terça-feira, 21 de junho de 2011

Sobre a fotografia "um dia especial"



A ideia era ilustrar o solstício: o Sol, a Terra, a Antiguidade do fenómeno e da celebração.
Donde, os elementos-chave seriam: o Sol, ou a sua sombra; a Terra, sob a forma de pedra; uma referência aos Megalíticos, no caso a forma de menir da pedra.
E, sendo que mais que apenas uma ilustração, mas uma celebração por ela mesma, queria que a luz a usar fosse mesmo a do Sol, com uma sombra bem prolongada, simbolizando não apenas a vetusticidade do fenómeno como a sua efemeridade, por acontecer apenas num dia do ano. E que o envolvente à pedra fosse tão pouco artificial quanto possível.
Mas nem sempre aquilo que idealizamos conseguimos concretizar.
Nas traseiras de minha casa, o chão do parque, em tijoleira e com a cor de fim de dia saturada como eu queria, tinha demasiadas ervas nas fendas, que estragavam o efeito que queria obter. Por outro lado, o chão do parque infanto-juvenil logo ao lado já estava parcialmente na sombra, não permitindo um chão de infinito como tinha pensado.
Em alternativa, o murete que o circunda poderia assumir outro significado, se conjugado com a sombra interrompida da pedra:
O momento em que estamos e ligado ao passado, definido pelo “menir”; a sua projecção no futuro, delineada pela semi-recta da sombra que dele parte; a linha do tempo, vinda não se sabe de onde e seguindo para onde se ignora, não paralela à projecção da sombra: o murete.

Isto foram os conceitos e a fotografia que vi e criei mentalmente. Depois… bem, depois veio o pior: concretizá-la.
Em primeiro lugar conseguir pôr a pedra, velha companheira de bolso e de longas cogitações, de pé. Depois de várias tentativas frustradas, um elástico velho por ali encontrado fez o serviço como apoio escondido.
Em segundo, a minha própria posição, de joelhos e com a câmara no chão em cima do chapéu por via da das poeiras, espreitando eu pelo visor em ângulo recto que lhe acoplei.
Por fim, conseguir que a miudagem que por ali estava, aproveitando o fim de um dia quente, brincado e jogando sob a segura vigilância de alguns adultos e atraída pela curiosidade do que eu estaria a fazer ali e naquela posição, não se colocasse em campo ou não provocasse sombra onde eu queria sol e luz.
O mais divertido de tudo? Depois de guardada câmara e pedra e de colocado o chapéu, ter explicado à canalha miúda ou nem tanto que me rodeava o que se celebra a 21 de Junho e o significado da pedra-menir e dos velhérrimos antepassados.
Fico sem saber quem mais lucrou daquela pouco mais de meia hora. Mas que foi divertida, lá isso foi. Como é sempre que fazemos uma fotografia como queremos.

Texto e imagem: by me

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