terça-feira, 12 de abril de 2016

Festejo



Tropeço num arquivo fotográfico meu, com uns dez anos. Nele, um conjunto de imagens de uma comemoração do 25 de Abril. O tipo de fotografias que vejo é a que costumo fazer nestas circunstâncias, tanto na escolha de enquadramentos como nos momentos decisivos.
E, de entre as opções, os jovens que festejam.
É bom ver jovens a festejar a revolução.
A minha dúvida, sincera, é se eles saberão exactamente o que estão a festejar, com todo o vigor e alegria própria dos jovens que festejam.
Tenho a vaga suspeita que a maioria deles que assim festeja tem apenas uma vaga ideia do que festeja e que o principal motivo para que festeje seja o poder festejar.
Não creio que tenham a noção disso, mas esse é o verdadeiro motivo para que se festeje a revolução: o podermos festejar o que queremos, o podermos dizer e exprimir o que sentimos.
O resto, as condições sócio-económicas em que vivemos, são fruto daquilo que festejamos em Abril: a possibilidade de podermos escolher.
Agora se temos escolhido bem ou mal – pessoas ou opções programáticas – isso já é da nossa responsabilidade.

Mas olhando de novo para esse arquivo que ainda nem tem dez anos, pergunto se esses jovens de então, agora talvez casados e com filhos, estarão este ano na rua a festejar.
Ou se já nem isso, dando por garantido aquilo que nunca foi e que facilmente desaparecerá se dela não cuidarmos: a Liberdade.

A Liberdade de festejarmos, a Liberdade de escolhermos, a Liberdade de sermos, a Liberdade de pensarmos.

By me 

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