quinta-feira, 14 de abril de 2011
Rigores
- Oh pai? A água ferve a 90º?
- Não, filho, que disparate! A água ferve a 100º.
- Ah, pois… A 90º ferve o ângulo recto!
Piadas à parte, a verdade é que quantificamos tudo na vida. Pesos, volumes, distâncias, temperaturas, energias, tempo… Ainda não quantificaram os afectos, mas creio que não faltará muito.
Com as artes e as expressões pessoais, o mesmo se passa. Nas métricas, nos rimos, nas proporções, nos equilíbrios… As fórmulas algébricas definem à priori ou explicam à posteriori aquilo que apeteceu fazer, aquilo que o criador entendeu por bem materializar.
E estas quantificações impõem regras e normativos. Que, por um lado, definem e generalizam o conceito de qualidade e, por outro, padronizam técnicas e materiais usados por cada um para se exprimir. E tente-se lá encontrar uma tela redonda para pintar…
Com a fotografia sucede exactamente o mesmo!
Submergida que está à ditadura das normalizações dos fabricantes, é difícil a roçar a impossibilidade de se lhes fugir. E se fabricarmos nós mesmos os materiais (equipamento e consumíveis) é quase uma impossibilidade, as expressões de surpresa ou de desprezo por parte de quem atende o público ao lhe ser pedido um trabalho não normalizado acaba por ser hilariante, se não fosse trágico.
Tente-se mandar imprimir uma fotografia a partir de negativo ou de ficheiro digital que tenha, por exemplo, uma proporção de 1:7,5. Suspeito que só alguma lei recôndita e obscura que impede os empregados de balcão de rirem, inibe o ouvir-se uma valente gargalhada. E provocaria uma chamada de urgência para o hospício mais próximo que pedíssemos um enquadramento trapesoidal irregular.
O alfa-numérico das regras, leis e normalizações é tão castrante quanto um capador de porcos.
E o ângulo recto, com os seus 90º exactos, da esquadria do nosso enquadramento é a cereja no topo do bolo!
Texto e imagem: by me
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