terça-feira, 22 de março de 2016

Fotógrafo ou talvez não



Reproduzo aqui de cor, com a fidelidade possível de mais de doze horas de distância, uma conversa com um colega, ontem:

“Então? Fizeste boas fotografias do granizo?”
“Não. Nem usei a câmara.”
“Mas não estavas na rua quando caiu?”
“Estava no comboio quando foi a chuvada, mas nem me preocupei com isso.”
“Mas seriam fotografias originais. Granizo daquele em Lisboa é coisa rara.”
“Verdade! Mas não fotografo para fazer imagens originais nem estou em modo de reportagem permanente, ainda que sempre com a câmara no bolso.
Se a fotografia faz parte da minha vida, ela não é a minha vida. Bem mais importante, para mim, que fazer o registo do que acontece, é viver o que acontece. A fotografia surge em segundo plano. Eventualmente, mas só eventualmente, fazendo o registo.
Um pouco como o que sucede com o fogo de artifício. Adoro ver fogo de artifício. A efemeridade daquilo que se vê coloca-me bem consciente na minha própria efemeridade. E a luz e cor enchem-me a alma. Se naqueles breves instantes me preocupar em registar, certo é que não usufruo por completo do espectáculo.
Aconteceu uma grande granizada? Vivi-a!”

Pensei depois nesta conversa, equivalente em muito a outras que tenho tido ao longo da vida.

Concluo que talvez não seja eu um fotógrafo.

By me 

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