sábado, 30 de abril de 2016

Lenço de papel



Partilhamos isqueiros, cigarros, refeições, viagens, casas, até camas ou banhos.
Agora se há coisa que me incomoda partilhar são lenços de papel para secar lágrimas.

Que melhor que secar lágrimas é que elas nunca tenham acontecido.

By me 

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Equivalente à UBER são as “call girls” ou, com nome mais moderno, as “Uber-putas”.
É engraçado nunca ter ouvido queixas ou sabido de marchas lentas.

Ou será que às marchas lentas das prostitutas convencionais se chama de “protesto tântrico”?
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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Motivações



Só há dois motivos para se fazer uma fotografia: por tudo e por nada.
E sendo certo que quase toda a gente fotografa o que come, porque não eu também?

No entanto, note-se, consegui a imagem antes de começar a comer, coisa que não é fácil perante a amostra junta.

By me

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Taxis e Uber



Tem sido notícia nos últimos dias e sê-lo-á certamente amanhã: a luta dos taxistas contra a empresa Uber.
De acordo com o que está previsto, a cidade de Lisboa ficará razoavelmente paralisada amanhã, devido a uma marcha lenta que se prevê vir a ter mais de 4000 taxis.
A questão que é posta é a eventual não legalidade do serviço, os preços praticados, os impostos pagos ou não…

Sobre isso, gostaria de aqui deixar três ou quatro pontos para que sejam considerados pelos cidadãos em geral:
1 – Sabia que pelo mesmo serviço de transporte de táxi pode ter que pagar quantias diferentes? Legalmente!
A coisa funciona da seguinte forma: existem táxis, em tudo semelhantes a qualquer um tanto na cor como no aparente tamanho, que podem transportar seis passageiros no lugar dos habituais quatro. Por terem essa capacidade acrescida o serviço é 20% mais caro. Não importando a quantidade de pessoas transportadas. É mais caro em qualquer circunstância, que o taxímetro está assim calibrado.
Estes carros têm dois avisos nos vidros: um no da frente, outro atrás, junto à porta. Mas a distância a que se encontra este último, por vezes em vidros fumados, impede que seja lido. E quem olha para o que está afixado junto ao dístico do seguro e da inspecção obrigatória?
Qualquer um entra num destes táxis numa praça, ou mandando-o para numa rua, sem se aperceber que irá pagar mais caro só porque tem mais dois lugares. Mesmo que esteja sozinho.
2 – Nos concelhos limítrofes a Lisboa existem táxis descaracterizados. Quer isto dizer que não têm cor padrão, sendo em geral pretos, não possuem a lanterna de táxi no tejadilho e que o próprio taxímetro está escamoteado no porta-luvas. A única indicação, obrigatória, é um pequeno dístico azul junto à matrícula, contendo a letra “T”.
Até aqui nada de especial.
O que torna a coisa menos transparente é que estes carros cobram sempre o preço nocturno (ou de feriado ou fim de semana) mesmo que seja de dia e em dia útil. Sem nenhum aviso ou sinalética especial.
Para piorar as coisas, estes táxis param nas praças de táxis tal como qualquer outro e alguém menos atento embarca num pensando que se trata de um táxi normal. Com preços normais.
3 – Para evitar os clássicos abusos por parte de alguns taxistas pouco honestos, o turismo de Lisboa criou o “Táxi voucher”.
Este sistema permite que o passageiro, à chegada ao aeroporto, compre a viagem antecipadamente. Com o papel na mão, será só embarcar num táxi que possua o dístico de aderente ao serviço e, no final, entregar o voucher. Tudo simples e claro.
Acontece, porém, que os preços são calculados por coroas circulares, centradas no ponto de embarque. Ou seja, o preço é igual para um ponto próximo e para um ponto distante, desde que dentro dessa coroa. Sendo certo que não acredito que se perca dinheiro ao cobrar para o ponto distante, será particularmente caro se o destino for num ponto próximo.
A título de exemplo, posso afirmar que do aeroporto a minha casa um taxímetro marcará qualquer coisa como 25 euros. Com o Táxi Voucher custará, de acordo com a tabela, 53.40 euros.

A estes três pontos, todos referentes a questões absolutamente legais e tabeladas, acrescenta-se, por exemplo, a pressão que tem sido feita para criar uma taxa de aeroporto. Por outras palavras, quem chegar a Lisboa e quiser usar um dos táxis ali parados pagará uma taxa adicional.
A argumentação por parte dos industriais de táxi é que isto já sucede nas demais capitais europeias.
Aquilo que eles não contam é que nessas capitais o aeroporto é fora da cidade, a alguns quilómetros, enquanto que por cá está dentro do perímetro urbano, servido por metro e autocarros, os mesmos que levam as crianças à escola ou alguém a um centro de saúde ou biblioteca.



Quando os taxistas quiserem entrar em guerras por causa de eventuais serviços de concorrência desleal, faria sentido que olhassem primeiro para o próprio umbigo e constatassem as imoralidades que, legalmente, cometem.

By me 

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Morrer por morrer, que seja a rir e a fotografar.

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Se para alguma coisa servem as celebrações, para além de alegria, é para aprendermos com o passado. E é bom que tu, páh, penses no que fizeste ou deixaste fazer para que, nestes quarenta e dois anos, passasses de um acreditar no futuro para um apenas celebrar o presente “inevitável” que construíste.
E não me digas que a culpa é deles, páh: a mão é tua! A que segura o cravo, a que empunha a bandeira, a que bate palmas.

Mas páh: também é tua a mão que se confina nos bolsos, que prime as teclas, que não segura a coronha.

By me

quarta-feira, 27 de abril de 2016

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A todos aqueles que andam a falar sobre o caso do lojista que foi atacado e roubado de madrugada no Cais do Sodré, em Lisboa, por um grupo que acabara de sair de um bar nas imediações, o meu valente VÃO-SE CATAR!

A forma como falam da coisa, os detalhes (por vezes inventados) que vão sendo contados, os adjectivos empregues, as fotografias antigas como se desta madrugada…
Só falta dizer-se que ele, o lojista, foi um bandido e atacou aquele grupo de jovens inocentes, recém-saídos de uma reunião de catequese e que, em vez de facas e uma pistola, usavam crucifixos e um missal, que fez todo aquele estrondo ao ser fechado de supetão.
Mais ainda: da forma como têm falado da coisa e das características dos intervenientes, acredito que um destes dias viremos a saber (ou talvez nem isso) da vandalização da loja em causa e que o seu dono foi encontrado em estado crítico num qualquer beco esconso da cidade.

Portanto: a todos os que estão a inverter a moral da história e a tratar a vítima como se criminoso fosse, VÃO-SE CATAR!

By me

O Photógrapho



Entrei e comecei por dizer:
“Boas tardes! Eu oiço bem, pelo que não necessito dos vossos serviços. Apenas entrei para obter uma informação.”
Sorriram as duas e ficaram a olhar para mim com mais atenção ainda que a que me tinham dedicado momentos antes, quando eu ficara na berma do passeio a tirar as medidas com o olhar à montra e às montras vizinhas, fazendo cálculos históricos.
E continuei:
“Aqui, nesta mesma loja, não funcionava dantes um fotógrafo?”
Sorriram ainda mais e disseram que sim, mas que agora ele estava duas ruas mais acima, em dobrando a esquina.
Fui-me em busca dele, não sem antes fazer o registo da fachada da loja do fotógrafo que me fez a primeira fotografia para documento de identificação.
No caso, o bilhete de identidade, imprescindível para o exame da 4ª classe. E repare-se que, à época, fazer esse exame, de calções e gravata, mostrando o bilhete que nos insere no mundo dos adultos e receber, no final, o primeiro relógio de pulso… É-se alguém, nesse dia!

Encontrei a loja onde me disseram. Outros donos, que o original já morreu e os herdeiros trespassaram o negócio.
Os arquivos bem antigos? Não! Aquando da mudança foi tudo fora porque sem préstimo.

Fiz eu uma fotografia de passe (a bem dizer quatro mais postal, por seis euros), que irei inserir num projecto fotográfico cá dos meus.

By me 

terça-feira, 26 de abril de 2016

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Agora que já celebrámos os sonhos, podemos voltar a tratar dos pesadelos?

Como o pagar a renda, trocar os sapatos rotos, comer…
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Sem atacadores



Há certamente uma explicação para isto, mas não sei qual seja.
Boa parte dos sapatos que encontro caídos na rua, solitários ou emparelhados, estão sem os respectivos atacadores. E sendo certo que a esmagadora maioria deles já não estão em condições de serem usados, o retirar-lhes os atacadores é levar esse estado ao limite, como que impossibilitando de todo o seu uso por terceiros.

Ou é muita maldade, ou é muita sovinice ou é algo que não entendo.

By me

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Não é justo



Não é justo! De modo algum!
Um tipo que sai da cama muito antes do sol, que começa a trabalhar antes do sol, que passa todo o tempo de trabalho escondido do sol, não está a contar fazer muitas ou especiais fotografias.
Por isso, e só para não perder o hábito, sai de casa com este "canhão" ainda de rolo e sem mais enfeites.
Exactamente aquela câmara que não permite fotografar os mais bonitos olhos que vi nos últimos meses.
Felizmente sei onde trabalha e voltarei amanhã. Não importa quanto charme tenha que usar, aqueles não podem escapar.

E com uma câmara que me permita mostrar na hora, como hoje é quase obrigatório.

By me

Ser do contra



Porque há que ser do contra, mesmo nos símbolos, nas rotinas, nos ícones.
Porque quando as cores são sempre as mesmas, quando o percurso é sempre o mesmo, quando as palavras são sempre as mesmas, deixou de ser uma revolução para ser um ritual.
E sabemos como os rituais são conservadores, retrógrados, castrantes de ideias e sonhos.

Se queres celebrar uma revolução, não cantes, não desfiles, não discurses!

Revolta-te de novo, sempre em revolta ou revolução.

By me 

domingo, 24 de abril de 2016

Estatuto do Homem


 
    Artigo I
 
   Fica decretado que agora vale a verdade.
   agora vale a vida,
   e de mãos dadas,
   marcharemos todos pela vida verdadeira.
 
 
   Artigo II
   Fica decretado que todos os dias da semana,
   inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
   têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
 
 
   Artigo III
 
   Fica decretado que, a partir deste instante,
   haverá girassóis em todas as janelas,
   que os girassóis terão direito
   a abrir-se dentro da sombra;
   e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
   abertas para o verde onde cresce a esperança.
 
 
   Artigo IV
 
   Fica decretado que o homem
   não precisará nunca mais
   duvidar do homem.
   Que o homem confiará no homem
   como a palmeira confia no vento,
   como o vento confia no ar,
   como o ar confia no campo azul do céu.

 
           Parágrafo único:
 
           O homem, confiará no homem
           como um menino confia em outro menino.
 
 
   Artigo V
 
   Fica decretado que os homens
   estão livres do jugo da mentira.
   Nunca mais será preciso usar
   a couraça do silêncio
   nem a armadura de palavras.
   O homem se sentará à mesa
   com seu olhar limpo
   porque a verdade passará a ser servida
   antes da sobremesa.
 
 
   Artigo VI
 
   Fica estabelecida, durante dez séculos,
   a prática sonhada pelo profeta Isaías,
   e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
   e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
 
 
   Artigo VII

   Por decreto irrevogável fica estabelecido
   o reinado permanente da justiça e da claridade,
   e a alegria será uma bandeira generosa
   para sempre desfraldada na alma do povo.
 
 
   Artigo VIII
 
   Fica decretado que a maior dor
   sempre foi e será sempre
   não poder dar-se amor a quem se ama
   e saber que é a água
   que dá à planta o milagre da flor.
 
 
   Artigo IX

   Fica permitido que o pão de cada dia
   tenha no homem o sinal de seu suor.
   Mas que sobretudo tenha
   sempre o quente sabor da ternura.
 
 
   Artigo X

   Fica permitido a qualquer pessoa,
   qualquer hora da vida,
   o uso do traje branco.
 
 
   Artigo XI
 
   Fica decretado, por definição,
   que o homem é um animal que ama
   e que por isso é belo,
   muito mais belo que a estrela da manhã.
 
 
   Artigo XII
 
   Decreta-se que nada será obrigado
   nem proibido,
   tudo será permitido,
   inclusive brincar com os rinocerontes
   e caminhar pelas tardes
   com uma imensa begônia na lapela.

 
           Parágrafo único:
 
           Só uma coisa fica proibida:
           amar sem amor.
 
 
   Artigo XIII
 
   Fica decretado que o dinheiro
   não poderá nunca mais comprar
   o sol das manhãs vindouras.
   Expulso do grande baú do medo,
   o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
   para defender o direito de cantar
   e a festa do dia que chegou.
 
 
   Artigo Final.
 
   Fica proibido o uso da palavra liberdade,
   a qual será suprimida dos dicionários
   e do pântano enganoso das bocas.
   A partir deste instante
   a liberdade será algo vivo e transparente
   como um fogo ou um rio,
   e a sua morada será sempre
   o coração do homem.

  Thiago de Mello

Santiago do Chile, abril de 1964

Fotografia e fé



Se eu não estivesse a trabalhar, amanhã estaria na avenida, a celebrar e a fotografar as celebrações de Abril.
O tempo parece estar de feição, luz e temperatura, e eu deixar-me-ia levar pelo entusiasmo, reflectindo isso mesmo nas fotografias com que regressasse a casa.
Mas também regressaria com a frustração a que já me vou habituando:
Sabemos celebrar, com festas, faixas, cores e flores, mas nada mais!
O quotidiano continua a evoluir ao ritmo do que as classes dirigentes querem, não tanto o que o povo quer. E a Revolução foi do Povo. Também.
Mas também é do Povo a atitude de relaxe, de só fazer algo por si e pelos seus em ultimo recurso, esperando sempre que algo ou alguém resolva os seus próprios problemas.
As celebrações de Abril, hoje, mais que actos políticos, são actos de fé.
Acredita-se numa revolução que foi, tal como se acredita num paraíso que será.
Não vejo, não sei, não conheço gente suficiente que faça por manter a revolução em marcha, para defender todos os dias o conquistado e ir mais além, para garantir que Abril de ’74 não se limita hoje a um desfile e fim de semana prolongado.

Quando uma revolução já mais não é que um feriado e um desfile, fotografá-la é quase o mesmo que fotografar 13 de Maio em Fátima.  


By me

A imagem e as mil palavras



By me

sábado, 23 de abril de 2016

Liberdade e coerência



Se a memória me não falha, este cravo, junto com mais cinco, terão sido as únicas flores que comprei nos últimos 20 ou 25 anos.
Comprei-os por junto, para esta e outras fotografias alusivas à revolução, há uns anos. E, juro, doeu-me tê-las comprado, por muito nobre que pudesse ter sido o objectivo.
Que ao comprar cravos (ou rosas, ou malmequeres ou qualquer outras) estou a comprar corpos mortos. Estou a incentivar a morte de seres vivos para meu deleite visual ou fotográfico. Eventualmente olfactivo.
Não se trata da sobrevivência do indivíduo ou da espécie, não se trata de matar para comer. Trata-se de matar para ter prazer.
Não eu!
E esta foi a excepção!

E é tanto mais absurdo o uso de um cravo quanto o seu espírito se esvai, como areia pelos dedos. Cada vez mais o sistema tenta apagar os vestígios dos espíritos revolucionários, mantendo apenas uma evocação de algo cada vez mais distante.
Que a revolução, aquela coisa que se constrói todos os dias um pouco mais, à margem de regras, conceitos e, acima de tudo, de classes dirigentes, é o maior veneno que o sistema (qualquer um) conhece e que há que evitar a todo o custo.
Os revolucionários, esses, têm que ser abatidos ou encerrados algures para que não façam estragos.


By me

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E porque é que no circo as focas passam o tempo a olhar para cima?
Porque estão a namorar os focos!


Piada velha de dezenas de anos, do tempo em que o cartão era bilhete e em que o digital era o que deixávamos no dito.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Algemas



Há um montão de gente a argumentar a favor ou contra a proposta apresentada no parlamento para a mudança de nome daquele documento que nos identifica como portugueses.
O cerne da questão seria o género: ao ser “cidadão” menorizava as mulheres portuguesas. (ou algo parecido)

No entanto não vejo campanhas sérias, legislativas mesmo, sobre a publicidade, que continua a fazer uma ligação directa entre máquinas de lavar roupa ou loiça e mulheres; entre detergentes e outros produtos de limpeza doméstica a mulheres; condução automóvel a homens; produtos desportivos a homens; apostas desportivas a homens.
E as mulheres continuam a surgir nas publicidades como verdadeiras candidatas a Miss Anoréxica.
Faz-se publicidade a roupa interior feminina mas não a masculina; os filhos inter-agem com os pais no desporto, nas tecnologias de informação, nos passeios e lazeres; com as mães inter-agem sobre a escola, sobre disciplina, sobre trabalhos domésticos.
É toda uma indústria publicitária a formatar as mentalidades sobre o que são actividades masculinas e actividades femininas.
E, no entanto, não vejo ou oiço partidos políticos ou grupos cívicos a fazerem campanha contra isto.

Portanto, se querem mesmo agir no que à igualdade de género (direitos, oportunidades e deveres) diz respeito, comecem por aquilo que está à vista de todos e não aquilo que temos na carteira e que quase nem sabemos para que serve.


Na imagem: fotografia feita há vinte anos, por um grupo de três alunas adolescentes, em torno da ideia “capa para livro policial”.

By me

Na rua



Já é cíclico: por estes dias multiplicam-se as opiniões sobre a revolução de Abril.
E, com elas, as opiniões de como estávamos melhor antes dela. Que seríamos pobrezinhos mas honrados, que a corrupção não grassava, que os políticos eram sérios…

Para todos esses, e embora pudesse dar um montão de argumentos, digo apenas isto:
Nessa época, que agora glorificam, nunca poderiam dizer que qualquer outra época era boa!

E o que agora é um condomínio de luxo, em Lisboa, já foi local de tortura impiedosa. Nessa época.

By me

quinta-feira, 21 de abril de 2016

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Entenda-se como verdade universal, tão verdadeira e incontestável quanto a Terra girar em torno do Sol:
Os jornalistas podem atacar tudo e todos, aberta ou dissimuladamente;

Mas atacar jornalistas, individual ou colectivamente, é pecado capital.
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BBC



Para muitos a próxima segunda-feira mais não será que isto: uma BBC (bica, bagaço e cravo) que ajuda num fim-de-semana prolongado.

Complicado será quando o cravo for usado apenas por tradição, como quem usa azevinho ou manjericos. E pouco faltará!

By me

terça-feira, 19 de abril de 2016

Cinzentos



Tenho muito pouco respeito pelos que advogam ou praticam a submissão indiscriminada aos poderes instituídos ou em ascensão.
Na política, no trabalho, nos negócios, nos afectos.
Tenho muito pouco respeito pelos cinzentos, pelos que não são nem deixam de ser.

Excepto o 18%, mas tenho motivos profissionais para isso.

By me 

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segunda-feira, 18 de abril de 2016

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Todos os dias se vê Marcelo Rebelo de Sousa nas notícias.
Agora no seu papel de Presidente da República, todos os dias ele inaugura isto ou aquilo, está neste ou naquele evento. E todos os dias ele tem algo a dizer para os microfones, quer seja para comentar, quer seja para dizer que não comenta.
Marcelo Rebelo de Sousa parece estar em plena campanha eleitoral, com um corrupio de câmaras e microfones em redor.
E não é preciso ser particularmente atento para se perceber que o estilo de presidência mudou radicalmente. O que o anterior titular do cargo tinha de discreto e reservado tem este de exuberante e palrador.

Antes de ir mais longe, uma declaração de interesses: Não gosto deste senhor, não o queria no cargo para que foi eleito, discordo frontalmente com o modelo de sociedade que ele defende.

Posto isto, acho que Marcelo Rebelo de Sousa está a “abastardar” o cargo. Um presidente que todos os dias é notícia, que todos os dias tem algo para dizer aos portugueses, mesmo que seja que nada tem a dizer, é alguém que, quando for necessário que os portugueses prestem mesmo atenção ao que tiver a dizer ao país, dirão:
“Prontos! Lá ‘tá aquele outra vez! Já não há pachorra!”

A seriedade e importância do cargo que ocupa não se coaduna com comentários avulsos e vulgaridades  mediáticas.

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Não gostaria de falar sobre o que aconteceu e acontece no Brasil, mas não tenho outro remédio senão fazê-lo.

Considerando o que foi dito e o que foi feito, o como foi dito e o como foi feito, pergunto se a democracia representativa será a forma certa de nos organizarmos. Lá ou cá.

Carta a um ex-aluno



Li este texto numa manhã de 1994, num jornal.
Fiquei de tal forma preso nele, identificando tantas e tantas situações, que na altura não resisti: copiei-o laboriosamente e imprimi-o numa folha A3 que afixei na zona dos “jornais de parede” da escola onde então leccionava.
Se a memória me não atraiçoa, sobreviveu aí colocado durante três anos.
De igual modo, e apesar de de então para cá já ter mudado de casa, continua afixado aqui, perto da minha mesa de trabalho.
De quando em vez volto a tropeçar nele, os olhos na parede ou nos arquivos digitais, e trato de o replicar on-line.
Tal como das outras vezes, apenas varia o texto introdutório e a imagem que o acompanha:


Carta a um ex-aluno

Sem que verdadeiramente o tivesses notado, entre a boémia e as lutas estudantis, voaram os cinco anos que te separavam do primeiro emprego. Prolongaste habilmente a adolescência até onde te foi possível. Até hoje. Subitamente descobres que se tornou inconveniente o protesto, arriscada a crítica, imperdoável a irreverência. Há quem ache que crescer é isso.

Fica desde já decretado que usarás gravata. É natural: são cada vez mais as situações em que somos obrigados a exibi-la. Felizmente não são as mais agradáveis. Claro que terás licença de porte de jeans ao fim de semana, mas a gravata é o ritual iniciático com que marcarás a entrada na idade adulta.

Pensarás agora em fazer carreira. E a carreira é uma coisa que se faz subindo. Alguns sobem por ser do partido; outros apesar de não o terem. Distingue-os o facto de os primeiros serem muito mais numerosos e de a sua ascensão ser substancialmente mais fácil. Poderás manter as tuas convicções, mas deverás optar por um prudente lusco-fusco: a afirmação da diferença exigirá que sejas profissionalmente muito melhor para que te tolerem. Mais vale não arriscares: entre a fidelidade e a competência, o poder que temos opta sempre pela primeira.

Deverás, portanto, ser cauteloso. Antigamente em cada organização havia um pide e toda a gente sabia quem era. Agora é tudo mais leve, mais solto, mais terra-a-terra: o tipo que nos trama sorri-os da secretária ao lado. Ou então foi a outra, aquela que, ainda na faculdade, passou, de repente, a cumprimentar só com um beijinho, como, de imediato, passaram a fazer a cabeleireira dela, a manicure dela e a costureira dela. De qualquer modo, a denuncia foi feita na reunião do partido e já ninguém vai preso por subversão. Apenas nos comunicam que não fomos promovidos ou que o nosso contrato não foi renovado. Por razões estritamente técnicas.

Entre um slogan e um argumento, escolherás o primeiro: a argumentação, como se sabe, é sinal da mais confrangedora tibieza. Se te couberem em sorte alguns subordinados, assumirás o protagonismo nos bons momentos e deixar-lhe-ás o ónus dos momentos maus. Os subordinados foram feitos exactamente para isso. E se, mesmo assim, te vires em dificuldades, escolherás alguns deles, elogiá-los-ás publicamente de modo excessivo e demiti-los-ás logo que possas. Se os teus erros exigirem a exposição pública de um culpado, que, pelo menos, não sejas tu. Terás, clarão, que por de lado esse apego à solidariedade: vives sob um poder que tem o autoritarismo como gramática, o pragmatismo como prontuário, a hipocrisia como respiração.

Claro que a indignação nos prega partidas. Se um dia a náusea começar a estrebuchar, talvez seja prudente resistires. A coerência é um luxo que, muitas vezes, se paga caro. Umas boas férias ajudarão. Retemperado, poderás derramar sobre essa revolta a condescendência de um sorriso.

Mas, se mesmo assim, não te resignares à surdina do ressentimento, invocarás, como justificação, um excesso de juventude. Deverás ostentar nessa invocação o mais genuíno arrependimento. O poder adora arrependidos e concede-lhes sempre um perdão compadecido e o correspondente subsídio de instalação.

Mas se nada disto te bastar, se o cansaço te encalhar num monte de urtigas e a repulsa meter uma bala na câmara, talvez possas improvisar conselhos a um qualquer ex-aluno. Deverás destinar esta carta à mais secreta das tuas gavetas. Ou então resta-te assumir que és um caso perdido. Com a vertiginosa alegria de saberes que, apesar de tudo, a adolescência continua a cascatear-te baixinho por dentro.



Texto: by José Valente, in Público, 1994

domingo, 17 de abril de 2016

Da minha varanda



Um dos “males” ou “problemas” da fotografia digital é a rapidez e facilidade de produção de imagem e a rapidez e facilidade de consumo.
Rapidamente se fotografa e se observa no ecrã da câmara o resultado, repetindo quantas vezes se quiser até se ter o que se quer e sem pensar em custos. E rapidamente se processa num editor de imagem, usando o “undo” ou o “delete” com a mesma facilidade com que se inspira ou expira.
Tal como rapidamente se publicam as imagens, em suportes físicos ou virtuais, com a certeza que agradarão a alguns “amigos”. E com a certeza que, no meio da confusão e profusão de imagens que todos os “amigos” fazem e divulgam haverá apenas que fazer menos mal, que os “defeitos” pouco se notarão.

Como estão enganados estes “fotógrafos”.
Uma fotografia não se faz num instante, no “momento decisivo” como disse o mestre Bresson.
Uma fotografia leva tanto tempo a fazer quanto o tempo que temos de vida. Ela é o resultado daquilo que somos, do somatório de todas as nossas experiências e observações da vida. E o somatório de todas as fotografias que vimos e que fizemos, das sensações que tivemos com cada uma delas, do gostarmos ou não do trabalho deste ou daquele fotógrafo, amador ou profissional, tanto faz. Cada fotografia que fazemos é tudo isso que passou somado com a oportunidade e o espírito de observação do que nos cerca.
E uma fotografia é tão boa quanto a sua capacidade de sobreviver à passagem do tempo escondida. O vermos repetidamente a mesma imagem que fizemos, no ecrã da câmara ou no ecrã do computador ou mesmo na parede, faz dela um referencial de qualidade e, ao fim de algum tempo, tê-la-emos como boa ou aceitável.
Fazer um registo fotográfico sem ver de imediato o seu resultado, guardar e observar apenas passados alguns dias, passadas que foram as emoções que nos levaram a premir o botão da câmara… isso sim, fará de uma fotografia algo que valha a pena ver e mostrar se nesse momento dela gostarmos.
É o tempo o melhor filtro daquilo que fazemos!

Uma boa forma de aquilatarmos o que fazemos, mesmo sem a opinião de terceiros, é usar uma câmara de película, vulgar e erradamente conhecidas como “analógicas”.
Colocar um rolo e levar uma ou duas semanas a gasta-lo. Mandar processar duas ou três semanas depois.
Se ao fim deste tempo, quando observarmos essas fotografias pela primeira vez, ainda delas obtivermos sensações, emoções, elas ainda “falarem connosco”, então elas terão alguma qualidade perante os nossos próprios padrões.
Nos tempos que correm, com a velocidade de produção e consumo de imagem, lamento dizer mas constatarão que a maioria dessas imagens já pouco se alguma coisa vos dizem.
O que será indicador da necessidade de pensar mais e com mais calma e profundidade de cada vez que se premir o botão do obturador, não importa o suporte.


Imagem: da minha varanda, Olympus IS 1000, Fujicolor 400

By me

No autocarro



No autocarro, um destes dias, usando a Olympus IS-1000 e Fujicolor 400.


By me

sábado, 16 de abril de 2016

O cartão e a cidade



Há um montão de gente muito preocupado com o género do cartão: se é do cidadão ou da cidadania.
Claro que a questão da igualdade de género, nos direitos e oportunidades, é importante.
Mas, neste caso, estou bem mais preocupado com o uso que é dado ao tal cartão.
Alguém pode assegurar aquilo que é lido de cada vez que o bendito cartão é introduzido num equipamento de leitura? Se apenas aquilo que nos é dito ou aparece no ecrã se todo o conteúdo, mesmo que não nos mostrem?
E alguém pode assegurar que nada é nele escrito de cada vez que é introduzido o bendito cartão num equipamento de leitura? Escritas coisas mesmo que não estejam visíveis no ecrã que nos mostram?
Não sei como vocês fazem a coisa. Mas o meu cartão de cidadão ou cidadania é como o meu sexo:

Podem ver à vontade, mas mexer só quem e quando eu quero e deixo. E sou muito selectivo no que ao sexo diz respeito.  

By me

Grito



Vejo num anúncio de um fórum a venda de uma objectiva de que nunca tinha ouvido falar. Uma Nikon 25-50 f/3.
Achei estranho tanto a amplitude focal com a abertura e fui saber mais.
Efectivamente era um erro: a objectiva tem de abertura máxima f/4, por tudo quanto pude saber.
E nunca tinha ouvido falar da objectiva porque o seu fabrico foi limitado. Esta amplitude não foi muito bem recebida porque curta, pese embora como grande-angular seja algo recomendável.
Dos fóruns e críticas que li, um texto há que me deixou com os cabelos em pé. Dizia quem escreveu, traduzido livremente:
“Há que ter cuidado em manter limpo o elemento frontal para evitar os flares.”
Ora batatas!
Manter o elemento frontal limpo é algo que deve fazer parte dos cuidados primários de qualquer fotógrafo. Ainda que não seja uma mania, saber como um fotógrafo mantém limpo o seu equipamento é uma boa pista sobre a qualidade do seu trabalho.
Por outro lado, os flares controlam-se também com o pára-sol. Por muito excelente que seja a objectiva, por excelso que seja o fotógrafo, por perfeito que seja o assunto, um pobre e humilde pára-sol pode fazer a diferença entre em muito boa fotografia e uma daquelas em que dizemos um palavrão quando olhamos para ela.
Chamem-me o que quiserem, mas as minhas objectivas têm sempre dois elementos adicionais: um filtro UV ou Skyligth e um pára-sol.
O filtro evita os danos no elemento frontal, aquando da limpeza ou poeiras ou pedrinhas que saltem inoportunamente. O pára-sol protege-me a objectiva quando tento usar a luz de que tanto gosto: de lá para cá.
Alguns fabricantes de equipamento fotográfico de consumo fazem do pára-sol um elemento extra, vendido à parte e a bom preço. Negócios! Mas nenhum fotógrafo a sério prescinde dele, mesmo que trabalhando em estúdio.


Na imagem o que poderia ter sido acidental mas que foi propositado.

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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Takumar 1:4,5 500mm



Dirão alguns:
“Tu és completamente maluco! Com estas condições de luz e de humidade atmosférica, ao fim da tarde, vais fotografar com esta bisarma?”
Pois serei, mas nestas coisas da fotografia quando dá a vontadinha tem mesmo que ser.

Quanto ao resto, uma objectiva Asahi Pentax – Takumar 1:4,5 500mm, com uns cinquenta anos de fabrico… dá gozo usar não importa como nem quando.

By me 

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Aqui por estes lados a humidade está de tal modo que ainda há pouco vi passar um pombo que em vez de voar, remava. 
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Graças às redes sociais aprendi hoje uma palavra que desconhecia: “Distopia”.

Até os pelos da ponta da língua se me arrepiaram ao saber o seu significado.
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Alguém faz o favor de entregar ao São Pedro uma aplicação de gestão de recursos naturais, para que não faça chover onde não se aproveita? Em cima de mim, por exemplo!
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Semânticas



Ainda não percebi porque raio se terá que dizer “porta mal fechada” no lugar de se dizer “porta mal aberta”.
Tal como nunca percebi se uma porta deve estar fechada, para impedir a passagem, ou se deve estar aberta, para facilitar a passagem.

Dir-me-ão que é uma mera questão de semântica. Talvez seja. Mas as palavras que usamos para falar ou tão só para pensar condicionam o nosso comportamento. Individual, inter-pessoal, grupal.
E havíeis de ter visto o brilho intenso daquele rapaz, de talvez 16 anos, quando lhe expliquei a diferença entre “tirar” uma fotografia e “fazer” uma fotografia, bem como a questão dos significados positivos ou negativos que as palavras têm. E de que modo elas nos levam a criar coisas novas ou apenas a repetir o que já foi feito.
Quando me apercebi que, mais que entender a questão, estava entusiasmado com a descoberta, fui mais longe: encarreguei-o de explicar o conceito aos colegas de turma.
“Mas como????”, perguntou-me.
“Não sei. Tu é que vais falar, não sou eu. Inventa. Cria!”
O sorriso naquele rosto, o intenso brilho daqueles olhos, compensaram em pleno o início do dia, que havia sido de conflito. Não duvido que o fará e que será convincente.


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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Começar o dia



Acabei de gastar, ainda antes do pequeno-almoço, um pouco mais de meia hora e um pouco mais de 300 palavras para mandar um departamento, ou o responsável de comunicação desse departamento, para um sítio feito.
Há coisas que dão gozo. E fazer isto, de um modo bonito e rebuscado, tentando que no final o destinatário ainda me agradeça e vá, é uma delas.


É bom começar o dia com um sorriso.

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terça-feira, 12 de abril de 2016

Nivelados



Uma ocasião, faz tempo, comprei uma catana para umas fotografias.
Foi um bico de obra, já que alguém se queixou que estava um tipo com uma catana na estação de comboios e a polícia veio em força, dois mais dois, preparados para agir com as armas se eu não a colocasse no chão e me afastasse.
O episódio acabou em bem, depois de uma inspecção de documentos e um interrogatório em regra ali mesmo. Até porque a catana, alfaia agrícola, estava ainda com a protecção de fábrica e eu possuía o talão de compra.
E as explicações que dei sobre o destino a dar a tal objecto de venda livre foram convincentes.
Mas fico sem saber o que teria acontecido se em vez de uma catana tivesse comprado uma gadanha.
Coisa que cedo ou tarde acontecerá, assim eu encontre uma cujo cabo me agrade e não um de moderníssimo alumínio que não me convence. Que o simbolismo da gadanha, enquanto ferramenta da Morte, não é inocente e ainda o irei usar.
Isto porque, e ao contrário de uma foice convencional, a gadanha com o seu cabo longo e operada de pé, não permite seleccionar as boas das más ervas, levando-as a todas do mesmo modo. Assim é a Morte.


Na imagem a foice convencional que tenho aqui por casa. A catana está noutra parede.

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Incuta no seu filho o gosto pela fotografia.

Assim, ele nunca terá dinheiro para drogas!
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Festejo



Tropeço num arquivo fotográfico meu, com uns dez anos. Nele, um conjunto de imagens de uma comemoração do 25 de Abril. O tipo de fotografias que vejo é a que costumo fazer nestas circunstâncias, tanto na escolha de enquadramentos como nos momentos decisivos.
E, de entre as opções, os jovens que festejam.
É bom ver jovens a festejar a revolução.
A minha dúvida, sincera, é se eles saberão exactamente o que estão a festejar, com todo o vigor e alegria própria dos jovens que festejam.
Tenho a vaga suspeita que a maioria deles que assim festeja tem apenas uma vaga ideia do que festeja e que o principal motivo para que festeje seja o poder festejar.
Não creio que tenham a noção disso, mas esse é o verdadeiro motivo para que se festeje a revolução: o podermos festejar o que queremos, o podermos dizer e exprimir o que sentimos.
O resto, as condições sócio-económicas em que vivemos, são fruto daquilo que festejamos em Abril: a possibilidade de podermos escolher.
Agora se temos escolhido bem ou mal – pessoas ou opções programáticas – isso já é da nossa responsabilidade.

Mas olhando de novo para esse arquivo que ainda nem tem dez anos, pergunto se esses jovens de então, agora talvez casados e com filhos, estarão este ano na rua a festejar.
Ou se já nem isso, dando por garantido aquilo que nunca foi e que facilmente desaparecerá se dela não cuidarmos: a Liberdade.

A Liberdade de festejarmos, a Liberdade de escolhermos, a Liberdade de sermos, a Liberdade de pensarmos.

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