terça-feira, 19 de abril de 2011
Prazeres
Foi um daqueles prazeres animais, quase orgásmicos, o que tive ontem:
Depois de uns dias de calor intenso, de a terra e as plantas terem secado e de as nossas próprias roupas terem encurtado em comprimento e espessura, lá para o fim da tarde começou a chover.
Umas pinguitas apenas, de início, fazendo quase imperceptíveis poças no chão impermeável, que a terra tratava de absorver. E foi este absorver, este cheiro a terra quente recém molhada que quase me deu vontade de me deitar na erva e deixar-me levar por inteiro nesse inebriar de sentidos.
Prevaleceu o bom-senso e o não querer “sujar” a roupa, que estava a trabalhar.
Os deuses, que ontem deveriam estar a olhar por mim, acharam que me deveriam dar mais daquilo que estava a gostar. E as pinguitas passaram a grossas e frequentes gotas, a ponto de já não serem absorvidas e correrem por entre as folhas de erva e entupirem as sargetas. E, para que eu visse bem aquilo de que gosto, deram-me os deuses a luz, muita e frequente, rasgando o céu em traços impossíveis.
Não tendo comigo nem tripé nem cabo disparador, e muito menos tempo para fazer o registo das luzes celestiais, fiquei-me por isto, fraco registo do prazer animal de um citadino.
Texto e imagem: by me
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