sábado, 31 de dezembro de 2016

Dezembro



Há projectos que são laboriosamente pensados, preparados, executados. Foi o caso do “Old Fashion”.
E há projectos que nos caiem no colo, vindos não se sabe bem de onde e cuja execução vai acontecendo não se sabe bem como. É o caso deste.
Há um mês fiz uma fotografia, sem nenhum outro motivo que não fosse o “apetece-me”. Com o telemóvel.
E, em olhando depois para ela, dei comigo a pensar que aquela era uma fotografia mais ou menos típica do mês de Dezembro. Acto contínuo veio-me à cabeça que seria interessante fazer uma fotografia por dia que fosse mais ou menos típica do mês de Dezembro. Trinta e uma fotografias, uma por dia, feitas com o telemóvel e sem preparação, apenas com a ideia de ser uma típica deste mês.

Tenho mantido a regularidade e a metodologia. E esta é a última do projecto, já que estamos a 31.

By me 

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Informação pertinente para o dia de hoje:

Não desejem “boas entradas” a quem está a perder o cabelo.
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Balanços



Não faço balanços sobre o ano que agora termina.
No fim de contas, apenas iria ser juiz em causa própria, coisa que sabemos não ser recomendável.
Mas posso recordar um facto que, e creio que ninguém contestará, merece destaque:
Completou-se no passado dia 27 um ano inteirinho em que não fumei. Enfim, para além do fumo dos outros.
Esta, de todas as vitórias e derrotas deste ano, sempre foi aquela que ao longo da vida nunca achei que concretizaria. Fruto de um impulso externo, um click improvável e uma teimosia radical.
Não faço julgamentos ao que sou ou fiz. Deixo isso aos outros e ao futuro. Mas este é o facto que fará com que este ano se evidencie de todos os outros na minha cronologia.


Nota adicional: Estes são os que tinha há um ano. O sexto que aí falta dei-o a alguém que estava desesperado por um cigarro.

By me

O fim de um ciclo



Dou uma primeira olhada nos jornais e constato que nada ali está escrito que me surpreenda. Apenas a continuidade do dia anterior, como que com os eventos e factos a não quererem perturbar as festas de fim de ano.
E isso recorda-me Mário Soares e o não haver motivos para não acreditar nas informações que o hospital e a família nos vão transmitindo.
Apesar de não me esquecer de tudo o que se disse sobre a morte de Salazar tal como a de Yasser Arafat.
Do mesmo modo não me esqueço de um artigo de jornal, que li reproduzido por outros, onde se falava nas consequências para os festejos de fim de ano de um luto nacional, coisa obrigatória na sequência da morte de Mário Soares. E no que isso significaria nos ânimos populares, bem como nos orçamentos de municípios e empresas que tivessem investido em festejos para o 31 de Dezembro.

E ao pensar em tudo isto, outra questão me acudiu:
Não me recordo, nestes meus já mais de cinquenta anos por cá, de alguém cuja morte tenha sido tão publicamente discutida por antecipação, com lamentos e festejos públicos e notórios, visto tratar-se de alguém incontornável mas polémico.
No fim de contas esta sua agonia, sempre lamentável independentemente de quem seja e das opiniões que se possam ter, acaba por servir para gastar o mel e o fel que os portugueses possam ter para com ele.
E quando chegar o momento de ser divulgada a efectivação da sua morte anunciada, os ânimos estarão mais calmos em relação ao político e ao estadista, ficando apenas aquela mágoa que sempre nos acompanha aquando da morte de alguém, mesmo que nunca tivéssemos privado com ele.


Os anos morrem e, apesar de tudo o que possamos pensar e sentir, nós também.

By me 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Resolução de ano-novo

Vou ser particularmente mal-educado, com recurso a palavras pouco simpáticas, para com quem interromper uma conversa ou outra interacção que esteja a ter comigo para atender um telemóvel ou ler uma mensagem no mesmo.
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Palavras



Gosto de brincar com as palavras e os seus significados. Afinal, grande parte da minha vida tem sido em torno da comunicação.
Assim, e a propósito de uma conversa recente, surgiu-me a dúvida sobre o real significado de um termo. E fui saber.
E em nada fiquei surpreendido com o significado da palavra “proto”. Nem do termo “colo”. Igualmente com o resultado da junção das duas e “protocolo”, que em nada se relaciona com elas.
Ou tudo mesmo, se analisarmos bem a fundo os significados.

As palavras são levadinhas da breca. E condicionam-nos.
Se usamos as palavras resultantes do nosso pensamento, também pensamos em função das palavras que usamos.

E quem melhor que a comunicação social para o saber e usar com mestria? Infelizmente.

By me 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Resolução de ano novo



Aqueles que me conhecem pessoalmente já o sabem, os outros ficarão a saber:
Tenho uma barriga grande.
E não, não é coisa recente. Não chega a ser dez anos mais nova nesse seu ser grande, o que lhe dá já um estatuto de relevância na minha anatomia.
Relevância essa que também se deve ao facto de essa minha barriga ser como o vinho do porto: melhora com a idade. Por outras palavras, à medida que o tempo passa ela aumenta de volume. Um nico este ano, um pouco mais para o ano que vem, quase nada no seguinte… Num ritmo não constante, a tendência é uniforme: aumentar.
Quer isto também dizer que a minha barriga chega primeiro que eu onde quer que eu vá. A menos que caminhe de costas ou de lado, a minha barriga é a primeira coisa a transpor portas e dobrar esquinas, logo seguida da minha barba. É uma rivalidade velha, a delas.
Poderá também ser dito que tenho uma barriga muito à frente, o que não é de todo mentira.
Acontece que essa minha barriga, como as demais aliás, contém algo com um nome diferente de barriga, apesar de estar nela desde sempre. Chama-se umbigo.
Não há dois umbigos iguais, o que torna divertido observar os umbigos e respectivas barrigas que por nós passam. Tal como a minha que, como já disse, chega antes de mim.
No entanto, é curioso como apesar de existirem tantas e tão diferentes barrigas e respectivos umbigos, tantos são os que teimam em não reparar senão no seu próprio umbigo, não dando a mínima atenção aos restantes umbigos que os cercam. E muitos são os umbigos que cercam cada um de nós.
Faz-me impressão ver tantos tão concentrados nos seus próprios umbigos, a tal ponto que chegam a atropelar e danificar os demais umbigos que com eles partilham os espaços.
O meu umbigo, porque está na minha barriga, chega antes dela aos destinos. E ela, muito naturalmente, antes de mim, considerando o seu volume.
Parece-me ser de bom senso fazer como os demais e prestar mais atenção ao meu próprio umbigo. Dando-lhe a importância proporcional à barriga que o suporta. E aos outros umbigos uma proporção inversa. É que, e se quiserem pedir meças, a minha barriga é mesmo maior que a dos outros. Da grande maioria dos outros. E salta à vista.

Assim, fica o aviso: Passo a preocupar-me em exclusivo com o meu umbigo, que está na minha barriga proeminente e que chega antes de mim onde quer que eu vá. Do que acontecer aos demais umbigos, barrigas e etc. pouco me importa.

By me

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É tão divertido ver a cara de atónitos com que ficam quando eu, colocando a minha mais tranquila expressão e juntando as mãos em gesto de beatífica oração, lhes digo que professo a religião xintoísta e que, por isso mesmo, temos muito pouco em comum. Remato o embuste com um “Em qualquer dos casos, obrigado pelas vossas palavras e bem hajam!”
Claro que um dia pode repetir-se o eu ser abordado por um que seja um bocado mais culto e que em duas penadas demonstre que estou a mentir.
Até lá, eles vão-se afastando, satisfeitos consigo mesmos, frequentemente cochichando, talvez que a perguntarem o que raio será o xintoísmo.

E eu sigo a minha vida, tranquilo e divertido.

Perguntas e respostas



Uma ocasião, de conversa com dois ex-legionários em França, questionei-os sobre o que faz alguém ir para organização, ficando com a morte como ofício.
Não me responderam e eu, que pouco mais que adolescente era, insisti na questão. Um deles calou-me com a resposta:
“Não tinha casa, não tinha dinheiro, não tinha família. Fui encontrar tudo isso na Legião”. E o nosso almoço partilhado continuou, eles comendo dos meus pêssegos comprados ali ao lado na feira, eu bebendo do seu vinho de uma bexiga.
Se fosse hoje, e não há umas dezenas de anos, teria sido diferente: a partilha teria acontecido na mesma, mas nem eu teria ficado calado nem a minha pergunta teria sido feita daquela forma.
Que se há coisa que aprendi nos tombos da vida e das ampulhetas é que a proximidade e a segurança não são resultado obrigatório de laços de sangue ou de genes.
Os afectos, a chamada “família”, resultam de cumplicidades estranhas, por vezes insuspeitas, construídas em poucos minutos ou ao longo de uma vida, na sequência de momentos particularmente intensos ou na doçura de uma continuidade tranquila.
Os afectos ou a organização familiar não dependem, em nenhuma circunstância, de arquivos de conservatórias ou decisões judiciais.
As rotinas e a mole evolução temporal podem criar essa ilusão, mas são os momentos complexos, os mais duros, que definem a solidez das relações.

A todos aqueles que nunca tiveram a real necessidade de provar a robustez daquilo que têm por garantido, as minhas felicitações e desejos que nunca tenham que o fazer.

By me 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Prémios e escolhas

A escolha de um livro, de um filme, de uma exposição, de uma peça de teatro baseia-se naquilo que sabemos ser apelativo: o autor, os actores, o realizador, a opinião daqueles por quem temos consideração…
Muito raramente (pelo menos eu) se escolhe um filme ou outro trabalho equivalente pela história ou estória que nos contam.
A partir de hoje vou passar a ser bem mais criterioso, com uma leitura atenta ao que os jornais nos contam sobre o enredo antes de desafiar alguém para ver um filme ou quejando.
Quando não, posso bem voltar a dar um tiro no pé!


Mas continuo a recomendar o filme agora em cartaz, “I, Daniel Blake”, palma de ouro de Cannes 2016, pelo enredo, pela realização e pela fotografia, que tem pequenos detalhes deliciosos. A interpretação também é um mimo.

Dezembro



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Dias de férias



Parece que há quem queira aumentar o número de dias de férias anuais.
Sou contra!
Sou contra enquanto houver gente com parentes com necessidades especiais e que tenha que gastar dias de férias para lhes prestar assistência.
Prefiro que seja aumentado o tempo legal para essa assistência.
Um ou dois ou mesmo três dias de férias a mais para o comum do cidadão, sendo importante, é-o muito menos que esses mesmos dias para quem tenha um filho ou pai ou irmão ou cônjuge que necessite de apoio presencial.
Indo mais longe, bom seria que por cá também fosse possível doar tempo a quem dele necessita, reduzindo o seu tempo de férias para que outros disso possam beneficiar.


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A prática da arte



“A arte é uma fonte de conhecimento, tal como a ciência, a filosofia, etc., e a grande luta empreendida pelo homem para ir ajustando a sua concepção da realidade – que é o que o enaltece e o torna livre – não pode prosperar se se manipularem ideias que já foram concebidas e realizadas anteriormente. As formas caducas não podem conduzir a ideias actuais. Se as formas não forem capazes de ferir a sociedade que as recebe, de a irritarem, de a impelirem à meditação, de fazerem com que ela veja que está atrasada, senão estiverem em ruptura, então não são uma verdadeira obra de arte. Perante uma verdadeira obra de arte, o espectador deve sentir-se obrigado a fazer um exame de consciência e a pôr em dia as suas velhas concepções. O artista deve fazer com que ele compreenda que o seu mundo era estreito, e deve abrir-lhe novas perspectivas. Isto é: deve levar a cabo uma autêntica obra humanitária.
Quando o grande público encontra plena satisfação em determinadas formas artísticas, é porque essas formas já perderam toda a sua virulência.
Onde não houver verdadeiro impacto, não haverá arte. Quando a forma artística não é capaz de provocar o desconcerto no espírito do espectador e não o obriga a mudar a forma de pensar, não é actual. “


Texto: Antoni Tàpies, in “A prática da arte”, 1970
Imagem: by me

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Verborreia



Por grande e intensa que seja a verborreia de um tipo, momentos há em que é difícil verbalizar a alma.
Quer seja pela positiva, quer seja pela negativa, quer seja porque insuspeitamente nos caiu no colo, quer seja porque irradiou na fosforidade de um ecrã, por vezes não temos ou não sabemos o como reagir.
Aprendi há tempo, bastante tempo, que nessas ocasiões o melhor mesmo é nada fazer, não reagir de instinto. E deixar que o escorrer das horas e o crescer da relva nos indiquem o que fazer. Se algo.

E raismeparta se não é mais fácil reagir ao que não gostamos que o contrário!

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Dezembro



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Chavaleco



Ver chavalecos que talvez saibam o que é dar uma, ou uma ganza, ou meter uma dupla abaixo, ou um shot, defenderem com vigor os automatismos de venda ou pagamento, mesmo que isso implique a extinção do seu posto de trabalho...

Pergunto-me sobre o que temos andado a construir nestes últimos 40 anos.

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Dezembro



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Prendinha



Há por aí uns moralistas que defendem que o dinheiro não compra tudo.
Sejamos coerentes: têm razão!
O dinheiro não compra a saúde daquele que faleceu no corredor do hospital, porque não havia verbas para contratar mais uns médicos e enfermeiros.
O dinheiro não compra a felicidade daquela que agora dorme no albergue porque a reforma não chegava para pagar a renda.
O dinheiro não compra o calor humano daquele que migrou porque a fábrica cá fechou e não tinha como dar de comer aos filhos.
O dinheiro não compra a justiça, porque blindados e submarinos foram mais fortes que protestos e cartazes.


De facto, o dinheiro não compra tudo.

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domingo, 25 de dezembro de 2016

Alicate



De minha casa para o liceu onde estudei era bem uma hora de viagem. Não havia vias rápidas, nem corredores do BUS e os próprios autocarros eram velhos. Aliás, tão velhos eram que ainda circulavam os de dois pisos de porta atrás, porta esta que não fechava. Era divertido para os que tentavam ir à borla, se o cobrador não aparecesse com o seu terrífico alicate. E aparecia com frequência.
Às sete e pouco da manhã o autocarro a que subia era sempre o mesmo, bem como os que comigo aguardavam na paragem. Eu diria que, mais que ser sempre o mesmo no horário, era efectivamente a mesma viatura.
Isto porque havia no caminho uma pequena subida, com pouco mais de vinte metros, mas particularmente íngreme. O suficiente para que aquele motor estafado e carregado como ia, se queixasse e recusasse a subi-la.
E, em o ouvindo a protestar, todos nós, os habituais viajantes, já sabíamos o que fazer: Saíamos todos, percorríamos aqueles vinte metros a pé, lado a lado com o velho verdinho de dois pisos e, em terminando a subida, embarcávamos de novo. Estivesse o sol já acima do horizonte ou fosse ainda noite fechada e a chover.
Interessante mesmo de recordar é que, ao regressarmos ao interior, cada um ia ocupar exactamente o mesmo lugar que tinha ocupado, fosse ele à janela ou na coxia, em baixo ou em cima, ou, na pior das hipóteses, de pé. E eram só quatro que iriam de pé, que havia lotação controlada.
Claro que os protestos aconteciam, não fôramos nós portugueses, por vezes com alguma dose de humor, outras nem tanto, fazendo a maioria cara de conformados, que outra alternativa não tínhamos.
Claro que isto hoje não sucederia. Não há autocarros em tão mau estado, não há autocarros só com quatro lugares de pé nem há autocarros de porta sempre aberta.
Mas também não há o sentimento de respeito pelo próximo como então.
Seria, hoje, uma correria para ver quem ficaria no lugar que mais lhe agradasse, com alguns encontrões e discussões sobre a legitimidade de se estar sentado ou o fatalismo de ficar de pé.
Nestes quarenta anos que nos separam do então vieram a democracia, a liberdade de expressão, os autocarros com ar condicionado, escassos lugares sentados e vias reservadas aos transportes públicos. Desapareceram a censura e a polícia política, as paragens-zona e o alicate do cobrador.
Mas também sobreveio uma sociedade competitiva, incentivada por governos, alimentada pelo consumo e encorajada pelo pseudo desporto em que o que mais conta é a vitória e não o participar. Em contrapartida, diluiu-se a capacidade de perdoar e a solidariedade como atitude permanente na vida.

Para além das memórias, tenho um alicate de cobrador para as reavivar. E tenho a prática do quotidiano, que me mantém vivo e sem vergonha de olhar o espelho.

By me

Paz



Paz na terra aos Homens de boa-vontade.

E às Mulheres também.

By me 

sábado, 24 de dezembro de 2016

Espírito de



Esta é a época de, a quadra propícia a, o momento de, o espírito…
Muitos são os termos e conceitos que se colocam nestas frases, regra geral consensuais.
Triste é ver que raramente se usa perdoar ou esquecer ou criar laços ou construir pontes ou por para trás das costas ou refazer ou…
Estas expressões ou ideias são demasiado profundas ou definitivas para serem usadas nesta época.
O que nos conduz à verdadeira efemeridade do espírito natalício e à futilidade do verbalizado e comprado por estes dias.


Ide dar banho ao cão.

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Dezembro



By me

Fedon



O meu tio Artur era uma figura impar.
A sua vida daria um belo romance de amor. Talvez um destes dias aqui volte a falar nele.
Tinha ele uma atitude extremamente positiva para com quem o cercava.
Quando o visitava, havia sempre uma caixa enooooorme de chocolates suíços, onde a minha dúvida era na escolha por entre aquelas fotografias de paisagens alpinas que nos deliciavam os olhos e a boca.
Possuía uma agenda bem grande, daquelas de secretária e que todos os anos laboriosamente era copiada para uma nova, onde tinha anotado os aniversários de todas as pessoas que conhecia, parentes ou não. Diariamente, antes de sair de casa, consultava-a, tomava apontamentos e passava pelos correios afim de enviar aos aniversariantes um telegrama de parabéns. Mesmo que já não visse ou falasse com a pessoa há muitos anos.
Era meu tio-avô, pelo que, quando o conheci, tinha já uma idade provecta.
Uma ocasião, era eu catraio miúdo, fui lá casa com minha mãe.
Ele estava bastante doente, já acamado. Já não sei se ideia dele se de minha mãe, certo é que se quis fazer-lhe uma fotografia.
A dobra do lençol foi arranjada, assim como a almofada, a gola do pijama e os alvos cabelos.
Junto aos pés da cama, minha mãe levou a câmara à cara e enquadrou. No instante imediatamente antes do disparo, meu tio Artur levantou a mão direita e encenou um adeus, sorrindo. Que ficou na imagem latente e, mais tarde, positivado.
Foi a sua última fotografia. Faleceu no dia seguinte.
Aquele homem, com uma vida riquíssima de peripécias e amigos, sabia que estava a chegar ao fim desta sua viagem. E quis mandar uma mensagem de despedida para todos.
Através da magia da fotografia quis despedir-se sorrindo, mesmo que não viessem a ver o seu adeus.
Ainda hoje revejo na memória o fazer dessa imagem. Que não possuo, mas que foi uma das minhas chaves para este mundo maravilhoso da comunicação.


Obrigado tio Artur!

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

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O deficit orçamental atingiu os 2,5 por cento até Setembro, leio num título de jornal.
“Caramba, como está alto!”, seria a conclusão lógica.
Mas se estivesse escrito:”O deficit orçamental ficou-se pelos 2,5 por cento até Setembro”, a dedução já seria: “Como está baixo, caramba!”
É preciso ler o corpo do artigo para tirarmos dúvidas: o mesmo indicador, no mesmo mês, no ano passado, dava-nos um deficit de 3,4 por cento.


Tirem vocês as conclusões.
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Semiótica!

Aquela palavra complicada de significado obscuro que grande parte dos profissionais da comunicação (imagem e palavra) continuam estoicamente a ignorar.
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O sistema



Não me venham com desculpas esfarrapadas!
Quando me dizem que “O sistema não funciona” aquilo que deveriam mesmo dizer é que há pessoas incompetentes.
Ou – e isto é uma outra abordagem – há pessoas que deliberadamente executam as suas tarefas de forma a parecer que o sistema não funciona.
Em qualquer dos casos, são sempre pessoas.


E ainda não esqueci a enormidade de vezes que em Nuremberga foi dito “Apenas cumpri ordens”.

By me

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O Pai Natal visitou-me dois dias mais cedo.
Na estação, a caminho de casa e já tarde, cruzamo-nos, ela e eu.
Apesar de tudo, ainda está viva.
Apesar de tudo, ainda tem amor-próprio.
Apesar de tudo, ainda reconhece pessoas.
Partilhamos o bolso e o saco e seguimos, cada um o seu caminho, verificando eu que ainda vai direita e a direito.
Não sei se voltaremos a trocar um abraço e um par de beijos fraternais. Ao tempo que tal não acontecia, já tinha perdido a esperança de o fazer.

Obrigado, Pai Natal.
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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

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Um livro que, na primeira página, nos conta que:

“… Essa energia ‘testemunhante’, que durou perto de dez anos, foi-se esgotando. Várias foram as causas: a principal foi a consciência que se foi apoderando de mim de que nem toda a gente que eu fotografava na rua, nas tabernas, nos campos, nas fábricas, estava pelos ajustes de se tornar no símbolo das minhas excelentes intenções. De certo modo, o ‘momento decisivo’ do meu abandono foi essa realização.”

Gerard Castelo-Lopes, in “Reflexões sobre a fotografia”

… merece ser lido até à última página.

De um modo ou do outro, quase que parece que o li há muito, muito tempo.

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Dezembro



By me

Tradições



As tradições são isso mesmo: tradições.
Assim, e mantendo as tradições, aqui fica uma estórinha da quadra natalícia que, tradicionalmente, conto nesta altura.

A tradição familiar dizia que o Menino Jesus descia pela chaminé para pôr prendas no sapatinho.
Assim, depois do jantar, a cozinha era imaculadamente arranjada, o fogão forrado com papéis “bonitos” e os sapatos colocados em cima deles.
Na manhã de natal os pequenos, depois de toda a família acordada, eram autorizados a entrar na cozinha onde, para deslumbre total, lá estavam os presentes. Poucos, que os sapatos eram muitos, mas apetecidos e apreciados.
O mais velho dos quatro foi, naturalmente, o primeiro a ser informado da verdadeira história e a ser incluído na cerimónia da colocação das prendas. Depois do fogão decorado e os mais pequenos terem recolhido à cama, foi a sua vez de colocar as prendas para toda a família, indo então deitar-se, que não poderia ver as que lhe eram destinadas antes dos outros acordarem.
Acordou ele a meio da noite com vontade de urinar e saiu da cama para ir à casa de banho. Mas logo lhe passou a vontade.
Com receio que furasse o bloqueio à cozinha, tinham atado uma cadeira com tachos e panelas ao puxador da porta do seu quarto. Quando a abriu, tudo se espalhou pelo chão, acordando a casa por inteiro.
Não me recordo, ao certo, qual ou quais as prendas que recebi nesse ano. Tenho a vaga ideia de ter sido um “Renault 16” do “Tour de France” que esventrei e em cujo interior coloquei um pesado íman de bicicleta. Com ele ganhava toda as provas de todo-o-terreno que na rua se faziam.

Mas ainda hoje, quando a família se reúne, ninguém me acredita que, então, só queria mesmo ir à casa de banho.

By me

O saco



Recordo ter lido, há uma catrefada de anos, um livro de banda desenhada com uma estórinha bem interessante.
O universo era o Disney, a ambiência era “A Patada”, um jornal dirigido pelo Patinhas e tendo como jornalistas/repórteres o Peninha e o Donald.
No caso em causa, foram estes encarregues de fazer uma reportagem sobre a interacção entre as pessoas. Só que o Donald dizia que as pessoas não interagem e o Peninha afirmava que sim.
Para demonstrar que sim e que as pessoas falam mesmo com desconhecidos, chegou a uma paragem de autocarro e colocou-se no primeiro lugar, dizendo para os restantes: “Desculpem, mas estou com pressa.”
Logo os presentes começaram a protestar, a insultar, a conversar entre si, contando episódios equivalentes e o que havia sucedido…
Já de parte, o Peninha comentou para o Donald: “Vês?!”

Nunca me esqueci desta estórinha e desta análise de comportamento. E, quando tenho oportunidade, gosto de a por à prova. E ontem foi um desses dias.
Mandei imprimir diversas cópias da fotografiazinha que ali vedes e colei-a nas asas de sacos de papel que comprei para o efeito. Assim.
Dentro de cada saco coloquei uma pequena embalagem de umas queijadas de amêndoa, compradas no supermercado. Não tem nenhum significado o facto de serem queijadas ou de amêndoa. Apenas que foram baratinhas.
No verso de cada fotografia escrevi: “Boas festas e feliz Solstício”.
Feitos oito conjuntos, pendurei um em cada porta de apartamento no andar em que vivo, incluindo a minha. Fiz a coisa pela uma da manhã, no maior silêncio para que não dessem por mim, nem mesmo o cão de um vizinho.
Quando hoje saí de casa, perto do meio-dia, já só restava o da minha porta. Indicação que foram vistos pelos locatários ao saírem de casa e não meramente palmados.

Esperava eu que, em havendo algum tipo de reacção pública a tal insólito, acontecesse no regresso de toda essa gente, à tardinha ou noite. E que algum vestígio sobrasse pela meia-noite e muito, a minha hora de regresso.
Coisa nenhuma. Nada. Zero. Vazio total.

Tiro por conclusão que só na banda desenhada o Peninha acerta e que os cidadãos cada vez menos interagem, mesmo quando provocados anonimamente.

Nem quando confrontadas com uma figura mitológica ou com o Solstício, que 95% das pessoas não sabe o que é.

By me

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

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Foi detido em Berlin um suspeito de ter assassinado um montão de gente com um camião.
Acabaram por o libertar, provada que foi a sua inocência.

No meio da confusão, que terá acontecido àquele cidadão enquanto esteve detido? Certamente que não teve tratamento de SPA, com rosbife e caviar por refeição.

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Quanto à universalidade do natal…

Que dirão os habitantes do Algarve, por exemplo, quando vêem que o natal se representa com neve, com azul-frio, com cristais de gelo bonitinhos…
Pessoas que de gelo só conhecem o do seu frigorífico e o que é usado nas fábricas de peixe.

Já nem quero referir o pessoal do distante Amazonas ou quejando.

Um raio que os parta



Faltaria apenas o regresso do crucifixo obrigatório nas salas de aula, o redefinir os três pilares da sociedade (deus, pátria, família) e o recriar da Mocidade e da Legião.
O resto aconteceria naturalmente.


Por acréscimo, sempre gostaria de saber o que os movimentos de libertação da mulher dizem da ilustração do artigo. Subtil, no mínimo.

By me 

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É interessante reparar como os media funcionam:
Enquanto foram as notícias e manobras para afastar a anterior presidente do Brasil, conotada com a esquerda Sul Americana, todos os dias jornais e televisões contavam, relatavam, mostravam como seria justo essa tal de demissão forçada, face a questões de corrupção.
Agora é o seu substituto e respectivo que estão em causa, com demissões sucessivas e também por questões de corrupção. Mas o actual executivo é conotado com a direita, toma decisões muito pouco sociais, impedindo a eventual melhoria de vida dos que menos têm. Hoje e no futuro.
Mas os jornais de cá relatam os factos em notas de rodapé, escondidas algures no interior da secção internacional e, a menos que se escave por lá, de nada sabemos.

Gosto da lisura e independência da comunicação social portuguesa!

Gosto disso e de levar pancada!
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Regras de emergência



Todos nós temos regras, por muito rebeldes ou anarquistas que nos intitulemos.
Algumas inconscientes, como se subimos a escada encostados à esquerda ou à direita, outras bem definidas, como o não bater em cada tipo que vemos a cometer um disparate.
Uma das minhas regras é ter sempre em casa uma ou mais garrafas de plástico de refrigerante. Vazias. Tanto podem ser de meio litro, como de litro ou maiores. Têm é que ser de plástico e estarem vazias.
Porquê?
Bem, nunca se sabe quando chegamos a casa, já de noite e com os estabelecimentos comerciais da zona fechados, e encontramos na soleira da porta do prédio uma vizinha a quase entrar em pânico por ter deixado as chaves de casa em casa de manhã, com a pressa de seguir para o emprego. E de ter a chave de reserva com uma irmã e esta já estar na terra por via do natal.
Antes que o choro irrompesse, e pouco faltava, tratei de confirmar qual o apartamento e se teria mesmo deixado as chaves em casa, o que me confirmou.
Depois foi acalma-la e dizer-lhe que ia por o meu saco a casa e que já voltaria. O que fiz, com uma dessas garrafas numa mão e o canivete na outra.
Foi questão de a retalhar como se vê na fotografia e usar a tira de plástico para abrir o trinco. Em tempos usava-se uma radiografia, mas elas hoje são digitais.

Resta-me a esperança que a minha vizinha, com a satisfação, não vá espalhar aos quatro ventos esta minha “habilidade”, ou ainda poderei ter aborrecimentos aqui na zona.

By me 

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

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Para quem não sabe, o natal é este fim de semana.
E não precisam de se preocupar com o punho e o cabo, que já os tenho.

Imagem palmada da net naturalmente.
By me

Pois



Não me interessa que façam boas fotografias.
O conceito de bom e de mau é particularmente relativo e variável com as modas.
Interessa-me antes sim:
A – Que tenham prazer nas fotografias que fazem;
B – Que cada uma que façam seja um desafio para irem mais longe que na anterior;
C – Que a reacção do público esteja dentro das vossas expectativas;
D – Que não tenham escrúpulos em fazer diferente, mesmo contrariando opiniões e sugestões;
E – Por fim: que todas as fotografias que fizerem sejam porque as quiseram fazer desse mesmo modo e não para serem iguais a, diferentes de ou em competição com.

O resto são minudências, imposições de mercado, técnicas de vendas e academismos bacocos!

Divirtam-se e aproveitem bem a luz.

By me

Enganos ou talvez não



“Os assaltantes assassinarem dois reféns e a polícia de imediato os abateu.”
A história implícita no parágrafo acima é terrível e ficcionada por mim agora mesmo. Mas ninguém se lembraria de a contar assim:
“Os assaltantes abateram dois reféns e a polícia de imediato os assassinou.”
A diferença, e caso não tenham dado por ela, está na forma de usar os verbos assassinar e abater e em relação quem são usados.
Naturalmente que o verbo assassinar é aplicado ao que os assaltantes terão feito. Assassinar é um crime e ninguém duvida disso. Já o verbo abater se pode aplicar à acção policial, porque ele contém em si uma dose de legitimidade. E entendemos por legítimo que a polícia mate assassinos no decurso de uma operação policial.
A inversão do uso dos verbos dará legitimidade à morte dos reféns e uma carga negativa à acção de matar por parte da polícia.

Hoje vimos a comunicação social a dividir-se no tocante ao uso destes dois verbos e em relação à morte do embaixador russo na Turquia. Houve quem dissesse que o homem assassinou o embaixador e houve quem dissesse que o homem abateu o embaixador.
Conhecendo eu parte dos intervenientes tanto nas televisões como nos jornais, não acredito que o uso de um ou de outro verbo tenha sido casual ou inocente.

E com doces e bolos se enganam os tolos!

By me

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Uma história



Estava no comboio, algures entre o ponto A e o ponto B, que é como quem diz, entre casa e trabalho.
Numa estação intermédia entra alguém que se distinguia pela diferença: vinha numa cadeira de rodas.
Convenhamos que não é habitual ver alguém numa cadeira de rodas num comboio. Não porque não haja quem necessite mas antes porque os comboios suburbanos não são “amigos” das pessoas com necessidades especiais.
Mas menos habitual é que quem vem numa cadeira de rodas chame por nós. Foi o caso: “Olá JC!”
Fiquei com cara de parvo! Quem assim me tratava era uma ex-aluna. Recordo-me de praticamente todos os que passaram pelas salas onde trabalhei, mas desta em particular. E nunca a imaginaria numa situação destas.
Depois das saudações efusivas, apresentou-me à sua mãe, que a acompanhava, e contou-me o que se passava: uma doença de ossos, galopante, em pouco tempo a tinha colocado assim. E, pelo que ambas me contaram, as perspectivas não eram as melhores.
Conversámos mais um nico, sobre generalidades e passado em comum, até chegarmos à estação de destino, por acaso coincidente.
Quando nos despedimos, fez ela algo que não esqueci até hoje:
Com dificuldade retirou uma das luvas que tinha calçada e fez questão de me estender a mão. Para além do fraternal beijo que havíamos trocado.
Percebi rapidamente o porquê: “desnudava-se” assim perante mim, mostrando-me aquilo que escondia de todos os outros, a mão deformada pela doença. Que fazia adivinhar todo o resto e o que isso implicaria.
Este gesto de tamanha confiança foi algo muito para além da cumplicidade que poderíamos ter criado enquanto aluna/professor. Espero que a minha expressão então não tenha denunciado o que aquele “adeus, talvez para sempre” significou e calou fundo em mim. E ainda hoje sinto.

Quando hoje vejo jovens com luvas, com ou sem bonecada, lembro-me sempre desta minha amiga, que outro nome não poderei usar. Mesmo que passados uns 15 anos e dela nunca mais ter sabido.
Onde quer que estejas, espero que estejas bem!



Nenhuma imagem concreta seria suficiente explícita para esta crónica.

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Memórias

Está tudo escandalizado com um “reality show” vindo do leste onde vale tudo, mesmo tudo. Pelo menos de acordo com as “notícias”.
Mas já ninguém se lembra que há quem pague bilhete para ver animais a serem feridos, nalguns casos de morte.
Tal como já ninguém se lembra que ainda não há muito tempo pagava-se bilhete para ver dois à pancada até que um não se aguentasse de pé. E por vezes morria.
Do mesmo modo que se pagam bilhetes para ver fantasias cinematográficas onde tudo isso e muito mais é contado com uma linguagem tão real quanto o possível.

A memória é curta. Muito curta!

E selectiva. Muito selectiva!
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Ser do contra



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Nomes feios



Uma daquelas coisas que me irrita solenemente nas redes sociais e nos órgãos de comunicação social:

O quase todos acharem como normal o usar-se conteúdos (imagens, textos, sons) que não são de sua autoria e publicá-los sem referência à origem.
Caramba! Custa assim tanto referir o site de onde foi copiado o conteúdo? Ou apenas dizer “palmado”, “pedido emprestado”, “surripiado” da net?
Acho que deve ser muito difícil.
Ou então…
Ou então essas pessoas alimentam a secreta esperança que quem vê as suas publicações suponha que são de sua autoria e que as aplaudam como se de grandes artistas ou pensadoras fossem.
Tem vários nomes feios, esse apropriar do trabalho de terceiros e chamá-lo de seu.

E merece-me pouco respeito quem assim procede.

By me 

Amanhã



Em tudo quanto é lado se fala do encerramento de um teatro, em Lisboa.
É bom que se fale, que quando a cultura fecha, fecha um pouco de nós, do que somos e do que somos capazes de fazer enquanto sociedade.
E só quem esteve ligado ao teatro sabe o quão dramático é haver mais gente nas tábuas e nos bastidores que sentado na plateia. E, apesar disso, continuar a representar com o mesmo empenho e força interior como se não existissem contas para pagar. Na companhia e em casa de cada um.
A comunicação social fala do caso, o presidente da Republica pronunciou-se e a questão está nas bocas do mundo português. E é bom que esteja.

Já não é bom que tenha caído no olvido um negócio municipal de há dois anos.
Falo da venda do mais moderno quartel de bombeiros da cidade que alojava, e para além de homens e material de socorro, a central de comando da protecção civil de Lisboa e o museu dos Bombeiros.
Sobre a central de comando não sei o que lhe aconteceu. Apenas posso presumir que tenha sido colocada num outro local. E esperar que mantenha a operacionalidade que todos queremos.
Sobre homens e equipamento, foram deslocados para o antigo quartel de Benfica, onde já tinham estado, e onde o espaço para viaturas de socorro e respectiva tripulação é menos que suficiente para a área que está a seu cargo. Tal como as condições do edifício, que foi objecto de embelezamento exterior, estão bem abaixo do sofrível. Já estava quando foi desafectado do serviço de socorro.
O museu… Bem, do museu nada sei. Dificilmente irão encontrar meios para novo espaço expositivo permanente, que possa preservar a história e contá-la aos vindouros. Que é para isso que serve um museu.
Mas o museu dos Bombeiros fechou e disso não se fala. Que a cultura e a preservação da memória, se não tiver mediatismo político, bem pode ir morrendo aos poucos.
Que é bem mais importante a expansão de um hospital privado (que foi o que levou a que encerrasse o museu) que a manutenção da cultura ou de meios de socorro públicos.

E se não cuidarmos do que somos ou fomos, o amanhã não passará disto: uma placa inútil e abandonada de um teatro ou cinema, que eventualmente se terá salvo de um hipotético incêndio cultural a que os bombeiros não conseguiram acudir a tempo.

By me 

domingo, 18 de dezembro de 2016

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Gosto de jornais e jornalistas porque aprendo sempre qualquer coisa quando vejo o seu trabalho.
Desta feita é um artigo sobre um sequestro e, na versão on-line, sugerem-nos que sigamos um link que diz: “as imagens e os vídeos do sequestro ao castelo”.
Fiquei assim a saber que os 38 anos que tenho de vídeo não são 38 anos de imagens, já que são coisas diferentes.

Sei que a crise está a atingir a imprensa e que vão mudando a localização da sede dos jornais para racionalizar despesas.

Já agora, podiam aproveitar e racionalizar quem escreve. Quem sabe se racionalizavam receitas?

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Tenho saudades das pessoas que não conheci, nostalgia dos lugares onde não estive, sinto falta dos livros que não li e lamento as fotografias que não fiz.

Quanto ao resto, está tudo bem.