quinta-feira, 30 de junho de 2011

Em honra da Santinha



Já tinha a andorinha, a ferradura chegou ontem e, do que me faltava, vou inventado.
Este será o meu altar doméstico que, e como se pode perceber numa olhada muito superficial, é dedicado à Photographya.
Possamos nós continuar a ter luz!

By me

Tradições



A andorinha de loiça já cá canta.
Presa ali na parede, dizem que não só fica bonito como afasta as moscas e mosquitos.
Agora veio a ferradura.
De acordo com as crenças populares, trás boa sorte às casas que as tenham penduradas. A minha dúvida é se o farei portas a dentro ou se a pendurarei na fachada do prédio, dando um pouco dessa sorte a todos os que aqui residem.
Falta-me ainda:
Um galo de Barcelos. Daqueles que reagem e mudam de cor com as mudanças de humidade, fazendo concorrência às previsões do instituto de meteorologia.
Um corno. De preferência daqueles bem retorcidos, de cabra, ou daqueloutros tamanho XXL bem transmontano.
Uma jarra de plástico, com flores igualmente de plástico, pousada num exímio trabalho de crochét, tudo a embelezar o aparelho de televisão.
Para remate, um capacho com os dizeres “Bem vindo”. Virado para fora, como se espera.
Eventualmente, um altar a um santinho, com cadeia de azeite sempre a arder. Mas terei que escolher bem o santo de toda a panóplia existente.
Também poderei pendurar numa parede nobre interior um galhardete ou bandeira de um clube de futebol, mas não sei se gosto das cores disponíveis.

Em tendo tudo isso, terei, finalmente, uma casa tipicamente portuguesa.

Texto e imagem: by me

Cut or delete



No jornal “i” o título é “Delete. Governo Sócrates apagou informação dos computadores”.
Na revista “Sábado”, citando o jornal “i”, o título é: “Governo de Sócrates limpou computadores antes de sair”
A notícia original pode ser lida aqui: http://www.ionline.pt/conteudo/133573-delete-governo-socrates-apagou-informacao-dos-computadores
Aquilo que nem um nem outro põe em evidência (aliás, o primeiro apenas o refere no último parágrafo, e o segundo nem disso fala sequer), é que é prática corrente fazer-se isto aquando de uma mudança de governo. Citando: “… Ainda assim, um assessor do último governo - com passagem por executivos anteriores - garantiu ao i que esta era prática comum na passagem de pastas.”
Não quero defender nem acusar ninguém, mas o mero citar de factos, excluindo uma contextualização dos mesmos, tem um nome feio. Aliás, tem vários nomes feios, dependendo se falamos de conteúdos informativos ou de tiragens de jornais.

Texto e imagem: by me

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Wise planking



If I were crazy, I would be up there.
But I’m not, so…

O ovo



O título do jornal on-line diz que:
“Passos vai anunciar medidas de austeridade extraordinárias esta quinta-feira.”
Há uns tempos atrás, não tantos quanto isso, chamava-se a isto “PEC”, fosse qual fosse o seu número.
O tal “PEC” chumbado por quem agora está no poder. A ponto de ter obrigado à demissão do governo e eleições legislativas.
Mas, para os Portugueses, os ovos de galinhas conhecidas são sempre os melhores, mesmo que não verificados e carimbados.
Mas quando, depois de comprados, são abertos…

Texto e imagem: by me

J. C. Alvarez



Era um daqueles pontos de referência na cidade.
O J.C. Alvarez, nome que dávamos à loja “Fotocine”, era uma das melhores de Lisboa.
Preparada para atender os mais simples amadores, os mais exigentes e os profissionais, tinha de tudo: do bric-à-brac, às peças soltas, todo o tipo de película, em rolo ou película rígida, todas as marcas de câmaras e respectivos acessórios, uma sala dedicada a bons tripés (incluindo o Gitzo) e a equipamento de laboratório… Para já não falar que possuía toda a panóplia de filtros, vidro ou gelatina, em todos os tamanhos, incluindo em rolo para projectores. Quanto a adaptadores de qualquer coisa para qualquer coisa, era um especialista.
O J.C. Alvarez era um ponto de referência no panorama fotográfico Alfacinha.
Como muitas outras, fechou! Há já bastante tempo.
Nunca saberei ao certo o que a levou a tal, mas certo é que todos perdemos bons negócios e bons profissionais a saberem do que falavam.
Restam, por aqui, duas, talvez três boas lojas. Mas que se especializaram em determinado público e marcas, não fazendo concorrência entre si. E as que vão estando nas grandes superfícies comerciais, vocacionadas para o público pouco conhecedor, tentando vender as últimas novidades e não aquilo que terá qualidade, seja qual for a idade. Sobram umas quantas lojas quase de bairro, que sobrevivem nem sei bem como, mas que ainda vão tendo algumas – poucas – peças que não de grande consumo, que vão satisfazendo as necessidades ou caprichos de quem quer fotografar que não apenas com o que os grandes fabricantes nos querem forçar a fazer.
Mas aquele prazer de se conversar com quem vende e que nos sabe aconselhar sobre o que melhor se adequa ao que queremos, com referencias a marcas e especificações… isso desapareceu quase que por completo.
Resta-nos a memória do J.C. Alvarez e de mais umas tantas que feneceram fruto da competitividade que os actuais políticos nos vão impondo.

Leitura relacionada e sugerida: “Para uma filosofia da fotografia” de Vilém Flusser.


Texto e imagem: by me

Incongruências



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terça-feira, 28 de junho de 2011

Cuidado, muito cuidado



By me

Obituários



Há cerca de três anos faleceu, no meu prédio, uma senhora.
Esteve doente por muito tempo, foi objecto de duas intervenções cirúrgicas, mas de nada serviram. Metia dó, vê-la na rua, amparada pelo marido e pelas duas filhas. Acredito que o fim da sua prolongada agonia tenha sido um alívio para todos. Nunca eu soube o seu nome.
Há coisa de ano e meio morreu, também no meu prédio, uma outra senhora. Esta já de idade avançada, como o marido, ia-a vendo no entrar e sair do prédio, sempre com uma saudação amável. Um dia, soube que tinha morrido.
O viúvo, esse, vou-o vendo, como sempre, agora em aliviado o período natural de nojo, com a mesma simpatia que sempre lhe conheci. Também dela nunca soube o nome.
Há umas seis semanas morreu um rapaz da minha rua. Com 19 anos, não sobreviveu a um acidente de automóvel. O condutor, também morador cá na rua, sofreu apenas uns arranhões, já que tinha o cinto de segurança posto. Dos dois também ignoro os nomes.
Curioso é o ter perguntado por estas três pessoas hoje, no café que todos eles frequentavam, e também aí se ignorava como se chamavam. Lembravam-se, vagamente, das pessoas em causa, mas dos nomes, nada.
E no entanto…
No entanto todos, no café, no elevador, na paragem do autocarro local, todos sabiam de cor o nome do outro, daquele que nunca viram de perto, que nunca lhe conheceram o hálito ou a cor da pele não maquiada. Daquele que nem sequer sabiam onde morava ou mesmo quantas pessoas viviam na mesma casa.
Refiro-me, muito naturalmente, a Angélico Vieira, cujo nome e fotografia têm enchido os media, a propósito do acidente de que foi vítima. Do mesmo de quem os media referiam as qualidades e de como os amigos e familiares fizeram vela junto ao hospital, na esperança de que a sua presença influenciasse o correr da natureza e diminuísse a gravidade das lesões que sofrera.
Quando confrontei a senhora que trabalha num outro café, este na estação do bairro, disse-me ela que esses outros, novos, meia-idade ou velhos, não eram figuras públicas. Como se só dessas nos devêssemos condoer ou se só essas fossem merecedoras do nosso conhecimento. Os outros, os desconhecidos, mesmo que partilhem a rua, o café, o prédio, desses não reza a história. Nem mesmo a do bairro!
Quando eu mesmo morrer, quero que os que mim se lembrem o façam por aquilo que sou e faço hoje, no anonimato de ser cidadão, e certamente que não porque alguns jornais ou tvs decidiram que a minha pessoa faria aumentar as tiragens ou audiências.

Texto e imagem: by me

Interesses e conflitos



Por vezes as coisas vêem a lume, ainda que discretamente.
No Jornal I, num artigo onde se conta o veto do primeiro-ministro a Bernardo Bairrão para secretário de estado e onde se afirma que não terá acontecido apenas por este ser frontalmente contra a privatização da RTP, o último parágrafo é também esclarecedor.
Citando:
“À semelhança do que aconteceu nas escolha dos ministros, Passos Coelho também recebeu recusas na segunda linha do governo. Sérgio Silva Monteiro não foi a primeira escolha para secretário de Estado das Obras Públicas e Transportes, sabe o i. O até agora administrador da Caixa Banco de Investimento com o pelouro das parcerias publico privadas (PPP) terá, enquanto membro do governo, de proceder a uma reavaliação das PPP que negociou enquanto esteve na Caixa BI. “

Por outras palavras, um especialista em defender os interesses privados da banca e do sector privado vai para o governo decidir sobre os interesses do estado sobre a mesma matéria.

Texto e imagem: by me

Listas negras



De acordo com o jornal Público:
“As autoridades birmanesas impediram a entrada no país da actriz malaia Michelle Yeoh, a qual encarna o papel da líder da oposição na Birmânia e prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi num filme que se encontra actualmente em rodagem. A actriz foi interpelada a 22 de Junho à chegada ao aeroporto de Rangoon, e a deportação foi hoje confirmada por fonte oficial na Birmânia, alegando que tal se deveu por a actriz se encontrar “numa lista negra”.”

Caramba! Eu também tenho uma “lista negra”, um conjunto de “personas non gratas”, que são, curiosamente, quase todas portadoras de passaporte português.
Também as posso banir, expulsar ou, aproveitando as suas viagens oficiais ao estrangeiro, impedir o seu regresso?

Imagem: in Público

2:08



Depois de anos intermináveis de obras, foi reaberta há uns meses a av. Duque de Ávila, em Lisboa. E que bom aspecto tem ela!
Uma só faixa de rodagem permitiu que o passeio se transformasse em alameda pedonal larga, com ciclovia e tudo. Novos candeeiros, novos bancos, espaço para esplanadas, semáforos usando LEDs, tudo aponta para a devolução da avenida aos cidadãos em geral e aos peões em particular, tornando o local aprazível.
Tanto mais quanto num dos seus extremos se encontra aquele que é, talvez, o mais novo jardim da cidade, o do Arco do Cego. Demasiado soalheiro, talvez, mas gosto dele, confesso.
Aquilo de que não gosto, mas nem um nico mesmo, é a limitação imposta aos peões na travessia da Av. Da República.
É que um cidadão normal que respeite os semáforos necessita de dois minutos e oito segundos para a atravessar. Não é exagero, já que eu mesmo o testei por três vezes e os resultados são consistentes.
Aqui os semáforos estão programados para os automóveis e não é possível atravessar este cruzamento de uma só vez. Pior ainda, quem quer que respeite os noveis semáforos, mais altos que o habitual, fica retido bem no meio da Av. Da República, no estreito separador entre as duas faixas centrais, as de maior tráfego e velocidade. E estar ali parado, de pé, tendo os automóveis a circular à frente e atrás não é, seguramente, das coisas mais tranquilas para fazer, seja qual for a hora do dia.
Receio bem que um destes dias ali venha a acontecer um daqueles acidentes absurdos, cuja responsabilidade caberá, na sua grande parte, à Câmara Municipal e aos técnicos que insistem em vocacionar a cidade de Lisboa para os automóveis, esquecendo que as cidades se fazem de pessoas e não de máquinas.

Texto e imagem: by me

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Planking on the grass



On a really hot day, looking for some refreshment.
And I almost fell asleep.

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Com Ph, pois então!



Dantes, “farmácia” escrevia-se desta forma. Resquícios da latinidade.
Hoje, o estado em que nos encontramos também se escreve com “PH”, de tão antiga que é a impunidade dos políticos e o desinteresse que temos para com o próximo.
Cada vez mais, infelizmente, que nestas coisas não vamos aprendendo com o tempo!

By me

E se...?



Olha se não fosse a semana das calças.
Que teriam eles na montra?

By me

domingo, 26 de junho de 2011

P'ra baixo é que é o caminho



Por muito incrível que possa parecer, hoje a melhor alternativa era descer, descer, descer, descer…
Lá em baixo, bem mais perto dos infernos que dos céus, estava muito mais fresco que neste purgatório ardente a que damos o nome de superfície.
Aliás, a coisa esteve tão má que no quiosque do largo do Camões tiveram o desplante de me quererem servir um capilé sem gelo. Lamentei-o e não o aceitei.
Ainda que seja, ao que sei, o único local em Lisboa que serve capilé, este sem gelo é pior que cerveja sem álcool.
Esperemos que as temperaturas amainem e que o gelo regresse, que em voltando eu aqui tentarei de novo matar saudades dos sabores da meninice. Mas com gelo.

By me

Um olhar - Cátia



A situação foi a de rotina:
Abordou-me ela por um cigarro, gostei eu dos seus olhos e propus-lhe o negócio – um cigarro pelos seus olhos.
Feita a fotografia (a amiga que a acompanhava notou que eu usava uma Pentax e que, lá na escola também havia quem tivesse – e não lhe perguntei em que escola), avancei com uma laracha já velha:
“A minha câmara é mal-educada e dá números às pessoas em vez de nomes. Que nome dou a esta fotografia?”
“O meu! Cátia!”
“Bem, e escrevo com “C” ou com “K”?”
Esta pergunta não é tão absurda quanto isso, já que existem os dois grafismos por cá. Mas o olhar triste que me lançou ao dizer que era com “C” ficou sem resposta. Melhor dizendo, não lhe perguntei o motivo.
Acho que o calor que hoje derreteu tudo também fez murchar a minha capacidade de argumentação e de satisfação da minha curiosidade.

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O rigor da informação



Nesta loja não se engana ninguém!
Quando dizem “Liquidação Total” é isso mesmo que querem dizer, já que nem sobra para cobrir, pudicamente, os manequins da montra.

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O patim



Os pés crescem, crescem, depois… olha, os patins já não servem!

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sábado, 25 de junho de 2011

Tampas ou trampas?



Acredito que a maior parte de vós conserva as vossas objectivas tão limpas quanto o vosso corpo.
Limpeza regular do elemento frontal, ocasional observação do elemento traseiro, substituição do filtro protector quando se encontra riscado… Os cuidados habituais.
Mas já se aperceberam da quantidade de pó que vós mesmos colocam no elemento frontal?
É verdade! O interior da tampa é um excelente depósito de pó, pelos e afins. Os seus cantinhos são óptimos reservatórios. E o facto de ser de plástico não impede que a electricidade estática actue, tornando a tampa numa espécie de íman às partículas que por aí andam.
E de onde virão essas partículas?
No meu caso, do bolso das calças. Tenho o hábito, quase tão velho quanto o de usar calças, de guardar a tampa da objectiva no bolso direito das calças. Se, por um lado, não largo as calças em qualquer lugar à toa, por outro sei sempre onde está a tampa, não correndo o risco de a deixar para trás ao abandonar um local onde fotografei. Agora imagine-se a quantidade de pó que o tecido dos bolsos provoca, bem como a fricção com tecido a que a tampa aí guardada é objecto!
As excepções são as tampas de objectivas particularmente grandes, como algumas de vídeo ou de grande formato. Nesse caso, não tem muito que saber: ficam na mala de transporte ou no bolso de trás do colete, em regra bem grande. Mas como também, nessas circunstâncias, nada é feito a correr, nunca perdi nenhuma.
Portanto: considerem que a limpeza da tampa da objectiva é tão importante quanto a dos seus elementos. Ou terão trabalho para nada!

Texto e imagem: by me

Ora M*****



Como é que era o tal discurso sobre mudanças e poupanças?

Vem esta pergunta a propósito de um artigo lido num jornal on-line.
Segundo a notícia, o primeiro-ministro não terá pago o bilhete de avião na sua deslocação recente a Bruxelas, num voo da TAP.
Curiosamente, foi bem alardeado que Pedro Passos Coelho terá voado em classe turística, conforme tinha prometido fazer e que continuaria a fazer.
Curiosamente, também, é prática antiga a TAP não cobrar aos ministros de Portugal os bilhetes das suas viagens, executiva, turística ou o que quer que seja. Isto apesar de a TAP apresentar um prejuízo de muitos milhões de euros.
Igualmente curioso é o gabinete do primeiro-ministro não ter querido prestar declarações. “Não fazemos comentários sobre isso. A fuga de informações não partiu de nós e não queremos tirar vantagens dela.”, terá dito um assessor de Passos Coelho.

Diria eu que as tais “vantagens” seriam mais desvantagens! Que o badalado voo em turística para poupar dinheiro ao estado não passou de demagogia, já que não se poupou coisa alguma. Tal como anteriormente não havia despesas. Para ter havido alguma poupança, seria necessário que a TAP tivesse pago ao estado o bilhete da viagem.
O tal coelho tirado da cartola, afinal, é gato.

Texto e imagem: by me

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Na sombra de uma paragem de autocarro



By me

A kind of safe planking



By me

Uma questão de feitio



Agora perguntem lá:
“O que é que este local tem de especial?”
“Nada”, responderia eu se o perguntassem.
“Nada excepto estar à sombra, ter espaço quanto baste, ter sossego agradável, possuir cinzeiros e ser permitido fumar e servir café com colheres de metal, ainda que tenhamos que pedir”.
No entanto, e apesar de tudo isso me ter atraído para descansar um pouco as pernas e a cabeça, hesitei bastante antes de me tornar cliente. Bastante mesmo, o suficiente para que a empregada de balcão ficasse a olhar para mim, quem sabe a perguntar para dentro “Mas o que é que este quer?”
É que em letras bem grandes, ainda que não visíveis na imagem, está um cartaz com os seguintes dizeres:
“Não temos serviço MB” “Consumo obrigatório nas mesas” “Não temos serviço às mesas”
Isto rematado com dois outros, a vermelho “Pré-pagamento”
Não fora o calor, a cobiça do assento e a urgente necessidade de uma boa dose de cafeína, e teria procurado outro poiso mais acolhedor.
Apenas avisos de obrigação e negação! De tudo o que se pode ler a mais de uns dois metros, e além do escrito nas costas das cadeiras, apenas negações e obrigações. Nada de boas-vindas ou simpatias impressas!
E eu tenho pouca paciência ou capacidade de conviver com imposições de códigos de conduta arbitrariamente concebidos.
No meu próximo passeio depois do trabalho aqui nesta zona da cidade, esticarei ou encolherei a caminhada, que aqui não volto.
Mas também não sou conhecido por ser um tipo de bom feitio.

By me

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Assimetrias



A rica tem nome fino,
A pobre tem nome grosso;
A rica teve um menino,
A pobre pariu um moço!


Quadra: by António Aleixo
Título e imagem: by me

Stone planking

... e tive medo!



Logo após a revolução de ’74 aconteceu aquilo que acontece a seguir a todas as revoluções: a caça às bruxas.
Havia que expurgar o país dos pides, dos bufos, dos fascistas, dos colaboradores com o regime.
É assim que surgem, um pouco por todo o lado, comités ou assembleias onde se denunciam os ditos com o claro objectivo de os despedir ou afastar de onde actuavam e o não tão claro objectivo de os fazer substituir pelo poder de bases emergente. Eram eles acusados a dedo e o veredicto decidido de votação pública e de braço no ar.
Acontece porém que nem em todos os lados havia gente para afastar. Serviços ou empresas, pelo menos àquela data, não tinham gente conhecida por pertencer ao regime deposto. E isso era uma contrariedade para os que queriam assumir o novo poder que não via democracia.
Aconteceu (e isto foi-me contado por quem o testemunhou) que se se o resultado da “votação” não era maioritariamente o de condenação, somavam-se os votos condenatórios com as abstenções para que o número resultante coincidisse com os desejos pardos de quem estava a querer tomar as rédeas da sociedade.
Nalguns locais conseguiram os seus intentos, noutros, gente houve que se apercebeu da manobra e a denunciou na hora. E também para esses houve tentativas de processos sumários.

Passados que são todos estes anos, eis que reconheço manobras equivalentes:
Oiço Durão Barroso, num discurso na União Europeia ou parecido, a dizer que 85% dos Portugueses tinham votado favoravelmente o plano de apoio económico a Portugal.
Surpreendido com este número, questionei quem sabe destas coisas e, por sinal, até é do mesmo quadrante político. A resposta deixou-me de boca aberta:
“É a soma dos votos do PP mais o PSD mais o PS, os partidos que assinaram o acordo com a Troica”
Como é que é????
Para já, e consultado o site do ministério da justiça, a soma das percentagens de cada um desses partidos é de quase 79% e não os tais 85%. Mentira clara sobre o resultado eleitoral.
Mas, e mais grave ainda, fora o número o certo, é que não foram 85% dos Portugueses que votaram nestes três partidos. Feitas as contas da soma dos votos obtidos pelos três partidos, certo é que resulta em que apenas 45% dos eleitores inscritos neles votaram.
Ou seja: menos de metade dos cidadãos portugueses no seu todo escolheram dar o seu sim aos partidos que assinaram esse tal acordo.

Olhando para estes números, senti-me recuar a um tempo estranho com práticas nem sempre as mais honestas.

By me

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Expedientes



Uma destas noites dou-me mal! A sério que me dou.
Preparava-me eu para ir conversar com Morfeu, já não tão cedo quanto isso considerando a hora a que acabaria essa conversa, e batem-me à porta. Sendo que ainda estava em trajes decentes, fui saber quem seria.
Tratava-se uma senhora minha vizinha, aliás, recém vizinha, que me perguntou se teria uma chave com que pudesse abrir a porta dela.
Imagine-se o meu olhar de espanto. Ter eu uma chave que abrisse a porta dela. Talvez que, noutras circunstâncias e com mais aprofundados conhecimentos, isso fosse possível e até agradável. Mas sendo que a conhecia apenas de vista e que nunca trocáramos mais que uns circunstanciais cumprimentos, seria difícil de acontecer.
Lá lhe expliquei que não, que não tinha, ao que me contou que tinha deixado a chave em casa e a porta se fechara.
“E está no trinco?” estava! “Então espere um pouco que lhe vou mostrar um truque.”
Voltei a casa e regressei com uma garrafa de litro e meio de coca-cola, vazia. Já no patamar e usando do meu canivete, retalhei-a da forma que se vê, ficando com uma tira de pouco mais de 25cm de plástico. Com ela, e através da frincha, lá lhe abri a porta. Levei um pouco mais tempo do que esperava: no lugar de dez, precisei de quase trinta segundo, que não encontrava a malfadada lingueta a empurrar.
O seu olhar, inicialmente molhado, secou rapidamente e de espanto passou a agradecimento.
E, antes que recuperasse o fôlego, expliquei-lhe a rir, que aquele não era o meu ofício, que não andava a assaltar casas.
“Eu também não!” exclamou também já rir, exibindo um arame retorcido com que tinha tentado fazer como nos filmes, no buraco da fechadura.
Rimos mais um pouco, trocámos nomes e um aperto de mão e regressámos a casa, cada um à sua entenda-se. E se ela foi fazer o quer que tenha sido que costuma fazer em sua casa, eu fui directo para a cama, que o toque de alvorada é particularmente cedo por estes dias.
Mas já deitado, e enquanto esperava pela chegada da inconsciência do sono, fiquei a pensar no episódio.
É que, aqui neste prédio e que me recorde, é terceira vez que assim ajudo um vizinho. E se a coisa se sabe pode ser perigoso. Ou bem que sou contactado pela polícia, depois de uma casa assaltada com este método, ou sou acordado a altas horas da madrugada por alguém do prédio em apuros.
Ou, pior ainda, ser processado pela Coca-Cola por estar a usar as suas garrafas para arrombar portas.

Texto e imagem: by me

terça-feira, 21 de junho de 2011

À fé de quem sou!



Que raio! Esta é, assim que me lembre de repente, a terceira vez que faço isto!
No cafezinho que frequento aqui na rua, além de bolos, sandes e outros salgados, café e derivados, tostas, torradas e afins, também fabricam pão.
O que significa que neste café se lida de perto com equipamentos que produzem calor, bastante calor. Calor o suficiente para provocar queimaduras. O que acontece de quando em vez. Muito de quando em vez, mas acontece.
E acontece também que aqui não existe uma caixa de primeiros socorros, ou mesmo uma gaveta onde, para além de um desinfectante (também se trabalha com outras máquinas, algumas cortantes), pensos rápidos e quejandos, pomada para queimaduras. Não há! Não têm! Não existe!
E, que eu saiba, já por três vezes houve quem se queimasse no decurso do trabalho e não tivesse como se tratar.
Dessas três vezes que eu soube, voltei rapidamente a casa e regressei com uma pomada para queimaduras. Evita um aumento da destruição dos tecidos, porque baixa a temperatura do local queimado e serve de anestésico para a dor. Além do mais, é particularmente barato, à venda em farmácias e para-farmácias.
Da próxima vez que ali vá e encontre um dos dois sócios, vai ele ouvir-me forte e feio! Já nem falo das eventuais questões legais em torno da matéria. Falo mesmo do apoio que deverá dar a quem ali trabalha e que lhe garante o lucro que retira do seu serviço.
À fé de quem sou que me irá ouvir!

Texto e imagem: by me

Sobre a fotografia "um dia especial"



A ideia era ilustrar o solstício: o Sol, a Terra, a Antiguidade do fenómeno e da celebração.
Donde, os elementos-chave seriam: o Sol, ou a sua sombra; a Terra, sob a forma de pedra; uma referência aos Megalíticos, no caso a forma de menir da pedra.
E, sendo que mais que apenas uma ilustração, mas uma celebração por ela mesma, queria que a luz a usar fosse mesmo a do Sol, com uma sombra bem prolongada, simbolizando não apenas a vetusticidade do fenómeno como a sua efemeridade, por acontecer apenas num dia do ano. E que o envolvente à pedra fosse tão pouco artificial quanto possível.
Mas nem sempre aquilo que idealizamos conseguimos concretizar.
Nas traseiras de minha casa, o chão do parque, em tijoleira e com a cor de fim de dia saturada como eu queria, tinha demasiadas ervas nas fendas, que estragavam o efeito que queria obter. Por outro lado, o chão do parque infanto-juvenil logo ao lado já estava parcialmente na sombra, não permitindo um chão de infinito como tinha pensado.
Em alternativa, o murete que o circunda poderia assumir outro significado, se conjugado com a sombra interrompida da pedra:
O momento em que estamos e ligado ao passado, definido pelo “menir”; a sua projecção no futuro, delineada pela semi-recta da sombra que dele parte; a linha do tempo, vinda não se sabe de onde e seguindo para onde se ignora, não paralela à projecção da sombra: o murete.

Isto foram os conceitos e a fotografia que vi e criei mentalmente. Depois… bem, depois veio o pior: concretizá-la.
Em primeiro lugar conseguir pôr a pedra, velha companheira de bolso e de longas cogitações, de pé. Depois de várias tentativas frustradas, um elástico velho por ali encontrado fez o serviço como apoio escondido.
Em segundo, a minha própria posição, de joelhos e com a câmara no chão em cima do chapéu por via da das poeiras, espreitando eu pelo visor em ângulo recto que lhe acoplei.
Por fim, conseguir que a miudagem que por ali estava, aproveitando o fim de um dia quente, brincado e jogando sob a segura vigilância de alguns adultos e atraída pela curiosidade do que eu estaria a fazer ali e naquela posição, não se colocasse em campo ou não provocasse sombra onde eu queria sol e luz.
O mais divertido de tudo? Depois de guardada câmara e pedra e de colocado o chapéu, ter explicado à canalha miúda ou nem tanto que me rodeava o que se celebra a 21 de Junho e o significado da pedra-menir e dos velhérrimos antepassados.
Fico sem saber quem mais lucrou daquela pouco mais de meia hora. Mas que foi divertida, lá isso foi. Como é sempre que fazemos uma fotografia como queremos.

Texto e imagem: by me

Semântica



Fico sempre com “aquela” dúvida:
Quem está acordado a esta hora da madrugada a usar as redes sociais ainda está acordado ou, como eu, já está acordado?

By me

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um dia especial



A decisão do que é relevante para fazer notícia pertence a quem a divulga.
E nos órgãos de comunicação social a decisão passa por directores, editores, coordenadores, etc., etc., etc.
Mas, aqui neste espaço quem decide sou eu e nem sempre um “Fait divers” é relegado para terceiríssimo plano ou mesmo recebe esse apodo.
Para que conste, amanhã acontece o Solstício de Verão. É o maior dia do ano e, consequentemente, a menor noite do ano. Daí em diante, os dias diminuirão, gradualmente, até ao solstício de Inverno, repetindo-se o ciclo depois.
E é um dos festejos mais antigos da História da Humanidade, que já na pré-história era celebrado a ponto de se erguerem monumentos megalíticos.

E, já agora, se o celebrarem, não façam nenhum paralelismo entre o facto de de amanhã em diante as horas de sol irem diminuir com o facto de ser amanhã que o novo governo toma posse. É uma mera coincidência!


Nota extra:
Faits divers (pronuncia-se fé-divér; em francês, literalmente, "factos diversos") é uma expressão de jargão jornalístico e, por extensão, um conceito de teoria do jornalismo que designa os assuntos não categorizáveis nas editorias tradicionais dos veículos (política, cidade, polícia, economia, internacional, desportos e outros).
São fatos desconectados de historicidade jornalística, ou seja, referem-se apenas ao seu carácter interno e seu interesse como facto inusitado, pitoresco. Em geral, remetem a temas considerados "leves", curiosos, não muito sérios e sem comprometer seriamente ninguém. Em inglês, matérias de faits-divers são chamadas de features.


Texto inicial: by me
Nota extra: in Wikipédia
Imagem: by me

Correio electrónico



Recebi hoje um E-Mail de uma mui grada figura do panorama politico-partidário-governamental.
Esta foi a minha resposta, minutos depois:


Sr. (Não interessa o nome):

Olá!
Serve esta para acusar a recepção da sua mensagem com a sua mudança de endereço de correio electrónico.
É simpático da sua parte.
Serve também para reparar na já não tão simpática – enfim, pelo menos não muito avisada – lista de contactos que com a sua mensagem recebi. É que fiquei a conhecer um bom número de contactos que desconhecia. Em boa verdade, nem sabia da existência de grande parte dessas pessoas. Nos meus caminhos profissionais ou pessoais nunca com eles me cruzei, nem pessoalmente nem por mensagens.
Deduzo que as restantes pessoas nessa lista referidas receberam uma mensagem igual à minha. O que significa que todos eles ficaram a saber da minha existência e do meu contacto. Poderá isso vir a ser interessante, tanto na minha actividade televisiva, como na fotográfica como na lectiva mas, e se não se importar, preferia ser eu a divulgar que existo e como me encontrar, em vez de serem terceiros a fazê-lo.
É que, sabe, além de eu ser pouco importante no panorama nacional – para além, claro, das pessoas com quem trabalho ou me relaciono - gosto de manter a minha privacidade exactamente dessa forma: privada.
E, já que falo de privacidade, aproveito a oportunidade para lhe perguntar duas coisas: como sabe que existo e como sabe o meu contacto electrónico? É que, sabe, isso de andar nas bocas do mundo – ou nas teclas da web – será bom e proveitoso para quem seja figura pública ou anseie a tal. Não é, garantidamente, o meu caso! Não sou figura pública nem o pretendo ser.
Assim, renovo o meu pedido, com insistência: Agradecia que me dissesse como soube do meu contacto electrónico.
Poderá responder a este meu pedido por este meio – e-mail – já que nos correspondemos. Ou, em o preferindo, em retornando ao estúdio de televisão em que trabalho e dizendo-mo pessoalmente. Presumo que, da mesma forma que me conhece via electrónica, também me saberá reconhecer a figura.
Os meus melhores cumprimentos

JC Duarte

Post Scriptum – Se alguma das pessoas da referida lista se sentir incomodada com a divulgação do seu contacto electrónico, sentimento esse que entendo perfeitamente, poderá dizer-lhes que, da minha parte, não terão motivo de preocupação: depois de obter uma resposta da sua parte ao que lhe pergunto, tenciono apagar a referida mensagem em definitivo, mantendo assim para com eles o mesmo respeito pela privacidade que eu gosto para mim.


Texto e imagem: by me

Confissões



Admito que, em circunstâncias normais, tomo café na chávena pequena.
Também admito que, em circunstâncias normais, esta fotografia teria sido melhor executada.
Mas também devem admitir que, às quatro da manhã, acabadinho de sair da cama, café só mesmo em grandes quantidades, e que o rigor de uma fotografia ainda estará um pouco “embotado”, por muita vontade que se tenha.

By me

domingo, 19 de junho de 2011

Imagem




Os etimologistas perguntam-se porque é que o termo “leiche” acabou por assumir o significado de cadáver que é o sentido que a palavra tem hoje em Alemão. Também aqui a evolução semântica é, na verdade, perfeitamente compreensível: o cadáver é por excelência aquilo que tem a mesma figura. Isto é tão verdade que para os romanos o morto se identifica com a imagem, é a “imago” por excelência e, vice-versa, a “imago” é antes a imagem do morto (as “imagines” eram as mascaras de cera dos antepassados que os patrícios romanos guardavam nos átrios das suas casas). De acordo com um sistema de crenças que caracterizas os rituais fúnebres de muitos povos, o primeiro efeito da morte é o de transformar o morto num fantasma (a “larva” dos latinos, o “eidõlon” e o “phasma” dos gregos), ou seja, num ser vago e ameaçador que continua no mundo dos vivos e regressa aos lugares frequentados pelo defunto. O intuito dos ritos fúnebres é precisamente transformar este ser incómodo e ameaçador, que obsessivamente retorna, num antepassado, ou seja ainda numa imagem, mas benévola e separa do mundo dos vivos.

Ensaio by: Giorgio Agamben, in “Lighten up” by João Onofre
Imagem: me by Diana Serrão

As coisas nem sempre são o que parecem

Relógio



Fica a pergunta, em tom de desafio:
O que tem este relógio de pulso duplamente curioso? Ou de estranho? Ou de incomum?
Teste o seu sentido de observação.

By me

sábado, 18 de junho de 2011

A bolha



Por vezes é mesmo muito difícil manter o nível neste tipo de trabalho!
Ouvimos o que não queremos, não vemos o que queremos e, ainda por cima, temos que manter uma compostura como de muito sério tudo se tratasse.
Bem que gostaria de ler o que Kafka escreveria se estivesse, digamos, seis meses mano a mano comigo.

By me

Stop



É nestas ocasiões em que me sinto velho!
Olhando para o painel dos novos ministros (termo que, curiosamente, também significa “servidor” ou “servo”), apenas um deles tem mais idade que eu mesmo.
E o que me preocupa não é tanto a questão dos anos vividos por eles ou por mim. Que venham novos e façam mudanças. Mas para melhor!
Mas nestes não vejo essa tendência: nem nos seus percursos nem nos seus discursos, nem nos seus projectos.
E “Se para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim”, como dizia o poeta, pergunto-me se é na sociedade idealizada por estes que quero viver.
Ou se deixarei que os “novos” venham tentar destruir os sonhos dos “velhos”.

Texto e imagem: by me

A tirania do enquadramento



É teoria minha, faz muito tempo, que o conceito de “enquadramento” é uma tirania!
Por um lado, é o obrigar a que a imagem que queremos criar fique restrita aos limites do papel ou ecrã, obrigatoriamente excluindo o que não lá cabe e obrigatoriamente incluindo tudo o que é projectado pela objectiva.
Por outro lado, esta projecção é rectilínea (enfim quase, já que também é ondulatória). E está obrigada a cumprir as regras da perspectiva e da geometria que, definida ou inventada pelo Homem actual, são adoptadas pelo consumidor, criador e fabricante de imagens como padrão. O que ou quem não as seguir é rotulado de disfunção ou erro, marginal, excêntrico ou louco.
Acrescente-se que consumidores de imagem, produtores de imagem e conteúdos e fabricantes de equipamentos se atêm a normas e formatos de imagem. Pela necessidade de produção de máquinas e suportes, pelas imposições das manchas gráficas nas publicações, pelas limitações de compatibilidade entre emissor e receptor nas telecomunicações, a actual sociedade de imagem técnica e mecânica está formatada. E o produtor ou o consumidor de imagem, levado pelo facilitismo, formata os seus conceitos estéticos por estas restrições, produzindo, aceitando ou consumindo imagens de acordo com estes padrões.

Enquanto elemento integrado na sociedade ocidental fui e sou formatado deste modo. Nascido nos finais de cinquentas do séc. XX, a minha vivência visual foi objecto destes moldes e uniformizações, tanto em livros e periódicos, como na fotografia, como no cinema, como na televisão. Tem escapado a pintura e a arquitectura, mas estamos a falar de outras coisas. Os rectângulos em três por quatro, dois por três, dezasseis por nove, cinemascope, de ouro ou alguns outros impuseram-se como formatos não apenas socialmente recomendáveis como os únicos válidos.
Ao iniciar a minha actividade como produtor de imagem (fotografia, cinema, TV) não pude deixar de estar por isto mesmo influenciado. Culturalmente e por aquilo que me era exigido profissionalmente. A necessidade de as minhas imagens se integrarem num sistema de comunicação de massas, procurando que elas chegassem ao entendimento e aceitação do maior número possível de consumidores assim me levou a ser e fazer.

Mas, algures num tempo que não sei precisar qual, achei que estava peado. Se a minha produção de imagens profissionais tinha que seguir os cânones existentes, a minha satisfação com ela estava a diminuir. À medida que o tempo passava (passa) sinto que a rectangularidade e as proporções impostas não me satisfazem. Continua a haver limites no enquadramento a prenderem-me. Continuam a existir proporções formatadas a limitar-me.
No que ao vídeo e ao cinema diz respeito, pouco ou nada posso fazer. Não tenho poder, quiçá energia, para alterar o que quer que seja que me faça sentir mais livre na criação e comunicação.

Mas no que à fotografia toca…
Da existência de limites não posso fugir. Estou mesmo em crer que, a este respeito, os únicos realmente livres foram os nossos ante-ante-passados, com as suas pinturas rupestres e os nossos contemporâneos com os seus graffitis. Aplicam as suas imagens nas superfícies, independentemente das áreas ou limites desta. Se as imagens terminam antes dos limites, tanto melhor, senão, tanto pior. Não é este aspecto que condiciona.
Já no que às proporções diz respeito, a coisa muda de figura. Quando fotografo, excluo mentalmente do enquadramento do visor o que lá está que entendo estar a mais. Procuro que a perspectiva se ajuste aos centros de interesse e às relações entre eles, fazendo um enquadramento virtual em torno deles. Mais tarde, no processamento da imagem, ajusto as proporções da imagem em função do seu conteúdo e do que, na tomada de vista, imaginei.
O resultado? As mais das vezes é um rectângulo assumidamente horizontal, em que as proporções entre a largura e a altura são as necessárias e suficientes ao que tenho em vista. Conteúdo e mensagem. E se existir algum tipo de relação matemática entre uma e outra dimensão, é questão que não me perturba nem um pouco.
Se ao receptor das minhas imagens fotográficas agrada ou não esta abordagem, é uma questão que também não me tira o sono. Porque com as minhas imagens, as que faço para minha satisfação, não as faço para que sejam eficazes em termos de comunicação de massas mas, antes sim, para a minha própria satisfação. E esta não se prende com cânones, formatações culturais ou limitações impostas por fabricantes.


Texto e imagem: by me

sexta-feira, 17 de junho de 2011

As notícias são o que são



Todo o País vai sabendo da constituição do novo governo.
Falava-se deste e daquele nome para esta ou aquela pasta, das tricas internas sobre que partido ficaria com este ou aquele pelouro…
Menos notório, ainda que direito a notícia em alguns órgãos de informação, é a mudança de posto, e de empregador, de José Fragoso.
Ocupou cargos na RTP, na SIC, na TSF, de novo na RTP e agora ocupa um cargo, igualmente alto, na TVI.
Fico assim a saber, se não o soubesse antes, que a camisola que tem vestida cobre todos os quadrantes e cores, quiçá os que ficam para além do espectro visível.
Ou, quem sabe também, se não será um especialista em abandonar barcos antes que.

Imagem: algures na Web

Fotografias



Eu não gosto de fotografia. Das minhas fotografias. Das fotografias que fiz no passado!
Estranho? Eu explico:

Passear os dedos e os olhos pelos arquivos de imagem é um estímulo à memória. Todos sabemos que a memória visual é a mais potente. Assim, a cada imagem que vou vendo do passado, recordo das suas circunstâncias. Quando foi feita, ambiências, motivações, antecedentes e consequentes…
Como dizia a Kodak, na sua publicidade bem conseguida, “Para mais tarde recordar”
Acontece que este estímulo pela memória visual, de uma forma ou outra, acaba por ofuscar a “verdadeira”memória que temos, aquilo que, por este ou aquele motivo, retemos num local especial da memória como importante e que vamos recordando de quando em vez. Um aroma, um som, a suavidade de uma pele ou o paladar exclusivo de uma iguaria.
E o que vimos.
E só fotografamos a enésima parte do que vemos.
E o que vemos é um quinto daquilo que os nossos sentidos nos transmitem…
Daí que, fotografar momentos especiais – férias, aniversários, festas, etc – é atraiçoar aquilo que consideramos relevante.

Prefiro acordar a minha memória com outros estímulos – uma conversa, uma música, um beijo. Quando ela se levanta lá do fundo das células cinzentas, vem por inteiro, sons e imagens, cheiros e tactos.
A recordação assim é integral, Os neurónios, com as suas temperaturas e descargas eléctricas levam-me inteirinho no tempo e o espaço para essa outra vivência.
E eu “vejo” aquilo que terá sido relevante, aquilo que na altura me marcou. A imagem mental é completa, quase ouvindo e cheirando. Sentindo a suavidade de uma face acariciada ou o acridoce do saborear.

Ver as fotografias que fiz algures atrás no tempo é manipular a minha memória, é condicioná-la àquele momento e àquele conjunto de fotões que chegaram à película ou ccd.

Vem toda esta conversa meio (muito!) confusa a propósito de um e-mail que recebi há uns dias de um velho amigo e companheiro de trabalho e outras vivências.
Mandou-me ele uma lista de 50 linhas onde eu tinha alinhado um guião de uma “slide-novela”, como então lhe chamámos.
A ideia era cada um inventar e contar uma história em diapositivo, ilustrá-la com som e exibi-la. À imagem e semelhança das novelas televisivas de então (e de hoje, já agora). Cada um de nós que estávamos no projecto contaria com a ajuda de representação dos demais. Experiências…!

Volta e meia, ao passear-me pelos meus arquivos fotográficos, tenho tropeçado nessas imagens, agora desagrupadas. Fui-as usando, ao longo dos anos, em outros projectos, lectivos ou outros. O trabalho, no seu todo, desapareceu. Já nem sequer possuo o tal “guião” ou a música.
De cada vez que olhava para cada uma delas, recordava as circunstâncias da sua execução: os jogos de luz, o trepar à árvore para a perspectiva certa ou possível, o pedir a utilização de lojas como cenário, a confusão que foi no café quando se mostrou a navalha de ponta e mola…
Mas nem me recordava do projecto no seu conjunto, das conversas em torno dele, da exibição única que este audio-visual teve, da sequência da estória…

Por estas e por outras, de férias não trago recordações fotografadas.
Apenas me aproprio dos vestígios que a luz deixa de pormenores que gostaria de possuir, daquilo que nunca será meu e que tenho pena: um jogo de luz e sombra, um detalhe de uma cornija, uns olhos que inflamaram a minha paixão…
Quanto ao resto, prefiro ir vivendo em pleno e, como um mau coleccionador, apenas evitar que apanhe bolor o resultado da minha cobiça.


Texto e imagem: by me

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Spining around



Ainda não percebi se o Universo gira em torno de cada um de nós ou, ao invés, se somos nós que orbitamos, aleatoriamente, em torno de um eixo transversal a tudo o que existe.

(Nota extra: aquilo que podemos fazer e pensar a propósito de um pião de brincar que surge de dentro de um Kinder-Surpresa!)

By me

O tal meio copo



É um daqueles problemas que tenho:
Com meio copo de vinho fico logo com o foco “avariado”. Acrescente-se que bebo mais uma garrafa e a diferença é pequena. Mas aquele primeiro meio copo é fatal.
É por isso que, em estando a trabalhar ou tendo que fazer umas fotografias, evito o beber álcool. Afinal de contas, a satisfação em o beber não compensa a falha nos resultados posteriores.
Pois neste dia, quase que parecia que tinha bebido. Nem acreditava naquilo que me estava a suceder, quase que parecia que, além do tal meio copo, tinha entrado num qualquer mundo surreal, mesmo sem o auxilio de quaisquer químicos auxiliares.
Então não é que numa loja MacDonalds, um dos Reis do Fast Food, um símbolo transcontinental do americanismo, sou informado que não têm Coca-Cola?
Impossível, pensei. Bebeste muitos meios copos e não te recordas.
Insisti no meu pedido junto da menina do outro lado da caixa registadora, mas a resposta foi inequívoca: Não temos Coca-Cola.
Ainda pensei em chamar a ASAE, a inspecção de saúde, os bombeiros, a Força aérea, qualquer coisa que desfizesse aquele quadro inacreditável. Mas de nada serviria. Continuariam a não ter Coca-Cola e a proporem-me um outro refrigerante que não de pressão. E também não tinham vinho.
Fui sentar-me, convencidíssimo que algo de muito estranho estava a acontecer, que o Fast Food tinha sido subvertido por um qualquer grupo ecologista ou quejando. Ou, em alternativa,que tinha bebido o fatal meio copo de vinho e que o desfoque visual se tinha transferido para a audição também.


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Boca seca



Para os que não sabem, sempre fica aqui a informação:
Boca seca é um boca de incêndio que não contêm água. Existe ligada a um sistema de canalização de emergência no interior de edifícios, em regra de grande porte, e o seu objectivo é permitir que os carros de combate a incêndios possam injectar água por essa canalização e fazê-la chegar ao topo do prédio sem que se tenham que esticar mangueiras até ao cimo. As mais das vezes, quando é usada, é em situações de falta de pressão de água na canalização normal. Daquelas coisas que esperamos sempre que nunca venham a ser usadas.
E o meu prédio tem colunas secas e uma boca seca, logo na entrada.

Pois foi junto à boca seca do meu prédio que, um destes dias, me cruzei com um vizinho. Ia eu ao café, de câmara pendurada no ombro como de costume, e ele aborda-me.
Pergunta-me ele se eu sou fotógrafo e que havia um trabalho que ele queria que fosse feito. A sua filha viria cá no verão, vinda da sua terra natal, a Ucrânia, e ele gostaria de lhe fazer uns retratos de estúdio.
Disse-lhe que não fazia aquele tipo de trabalho, até porque não tenho estúdio e questionou-me se conhecia quem o fizesse, aqui nas imediações. E lá lhe recomendei um fotógrafo com estúdio. Não o conheço pessoalmente, mas já vi alguns dos seus trabalhos expostos na montra e pareceram-me de qualidade razoável.
Mas ele quis saber mais: se esse fotógrafo depois poderia publicar as fotografias, assim num jornal ou parecido, daquelas que vão a concurso para avaliar da beleza da retratada e ganhar prémios.
Fiquei como na imagem: de boca seca! O que ele, de facto, queria não era ficar com retratos da filha, longe faz tempo. Queria, antes sim, mostrar ao mundo como ela é bonita, mais bonita que todas as outras. E queria um fotógrafo que o mostrasse. Uma espécie de afirmação em que, apesar de se estar longe de casa, ainda se é bom e o melhor. Senão o próprio, pelo menos a descendência!
Entendo o orgulho que os pais têm pelos filhos. Não entendo, ou não aceito, que queiram disso fazer competição, levando-os a competirem com aquilo de que não são responsáveis: a beleza. Até porque, e se se tratar de uma criança, a não vitória será, certamente, uma frustração difícil de sublimar.

Deixei-o e fui ao café, ficando ele com a localização do tal outro fotógrafo. Ficando eu curioso a esperar pelo Verão e pela chegada da filha. Quem sabe se não será, de facto, daquelas figuras de nos deixar mesmo de boca aberta. Como a boca seca do meu prédio.


Texto e imagem: by me

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Aprendiz



Há uns anos atrás, numa das minhas idas mais ou menos regulares a Barcelona, levei comigo uma sobrinha adoptiva.
Uns meses antes, aquando de um jantar com os seus pais, amigos de longa data, virei-me para ela e perguntei-lhe: “Como é? No verão queres ir comigo a Barcelona?”
Ficou a olhar para mim com cara de tola, os pais a rirem da brincadeira mas, nesse Setembro lá estivemos, 10 dias a ver e viver o possível para ambos.
Um dos locais onde não podia deixar de a levar foi o Museu Picasso. Ainda que não possua as principais obras do génio, cobre toda a sua vida, todas as suas fases, tendo, entre outros, muitos trabalhos da sua infância e esboços de trabalhos maiores e famosos.
No final, perguntei-lhe sobre o que mais havia gostado, entre o que tinha visto e aquilo que eu lhe tinha conseguido explicar.
A resposta foi bem clara, para quem tinha onze anos à altura: “Das pinturas de quando ele era criança e pintava como as pessoas!”

Vem esta estória a propósito de ver e ouvir dizer que não se gosta de regras e convenções.
Posso presumir – e saber – que Picasso, Miro, Dali e tantos outros, também não gostavam de regras e convenções e que, quando partiram para o seu estilo próprio e inovador, foi uma tentativa de quebra com todas elas.
No entanto, qualquer um deles dominava, ou tinha dominado, as formas de representação plásticas convencionais, de acordo com as regras estéticas em vigor.
Não apenas porque as estudaram e aprenderam como, querendo expressar os seus próprios sentimentos e emoções e que eles fossem entendidos por outros, tiveram que recorrer às convenções, códigos e regras existentes.
O que aconteceu foi que, a dado passo, se sentiram insatisfeitos com o que faziam, pois que não o interpretavam como representando o que lhes ia na alma. Partindo das convenções, começaram a inovar, variar, quebrar as regras e códigos estéticos instituídos até encontrarem uma outra linguagem. Onde eles próprios se reconhecessem e que outros, com sentimentos na mesma linha, os reconhecessem e aos seus sentimentos.

Por outras palavras, num circulo de comunicação restrito, criaram outras e novas formas de comunicação, com outras e novas regras e convenções.
Porque, na total ausência de regras e convenções, a comunicação não existe, já que quem vê não entende quem pinta (fotografa, compõe, filma, dança…)
Indo mais longe, o simples facto de nos exprimirmos define uma convenção ou regra, já que o seu autor convenciona ou define que aquele gesto, aquela cor, aquele som ou aquela organização de espaço corresponde a um dado sentimento seu. É um ícone ou a substituição de algo impalpável por algo material ou não, visível ou audível.

Aquilo que eu gosto de ouvir ou ler é, antes sim, que não se gosta destas regras ou convenções. Porque não satisfazem, porque não correspondem aos sentimentos ou porque representam uma geração com a qual se quer quebrar amarras e criar distância. Ou ainda porque essas regras ou convenções nos sufoca e prendem, aspirando nós a outros voos.
É isto que gosto de ler ou ouvir, principalmente se seguido por algo nesta linha:
“Não gosto disto, não me satisfaz, não me identifico com estas regras, convenções, linguagem! Vou partir e encontrar o meu próprio caminho, a minha própria forma de expressão, as minhas próprias regras, convenções, códigos!”
Quando oiço ou leio isto, a minha reacção é sempre a mesma: “ Aleluia! Mais um que aprendeu a pensar e que nos vai ensinar algo de novo! Deixa-me aprender contigo!”
Porque, enquanto por cá andar, serei sempre um aprendiz. E é tão bom!...


Texto e imagem: by me

Opções



Hoje acontecerá um eclipse total da Lua, o único a ser visível em Portugal este ano. Aliás, o único a ser visível em Portugal durante os próximos quatro anos.
Hoje também será indigitado o próximo Primeiro-Ministro. Será o único em Portugal até… daqui por quatro anos também, se as coisas correrem de feição aos desejos de alguns cidadãos e políticos de Portugal.
Ambos os eventos estavam previstos, o primeiro há muitos anos, o segundo desde há uma semana.
A ambos os eventos terei que assistir: o segundo por dever de ofício, ainda que a contra-gosto, o primeiro por prazer d’alma, e fugindo a alguma obrigação que eventualmente surja.
Que os Homens passam e deles restará a memória, nem sempre pelos melhores motivos. Enquanto que dos astros, já por cá andavam ainda antes de o Homem o ser e continuarão a por cá andar muito depois de já nem haver memória.
Entre um acto político e um evento astral prefiro o segundo que, ao que julgo saber, os corpos celestes não fazem mal a ninguém!

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terça-feira, 14 de junho de 2011

Le me out



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Mais uma!



Que ontem ouvi, lá isso ouvi.
Mas foi preciso, já em casa, recorrer à versão on-line do noticiário televisivo para ter a certeza, não fora eu equivocar-me.
Sobre Kadafi disse-se na peça jornalística:
“O ditador vive em Tripoli mas em parte incerta. Esconde-se como um fugitivo.”
E pronto! Aqui temos mais um belo exemplo do que é um jornalista a emitir uma opinião sobre um tema. Quando está a dar a voz sobre algo que não presenciou e sobre imagens que lhe chegaram através das agencias noticiosas.
Sempre quero ver se esta pessoa, que é profissional da informação, algum dia fará o mesmo sobre alguém da esfera nacional e com poder de intervir e pedir responsabilidades.
A menos que a respeito de tais pessoas seja invocado o Código Deontológico do ofício.

Nota extra: Não simpatizo com Kadafi e sobre ele apetece-me dizer um chorrilho de adjectivos pouco simpáticos. Mas não sou jornalista nem a minha voz se faz ouvir num órgão de comunicação social.


Imagem: algures na web
Os políticos fazem contabilidade criativa. O comum dos mortais é apelidado de aldrabão.
A diferença é mesmo só no léxico. E na aplicação da justiça!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Organizem-se!



No jornal Público lê-se:
“ Cerca de cem pessoas deitaram-se hoje à tarde no Rossio em protesto contra “a falta de justiça social” e por uma “democracia verdadeira” em Portugal.”

No jornal Diário de Notícias lê-se:
“Cerca de 60 pessoas deitaram-se domingo no Rossio, em Lisboa, como forma de protesto contra a 'troika' e em defesa de uma vida sustentável, segundo os diversos cartazes que colocaram no torso.”

Nada como a convergência de números e o rigor da informação!

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Descoroçoado



Ficarei sempre na dúvida se este pobre coração aqui abandonado foi perdido acidentalmente ou se para aqui foi atirado num gesto de despeito.

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