quinta-feira, 31 de março de 2016

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Considerando a data de amanhã, será que vou acreditar nas notícias que ler ou ouvir?

Bem, também é verdade que já hoje ponho muitas em causa.
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Gostos



Gosto tanto de ver gente absolutamente inocente e de consciência tranquila nos ecrãs de televisão!

By me

Para que conste



A vida nada mais é que um interregno na eternidade.

By me

Sou ou não sou



Volta e meia oiço – ou leio – sobre casos que conto aqui ou ali:
“Então e não fotografaste? Tu, logo tu, sempre com a câmara contigo, não fotografaste!?”
A frequência com que me vou deparando com esta afirmação/interrogação vai aumentando, à medida que o tempo passa.
Efectivamente, cada vez menos fotografo o que assisto!

Existem em mim dois fotógrafos que se digladiam face às ocorrências: o bio-químico e o foto-mecânico.
Cada vez mais o primeiro tem relutância em deixar o segundo actuar perante a actividade humana. Aquilo que o segundo pode ver e, eventualmente, registar com a sua objectiva é infinitamente menos que aquilo que o primeiro constata.
Os cheiros, os sons, os sentimentos do dia-a-dia são tantos, tão apelativos, tão inebriantes, tão envolventes que, se todos eles passassem para a câmara, nada mais faria. Seria como aqueles turistas que vão de férias e vêm os locais pelo visor, e apenas por ele. Vi alguns assim na Expo98, por exemplo.
Se a magia da fotografia, a grande magia, é o contrair do tempo do antes e do depois para o durante a exposição efectuada, que duração teria uma exposição que englobasse a vida?
Se a fotografia faz parte da minha vida – e faz indubitavelmente – procuro fotografar com os olhos e, em havendo oportunidade, encontrar algo que, de alguma forma, transmita o que vi e/ou senti.
São ícones fotográficos o que vou fazendo, não procurando reproduzir realidade que não apenas a minha realidade. A minha forma de ver a realidade.
A fotografia documento - e as actuais tecnologias cada vez mais o incentivam – retiram-lhe validade. Já perdi a conta das vezes em que, confrontado alguém com fotografias minhas, me perguntou se a tinha trabalhado no photoshop. A credibilidade de uma fotografia, da fotografia, já não existe. Supondo que alguma vez existiu.

Por isso, quando vejo/vivo algo, prefiro gozar esses momentos, “fotografando” na “película” a que chamamos cérebro e guardar para mais tarde a materialização do todo que vi e senti.
Estou em crer que deixei de ser fotógrafo. O que sou? Nem eu sei bem!


Talvez um medíocre espectador com uma ferramenta que não domina.

By me

A espera é!



By me

quarta-feira, 30 de março de 2016

Cronos



Só para que conste:

Enquanto o cornómetro mede o corno ou a distância entre pontas, o cronómetro mede o cronos, ou a distância entre momentos.

By mm

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Leio uma frase panfletária, em que um partido político se diz “Sempre do lado dos trabalhadores”.
Se um partido, que é uma organização privada em que o acesso é condicionado pela vontade dos seus membros, está do lado de alguém, quer dizer ele mesmo – o partido – não é esse alguém.
É uma entidade à parte que, por mero acaso, está solidária com os trabalhadores. Mas que é decisão sua estar assim, podendo, se assim o quiser, não estar.

Ora batatas para os partidos – todos eles – que se entendem do lado do povo porque não são povo.


Já agora acrescento que, para me representar, quero um dos meus e não alguém que diga que está do meu lado!
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terça-feira, 29 de março de 2016

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Ouvida de um taxista, faz já bastante tempo, e mais verdadeira que todos os livros de todos os sábios juntos:

Quando ris, o mundo ri contigo;

Quando choras, choras sozinho!
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Nada anima mais uma redação, elevando a adrenalina a valores próximos do perigoso, que um saboroso incidente policial, com tiros, mortos e feridos de ambos os lados.

Não temos terroristas suicidas, mas temos os nossos bairros problemáticos, com as suas etnias, rivalidades e conflitos.
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Espelhos e ilusões



Esta é das melhores dos últimos dias, ainda que assim seja há já uns anitos:
Num centro comercial em Lisboa, mesmo em frente a um balcão que vende crepes com recheios hiper-calóricos, um espelho destes na parede.

Acredito que quem pague a renda para ali ter aquele negócio pague um valor adicional pela boa manutenção do espelho de feira.

By me 

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Parece que o discurso ao país do presidente da República só foi transmitido em directo nos canais de informação televisiva por cabo. E nas rádios.
Fico sem saber que foi falta de timing ou falta respeito pelos cidadãos por parte do tal presidente, se foi falta de respeito ou opção política por parte dos canais generalistas.
Em qualquer dos casos, é grave!

E convém não repetir!
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segunda-feira, 28 de março de 2016

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“Se não podes vencê-los, junta-te a eles”, diz o povo.
Não eu!
Que há práticas que eu, enquanto ser humano, enquanto cidadão e enquanto profissional, nunca terei.

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O templo



Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não se trata de um campo de refugiados no leste europeu.
Tal como não é a fronteira entre os USA e o México.
Ou o muro entre Israelitas e Palestinianos
Nem sequer uma instalação militar.
O que aqui vedes mais não é que a cerca, alta de mais de oito metros, de um templo religioso bem no centro de Lisboa.


By me

Reclamação matinal numa segunda-feira



Para quê darmo-nos ao trabalho de ter uma semana nova quando está tudo igual à semana passada?
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A caneca de café



Não vi um ou dois, mas cinco jornais on-line, só mesmo para ter a certeza.
O presidente da República vai falar ao País hoje sobre a promulgação do Orçamento do Estado.
Não havendo muito mais para dizer sobre o assunto, dois dos jornais adiantam-se em detalhes.

Um deles, o “Público”, informa-nos que será “à hora do jantar”.
Não sei lá muito bem qual o rigor de “hora do jantar”. Para mim é frequente jantar pelas 19 horas, que o trabalho assim mo obriga. Mas também é comum lanchar forte ao fim da tarde porque o jantar será quase ceia.
A menos que para o redactor da notícia seja como na anedota: “Cá em casa janta-se às 20 horas. Quem está janta, quem não está estivesse.”
Claro que a anedota tem um pedaço antes e a parte mais divertida é a que se lhe segue, mas isto aqui é sério eu aqui escrevo para todas as idades e conceitos morais.

Mas a melhor anedota vem de outro jornal, o “Diário de Notícias.”
Diz-nos quem escreveu o texto publicado que assim o “Presidente da República evita que o documento seja publicado em Diário da República no dia 1 de Abril (dia das mentiras)”.
Confesso: estava sentado com a minha caneca de café na mão quando li isto e quase que a esparramei toda em cima das pernas com as gargalhadas que larguei.

Como se fosse de algum modo importante para algum político o publicar ou declarar o que quer que seja no dia das mentiras.

By me 

domingo, 27 de março de 2016

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Quem?
Como?
Quando?
Onde?
Porquê?


É assim tão difícil interiorizar estas questões e usá-las nos textos e reportagens informativas?
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O coelho da Páscoa



Eu encontrei-o. Encontrei o Coelho da Páscoa.
Pouco passava do meio-dia e meia e tropeço nele na estação do meu bairro. Com este ar de estafado, completamente derreado.
Pudera! Qualquer um estaria se tivesse que andar a pôr ovos de Páscoa de vários tamanhos, com diversas embalagens e, ainda por cima, ter que os distribuir.
Coitado dele.
Quando o meu comboio chegou ele ficou ali. Acho que a composição que o leva a casa não é anunciada na estação.


Nota adicional: O garoto que estava por perto, de mão dada com a mãe, não percebeu porque estava o Pai Natal a fotografar o Coelho da Páscoa. A pergunta foi efectivamente feita.

By me

Alusões politico-filosóficas



Sentei-me neste banco de jardim, usufruindo da fresca sombra que proporcionava, com o firme intuito de terminar o último capítulo e meio do livro que tenho tido entre mãos:
“A última imagem (fotografia de uma ficção)”, de Margarida de Medeiros.
Pese embora o assunto seja bem interessante e que nos possa conduzir para outros campos igualmente interessantes, a prosa não é particularmente brilhante, pelo que me fui arrastando no tempo.
Hoje decidi acabá-lo, desse por onde desse. Que, mania minha, odeio deixar um livro em meio.
Estava quase no fim e vi estes dois aproximarem-se. Ainda tentei entabular algum tipo de conversa ou interacção, mas não me ligaram nenhuma e saíram-me do campo de visão. E eu regressei à leitura.
Terminando-o, fiz alguns apontamentos rápidos para consulta posterior e ponderei o seguinte. O local, a frescura comparativa, a tranquilidade a isso convidavam. Entre Descarte e Mark Twain, optei pelo segundo, uma espécie de sobremesa leve depois de uma refeição pesada.
E dei conta do primeiro conto, delicioso por sinal.
Achei que chegava e que haveria de aproveitar a luz que estava bonita. Arrumei a tralha e levantei-me. E foi aí que os vi.
Tinham estado todo aquele tempo a meu lado, como se nada fora, quase que ao alcance da mão. Achei piada e fiz o registo.
Levantaram-se acto continuo e regressaram pelo mesmo caminho por onde vieram, pela mesma ordem e com a mesma velocidade: descontracção absoluta.

Com a minha imaginação exacerbada e bem alimentada pelo que acabara de ler, perguntei-me se não teria sido uma versão alfacinha do episódio recente com Bernie Sanders num comício americano.

By me 

Treze semanas



O número treze tem uma carga meio negativa, sabemo-lo.
Ou por ser sexta-feira treze, ou por serem treze os que estariam na última ceia, ou por ser uma dúzia mais um, ou por ser número primo, ou por… o treze tem uma carga menos simpática.
Apesar disso, temos que viver com ele, como com qualquer outro. E, ainda que a maioria não o saiba, treze é o número de semanas contidas em três meses.
Claro que aqueles que estão ligados à produção audiovisual bem o sabem, já que os contratos para séries, por cá, costumam ser de treze episódios, os tais três meses redondos de programação.
No meu caso muito particular, o treze manifesta-se hoje e do mesmo modo: treze semanas, três meses certinhos. Um dia 27 e um domingo.
É este o tempo que levo sem fumar e, tendo-o ultrapassado e se não fizer asneiras, conto estar muitas vezes isso em modo continuo. Digamos que é um contrato a muito longo prazo.
E, apesar de tudo o mais, o meu sincero agradecimento a quem me deu o pontapé de saída.


By me

sábado, 26 de março de 2016

Cronos



Eu juro que não vou fazer nenhuma piada sobre o facto de esta noite termos uma hora a menos para dormir!

By me

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Fica-me aquela dúvida:
Porque raio todos fazem questão de estar a sorrir nas fotografias quando os jornais estão repletos de notícias que não dão vontade nenhuma de rir?

Os arqueólogos de daqui a uns 2000 anos dirão, confrontados com os vestígios de agora, que os humanos da segunda metade do século vinte e da primeira do século vinte e um eram uns perfeitos idiotas.

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E se de Lisboa para o Porto é o mesmo que do Porto para Lisboa, se do pai para o filho é o mesmo que do filho para o pai, porque raio é de que segunda para sexta é muito maior que de sexta para segunda?
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Diziam os velhos anarcas:
“Tudo na vida tem um fim, excepto a salsicha que tem dois”.


Hoje foi um fim.

By me 

Isto tá complicado



Fica o lembrete:

A vida é sexualmente transmissível e fatalmente mortal.

By me 

sexta-feira, 25 de março de 2016

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Na Páscoa, festa maior para o Cristianismo, celebra-se a morte.
Talvez por isso os noticiários e jornais tanto tenham falado dela nos últimos tempos. A morte de estudantes, o desaparecimento de um jogador de bola, as bombas do terror…
Faltará, talvez, falar das mortes dos que esperam por tratamento na urgência de um hospital. Mas talvez isso já não aconteça de todo, desde os últimos actos eleitorais.
Pelo menos a dar fé no trabalho dos jornalistas.

E sabemos que a Páscoa é uma questão de fé.

Dificuldades de um fotógrafo



Não é fácil! Juro que não é nada fácil!

Colocar amêndoas da Páscoa, das moles, tipo Coimbra, ou das de recheio de licor, numa mesa para as fotografar.
Encontrar os fundos certos.
Encontrar o prato, bandeja ou guardanapo que esteja de acordo com o exibido.
Ajustar os eventuais acessórios que possam compor o conjunto.
A luz que, dentro do nosso estilo, faça realçar texturas e cores.
As posições ou equilíbrios que elas, as amêndoas, devem apresentar…
Eh! Espera lá! Onde estão as amêndoas?????

Pois é! No meio de tudo isto, as amêndoas voaram, melhor dizendo, foram içadas de onde estavam para as bocas circundantes. E, na hora do click, apenas se vêem línguas lambendo os beiços de satisfação e um “Desculpa, mas não resisti” estampado nos olhares.
Pois eu encontrei a solução infalível:
Ninguém come uma amêndoa que seja se não a segurar com os pauzinhos chineses!
Com eles, podem comer todas! À mão, nenhuma!


E não é que consegui fazer o diabo da fotografia?

By me

quinta-feira, 24 de março de 2016

Liberdade



No constante fazer de imagens do quotidiano, as que são normais, regulares, habituais, vão-se desvanecendo, como papel fotográfico mal fixado, restando delas contornos vagos e imprecisos.
Do que recordo de há 42 anos, para além da festa da revolução por si mesma (o fim da guerra, da censura, da ditadura, da polícia política) ficam as imagens da festa do quotidiano!
Cada dia era um dia, razoavelmente imprevisível e em que as suas consequências dependiam, em boa parte, do que fizéssemos. Não deixávamos o futuro em mãos alheias e intervínhamos, a cada passo, nos que a nós dizia respeito e no que ao colectivo tocava.
Construíamos! Debatíamos! Sonhávamos! Fazíamos!
É esse espírito de construção permanente, de almejar mais e melhor e de fazermos por isso (sem esperarmos que outros o fizessem por nós nem para eles passemos as responsabilidades de tal) que recordo com mais força. São fotografias perfeitamente impressas e fixadas que jamais se desvanecerão. Apesar dos aspectos negativos (que os houve) que aconteceram então e que ainda hoje marcam parte da nossa vida.
No espelho do tempo vejo aquilo que agora faço porque aconteça: intervir na sociedade, estando lá de corpo e alma, melhorando o que de menos bom vamos tendo e celebrando o que de alegre e positivo existe.
Mas quando olho para trás e para o lado, lamento sinceramente que esta atitude interventiva, que então grassava, se tenha desvanecido, qual imagem velha e mal cuidada.
Quando, daqui por 42 anos, olharmos para as imagens deste tempo que vivemos, o que sobrará serão imagens cinzentas ou amareladas, mal fixadas e amarfanhadas.
Por que nesta sociedade, a alegria de ser passou a alegria de ter. E o consumismo dos tempos que correm transforma de um dia para o outro a novidade em velharia, pouco restando para recordar.As fotografias que então fizemos com a alma repassam no tempo. As que hoje vamos fazendo, porque virtuais e efémeras, não sobreviverão à vertigem das novas novidades para consumir!

By me

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Confesso que não resisti!
Apesar do tamanho das pilhas dos por ler, ver este meio perdido numa banca a fazer-me fosquinhas foi demais.
Com esta assinatura, tudo o que vier é bom!

By me

quarta-feira, 23 de março de 2016

Bem-vinda




Já nem sei há quantos anos tenho uma caneta destas. 
Chamem-me conservador, bota de elástico, o que quiserem. Gosto destas canetas, tenho fortes motivos para tal e faço questão de ter uma delas comigo.
O que têm elas de especial?
Têm três cores, que dependem da forma como as manusearem. O que se torna bem útil para quem ainda tem o hábito de escrever e fazer gatafunhos.
A primeira que tive foi uma oferta muito especial por parte de um amigo/mestre/compincha, aquando do meu início de actividades lectivas. Disse-me ele:
"O azul é para o livro de ponto, o lápis para a caderneta, o vermelho para as questões disciplinares."
Gabo-me de nunca ter usado o vermelho, que sempre resolvi as coisas em sala e cara a cara.
Infelizmente, com o passar dos tempos, há sempre um ou outro aspecto que se vai estragando, a ponto de ter que ficar em casa e ter que ser substituída. Esta é a quarta, mas a primeira está na minha secretária em casa e continua a ser usada.
A razão de ser de hoje estar a falar nisto é que já não é tão fácil de as encontrar como outrora e há já quase dois meses que procurava substituta em vão. Encontrei hoje.
Bem-vinda ao bolso e à mão!

By me

Uma questão estética



É sempre interessante reparar em como são os xenófobos, os intolerantes, os racistas, os defensores de “a minha liberdade é mais importante que a tua”, os que argumentam em prol dos totalitarismos (sejam eles quais forem) aqueles que mais alto gritam, que mais se insurgem contra a opinião dos outros, que mais agressiva e aguerridamente querem impor os seus pontos de vista.

E quando os oiço a perorar os seus discursos de ódio num estádio, num café, numa rede social, numa estação de TV, fico sempre a sonhar no como os candeeiros da minha rua ou o arco da Rua Augusta, em Lisboa, ficariam bem mais bonitos com eles lá pendurados.

By me 

Escritas com .... luz



Dizem os especialistas que a fronteira entre a pré-história e a história é a invenção da escrita.
A utilização de caracteres, ideográficos ou fonéticos, que são igualmente entendidos por uma comunidade ou povo.
Conhecemos de cor os nomes de algumas: “Cuneiforme”, “Hieróglifos”, "Romana”, “Árabe”, “Chinesa”, “Cirilico”, e tantas outras.
A forma como esses caracteres se espalham pelo espaço ou superfície é particularmente interessante. A forma como se unem, como são mais angulosos ou curvilíneos, como se alinham por uma linha superior ou inferior, o sentido como são escritos e lidos, se correspondem a sons ou ideias…
A tudo isto acrescente-se a “arte” da caligrafia, do desenhar manualmente esses símbolos, reflectindo em parte o apuro do seu autor, a fluidez e organização das ideias, o instrumento usado…

A invenção da imprensa, se veio democratizar o acesso à leitura e à cultura, veio também diminuir um pouco o desenvolvimento dessa “arte” da escrita e da caligrafia.
A máquina de escrever acelerou o processo e o uso de computadores pessoais está a dar o golpe de misericórdia na caligrafia.
O acto de escrever manualmente está a morrer e ver alguém com papel e caneta que não seja um estudante já começa a ser um episódio raro.
E se no PC existem diversos tipos de caracteres disponíveis (dezenas ou centenas), raros são os que escolhem uma, deixando-se levar por aquelas que, por defeito, são seleccionadas pelos processadores de texto. Indo ainda mais longe, o uso da Internet é bem mais redutor no que a caracteres diz respeito já que o leque dos disponíveis é ainda mais reduzido.
De uma forma ou de outra, vamos ficando balizados com a aldeia global, diminuindo cada vez mais a possibilidade de nos afirmarmos como indivíduos.

E se a escrita com caracteres está assim a evoluir, o mesmo sucede com a escrita com a luz – a fotografia.
Tratando-se de escrita, a sua feitura e leitura estão condicionadas pela cultura onde se insere. Temas, sentidos de leitura, gestão de espaço, etc. Mas também aqui, e mais uma vez, a globalização vem estreitando a forma como é feita e lida. A imposição de grelhas nas páginas web, formatos, resoluções, “peso” dos ficheiros, panóplias de cores, etc., estão, lentamente, a diminuir, cercear a liberdade criativa dos autores, que vão usando este já não novo meio de comunicação para exibirem e divulgarem os seus trabalhos.
Para já não falar de como pode ser igualmente redutor a padronização de sistemas e tecnologias na fotografia animada – Cinema e TV.

A título de exemplo de como é possível, apesar de tudo, fugir a estes standards da globalização, sugiro que se veja o filme Yi-Yi, palma de ouro de Cannes, 2000.
Observe-se como o seu autor, usando todo o enquadramento rectangular e horizontal típico do cinema, conseguiu fazer enquadramentos verticais, no que à acção diz respeito, típico da sua cultura original.
Do meu ponto de vista, é um daqueles filmes que deverá fazer parte da filmoteca pessoal e de referência de qualquer um que se interesse seriamente sobre a escrita da luz!

Recomenda-se!

By me

terça-feira, 22 de março de 2016

Fotógrafo ou talvez não



Reproduzo aqui de cor, com a fidelidade possível de mais de doze horas de distância, uma conversa com um colega, ontem:

“Então? Fizeste boas fotografias do granizo?”
“Não. Nem usei a câmara.”
“Mas não estavas na rua quando caiu?”
“Estava no comboio quando foi a chuvada, mas nem me preocupei com isso.”
“Mas seriam fotografias originais. Granizo daquele em Lisboa é coisa rara.”
“Verdade! Mas não fotografo para fazer imagens originais nem estou em modo de reportagem permanente, ainda que sempre com a câmara no bolso.
Se a fotografia faz parte da minha vida, ela não é a minha vida. Bem mais importante, para mim, que fazer o registo do que acontece, é viver o que acontece. A fotografia surge em segundo plano. Eventualmente, mas só eventualmente, fazendo o registo.
Um pouco como o que sucede com o fogo de artifício. Adoro ver fogo de artifício. A efemeridade daquilo que se vê coloca-me bem consciente na minha própria efemeridade. E a luz e cor enchem-me a alma. Se naqueles breves instantes me preocupar em registar, certo é que não usufruo por completo do espectáculo.
Aconteceu uma grande granizada? Vivi-a!”

Pensei depois nesta conversa, equivalente em muito a outras que tenho tido ao longo da vida.

Concluo que talvez não seja eu um fotógrafo.

By me 

Medo



Acordo tarde e fico a saber, via net, sobre os atentados em Bruxelas.
A curiosidade e o dever de ofício levaram-me a ligar o televisor e ver de outro modo o que se está passar.
E, aí sim, fiquei com medo!
Vejo e oiço um eleito de alguns cidadãos portugueses a defender uma sociedade securitária, a aceitar como natural e recomendável o perdermos parte da privacidade e liberdade em prol da segurança.
Não subscrevo, como é óbvio, ataques terroristas. Mas estas atitudes políticas, quiçá já legislativas, assustam-me.

E receio mais ainda o podermos em breve estarmos todos a falar a Novilíngua!

By me

segunda-feira, 21 de março de 2016

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Uma ocasião os órgãos do corpo humano reuniram-se para decidirem, de uma vez por todas, qual seria o mais importante.
“Sou eu, claro”, afirmou o Coração. “Faço o sangue circular, levando os nutrientes a todos vocês.”
“Nem pensem!”, retorquiu o Estômago. “Se não for eu a digeri-los, não há nutrientes para ninguém!”
“Tudo isso é muito bonito, mas se não for eu a dizer quando o fazer…” Suspirou o Cérebro.
“Pois! Pois!”, atiram os Olhos em uníssono. “Mas se não formos nós a mostrar-vos o que pode ou não ser ingerido haveria de ser do bom e do bonito!”


Farto de toda esta conversa, o Cu entrou de greve!
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Dia de

Parece que hoje será o dia mundial da poesia. Vale o que vale, o dia disto e daquilo, como se nos outros dias isso e aquilo não tivessem importância.
Em qualquer dos casos, e alinhando com a maioria, deixo-vos um apontamento de poesia popular, uma quadra de que me recordo uma ou duas vezes por mês, quase todos os meses do ano:

“Oh Lua que vais tão alta
Redonda com’um tamanco.
Maria trás cá a escada

Que não chego lá c’o banco!”
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Rostos



Conhecia pelo nome os vinte e dois jogadores em campo, bem como os treinadores e suplentes.
Mas foi incapaz de reconhecer este rosto. E fiquei intrigado com o olhar que me lançou quando o questionei: não sei se de desprezo pela pergunta se de raiva por lhe desviar a atenção.
Espero que seja feliz!


Imagem palmada da net
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Ouvido por aí

Um filho da puta só é um bom filho da puta se estiver do meu lado da barricada.
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Um fotógrafo



Um fotógrafo não transforma uma pessoa feia numa pessoa bonita.
Não faz uma pessoa gorda ficar magra. Não retira verrugas, acrescenta cabelo ou modifica o volume de parte do corpo.
Mesmo que domine muito bem as técnicas de tomada de vista e edição, um fotógrafo não faz isto.
Quem faz isto são os que mentem com a imagem: alteram, subvertem, aldrabam.
Quem faz isto são os vigaristas da fotografia.
O que um fotografo faz é convencer a pessoa que vai fotografar que tem que gostar de si mesma tal como é e que ele, o fotógrafo, consegue mostrar o que essa pessoa é de modo a que ela goste de se ver. Bem como os outros.
Um fotógrafo a sério não é um mentiroso com o seu trabalho, ainda que o saiba e possa ser.

Mas é garantido que um fotógrafo é um alimentador de egos!

By me

domingo, 20 de março de 2016

Imagem e realidade



Por vezes, pensando nisto e naquilo, chegamos a conclusões estranhas!
De acordo com as lei da física em geral e da óptica em particular, uma lente positiva – ou um sistema óptico positivo – formam uma imagem real, invertida e menor que o objecto.
Vem nos compêndios, aprendemos na escola e usamo-lo no quotidiano. Nas lupas, nas objectivas, no cristalino.
O que me leva a constatar que as imagens que temos e fazemos do mundo são, na sua essência original, o inverso do que pensamos e com que lidamos. Para chegarmos ao universo como o entendemos temos que inverter as imagens que produzimos, quer sejam a da câmara ou a do olhar.
Daqui que possa concluir, sem grande esforço, que o mundo que nos cerca e que constatamos com as imagens que construímos, é real, verdadeiro, muito maior do que o vemos e invertido à forma como o vemos.
Pergunto-me assim se, sendo o universo o inverso do que vemos, será que nós, seres humanos, temo motivos para assumirmos a importância que nos atribuímos?
E será que quando nos travamos de razões com alguém, o facto de vermos a vida de pernas para o ar não nos porá a ver o mundo com uma distorção diferente da do nosso interlocutor?

E vale a pena agredirmo-nos e matarmo-nos porque vemos e sentimos a vida do avesso?

By me

sábado, 19 de março de 2016

A espera é!



Por vezes exasperante.

Celebração



Só para que conste:
O dia de amanhã é um dos mais importantes do ano. Em todo o mundo.
Às quatro e pouco da madrugada (hora de Portugal) acontece o Equinócio. Da Primavera no hemisfério Norte, do Outono no hemisfério Sul.
Dizemos que é a mudança de estação. Mas é também aquele dia em que a quantidade de horas de luz solar é igual às de noite.
E este dia é de tal modo importante que já os antigos, os muito, muito, muito antigos o celebravam. Chegando mesmo a construir monumentos em sua honra. Imagine-se o esforço que implicava o transportar várias pedras de muitas toneladas sem mesmo conhecerem a roda para tal.
Se bem que hoje poucos sejam os que celebram esta data, que a Páscoa e a mudança de hora parecem ser bem mais importantes na efemeridade do Homem, as culturas ligadas aos vetustos Druidas ainda lhe dão o seu verdadeiro valor.
E, no calendário Iraniano, o Equinócio da Primavera marca o início do novo ano, tal como nós o fazemos com o primeiro de Janeiro.

Acredito que tudo isto seja, para si, de pouco valor. Afinal, que importância pode ter algo que sempre aconteceu e que irá continuar a acontecer até ao final dos tempos?

Exactamente por isso, e porque todo o fim dá origem a outro início, sugiro que hoje se despeça do Inverno e amanhã saúde a chegada da Primavera.

By me 

sexta-feira, 18 de março de 2016

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Para que conste:
Este ano celebro um aniversário especial. Nunca tive a idade que nesse dia terei.

Uma Sigma 50-500 para Pentax seria uma prendinha bem-vinda.

Pensa



E é aqui que se vê o nível do jornalismo português!
Em tudo quanto é lado se escreve ou diz “a direita” ou “a esquerda”, querendo com estas definições simplistas tudo nivelar.
Talvez nivelar pelo nível de conhecimento dos jornalistas das teorias e práticas políticas de cada formação partidária. Ou mesmo dos não partidários.
A pensarmos como os jornalistas de serviço nos media portugueses, no parlamento e fora dele existem apenas duas opções – esquerda e direita – e quem não é por uma é por outra, obrigatoriamente.
A seguirmos a linha de raciocínio de quem pensa poder moldar a opinião pública, já não há extremos, o fiel está bem definido e as teorias políticas bipolarizaram-se.
Os radicais co-existem na mesma caixa que os moderados, apenas que as caixas agora têm dois rótulos possíveis: esquerda e direita.
É agora muito mais fácil para um escriba olhar para alguém e afirmar se é de esquerda ou de direita. Suponho que por um carimbo na testa ou piercing no nariz.

Quanto aos outros, os não alinhados… “Oh pah! Isso não existe!”

By me

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Parece que o Portas terá um programa televisivo semanal.

É desta que transformo o meu televisor num aquário!
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Já agora, e só para que conste, eis um artigo da Constituição da República Portuguesa:

Artigo 43.º
(Liberdade de aprender e ensinar)
1. É garantida a liberdade de aprender e ensinar.
2. O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.
3. O ensino público não será confessional.


4. É garantido o direito de criação de escolas particulares e cooperativas.
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Vou pegar num assunto que está a arrefecer.

Um presidente da República que na primeira semana de mandato faz questão de ter dois actos públicos por si promovidos relacionados com religião, um dos quais a primeira visita de estado ser ao Vaticano…
Desculpem mas este presidente não é de todos os Portugueses.
Indo mais longe, é minha opinião que foi infringido o artigo 41 da Constituição da República Portuguesa, exactamente aquela que o Presidente jura cumprir e fazer cumprir.


Não antevejo nada de bom para os próximos cinco anos com origem no palácio de Belém.

Ao calhas



Por vezes faço isto: pego num livro ao calhas, quer da estante ou pilhas onde estão os lidos, quer de uma das pilhas onde estão os não lidos, e abro-o igualmente ao calhas.
A leitura do parágrafo onde os olhos caiam, completamente descontextualizada de tudo o resto, é sempre interessante. E tanto mais quanto quisermos fazer inserir o lido nas vivências recentes.
No caso, trata-se de “A civilização do espectáculo”, de Mário Vargas Llosa:

“Contrariamente ao que os livres-pensadores agnósticos e ateus dos séc. XIX e XX imaginavam, na era pós-moderna  a religião não está morta e enterrada nem passou para o sótão das coisas imprestáveis: está viva e bem viva, no centro da actualidade.
Não maneira de saber, claro, se o fervor dos crentes e praticantes das diferentes religiões que existem no mundo aumentou ou diminuiu. Mas ninguém pode negar a presença que o tema religioso ocupa na vida social, política e cultural contemporânea, provavelmente tanto ou mais que no séc. XIX, quando as lutas intelectuais e cívicas a favor ou contra o laicismo eram preocupação central em grande número de países de ambos os lados do Atlântico.”


A imagem é do meu arquivo.

By me

quinta-feira, 17 de março de 2016

Prazeres



Durante quase quinze anos desviei amiúde o meu caminho para ir àquela livraria.
Era um ponto de encontro fora de série. Ao fim da tarde em lá entrando nunca se sabia se ali se estaria a falar de literatura, se de pintura, se de filosofia, se de fotografia, se de teatro, se de cinema, se de política…
Tal como nunca se sabia com antecipação quem ali estaria de conversa informal, seguindo o rumo errático das respostas que se ouvissem: se estudante liceal, se universitário, se pedreiro, se doutor ou se dona de casa…
Perdi a conta à quantidade de vezes que ali entrei e pedi: “Sr. Augusto: ponha-me a ler!” E nunca me arrependi dos que me vendeu, depois de me perguntar quais os dois últimos que havia eu lido.
Temos todos nós uma dívida do tamanho do mundo para com este Sr. Augusto. Mas isso são história que a História se encarregará de explicar. Não eu. Mas que de cada vez que nos encontramos faço questão de lhe agradecer o ter sido um dos que fez o que fizeram, lá isso faço!
E sinto-me particularmente honrado por, passada bem mais de uma meia dúzia de anos sem nos vermos, ele se desvie do seu caminho para conversarmos, sabendo o meu nome e história.


 By me

Marcas do tempo



Foi a Nova Lisboa que fechou, mudou de donos e reabriu. Com alterações visuais (pequenas), de empregados (notórias) e de produtos em venda.
Foi a Suprema que fechou e que parece ser para sempre, se considerarmos o aspecto do seu interior.
Foi a Sul América que fechou e que já nem este aspecto tem, visto que retiraram os dísticos luminosos com o nome, que desde que me conheço ali estiveram. Aquela pastelaria/restaurante que não tinha pudor (para vergonha de todos os outros que o têm) em ter alguém com trissomia 21 a trabalhar atrás do balcão à vista de todos. E com um sorriso de felicidade estampado no rosto.

Com as mudanças, fechos e reaberturas do comércio tradicional vai-se alterando a face visível da cidade.
Já nem refiro a baixa, com as lojas que fecham para abrirem hostels que terão o mesmo tempo de vida que a cidade enquanto destino preferencial de turistas. E que depois disso…
Já nem refiro a opinião que os cotas como eu terão ao verem desaparecer as montras e rostos que sempre conheceram. O passado só é melhor que o presente porque o vivemos e dele guardamos memórias. Os jovens de hoje dirão, daqui por quarenta anos, o mesmo que hoje nós dizemos.
Custa-me, antes sim, o ser cada vez mais difícil o encontrar pastéis de bacalhau ou de massa tenra, bábás ou ducheses. Já nem falo em pipis ou garibáldis.

Mas também já não se vai aqui ou ali por um petisco ou guloseima. E os encontros, esses, fazem-se não na mesa de um café mas na virtualidade das redes sociais, cada vez mais com resultados práticos negativos.


Nota adicional: É cada vez mais difícil deixar a marca da nossa passagem numa mesa de café ou esplanada, feita com a ponta de um canivete. Aliás, é cada vez mais raro ver alguém com um canivete.

By me 

quarta-feira, 16 de março de 2016

Cântico negro



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!



José Régio