sábado, 29 de junho de 2019

Modernidades




Podemos discutir o conceito de belo. Como depende da cultura e da cronologia, do belo universal ao efémero e regional. Nas artes plásticas e em todas as outras. Até o conceito de belo no corpo humano.
Este será um tema inesgotável e sobre o qual muitos e ilustres pensadores se pronunciaram.
Mas este não é o caminho que aqui quero seguir. Interessa-me bem mais pensar que o que aqui vemos em nada se parece com as tradicionais placas toponímicas da cidade de lisboa. Aquelas de pedra, cravadas nos prédios às esquinas. Ou aqueloutras, também em pedra, que por não existirem prédios nas esquinas se exibem em pequenos pilares também de pedra.
Provavelmente os forasteiros, nacionais ou não, gostarão disto. Num poste, bem alto e descoberto, com indicação dos números de porta para mais facilmente os encontrar… faria sentido em novas urbanizações, com decisões globais sobre os seus aspectos estéticos.
Mas não creio que faça sentido em bairros consolidados, em que a uniformidade da toponímica existe e é quebrada com estes sinais modernos. Transforma-se o que é coeso e esteticamente lógico para uma manta de retalhos, onde quem procura a informação fica sem saber se ela estará no prédio se num poste. Por bela que seja a placa e o poste.
Faz menos sentido ainda esta alteração em favor dos forasteiros, quando sabemos que uma grande parte deles, com as modernidades tecnológicas, procura no ecrã do seu smartphone a informação de que necessita, esquecendo os clássicos mapas em papel. Ainda há quiosques para turista que os vendem, mas creio que é negócio condenado a prazo.
Acrescente-se que sabemos o quão pouco duradoiras são as obras em postes e em ferro, com os acidentes de automóvel e a natureza a reclamar a sua posse, com tintas que estalam e ferrugem que se instala.
Não consigo gostar deste toque de modernidade, fazendo assemelhar a cidade, velha que é, a cidades novas, sem tradições práticas e estéticas. E duradoiras, como podemos constatar com um simples passeio pelas suas ruas.
Mesmo que argumentem que edifícios existirão que, pelos materiais das suas fachadas, não suportam as clássicas placas de pedra, os pilares alternativos serão a solução.
Já quanto à sua modernidade pergunto: o forasteiro vem a Lisboa em busca de uma urbe semelhante às demais ou pelas suas características próprias e únicas? Não bastará a extinção dos clássicos “comes e bebes” substituídos pelos assépticos e incaracterísticos fast food? Ou o comércio tradicional substituído pelas grandes superfícies, iguais entre si no aspecto e nos produtos, mas onde o atendimento também é asséptico e, pior, quase ignorante sobre o que vende?
Suponho que o gabinete se arquitectura e design que concebeu placas e postes, bem como quem os fabricou e vendeu, terão gostado da coisa, mas não eu.
Gosto da modernidade e da evolução. Mas incomoda-me que as tradições e características se esvaiam ou destruam sem motivo.



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terça-feira, 25 de junho de 2019

D'arquivo




Apeteceu-me ir buscar esta de arquivo.
Na altura imaginava fotografias.



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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Revolucionário



“Muchos se sienten revolucionários
Porque han comprado un producto revolucionário,
Como decia el anuncio por television.”

Eduardo Mazo
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quarta-feira, 19 de junho de 2019

terça-feira, 18 de junho de 2019

Ora batatas!

Ninguém pergunta "O que é isto?", quando confrontado com uma pintura. Aceitam-na pelo que é, reagindo com as suas proprias emoções.
Mas se olharem para uma fotografia, se não identificarem ou classificarem o seu conteudo, perguntarão pela certa sobre o que ali está. E se não forem respondidos, se a resposta for evasiva ou se não reconhecerem o que lhes dizem, de imediato a classificam como má, sem mesmo darem oportunidade a que as emoções aconteçam.
Ora baratas para o figurativo obrigatório da fotografia!

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A lista



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sexta-feira, 14 de junho de 2019

Bolhas



Faz tempo que me não acontecia: madeira mais que rija, parafusos calcinados e muito bem agarrados, bolhas na mão.
Talvez que tenha mãos de menina. Talvez que câmaras e tripés, botões e ofícios correlativos, não criem pele rija quanto baste para enfrentar reparações de marcenaria deste calibre.
Mas, em qualquer dos casos, estas bolhas recordaram-me muito alegremente umas outras equivalentes. No trabalho e na alegria.

Estávamos na Páscoa de ’75. Os tempos eram confusos e a certeza de ter o futuro nas nossas mãos suplantava, de longe, os escolhos que íamos encontrando.
Este primeiro ano lectivo do pós-revolução foi confuso. Muito. Programas e conteúdos, métodos e abordagens, relações hierárquicas e sociais… acima de tudo o não haver ensino segregado por género. Ensino oficial com escolas mistas era também novidade.
Para todos, incluindo alunos e alunas, que não estávamos habituados a lidar no quotidiano com o sexo oposto. Não era fácil aquilo, e tivemos que descobrir, de súbito, como o encarar e viver.
No meio de tudo isto, o material escolar foi-se degradando. Por material escolar incluo mobiliário: mesas, cadeiras, carteiras… A dado passo, havia que dividir um assento por dois rabos, que não havia que chegasse para todos.
Pois uns quantos de nós, enquadrados por um continuo solícito, voluntarizamo-nos e passámos metade das férias da Páscoa no sótão do liceu, reparando mesas e cadeiras.
Não imaginam, decerto, o quão rija é aquela madeira. Rija de desaparafusar. Rija de aparafusar. Rija de serrar. Rija de martelar. Rija de moldar.
No fim daquela semana havia muitas mais mesas, cadeiras e carteiras para distribuir pelas salas de aula do que pensávamos que fosse possível. E havia muitas mãos cheias de bolhas. Daquelas bem altas, cheias de líquido, que secávamos com uma linha atravessada nela com a ajuda de uma agulha.
Bolhas dolorosas e alegres.
Bolhas que provocavam queixumes entre gargalhadas e que se aguentavam firmes com o receber de novo no dia seguinte o cabo da chave de fendas ou do serrote.
Bolhas que nos enrijeceram as palmas das mãos e da alma, que aprendemos com elas que o futuro é nosso e que temos que o construir.
Bolhas que se aguentaram firmes quando batemos palmas ao distribuir o recuperado pelas salas de aula, tornando-as compostinhas e apetecíveis.
Bolhas que se têm reproduzido ao longo dos anos, sempre com a mesma alegria de saber que o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.

Bolhas de fazer um mundo melhor sabem a mel e fazem-nos cócegas na alma.

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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Justiça




Sabemos que privar alguém de liberdade é uma maldade. E tanto que assim é que os códigos das leis prevêem o crime de sequestro, punindo-o.
No entanto é isso mesmo que fazemos – uma maldade – quando condenamos alguém a pena de prisão. Respondemos colectivamente com uma maldade a outra maldade ou crime.
Quando eu argumento isto, bem como a função e resultado da aplicação de penas legais, alguns mais avisados perguntam-me sobre quais as alternativas. É uma das raras perguntas para as quais não tenho resposta. Teremos, os seres humanos, que nos debruçar seriamente sobre o assunto para encontramos uma solução para o caso: como fazer para que a justiça não seja malfeitora.

Este tema vem-me incomodando desde há muitos anos. Do ponto de vista académico as mais das vezes, já que nunca fui objecto de aplicação de pena de prisão por parte da justiça.
Mas já tive que intervir enquanto “juiz”, decidindo sobre penas a aplicar em ambiente escolar. Tal como já tive que recorrer à justiça enquanto vítima. E agora encontro-me de novo nesta situação.
Perante o que me aconteceu, grave sob qualquer ponto de vista, decidir que acção tomar, ponderando as consequências futuras para quem cometeu o acto de que me queixo. Para a pessoa em causa e para os seus familiares dependentes.
A vingança não faz parte da minha atitude na vida. Fazer com que crianças inocentes sofram pelos actos dos pais é uma maldade ainda maior que aquela que sofri. Não tenho a certeza que qualquer intervenção sobre quem agiu seja um “lição” permanente, impedindo que o repita, comigo ou com outrem.
Tenho alguns dias – poucos – como prazo que me impus para tomar uma decisão. À margem de emoções e sem precipitações. Seguindo as linhas de pensamento que norteiam o meu comportamento e atitude filosófica.
Tirou-me o sono, este episódio. Antevejo que continue a tirar-mo.
Aceito sugestões e ajudas genéricas, já que não tenciono publicitar factos, consequências ou nomes.



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Terrorismos




Há quatro anos aconteceu um ataque a um jornal francês – Charlie Hebdo – que escandalizou o mundo. Porque morreram assassinadas diversas pessoas, porque foi em França, local que se considerava seguro, porque foram fanáticos do Islão, porque foi posta em causa a liberdade de expressão.

Agora foi a vez do jornal New York Times. Sem balas mas igualmente mortífero.
Uma caricatura do cartoonista António onde se criticava a relação entre o presidente Trump (EUA) e o primeiro-ministro Netanyahu (Israel) foi censurada. As acusações ao jornal e ao autor foram de anti-semitismo.
O Jornal, na altura, pediu desculpas públicas e decidiu não mais publicar cartoons de cariz político na sua edição nacional. Agora estendeu esta decisão à sua versão internacional.
Sabemos que as críticas (escritas ou desenhadas) sobre o Islão são beras mas toleradas. Tal como sobre os Romani ou outras minorias ou confissões religiosas. Na comunidade internacional abrangida pelos grandes e poderosos.
Agora a comunidade judaica, em Israel ou disseminada pelo mundo, ou o Papa (lembro-me de um cartoon com um preservativo), isso já não se admite!

Não são balas ou bombas que estão a matar a liberdade de expressão! É o politicamente correcto que o está a fazer, submetido a poderes com duplicidade de critérios. E o silêncio dos cidadãos perante a chacina do pensamento é ensurdecedor.
“A pena é mais poderosa que a espada. Quebremo-la sem grande alarido!”
O terrorismo sem Kalashnikov é tão mortífero quanto com ele. Apenas mais silencioso.



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terça-feira, 11 de junho de 2019

Democracias




De há uns tempos a esta parte, culminando neste 10 de Junho, que a classe política portuguesa trata os cidadãos nacionais como atrasados mentais.
É recorrente ouvi-los a dizer que os políticos têm que encontrar forma de fazer com que os cidadãos participem nos actos eleitorais. (O índice de abstenção das europeias foi quase obsceno.) E falam dos jovens, desinteressados que estão da coisa pública e da política.
E falam desta forma, como se os portugueses fossem um bando de carneiros e eles – os políticos – os pastores que os levam aos prados verdejantes onde seriam felizes. Um pouco à imagem e semelhança dos pastores religiosos.
No entanto, a única coisa que, aparentemente, esses discursantes, políticos e fazedores de opinião querem é que os portugueses votem. Apenas e só isso. Quanto ao resto, ao participar na gestão da coisa pública, nas decisões importantes, isso já lhes está vedado. E recordo um deputado na Assembleia da República, durante o período da Troica, que afirmou que o poder não pode cair nas ruas e que este é um país de democracia representativa.
Esse é o problema: representativa!
Aos cidadãos é pedido que elejam os seus representantes mas depois pede-se-lhe que se afastem e que deixem quem sabe – a elite política – gerir. Porque só eles – os políticos de bancada ou de gabinete – sabem o que é bom ou não para os portugueses.
Fala-se no crescendo do populismo pela europa fora. De um modo encapotado, é isto mesmo: Uma elite iluminada que, aparentando gerir a coisa pública pelo e para o povo, decide sozinha, deixando os demais afastados, ocupados com o comezinho do dia-a-dia e com a sobrevivência individual.
No dia em que os “eleitos”, por sufrágio ou não, partilharem as responsabilidades da gestão da coisa pública, das decisões e intervenções na urbe e no país, no dia em que os cidadãos souberem que as suas opiniões e gestos contam e não são apenas mais uma voz que clama inconsequentemente, talvez nesse dia os políticos, os fazedores de opinião e os dircursantes sintam que fazem parte de um todo e não de uma elite.
Haverá que mudar a lei e a prática!
Deixar de parte a representatividade e pensar na participação colectiva. Deixar de pensar que só os partidos podem opinar e legislar. Deixar de agir como se os portugueses fossem pobretes mas alegretes, rebanho conduzido para as repartições de finanças e mesas de voto.
Estes discursos “motivadores” recordam-me os vídeos que vamos vendo nas redes sociais, em que pastores religiosos “curam” pela fé e falam ao telemóvel com os seus deuses, perante uma assembleia de crentes cegos e obedientes. Que não se esquecem de pagar o dízimo ou serão conduzidos ao inferno.
E não me falem dos populismos de extrema direita!


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segunda-feira, 10 de junho de 2019

Pensando


Estava eu p’raqui a pensar:
Quantos ou quais dos homenageados hoje, dez de Junho, serão no futuro postos em causa na sua honestidade ou honorabilidade?
A história leva-nos a estes pensamentos retorcidos!

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Dúvidas




Tropeço num artigo do jornal “O Globo” do Brasil que, por sua vez, me indica que o original foi publicado no “New York Times”.
Fala-nos o artigo sobre um conjunto de 2000 fotografias feitas em Pequim aquando do movimento de estudantes há trinta anos.
Conta-nos que o fotógrafo tinha vinte anos aquando dos acontecimentos, era fotógrafo de moda, que usou uma câmara analógica e cerca de 60 rolos, que as imagens são fortes e que ele as manteve guardadas até agora, tendo sido trazidas em Março para os EUA por um amigo e digitalizadas.
Acrescenta que as divulgou porque a sua filha adolescente, que estudou na China até 2016, nunca tinha ouvido falar no massacre.

O artigo original está assinado por Tiffany May, está datado de trinta de Maio e o fotógrafo chama-se Jian Liu.

Não gostaria de colocar em causa a autenticidade da história contada. Sabemos que Tiananmen foi uma chacina e que o regime chinês sempre tentou ocultar o que ali se passou.
Mas o meu espírito desconfiado deixa-me algumas perguntas sem respostas satisfatórias.
Porquê só 30 anos passados se divulgam imagens fortes como estas sobre um tema controverso?
Porquê o auxílio de uma ONG de apoio aos dissidentes chineses, sediada na California?
Como é que, à época, um jovem fotógrafo tinha, à revelia do sistema, 60 rolos disponíveis?
Porque é que só agora, em plena guerra comercial entre a China e os EUA é que tais imagens e história são divulgadas?
Se as imagens então feitas e agora recuperadas são assim tão fortes onde estão, que não apenas as da multidão?
Se quem fotografou é um fotógrafo que se manteve no activo, migrando para os EUA em 2016, como foi capaz de manter tantos anos esta reportagem oculta? Fotógrafo é fotógrafo!
Como é que alguém que tenha vivido aquele aqueles dias e os tenha fotografado não os tenha contado e/ou mostrado à família?

Numa época em que tanto se fala de “fake news”, pró e contra o sistema, é sempre recomendável ter um espírito crítico ao que nos aparece na comunicação social. Conteúdos, origem, divulgador e momento.

Na imagem, duas das fotografias do artigo referido
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domingo, 9 de junho de 2019

Está lá



Li algures (ou terei ouvido, já não sei) uma frase dita por alguém de quem não recordo o nome:
“Vive agora como se morresses amanhã, aprende hoje como se vivesses para sempre!”
É difícil resumir em tão poucas palavras tanta sabedoria!

No entanto, e se pensarmos nas coisas ao contrário e se considerarmos que o nascimento é a interrupção de algo e a morte como o regresso ao que quer que tenhamos interrompido, poderemos questionarmo-nos sobre o manancial de conhecimento que está numa simples brisa.

A nossa dificuldade, neste interregno que somos, é chegarmos ao que lá está!

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Sombras do passado




Quando eu passava a jornada de trabalho lidando com câmaras, objectivas, acessórios ópticos, tripés e demais parafernália, tinha o hábito de, de três em três semanas usar um tempo morto dos demais afazeres para cuidar das partes de vidro. Munido do material necessário, fazia uma ronda pelos equipamentos, cuidando da sua limpeza.
A frequência desta minha intervenção assim espeçada prendia-se com o facto de o local onde tudo isto está instalado não ser sujeito a mais lixo ou poeiras que qualquer ambiente fechado de estúdio normal e o sermos vários com o mesmo ofício. Entre todos e com os mesmos cuidados, não era de todo difícil manter quase imaculado todo o material óptico.
O tempo passou, eu deixei de ter essas funções, passando para a outra ponta dos cabos, e o restante pessoal foi sendo substituído. Por idade, por mudança de funções, por cansaço total.
Objectivas e demais meios óticos passaram a estar quase no limiar do imundo. Não apenas bera de ver mas com as consequências óbvias para o resultado final.
Fartei-me de protestar, de reclamar, de pedir, de sugerir, de instar, para quem os actuais “profissionais” que com estes equipamentos lidam tenham os cuidados devidos. Inútil! Ou quase, até ter feito chegar os meus protestos a um outro nível insuspeito.
Hoje, em chegando ao local de trabalho, vejo uma das pessoas que com objectivas trabalham, a fazer a sua manutenção. A cara de chateado, incomodado, gastado e outros termos acabados em –do era digna de ser ver.
E, tal como suspeitava, o resultado de tal tarefa que durante anos fiz sem reclamações e sem que para tal me incitassem, está abaixo do sufrivel.
Qualquer aluno meu que, no final do primeiro período do primeiro ano, não tivesse como rotina o guardar equipamento limpo e operacional teria negativa assegurada. Nunca tive necessidade de tal nota atribuir.
Talvez por isso são todos ou quase todos conceituados profissionais, com brio no que fazem e com mediana a boa situação profissional.
Mas, e como dizia um velho compincha e amigo, “há vinte anos que tento ensinar o meu cágado a fotografar e não consigo!”



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sábado, 8 de junho de 2019

Sem enfeites



Alguém comentou que “isso ninguém tem o direito de fazer”.
Isto sobre escritos nas paredes ou graffitis.
Vejamos o que é “Ter o direito de…” na actual sociedade:
Gente a passar dores e sofrimento, mesmo que na infância, porque não há meios para tratamentos.
Gente que toda a vida pagou, obrigatoriamente, um contrato de reforma com o Estado e este, unilateralmente, altera os termos desse contrato, pagando menos que o combinado.
Ver crianças e adolescentes saírem de casa para a escola de barriga vazia, à espera do almoço a meio do dia, porque essa será a única refeição completa que terão de segunda a sexta. Que ao sábado, domingo, feriados e férias não há aulas.
Ver painéis publicitários, anunciando electrónica de consumo, jóias ou passagens aéreas de turismo, bloqueando a passagem a deficientes motores ou visuais. E pagando as respectivas licenças camarárias.
Ver gente com diferendos legais com grandes empresas ou o Estado, perderem as causas porque não têm como pagar advogados especialistas em retorcer as vírgulas da lei.
Ver gente, com crianças pequenas pela mão, numa fila já depois do sol pôr e ao frio, para receber um saco de comida que não têm como aquecer durante toda a semana.

Quando ninguém tiver o direito de viver isto, quando ninguém for obrigado a viver isto, fará todo o sentido que os protestos se façam em exclusivo pelas vias legais, parlamentares e policiadas.
Até lá, todas as vias serão válidas, mesmo aquelas que estão subjacentes ao ditado popular “Os fins não justificam os meios”.
Porque, entenda-se, o que realmente incomoda nos escritos públicos nas paredes, mais artísticos ou meros rabiscos, é o carácter permanente das mensagens subversivas que possam conter. Que as manifestações funcionam a prazo, depois de eleitos os políticos agem em função dos seus próprios interesses e os referendos não têm carácter vinculativo. Mesmo a comunicação social é manipulavel em função dos poderes instituídos, vergando-se a partidos e audiências.  
O grave problema está em que este género de contestação perdura até que a pintem por cima, mantendo acesa a chama que o poder, conservador por natureza, faz questão de apagar.

A contestação subversiva não é “A” solução. É “um” meio!

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Dádivas e partilhas



Aconteceu há uns anos.
A empresa onde trabalho entrou em greve por três dias. Segunda, terça e quarta.
Sendo que temos horários díspares, os tais que alguns entendem por privilégios, alguns de nós não estariam em horários de trabalho em alguns desses dias. Ou porque de folga, ou porque de férias.
Porque a essas pessoas, nessas circunstâncias, não seriam descontados esses dias de greve, propus eu o seguinte:
Por sectores de trabalho, essas pessoas contribuiriam, com o valor do que lhes seria descontado se estivessem de greve, para um saco comum, a dividir por todos. Assim, o sacrifício seria igual ou proporcional para todos e o auxílio também, que três dias de descontos é obra.
Da boca de um colega de trabalho ouvi o seguinte: “Oh JC! Se estás com problemas de dinheiro, faz como eu: pede ao banco.”
De pouco adiantou dizer que eu estaria de folga em dois desses três dias e que estaria a contribuir bem mais que a receber.
Nada aconteceu.

Entre o partilhar e o dar há uma fronteira. Ténue, mas existe.

Mas aqueles que nem sequer entram em território de partilha pouca consideração merecem da minha parte.

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terça-feira, 4 de junho de 2019