos que fotografam. E para quem o reconhecimento é um factor acessório e não vital. Usam a fotografia como forma de expressão pessoal como outros fazem com a escrita, a pintura e outras “artes” E se os outros gostam ou não, problema deles. E, muito naturalmente, não se preocupam em se afirmarem pela ferramenta que possuem!
Alguns desta categoria obtêm do grupo – e da humanidade – o reconhecimento de qualidades. Alguns mesmo acabam por tirar proveito disso, já que conseguem juntar a actividade que lhes agrada com a actividade que lhes dá o sustento.
Alguns outros só tarde na vida, senão mesmo depois de mortos, são objecto desse reconhecimento de qualidade.
A uns e outros, é dada a categoria de mestria!

E, em chegando a este ponto e porque mais não me apetece escrever por agora sobre o tema (e muito haveria para dizer), resta-me deixar uma afirmação:
Nenhum daqueles que são considerados “Bons fotógrafos”, façam ou não disso o seu objectivo ou ofício, o conseguiram sem muito trabalho. E sem conhecerem, em profundidade, o mundo e o Homem!


Texto: by me
Imagem: “Um homem de caridade”, by Eugene Smith

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Uma sugestão



Por vezes, mesmo à porta de casa, encontramos pequenos tesoiros. No caso, um grande tesoiro.
A meia distancia entre o meu prédio e o café onde costumo tomar a bica matinal, este 2CV!
Entenda-se que um “dois cavalos”, da Citroën, não é um carro qualquer. Há mesmo quem afirme que ter um 2CV não é ter um automóvel, é ter uma filosofia de vida.
Poesias à parte, certo é que este carro marcou uma época, pôs rodas debaixo de muito cidadão de todas as idades e foi fonte de muitas aventuras e viagens através de todo o mundo.
O seu conceito de carro barato, acessível a todas as bolsas e capaz de andar em quase qualquer terreno só era suplantado pelo igualmente clássico “Willis”, o jeep que foi banalizado na segunda guerra mundial e pelo mais que famoso Land Rover, com a sua carrosseria em alumínio não enferrujavel.
Este 2CV está num estado impecável e, disse-me o seu orgulhoso dono, mais que parecer, todas as peças são de origem e que o motor girava como um relógio suíço.
A fotografia aqui exibida dessa relíquia da estrada, serve para lembrar a quem esqueceu e mostrar a quem nunca soube, que as janelas das portas de trás não se abriam. Só as da frente, e da forma inconfundível de um 2CV.
Contou-me quem sabia destas coisas, mas que também tinha uma boca e coração enormes, que este detalhe das janelas surgiu de experiências feitas em túnel de vento pelo fabricante, que constatou a perca de estabilidade e aderência caso as de trás abrissem, quando o carro atingia os 230 Km/h.
Nunca tive oportunidade de constatar a veracidade desta questão, já que nunca andei num 2CV em que estas janelas abrissem.
Verdade ou mito, certo é que, por antigos que fossem, nunca fiquei apeado por causa de uma avaria.
Para quem nunca andou nestes carros: se tiver oportunidade, não a perca, que é experiência única!

Texto e imagem: by me

A toxicidade das drogas - ingeridas ou vistas



As tendências liberais – ou neo-liberais como lhes chamam hoje – têm vantagens! Presumivelmente libertam o indivíduo à sua livre iniciativa, ao seu livre arbítrio (lá vem a Bíblia e outros livros “sagrados” à baila), permitindo que cada um faça o que entenda dentro das leis instituídas e das regras sociais aceites.
Também sabemos como os regimes totalitários (de esquerda ou de direita) foram e são perniciosos ou como algumas leis (porque impostas e não aceites, como o caso da lei seca nos USA) falharam redundamente.
O papel do estado e do governo é, entre outros factores, legislar e regulamentar actividades existentes, de forma a, sem coertar as liberdades individuais, obstar ou impedir actividades ou comportamentos que sejam considerados perniciosos para a sociedade.
Supostamente, os reguladores e legisladores são representantes da opinião e sensibilidades da população que os escolhe e elege.
Um dos exemplos da regulação e definição do que é ou não pernicioso para sociedade é o que acontece com as drogas. Muitas das que são proibidas por provocarem dependência, destruição orgânica e tráfico com os consequentes crimes associados, são usados como constituintes em fármacos. Setes, bem como outros que, não provocando dependência, podem ser perigosos, são administrados, tomados e vendidos segundo regras estritas como vigilância médica, exigência de receita e, nalguns casos, apenas em internamento hospitalar.
O mesmo sucede, por cá, com as armas. Indústria e comércio poderosos, a sua venda, posse ou uso estão fortemente condicionados por leis, licenças, épocas e locais.
A sociedade condiciona o uso do que produz aos benefícios ou prejuízos que tal produção provoca.

Claro está que, fortemente incitados pela iniciativa individual ou privada, pela sede do lucro ou pela falta de escrúpulos, pessoas, grupos ou empresas há que procuram por todos os meios como escapar às regras delimitadoras, indiferentes às consequências que a sua actividade possam provocar nos incautos que consumam os seus produtos ou serviços. A muitos chamam de “Criminosos”, a alguns de “Empreendedores” e a uns poucos de “Homens de sucesso”!

Uma das actividades que funciona quase incólume, irregulada e inconsequente é a da comunicação social.
O “quase” significa a existência de algumas leis e regras, bem como códigos deontológicos. A pornografia, a incitação à segregação social seja de que estilo for, o excesso de violência e outras vertentes estão mais ou menos regulamentadas.
De igual forma, existem códigos de conduta aplicáveis a jornalistas e à sua actividade. Não mentir, inventar, ocultar ou evidenciar opiniões em desfavor de outras, ser isento na abordagem aos temas tratados, ouvindo e mostrando as partes em desacordo…
No entanto, sabemos nós, profissionais da matéria, que é relativamente fácil contornar estas regulamentações ou códigos.
O volume de som, o equilíbrio de tonalidades ou o ruído ambiente condiciona a atenção que é dada ao que se escuta. A perspectiva ou escala de plano com que é mostrada pessoa ou objecto condiciona a empatia do espectador; Os jogos de luz e contraste, por vezes muito subtis, fazem carregar ou aligeirar os discursos explícitos ou implícitos a que se assistem; as posições relativas em cenário dos diversos intervenientes (alturas de cadeira ou mesas, fundos móveis ou estáticos) provocam tranquilidade ou o inverso nos espectadores…
Estas subtilezas nem sempre são institucionais. Dependem, muitas vezes, das simpatias de um operador, de um realizador, de um jornalista ou de um editor. Por vezes são difíceis de definir mas de eficácia garantida!
Estas manifestações da opinião pública – porque é disto que se trata – passam incólumes nas malhas da regulamentação ou fiscalização. Ou mesmo do público em geral.

Dirão os pró-neo-liberalismo que este tipo de actividades subsistirão apenas enquanto o público consumidor continuar a consumir. Havendo multiplicidade de escolha e não sendo a comunicação social – neste caso a televisão – obrigatórios ou imprescindíveis ao consumo, o público poderá sempre mudar de produto – estação – ou mesmo não consumir de todo, desligando o televisor.
Pois sim, isso seria verdade se! Se o consumo de televisão não fosse, nos tempos que correm, equiparável ao consumo de drogas!
O público mais avisado, seja qual for o seu estrato social, pode certamente fazer este tipo de opções. Muda de canal, vasculha os que recebe por cabo ou sonda os que chegam de satélite.
Mas isto será uma pequena parte de quem consome televisão! Que para a maior parte da população, a TV é o refúgio diário que contrabalança as atribulações da existência. Apresentam-lhe novelas cor-de-rosa, ou filmes fantásticos ou documentários exóticos onde podem esquecer o custo de vida, os impostos, as horas de labuta e as frustrações de consumo. Em boa parte, a TV substitui as conversas de família, a passagem de testemunho entre gerações, a partilha de experiências humanas e próximas.
E as estações de TV, sabedoras desta realidade, introduzem nos noticiários as desgraças, crimes e corrupções, recebidas como exorcismo às próprias desgraças pessoais. E usam o poder que detêm sobre o público para o influenciar e moldar, jogando com as audiências e publicidades. E com a dependência que o público, seja qual for o seu estrato social, tem da “caixa que mudou o mundo”!
É que, pergunta-se, quantos serão os lares que, por opção, não possuem televisor? Ou quantos serão as famílias que consomem menos de uma hora diária ou que não a têm ligada durante as refeições comunitárias?
E a teledependência é tão grave ou perniciosa quanto a toxicodependência. O problema está em que os traficantes de televisão não são objecto de legislação e punição como são os traficantes de droga. Mas, por outro lado, os traficantes de droga não são eleitos, não são políticos nem governantes ou legisladores. Que se saiba!

A questão do livre arbítrio e da liberalização da produção e consumo de comunicação social e de TV passa, antes de mais, por uma verdadeira consciência do consumidor sobre os efeitos nefasto do que o seu consumo pode produzir.
E isto não existe. Ainda!


Texto e imagem: by me

terça-feira, 26 de abril de 2011

Ai de mim se não for eu!

 Uns minutos de fama by datreta

Onze



As tais onze varas…

… em que estamos metidos!

By me
“De tudo o que vem escrito nos jornais, só acredito na data e no preço.” – Eduardo Mazo

E eu acrescento: Na pantalha televisiva não consta nem uma coisa nem outra!

Girando



Nem sempre as coisas vêm quando, como e onde queremos ou esperamos.

A melhor hora para vaguear num centro comercial é entre as 19 e as 20/20.30h. Os da tarde já saíram, os da noite ainda não chegaram… Com a cabeça meio vazia de ideias, por vezes é um bom lugar para, mantendo o corpo em movimento, deixar a mente passear algures nem se sabe bem onde.
Tal foi o caso deste dia em particular.
Parei junto a uma loja de brinquedos. O que esta tem de particular é quase tudo o que vende é em tecido, madeira ou metal. Praticamente nada em plásticos.
Entrei, mais numa de curiosidade que para comprar fosse o que fosse. Mas acabei por ficar com o olhar preso em algo que comprei e uma ideia me assaltou. Perguntei mas não tinham.
Um pião! Faz muito tempo que não vejo um, mais ainda um a rodar e muito mais tempo que não atiro um. Para o solo ou para cima de outro.
Refiro-me aos de madeira, propulsionados por uma corda ou cordel. Apenas para rodar no chão, conseguir pô-lo a rodar na mão ou, bem mais agressivo, no jogo do descasca.
Este, que encontrei noutra loja do mesmo centro, são bem mais suaves, sem o bico afiado que quebrava ou lascava os pobres irmãos onde poderia acertar.

Vinda a hora de jantar, lá fui para onde costumo parar por estas bandas. Sentei-me e após o pedido estereotipado, tentei que ele falasse comigo. A rodar, direito ou invertido, na mão, nas mãos, nos dedos, entre os dedos… Passeei-o e passei-me no tempo em busca de recordações longínquas e das palavras-chave que haveriam de brotar do aparo sobre o papel. A foto ficaria para depois, então se veria o que seria.

A meio da pizza sou interrompido. A chefe de sala, com um sorriso bem simpático a condizer com todo o resto dela e com as suas palavras, veio saber o que estava a fazer aquele cota barbudo ali, sozinho, a bambolear um pião nas mãos e com o olhar bem para além do Bojador.
Lá lhe expliquei, por alto, o que me movia e ao pião. Surpresa!
Aquela Susana, de 25 anos, recordava-se do seu avô (seria bisavô?) que os fazia à mão, com cavilhas de ferro e torneados com a navalha que pendia fundo no bolso de qualquer português. Pelo menos, dizia ela, lá para os lados das caldas, onde crescera.

Ter nas mãos um pião de madeira feito industrialmente num qualquer país da União Europeia, durante um jantar solitário num estabelecimento de uma cadeia internacional, dentro de um centro comercial e encontrar uma jovem descendente de um fabricante artesanal de piões! Não é todos os dias!!!
Não só não é todos os dias como se sobrepôs por completo a qualquer outra coisa que quisesse contar sobre piões.
O mundo gira, gira, gira como um pião.


Texto e imagem: by me

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Luz



Ao longo dos anos vários têm sido os que me questionam sobre a minha preferência de uma luz de recorte (ou contra-luz, ou back light ou hair light ou luz de trás) intensa.
Curiosamente só de há uns tempos a esta parte me apercebi que, de facto, essa é a minha luz preferida, seguida de perto por uma luz lateral em relação ao eixo de observação ou de captação.
Por resposta encontrei várias possíveis, de índoles bem diversas.

Numa primeira abordagem, uma luz de recorte intensa é fácil de trabalhar e de, com ela, se obterem resultados se não espectaculares, pelo menos menos comuns. É que basta que a luz vinda de perto do eixo de observação seja suficiente para se perceberem os detalhes e sem sombras contrastadas. A outra, a de recorte ou de trás, pode ter a intensidade que se quiser (1:3, 1:5, 1:10, por comparação com a frontal) que é aceitável alguma falta de controlo sobre ela desde que fique a “queimar” ou quase.
Desta forma, as definições dos diversos planos, os jogos de contraste assim criados e o evidenciar do ou dos centros de interesse na imagem não só são fáceis de criar como de fácil leitura por parte do público. Talvez que o factor preguiça me tenha levado por este caminho.

Mas outras repostas podem ser encontradas, não tão simples.
A luz que vemos e que fotografamos é, as mais das vezes, a reflectida dos objectos. Vinda de uma qualquer fonte (natural ou artificial, apenas disponível ou laboriosamente trabalhada) os raios luminosos incidem no assunto e são reflectidos. Em regra não na totalidade, já que parte dessa energia luminosa é absorvida pelos materiais (e chamamos a isso cor) ou atravessa-os na proporção em que são permeáveis (e chamamos a isso translucidez ou transparência).
Em qualquer dos casos, definimos leis e regras científicas para a radiação, reflexão e refracção, regras essas que quem usa a luz como matéria-prima tem que conhecer medianamente bem.
Mas a verdade é que a esmagadora maioria da luz que traduzimos em “ver” e em “fotografar” é a reflectida. O que significa, na prática, que aquilo que vemos e registamos é, apenas, a superfície dos assuntos. O seu interior, quer lhe chamemos “recheio”, “alma” ou “para além de” fica oculto ou ofuscado por essa reflexão de superfície.
Sendo verdade sou um eterno curioso (um eufemismo para metediço) em relação ao que me cerca, tenho tendência para tentar conhecer o mundo um pouco mais além da superfície aparente.
Uma forte luz de recorte ou contra-luz permite que, ao resvalar nas arestas ou atravessar o assunto se for esse o caso, aquilo que vejo e registo vá um pouco para além das aparências da superfície. Não apenas no conceito metafórico do termo mas também no real, usando a translucidez ou transparência dos assuntos fotografados.
Claro está que este “ir para além da superfície” será, as mais das vezes, uma questão interpretativa. Mas também o é toda e qualquer fotografia, por muito técnica ou “fiel”que queiramos que seja.
E, muito naturalmente também, esta não será uma abordagem que eu use exaustiva ou exclusivamente. Mas, em situações normais, tenho tendência para a procurar ou provocar.

As explicações quanto a esta minha preferência não se ficam por aqui: acontece que sou do contra!
Tenho uma atitude de contestação generalizada na vida (já me disseram que a primeira palavra que terei dito conscientemente terá sido “Não!”). Assim, e se a grande maioria dos fotógrafos, conceituados ou anónimos, procura a luz frontal, mais suave ou mais contrastada, na moda, na arquitectura, na paisagem, no retrato, na paisagem, na reportagem, faz todo o sentido que a minha atitude contestatária me leve a procurar outros caminhos, no caso, outros tipos de luz. O próprio termo “contra-luz” é bem elucidativo!

Um outro motivo, desta feita não congénito, pode explicar esta preferência por fortes contra-luzes:
Há quase uma vintena de anos que perdi a capacidade de visão normal da vista direita. Mantive a visão periférica, mas a frontal, a de detalhe, transformou- se numa mancha cinzenta, irremediavelmente.
Com esta “menosvalia” perdi também a capacidade de avaliar distâncias de forma convencional: a visão estereoscópica desapareceu por completo. O que me levou a encontrar soluções no quotidiano para resolver as coisas mais simples, como o saber a que distância se encontra um carro, ou o enfiar a linha numa agulha ou o descer de uma escada.
Mas o cérebro humano é bem mais poderoso que aquilo que imaginamos e encontrei inconscientemente soluções alternativas: o tamanho aparente dos objectos ou a sua sobreposição (perspectiva, a ferramenta do fotógrafo) e, obviamente, as sombras que eles provocam (luz, a matéria-prima do fotógrafo).

Acontece que se as sombras se projectarem para além do objecto, não são visíveis porque tapadas. É bem mais fácil calcular distâncias se as sombras se projectarem para o nosso lado. Ou seja: se a fonte de luz que as provoca estiver para além do objecto – contra-luz.

Seja como for, há que admiti-lo, esta preferência por este tipo de luz para fotografia tornou-se bem mais fácil de pôr em prática com o recurso à fotografia digital e ao processamento no computador. A tentativa e erro no controlo de contrastes é muito mais acessível e bem mais barato (a custo zero e tempo mínimo) que nos tempos do diapositivo ou do negativo.

Em qualquer dos casos, e seja qual for o principal motivo ou motivos para se gostar de um dado tipo de luz (ou composição, ou perspectiva, ou proporções de imagem ou o que quer que seja) será bom que cada um o perceba e saiba.
Para saber porque o faz e disso tirar proveito ou, pelo contrário e se as circunstâncias assim o exigirem como seja um cliente, poder evitar o excesso de personalização.
E parar para pensar naquilo que fazemos e de que gostamos, mais que gastar tempo, é saber usá-lo.


Texto e imagem: by me

Dúvida



Há meia dúzia de anos, disse-me um jovem em início de carreira:
“O 25 de Abril pode ter sido tudo isso, mas o certo é que me deu a possibilidade de hoje estar a trabalhar e receber a dobrar.”

Quando as liberdades são entendidas apenas como uma forma de ganhar dinheiro, mais dinheiro, pergunto-me se valeu a pena terem-se posto cravos nas pontas dos canos ou se não teria sido preferível deixar que o chumbo quente cumprisse a sua função.
Ou se não estará agora na altura de o fazer.

Abril



As revoluções são feitas e depois a vida segue o seu curso normal. É fácil.

O que é mesmo difícil é fazer a revolução das mentalidades.
Há mais de dois séculos, estas foram as palavras de ordem na revolução francesa.

Ainda hoje estão por cumprir!

Um cravo



No caminho do trabalho para casa vi fogo de artifício. Para comemorar o 25 de Abril e a Revolução de 1974.
Caramba, como estão errados os que o promoveram e lançaram. Que desperdício!
Guardem a pólvora para carregar os cartuchos e as canas para limparem os canos. Que muito em breve, e a menos que todos nós façamos algo de diferente do que temos feito até agora, essa será a única solução.
Espero apenas que saibamos acertar nos alvos certos!

By me

domingo, 24 de abril de 2011

Teve sorte!



Na cerimónia de início de um encontro de andebol feminino, entre as selecções Portuguesa e Romena, disse alguém junto a mim sobre a segunda:
“Olha tantas sérias candidatas a mulheres da limpeza.”
Teve sorte, o tipo: Não me apeteceu levantar da cadeira onde estava sentado. Porque se estivesse de pé, tinha-lhe enfiado a cadeira pela cabeça abaixo e acrescentado:
“Pois! E a enfermeiras e médicas também. Acho que precisas de ambas!”

Texto e imagem: by me

Teria bicho?



By me

Para que conste



Disse-me quem sabe, e que estudou para o saber, que faz hoje, 24 de Abril, 37 anos que foi o último dia em que os programas de ensino eram diferenciados entre Portugal Europeu e Portugal Africano.
Que os conteúdos eram menores e menos exigentes, com o fito encapotado de não dar oportunidade a quem aí estudava de poder atingir a elite do País.
Fica a informação para que aqueles que por ignorância lamentam o que amanhã, 25 de Abril, se comemora, para que saibam aquilo que não viveram e que alguns fizeram o favor de vos evitar.

Texto e imagem: by me

sábado, 23 de abril de 2011

Páscoa feliz



Estamos em plena Páscoa, época de renascimento e das primícias da natureza. Conceito bem utilizado pelo cristianismo, recuperando as velhas festas pagãs de bem antes da invenção da escrita.
Mas também estamos em plena época de crise, por uns definida como maior que aquilo que sabemos, por outros classificada como um exagero por parte de políticos e economistas para seu próprio benefício.
Em qualquer dos casos, é habitual nesta altura oferecer pequenas lembranças e fazer votos de “boa Páscoa” ou equivalente.
Não sou menos que os demais, pelo que aqui façam os meus votos e uma prenda, adequada aos tempos que vivemos: um ovo de madeira.
Tem a referência ao renascer da natureza e tem a vantagem de poder ser reutilizado ano após ano, sem desgaste ou perca de qualidade. Economia, portanto.
Além do mais, ainda pode ser útil para passajar meias, para aqueles que o sabem fazer ou para aqueles que entendem que fazê-lo será uma forma de poupar. A linha, a agulha e o dedal ficam por vossa conta.

Texto e imagem: by me

Com doces e bolos



O texto que se segue é aquilo a que se poderá chamar “Politicamente incorrecto”!
Surgiu agora na sequência de uma pergunta, dúvida ou mal-entendido algures num outro fórum a que pertenço. Foi escrito em cima do joelho, na verdadeira acepção da palavra, numa pausa entre dois programas, sentado na escada do pátio onde vamos fumar o cigarro da nossa impaciência.
É a materialização de ideias antigas e um re-escrever de memória de um outro semelhante escrito e apresentado há mais de 30 anos, numa aula da filosofia. Valeu-me então fortes críticas e contestações.
Mas o meu sentir de então não mudou, talvez apenas as palavras e a construção das frases. Assim como alguma pesquisa para rigor de factos.
Aqui fica, tal como saiu da caneta para o papel.

Nos finais do séc. XIX os equipamentos militares eram francamente diferentes dos de hoje.
A cavalaria era mesmo composta por cavalos e não por carros blindados, a artilharia não possuía o alcance e a eficácia da actual e os aviões estavam ainda a descobrir como levantar voo.
Por isso, o eliminar do inimigo de uma posição fortificada (cidade, castelo ou trincheira) processava-se essencialmente à força de braços e de pernas: após o tiro de barragem de artilharia que supostamente abriria brechas nas fortificações e linhas inimigas, a infantaria carregava contra elas de espingarda em riste e baioneta calada. Os defensores ripostavam a tiros de canhão, de espingarda, de granada e, em último recurso, no corpo-a-corpo.
Ganhava quem tivesse mais gente ou munições.
Mas até que a infantaria assaltante chegasse às linhas inimigas, os canhões faziam razias nas tropas ofensivas. Das primeiras vagas de assalto, poucos eram os que se salvavam ou ficavam incólumes.
A esta massa humana que tombava em frente às trincheiras chamavam “carne para canhão”. Que marchava de peito descoberto contra os canhões que os massacrava.

O Hino Nacional Português, que se chama “A Portuguesa”, foi escrito e composto em finais do séc. XIX, em 1890, com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfred Keil.
Glorifica a pátria e a sua defesa a qualquer preço, incitando os patriotas a lutarem por ela até ao alento final, ao sacrifício último, até “marcharem contra os canhões”. Até serem carne para canhão!
Não há guerras limpas! São todas sujas de sangue, ossos, vísceras e cérebros esparramados nas terras de ninguém das frentes de combate ou nas retaguardas bombardeadas.
A “Doce morte do herói” é um mito construído por poetas e ideólogos que, longe do horror da carnificina, se imaginam vitoriosos.
Todos, ou quase, os que declararam guerra ficaram na retaguarda, protegendo a sua integridade com a necessidade da estratégia.
As vitórias declaradas por generais e políticos, foram-no assentes na “carne para canhão” que marchou sobre as trincheiras e sucumbiu enlevada por cânticos como A Portuguesa.
Mas não pensemos que somos piores que os demais. A maioria dos hinos nacionais baseia-se no mesmo conceito: Que há que dar o corpo ao manifesto e a vida em defesa de ideais patrióticos. Que a maioria dos que a dão ou não entende ou desconhece.

Estará, talvez, na altura de pensarmos no significado das palavras que se cantam e ver bem a cor dos “Doces e bolos com que se enganam os tolos”!


Texto e imagem: by me

Quase graffity



By me

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Urban Sunset



Just for the fun, again, sorry.

By me

Sinais



Já foi há uns anos e o dia estava farrusco.
O céu cinzento, claro mas cinzento, tinha demonstrado toda a manhã o motivo da sua cor, molhando sem aviso os incautos transeuntes. A juntar a tudo isto, um vento inconstante que, com as suas rajadas, ameaçava arrancar-me o chapéu da cabeça.
O caminho era o do costume, entre a casa e a estação, a mente algures lá por cima das nuvens, uma mão segurando o cigarro, a outra tentando manter a cabeça coberta. Os pés seguiam, compassadamente, o trajecto mais que sabido, evitando poças de água de profundidade desconhecida.
Eis senão quando, ao dobrar de uma esquina, fiquei cego. Enfim, talvez não cego, mas ofuscado certamente. Nada mais conseguia ver que não apenas aquilo onde os olhos se prenderam: Uma garota, dos seus vinte e muitos anos, que subia a rua no passeio oposto.

Se não lhe tivesse visto o rosto, nada teria acontecido. Não possuía um corpo escultural, não tinha um andar especialmente provocante e não estava vestida de forma mais vistosa ou atraente que qualquer outra na rua, no bairro ou na cidade.
Mas o seu rosto, de tão suave, sereno e perfeito, transformava aquela figura quase banal em algo fora de série, obrigando-nos a parar e admirar aquela visão fugaz.
Lá admirar, admirei eu. Agora parar é que não. E esse foi o meu erro!
Os meus pés, se bem que bons conhecedores do caminho, não possuem visão própria, pelo que estavam em piloto automático. E sem radar.
E conduziram-me em rota de colisão, súbita e violenta, com um inocente poste de sinalização automóvel. E com o qual demonstrei, sem margem para dúvidas ou erros, as leis da acção e reacção. A cabeçada que lhe dei foi tão intensa que me obrigou a dar dois passos atrás, sem norte e com uns impropérios pouco dignificantes.

Aquele rosto elfico, tal como o resto que o suportava, não se apercebeu do episódio, seguindo o seu caminho. Mas as gargalhadas que ouvi de outros passantes, fizeram eco das que eu próprio proferi, passada que foi a surpresa da situação.
Aquele rosto, não sei se o tornarei a ver. Agora o poste, essa garanto eu, não mais saberá a velocidade a eu me desloco a pé!

Texto e imagem: by me

Um livro



Há vários motivos para comprar um livro:
O autor e a sua obra é-nos conhecido e queremos continuar o prazer de o ler;
Alguém a quem damos credibilidade nos recomendou a obra ou o autor;
Numa livraria, um qualquer impulso desconhecido nos levou a pegar naquele em particular, e não o do lado;
O assunto em particular nos interessa – livro técnico, ensaio, prático…;
Há algum tempo fui comprar um livro porque tive oportunidade de conhecer o seu autor, lá no Jardim da Estrela onde passei uns bons três anos, e fiquei curioso de saber o que aquela personalidade apaixonante tinha para nos contar: Antonio Skármeta.

Desta feita foi um pouco diferente.
Conheço o autor, pelo menos um dos autores. Não o seu trabalho enquanto escritor, mas tão só pessoal e profissionalmente. E fiquei curioso de saber o que aquela pessoa escreve, fora do quotidiano e do stress laboral.
Procurei-o, pedi-o na livraria, recusei o respectivo saco de plástico e coloquei-o na minha mochila.
À noite, ao jantar num restaurante conhecido aqui da minha freguesia, tirei-o do saco e posei-o em cima da mesa. Tive que afastar todas aquelas coisas que eles colocam em cima da toalha para que não pareça vazia, mas ali ficou.
E ficou. E ficou. E ficou. Que não tive coragem em o abrir e estrear.
Um restaurante conhecido é um bom local para escrever ou ler, quando estamos sós com o repasto: a refeição, os empregados, e até os comensais são-nos conhecidos, mesmo que não interajamos com eles. Permite-nos uma boa dose de intimidade e solidão, conduzindo-nos, caso o queiramos, para a actividade extra ao comer. É assim como que jantar connosco mesmo ou com o autor das linhas que connosco dialoga.
Mas, desta vez, acabei por jantar sozinho. O meu interlocutor esteve ali, à mesa, o tempo todo, mas não lhe dei oportunidade de comigo falar. Até agora.
Ainda estou para saber se, de facto, quero conhecer aquela pessoa do outro lado da actividade profissional. Se quero ler as suas palavras e conseguir esquecer as que lhe oiço de viva voz. Se conseguirei, depois de partilhar estes seus escritos, ver da mesma forma o que faz à margem do que escreve.
Sei que sou teimoso e que dificilmente resisto a um livro. E que, mais cedo ou mais tarde (talvez mais cedo) acabarei por o ler.
Mas, até lá, ficará este interessante suspense, não do livro, mas em torno do livro.
Coisas…!

Texto e imagem: by me

Frustrações e luta



Nascidos no pós-25 de Abril juntam-se contra risco de "retrocesso civilizacional"
Indignados com o Portugal de hoje, nascidos no pós-25 de Abril de 1974 juntaram-se num manifesto contra o risco de "retrocesso civilizacional" no País, perante a "precariedade no trabalho" e o "desinvestimento" em direitos adquiridos com a Revolução.
A poucos dias das comemorações dos 37 anos da Revolução dos Cravos, mais de 60 subscritores do documento consideram que muitas das conquistas, com as quais se identificam enquanto "filhos de Abril", estão a diluir-se.
"O Inevitável é Inviável", assim se designa o manifesto, é assinado, nomeadamente, por artistas, estudantes, desempregados, activistas de direitos das mulheres e dos imigrantes e organizadores do protesto "Geração à Rasca".
O escritor José Luís Peixoto, a compositora Celina Piedade, a jurista Marta Rebelo ou o humorista Jel, dos Homens da Luta, e Tiago Gillot, do movimento Precários Inflexíveis, são alguns dos nomes que dão voz ao manifesto.
Um "grito de alerta" contra a ideia de que "só há uma saída" possível, a das políticas de austeridade, para os problemas que Portugal enfrenta, assinala à agência Lusa Lídia Fernandes, desempregada, uma das subscritoras do documento.
E que problemas Portugal enfrenta? "Tendência para 'precarizar' as relações de trabalho, diminuir o investimento no emprego, enfraquecer e desmantelar o Estado social, com cortes na saúde, educação e protecção social", enumera.
Os subscritores do manifesto reclamam alternativas, que, para a activista dos direitos das mulheres e dos imigrantes, "não podem ser no sentido de um retrocesso civilizacional e democrático" em que o País está "em risco".
É que, segundo Lídia Fernandes, existe em Portugal o perigo, "dificilmente reversível", de "um recuo grande" em termos de direitos económicos, cívicos e sociais.
Uma opinião partilhada por Miguel Cardina, outro dos subscritores do "grito de revolta" contra a situação actual do País, onde "as pessoas vivem mal".
O historiador, que integra o movimento anti-austeridade Portugal Uncut, fala num "ataque constante, muitas vezes subliminar", a "conquistas de Abril" como o emprego, a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde e teme o "agravamento das desigualdades sociais", o "perigo de alterações constitucionais", o "desmantelamento" da saúde gratuita para todos.
Por isso, defende uma "mudança política e social", que envolva toda a sociedade, porque "a democracia não é compatível com a inevitabilidade" da crise e da intervenção externa do Fundo Monetário Internacional.
João Labrincha, um dos organizadores da manifestação "Geração à Rasca", que juntou em Março milhares de portugueses nas ruas, advoga "uma renovação do espírito do 25 de Abril", até porque "muitas das coisas pelas quais as pessoas lutavam na altura continuam a ter muita actualidade" e, nalguns casos, ressalva, "tem havido alguns retrocessos", dando como exemplo a "precariedade laboral".
Licenciado em Relações Internacionais mas desempregado, Labrincha sustenta que a democracia alcançada em 1974 só ficará "completa" com "uma participação cívica mais activa". E isso, critica, tem faltado ao longo de 37 anos.

Texto: in Público.pt
Imagem: by me

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Just for the fun...



... if you don't mind.

By me

Conservas na linha



De uma forma ou de outra, creio que todos aqueles que fizeram o velho “Inter Raill” têm estórias para contar. Eu não sou excepção.

A uma semana de terminarem as férias, no meio de França, fiquei sem 100 Francos. Não sei se perdidos se roubados. Certo é que eram o que eu usaria para o tempo que me restava, pelo que fiquei naquilo a que se pode chamar “estado de penúria”.
Rumei a Paris, verifiquei o que havia de composições regionais que me levassem de regresso a casa (os expresso estavam fora de questão, que implicavam suplementos), paguei o que haveria de pagar para o meio bilhete do território Português, abasteci-me de tabaco para os três dias de viagem que se anteviam e, dos trocos sobrantes, ataquei a máquina dos chocolates. Três dias com esta dieta não será o mais recomendável, mas quem pensa nisso nessas circunstâncias?
E lá fui, em composições ronceiras e lentas, atravessando meia França e Espanha sob o sob abrasador finais de Julho, que então ar condicionado só para primeira classe.
Pela tardinha do segundo dia surge o enésimo revisor que, meio a sorrir, meio de cara séria, nos informou que não poderíamos seguir para Lisboa, que os comboios portugueses estavam de greve. Imagine-se como fiquei, sem dinheiro ou comida, na perspectiva de ficar a meio da noite na fronteira e sem saber como ou quando haveria de chegar a Lisboa.
Mas pior que eu estava uma mocinha que conhecera nos entretantos: da minha idade, mais coisa, menos coisa, era Cabo-verdiana e não falava nada de português ou Castelhano. Apenas Criolo e um pouco de Francês. Foi nessa língua que lhe expliquei a situação e foi nessa língua que lhe afirmei que alguma coisa se haveria de resolver. (Nada enche mais o ego de alguém aflito que ajudar quem estiver ainda mais aflito!)
Cruzámos a fronteira a pé, nós dois e mais as muitas dezenas de viajantes nas mesmas condições e, já na estação portuguesa, fomos informados, no meio de grande confusão, que pelas quatro da manhã haveria de chegar o Sud Express vindo de Paris, para o qual haveria camionetas para Lisboa e Porto. Se quiséssemos esperar…
Claro que esperámos, mas o problema era mesmo a fome, que para comer já nada havia. Ainda tentei trocar as poucas moedas francesas que me sobravam, mas só aceitavam notas.
Recorri então aos trocos portugueses, guardei a bom recato o necessário para o autocarro em Lisboa, e do restante tratei de providenciar um jantar para dois.
Num tasco, aberto toda a noite, comprei uma lata de sardinhas e um pacote de bolachas, torradas se a memória me não falha. Tudo regado com água de um fontanário, daqueles de latão e torneira como já vão sendo raros de encontrar, e bebido no púcaro de alumínio que me ia fazendo as vezes copo. No final, o mesmo púcaro serviu para fazer chá, que disso ainda tinha na mochila, fervido no fogão que trazia.
Garanto que nenhum mestre Groumet dos tempos de hoje nos poderia ter satisfeito tanto quanto aquele jantar, sob as estrelas e as espaçadas luzes de um minúsculo jardim lá existente.
À hora prevista, com os atrasos normais dos Tugas, lá embarcámos nas camionetas e, meio a dormir meio acordados, chegámos a Lisboa, onde a entreguei, lavada em lágrimas, à tia que em Santa Apolónia a esperava, igualmente de cara molhada (há trinta e tal anos não havia telemóveis, ok?).

Terá este resto de lata de conservas uma estória parecida?

Texto e imagem: by me

Bi-cromático



Por vezes necessitamos de uma ajudinha extra para mantermos a certeza de estarmos a trabalhar em cores!
E fico curioso em saber qual a eficiência térmica, no verão, deste edifício.

By me

iPhone regista localização dos utilizadores em ficheiro escondido - Tecnologia - PUBLICO.PT

George Orwell tinha um iPhone ou um iPad?


iPhone regista localização dos utilizadores em ficheiro escondido - Tecnologia - PUBLICO.PT

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Por vezes acertam



ERC quer todos os candidatos nos debates televisivos

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) quer tempo de antena igual em debates e entrevista para todos os candidatos às legislativas de 5 de Junho, numa altura em que as televisões já acordaram debates apenas com os partidos com assento parlamentar.
Num comunicado hoje emitido, a ERC lembra que no que se refere a debates e entrevistas “deverá ser assegurada a presença, ainda que não necessariamente simultânea, de representantes de todas as candidaturas”
Numa altura em que o Movimento Partido da Terra e o PCTP/MRPP já se queixaram por terem sido excluídos dos debates televisivos, a ERC chama ainda à atenção para uma sua directiva de 2009 sobre participação de candidatos a eleições em debates, entrevistas, comentários e outros espaços de opinião nos órgãos de comunicação social: “é aplicável, nos períodos eleitorais, um princípio geral de igualdade de oportunidades de acção e propaganda das candidaturas durante as fases da pré-campanha e da campanha eleitoral, tal como consagrado na Constituição, na Lei e na jurisprudência dos tribunais”.
Lembra também que este princípio “é aplicável a todos os órgãos de comunicação social” e, “designadamente, àqueles que contem com membros das candidaturas como colaboradores regulares em espaços de opinião, devendo ser garantida a todas as candidaturas, de forma eficaz, a igualdade de oportunidades acima referida”.
“No caso da rádio e da televisão, são também abrangidas pelo acima disposto as participações de membros das candidaturas noutros géneros de programas para além dos estritamente informativos”, acrescenta.
A ERC diz que esta sua directiva abrange “ órgãos de comunicação social dos sectores da imprensa, rádio e televisão, de âmbito nacional, regional e local, os respectivos sítios na Internet e os jornais digitais”.

Texto: in Público.pt

Aprendiz



Há uns anos atrás, numa das minhas idas mais ou menos regulares a Barcelona, levei comigo uma sobrinha adoptiva.
Uns meses antes, aquando de um jantar com os seus pais, amigos de longa data, virei-me para ela e perguntei-lhe: “Como é? No verão queres ir comigo a Barcelona?”
Ficou a olhar para mim com cara de tola, os pais a rirem da brincadeira mas, nesse Setembro lá estivemos, 10 dias a ver e viver o possível para ambos.
Um dos locais onde não podia deixar de a levar foi o Museu Picasso. Ainda que não possua as principais obras do génio, cobre toda a sua vida, todas as suas fases, tendo, entre outros, muitos trabalhos da sua infância e esboços de trabalhos maiores e famosos.
No final, perguntei-lhe sobre o que mais havia gostado, entre o que tinha visto e aquilo que eu lhe tinha conseguido explicar.
A resposta foi bem clara, para quem tinha onze anos à altura: “Das pinturas de quando ele era criança e pintava como as pessoas!”

Vem esta estória a propósito de ver e ouvir dizer que não se gosta de regras e convenções.
Posso presumir – e saber – que Picasso, Miro, Dali e tantos outros, também não gostavam de regras e convenções e que, quando partiram para o seu estilo próprio e inovador, foi uma tentativa de quebra com todas elas.
No entanto, qualquer um deles dominava, ou tinha dominado, as formas de representação plásticas convencionais, de acordo com as regras estéticas em vigor.
Não apenas porque as estudaram e aprenderam como, querendo expressar os seus próprios sentimentos e emoções e que eles fossem entendidos por outros, tiveram que recorrer às convenções, códigos e regras existentes.
O que aconteceu foi que, a dado passo, se sentiram insatisfeitos com o que faziam, pois que não o interpretavam como representando o que lhes ia na alma. Partindo das convenções, começaram a inovar, variar, quebrar as regras e códigos estéticos instituídos até encontrarem uma outra linguagem. Onde eles próprios se reconhecessem e que outros, com sentimentos na mesma linha, os reconhecessem e aos seus sentimentos.

Por outras palavras, num circulo de comunicação restrito, criaram outras e novas formas de comunicação, com outras e novas regras e convenções.
Porque, na total ausência de regras e convenções, a comunicação não existe, já que quem vê não entende quem pinta (fotografa, compõe, filma, dança…)
Indo mais longe, o simples facto de nos exprimirmos define uma convenção ou regra, já que o seu autor convenciona ou define que aquele gesto, aquela cor, aquele som ou aquela organização de espaço corresponde a um dado sentimento seu. É um ícone ou a substituição de algo impalpável por algo material ou não, visível ou audível.

Aquilo que eu gosto de ouvir ou ler é, antes sim, que não se gosta destas regras ou convenções. Porque não satisfazem, porque não correspondem aos sentimentos ou porque representam uma geração com a qual se quer quebrar amarras e criar distância. Ou ainda porque essas regras ou convenções nos sufoca e prendem, aspirando nós a outros voos.
É isto que gosto de ler ou ouvir, principalmente se seguido por algo nesta linha:
“Não gosto disto, não me satisfaz, não me identifico com estas regras, convenções, linguagem! Vou partir e encontrar o meu próprio caminho, a minha própria forma de expressão, as minhas próprias regras, convenções, códigos!”
Quando oiço ou leio isto, a minha reacção é sempre a mesma: “ Aleluia! Mais um que aprendeu a pensar e que nos vai ensinar algo de novo! Deixa-me aprender contigo!”
Porque, enquanto por cá andar, serei sempre um aprendiz. E é tão bom!...


Texto e imagem: by me

terça-feira, 19 de abril de 2011

Assim vai a democracia dos media ou os media na democracia.



“Posso não concordar com o que dizes, mas bater-me-ei para que o possas dizer!”

Do Jornal Público:
“PCTP/MRPP admite apresentar providência cautelar contra debates televisivos
Garcia Pereira, cabeça de lista por Lisboa do PCTP-MRPP, admite apresentar uma previdência cautelar contra os debates televisivos das legislativas de 5 de Junho por, mais uma vez, deixarem de fora os partidos sem assento parlamentar.
Garcia Pereira classifica a ausência do seu partido e dos outros dos debates televisivos como uma “patifaria inqualificável” de que “todos os democratas e patriotas se devem demarcar.
O candidato acrescenta que o seu partido vai analisar a apresentação da previdência cautelar contra os debates, mas admite que, como já aconteceu no passado, ela possa não ter efeitos efectivos. “Nas presidenciais anteriores às de Janeiro deste ano, os tribunais arranjaram maneira de não tomar uma decisão em tempo útil contra esta patifaria anti-democrática”, afirmou ao PÚBLICO.
Garcia Pereira diz ainda que esta exclusão dos debates dos partidos sem assento parlamentar como “uma tentativa dos partidos instalados no poder impedirem a opinião dos que pensam diferente e para quem, cada vez mais, às pessoas se estão a voltar”.
“Os debates televisivos entre 6 e 20 de Maio só com os cinco partidos parlamentares, já combinados entres estes e as televisões, constituem um atentado à democracia e uma fraude eleitoral, visando perpetuar no poder os que são responsáveis pela actual situação do país, e que todos os democratas devem repudiar”, acrescentou.
A Comissão Nacional de Eleições emitiu já uma parecer em que pede aos órgãos de comunicação social que tratem de forma igual todos os partidos que concorrem à eleições legislativas de 5 de Junho.
O PCTP/MRPP, fundado há 40 anos, concorreu a todas as eleições legislativas com listas em todos os círculos nacionais desde 1976 e é neste momento o partido sem assento parlamentar com maior expressão em número de votos, tendo ultrapassado em 2010 a barreira dos 50 mil votos.”

Prazeres



Foi um daqueles prazeres animais, quase orgásmicos, o que tive ontem:
Depois de uns dias de calor intenso, de a terra e as plantas terem secado e de as nossas próprias roupas terem encurtado em comprimento e espessura, lá para o fim da tarde começou a chover.
Umas pinguitas apenas, de início, fazendo quase imperceptíveis poças no chão impermeável, que a terra tratava de absorver. E foi este absorver, este cheiro a terra quente recém molhada que quase me deu vontade de me deitar na erva e deixar-me levar por inteiro nesse inebriar de sentidos.
Prevaleceu o bom-senso e o não querer “sujar” a roupa, que estava a trabalhar.
Os deuses, que ontem deveriam estar a olhar por mim, acharam que me deveriam dar mais daquilo que estava a gostar. E as pinguitas passaram a grossas e frequentes gotas, a ponto de já não serem absorvidas e correrem por entre as folhas de erva e entupirem as sargetas. E, para que eu visse bem aquilo de que gosto, deram-me os deuses a luz, muita e frequente, rasgando o céu em traços impossíveis.
Não tendo comigo nem tripé nem cabo disparador, e muito menos tempo para fazer o registo das luzes celestiais, fiquei-me por isto, fraco registo do prazer animal de um citadino.

Texto e imagem: by me

segunda-feira, 18 de abril de 2011

domingo, 17 de abril de 2011

Manias minhas



Este seria um espectáculo que eu gostaria de ver.
Por aquilo que tenho visto em televisão, deve merecer a pena ser visto ao vivo.
No entanto, e como vivo na região de Lisboa, não o irei ver. Nem que me ofereçam o bilhete e me paguem o tempo dispendido, não irei ver este grupo!
Porquê?
Porque me recuso terminantemente a colaborar, com o meu dinheiro ou a minha presença em termos estatísticos, com casinos. Instituições que existem para explorar e alimentar o vício que alguns têm do jogo. Espectáculos, bares e restaurantes são atractivos para que os clientes entrem nas salas de jogo e aí deixem o que é seu e, por vezes, o que não é seu.
Por outras palavras, casinos são chupistas de clientes e provocadores de algumas desgraças sociais. E algumas conheço razoavelmente de perto.
Assim sendo, lamento muito mas não contam comigo para assistir ao que quer que seja num casino. Seja de Lisboa, seja de onde for.
E como a minha vontade de ver este grupo não justifica a despesa e o tempo gasto em ir ao Porto, com pernoita pelo caminho, eis um espectáculo a que não assistirei.

Texto e imagem: by me

Um olhar - marmóreo



By me

Pressas



Despachado com os atacadores apertados e tudo.

By me

O meu tio



Anda toda a gente a falar no Tio: Tio para aqui, tio para ali, tio isto, tio aquilo…
E eu, que não sou menos que os demais, também vou falar de um tio:

Quando o meu tio Artur morreu, eu era um menino pequeno.
Em boa verdade, ele não era meu tio mas antes tio-avô do lado materno. Vivia ali para os lados do Largo do Rato, num rés-do-chão em cujo quintal havia uma roseira enorme e colorida. Para além disto e de mais alguns poucos episódios indelevelmente gravados na minha memória, o que mais sei dele é o de ouvir contar na família.
Uma das estórias que se relatam prende-se com a sua vida afectiva.

Quando jovem, estaria apaixonado por uma moça que lhe respondia na mesma forma. Mas a juventude tem destas coisas e acabou por conhecer, no sentido bíblico do termo, uma outra rapariga com quem foi obrigado a casar.
O tempo passou e as personagens desta estória envelheceram. Até que meu tio Artur enviuvou.
E os sobreviventes, com o mesmo amor da sua já distante juventude, casaram. Conta quem sabe que viveram felizes o que restou das suas vidas.

Se fosse vivo, o meu tio Artur teria uns 110 anos, mais talvez. Nem sei qual a sua data de aniversário. Mas como não conheço mais ninguém que hoje faça anos, aqui lhe acendo e sopro umas velas:
Parabéns a você, nesta data querida…


Texto e imagem: by me

sábado, 16 de abril de 2011

Não em meu nome!



Alguém vai ter que me explicar isto, mas muito bem explicadinho, que eu sou muito burro!
O primeiro-ministro demitiu-se, junto com o seu gabinete de ministros. O presidente da República aceitou essa demissão.
Na sequência disto, o Presidente da República dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições legislativas.
Ficou, assim, o país com um único órgão de poder democraticamente eleito e em pleno uso dos seus poderes: o Presidente. Que a Assembleia deixou de ter poderes legislativos e de representar o Povo Português e o governo, que ao contrário do que a maioria das pessoas pensas, não é eleito mas antes nomeado e empossado a partir de uma maioria parlamentar, está em funções de gestão.
Acontece, também, que os partidos políticos não são poder representativo dos cidadãos. São associações particulares de cidadãos, que eventualmente partilham ideais comuns, e que se apresentam a eleições para que alguns dos seus elementos ocupem lugares de gestão da coisa pública: o País.
Pergunto-me, assim, porque raio tem que o governo negociar o que quer que seja com os partidos políticos ainda antes de haver eleições? Por muito que se façam estimativas, por muito que os politólogos e afins façam projecções, a verdade é que a representação parlamentar e a proporção de membros de cada partido no hemiciclo ainda não aconteceu.
Porque motivo o Primeiro-ministro tem que negociar eventuais empréstimos externos com quem não representa a nação? A nenhum líder de nenhum partido político foi dado poder para nos – me – representar, nem para elaborar e decidir de leis nem para negociar o futuro do país junto de entidades cujo fim último, convém dizê-lo claramente, é ganhar dinheiro com os negócios que efectuam.
Não reconheço legitimidade a ninguém, neste momento, para me representar, que não seja ao Presidente da República, ainda que nele não tenha votado, e ao Primeiro-ministro e seu gabinete (ainda que nele não tenha votado nem na sua formação política), que é tudo o que resta da anterior legislatura.
Se o País tem que negociar o que quer que seja com quem quer que seja exterior a ele, que sejam os legítimos representantes do povo Português a fazê-lo, e não políticos profissionais, que pouco ou nada fizeram na vida que não fosse serem políticos, e que não representam quem quer que seja que não apenas os membros da associação particular a que pertencem e a que dão o nome de partido.
Em meu nome, os membros de entidades privadas não podem decidir o que quer que seja sobre o meu futuro, que não lhes dou autorização para tal.
A menos que a Democracia seja uma treta e a Lei aquilo que se escreve para dar a ganhar a deputados e advogados.
Em meu nome, esses senhores, não!

Texto e imagem: by me

JCDuarte



Eu não gosto de fotografia. Das minhas fotografias. Das fotografias que fiz no passado!
Estranho? Eu explico:

Passear os dedos e os olhos pelos arquivos de imagem é um estímulo à memória. Todos sabemos que a memória visual é a mais potente. Assim, a cada imagem que vou vendo do passado, recordo das suas circunstâncias. Quando foi feita, ambiências, motivações, antecedentes e consequentes…
Como dizia a Kodak, na sua publicidade bem conseguida, é o recordar do “Para mais tarde recordar”.
Acontece que este estímulo pela memória visual, de uma forma ou outra, acaba por ofuscar a “verdadeira” memória que temos, aquilo que, por este ou aquele motivo, retemos num local especial da memória como importante e que vamos recordando de quando em vez. Um aroma, um som, a suavidade de uma pele ou o paladar exclusivo de uma iguaria.
E o que vimos.
E só fotografamos a enésima parte do que vemos.
E o que vemos é um quinto daquilo que os nossos sentidos nos transmitem…
Daí que, fotografar momentos especiais – férias, aniversários, festas, etc – é atraiçoar aquilo que consideramos relevante.

Prefiro acordar a minha memória com outros estímulos – uma conversa, uma música, um beijo. Quando ela se levanta lá do fundo das células cinzentas, vem por inteiro, sons e imagens, cheiros e tactos.
A recordação assim é integral, Os neurónios, com as suas temperaturas e descargas eléctricas levam-me inteirinho no tempo e o espaço para essa outra vivência.
E eu “vejo” aquilo que terá sido relevante, aquilo que na altura me marcou. A imagem mental é completa, quase ouvindo e cheirando. Sentindo a suavidade de uma face acariciada ou o acridoce do saborear.

Ver as fotografias que fiz algures atrás no tempo é manipular a minha memória, é condicioná-la àquele momento e àquele conjunto de fotões que chegaram à película ou ccd.

Vem toda esta conversa meio (muito!) confusa a propósito de um e-mail que recebi há uns dias de um velho amigo e companheiro de trabalho e outras vivências.
Mandou-me ele uma lista de 50 linhas onde eu tinha alinhado um guião de uma “slide-novela”, como então lhe chamámos.
A ideia era cada um inventar e contar uma história em diapositivo, ilustrá-la com som e exibi-la. À imagem e semelhança das novelas televisivas de então (e de hoje, já agora). Cada um de nós que estávamos no projecto contaria com a ajuda de representação dos demais. Experiências…!
Volta e meia, ao passear-me pelos meus arquivos fotográficos, tenho tropeçado nessas imagens, agora desagrupadas. Fui-as usando, ao longo dos anos, em outros projectos, lectivos ou outros. O trabalho, no seu todo, desapareceu. Já nem sequer possuo o tal “guião” ou a música.
De cada vez que olhava para cada uma delas, recordava as circunstâncias da sua execução: os jogos de luz, o trepar à árvore para a perspectiva certa ou possível, o pedir a utilização de lojas como cenário, a confusão que foi no café quando se mostrou a navalha de ponta e mola…
Mas nem me recordava do projecto no seu conjunto, das conversas em torno dele, da exibição única que este audio-visual teve, da sequência da estória…

Por estas e por outras, de férias não trago recordações fotografadas.
Apenas me aproprio dos vestígios que a luz deixa de pormenores que gostaria de possuir, daquilo que nunca será meu e que tenho pena: um jogo de luz e sombra, um detalhe de uma cornija, uns olhos que inflamaram a minha paixão…
Quanto ao resto, prefiro ir vivendo em pleno e, como um mau coleccionador, apenas evitar que apanhe bolor o resultado da minha cobiça.


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Tiveram azar!



Foi quase há dois anos!
No dia 21 de Maio de 2009 fui abordado no Jardim da Estrela por uma equipa de reportagem. Composta de um operador de imagem e por uma entrevistadora, estavam a recolher depoimentos sobre os jardins de Lisboa para um novo canal de televisão para a Internet, a TVLisboa.net.
Achei graça à coisa, identifiquei-me no ofício e na empresa e conversámos um nico. No final, lá recolheram a minha opinião, que até nem era lisonjeira para quem superintende a manutenção dos jardins.
Qual não é o meu espanto quando constato, dias depois, que o tal canal de TV era, na verdade, parte integrante da campanha de Pedro Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa.
Fiquei furioso porque, se o tivesse sabido não o teria feito, e por diversos motivos.
Ponderado o assunto, e depois de ouvir alguns conselhos, decidi enviar uma participação do ocorrido para três entidades: Comissão da Carteira de Jornalista, Entidade Reguladora da Comunicação Social e Comissão Nacional de Eleições. Esta última entendeu que o assunto a ultrapassava, pelo que remeteu o caso para a Comissão Nacional de Protecção de Dados que, por sua vez, o analisou, entendeu que havia motivo para tal e o enviou para o DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal).
E há dias, quase dois anos passados, recebi uma carta deste organismo.
Nela sou informado que, tendo sido ouvido o Pedro Santana Lopes, bem como o responsável pela campanha na Internet, e transcrevo:

“… O cumprimento deste normativo (art. 5º, nº 1, al. B da lei nº 67/98, de 26 de Outubro) impunha que a recolha de testemunho fosse antecedida da explicitação de que a mesma se inseriria na campanha de Pedro Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa. Não bastaria dizer “isto é para a «tvlisboa.net»”, como se estivesse implícito, como facto do conhecimento geral, que era um meio de divulgação da campanha de Pedro Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa.
Todavia, entendemos que a conduta, no caso em concreto, não chegou a atingir o sentido de ilicitude do tipo. Por outras palavras, vendo a situação concreta, a conduta não ultrapassou o limite do risco juridicamente permitido. Ainda que a conduta seja censurável, essa censura não é ético-jurídica.
3) Pelo exposto, decido o arquivamento dos autos, nos termos do art. 277º, nº 1, do código de processo penal.”

Tiveram azar!
Todos os elementos envolvidos não só não repararam onde trabalho como desconhecem a personalidade de quem foi ofendido e escreve estas linhas.
Fará ele – eu – todo o alarido que puder, junto de quem conhece e de quem não conhece, no sentido de dar a este caso a máxima publicidade e, com ela, fazer com que casos destes não se repitam com incautos.
Não procuro nem publicidade para mim nem algum tipo de compensação. Nem mesmo um pedido de desculpas. Apenas um alerta aos cidadãos para que saibam que quem usa um microfone e/ou uma câmara de televisão tem códigos éticos de conduta a que está obrigado.
O facto de o despacho de arquivamento datar de 28 de Março de 2011, ou seja, neste momento crítico da vida política e económica em que vivemos não me fará nem ter escrúpulos nem mais assanhado por via de simpatias ou antipatias. Mas vem mesmo a calhar para evitar que algum órgão de comunicação menos honesto repita a gracinha.

Texto e imagem: by me

No rules, thank you



By me

Regra de ouro



A regra de ouro é um mito!
Tendo dito esta blasfémia (tal como uma outra, muito minha, em que afirmo que fotogenia não existe), passo a explicar:

Na antiguidade procurava-se encontrar na matemática explicação para o que rodeava o Homem, o universo. Algumas das regras e fórmulas que usamos no quotidiano ou na ciência mais complexa foram criadas ou derivam das que surgiram então.
Nesta busca da perfeição e do divino nos números surgiu, entre outros, o conceito do “Número de ouro”, valor constante que se encontra em inúmeras manifestações da natureza, desde a relação entre o comprimento e a largura de folhas de plantas à espiral do caracol, passando pela relação entre a altura do ser humano e a distância do umbigo aos pés.
Constatado isto, transpuseram-no para a representação: pintura, escultura, arquitectura. E afirmaram que esta era a fórmula do “Belo”, imutável e indiscutível como qualquer fórmula matemática.
As gerações de criadores e artistas que se lhes seguiram, ou porque não encontraram forma de refutar a matemática ou porque se basearam no classicismo, mantiveram esta afirmação como um dogma, repetindo a sua utilização nas suas obras.
E ao longo dos três últimos milénios, milhares de gerações foram sendo “educadas” esteticamente para aceitar esta como a forma pura de representação: nas escolas normais, nas escolas de arte, na arquitectura, na religião, na comunicação em geral, esta proporção foi sendo aplicada até para além do limite.
No entanto, como qualquer outro factor cultural, o gosto do ser humano depende daquilo que aprende e a que está habituado. Tal como a harmonia das cores ou a harmonia da música. Se viajarmos até à Índia, o luto assume a cor branca, uma ofensa à nossa sensibilidade ocidental.
Apesar disso, tenho para mim que a estética não é limitada a números (se bem que eles possam ajudar a normalizar os conceitos).
A estética depende das sensações de agrado e desagrado. E estas dependem do estado de espírito e das vivências de quem gosta ou desgosta.
Se a estética, aplicada seja a que forma de expressão ou comunicação, dependesse em exclusivo de fórmulas matemáticas, não apenas se teriam já esgotado todas as combinações sublimes de criação plástica, musical, poética, como os publicitários estariam desempregados.

Entendo que a estética, tanto no acto de criação como no do seu desfrute, depende daquele “pequenino” factor que diferencia o Homem de uma máquina. O seu nome? Tantos quantas as culturas, crenças, história, tecnologias e modas. Há quem lhe chame “alma”!
Quanto à utilização do número de ouro ( φ=½(1+√5)≈1.618033989 ), este serve, sem sombra de dúvida, para a comunicação de massas, para que a mensagem emitida por um caia nas boas graças dos demais.
Eu, que trabalho todos os dias com a estética da comunicação de massas pela imagem, vejo-me demasiadas vezes no dilema de escolher entre aquilo que me agrada e aquilo que sei que agrada ao comum dos mortais: o público. Sou forçado a gerir o espaço e os seus elementos dentro dele de acordo com a “regra de ouro” ou, simplificada, a “regra dos terços”. Mas já perdi a conta das vezes em que, olhando para o meu trabalho que a respeita, não gosto. E se a corrijo para como eu gosto, sou olhado de lado por colegas e superiores.

Não! Comigo, e sei que com muitos outros, as regras e as formulas matemáticas aplicadas à comunicação e expressão pessoal não funcionam.
Talvez por ter sido mau aluno em matemática.

By me