domingo, 17 de abril de 2016

Da minha varanda



Um dos “males” ou “problemas” da fotografia digital é a rapidez e facilidade de produção de imagem e a rapidez e facilidade de consumo.
Rapidamente se fotografa e se observa no ecrã da câmara o resultado, repetindo quantas vezes se quiser até se ter o que se quer e sem pensar em custos. E rapidamente se processa num editor de imagem, usando o “undo” ou o “delete” com a mesma facilidade com que se inspira ou expira.
Tal como rapidamente se publicam as imagens, em suportes físicos ou virtuais, com a certeza que agradarão a alguns “amigos”. E com a certeza que, no meio da confusão e profusão de imagens que todos os “amigos” fazem e divulgam haverá apenas que fazer menos mal, que os “defeitos” pouco se notarão.

Como estão enganados estes “fotógrafos”.
Uma fotografia não se faz num instante, no “momento decisivo” como disse o mestre Bresson.
Uma fotografia leva tanto tempo a fazer quanto o tempo que temos de vida. Ela é o resultado daquilo que somos, do somatório de todas as nossas experiências e observações da vida. E o somatório de todas as fotografias que vimos e que fizemos, das sensações que tivemos com cada uma delas, do gostarmos ou não do trabalho deste ou daquele fotógrafo, amador ou profissional, tanto faz. Cada fotografia que fazemos é tudo isso que passou somado com a oportunidade e o espírito de observação do que nos cerca.
E uma fotografia é tão boa quanto a sua capacidade de sobreviver à passagem do tempo escondida. O vermos repetidamente a mesma imagem que fizemos, no ecrã da câmara ou no ecrã do computador ou mesmo na parede, faz dela um referencial de qualidade e, ao fim de algum tempo, tê-la-emos como boa ou aceitável.
Fazer um registo fotográfico sem ver de imediato o seu resultado, guardar e observar apenas passados alguns dias, passadas que foram as emoções que nos levaram a premir o botão da câmara… isso sim, fará de uma fotografia algo que valha a pena ver e mostrar se nesse momento dela gostarmos.
É o tempo o melhor filtro daquilo que fazemos!

Uma boa forma de aquilatarmos o que fazemos, mesmo sem a opinião de terceiros, é usar uma câmara de película, vulgar e erradamente conhecidas como “analógicas”.
Colocar um rolo e levar uma ou duas semanas a gasta-lo. Mandar processar duas ou três semanas depois.
Se ao fim deste tempo, quando observarmos essas fotografias pela primeira vez, ainda delas obtivermos sensações, emoções, elas ainda “falarem connosco”, então elas terão alguma qualidade perante os nossos próprios padrões.
Nos tempos que correm, com a velocidade de produção e consumo de imagem, lamento dizer mas constatarão que a maioria dessas imagens já pouco se alguma coisa vos dizem.
O que será indicador da necessidade de pensar mais e com mais calma e profundidade de cada vez que se premir o botão do obturador, não importa o suporte.


Imagem: da minha varanda, Olympus IS 1000, Fujicolor 400

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