quinta-feira, 2 de junho de 2011

Com mil milhões de macacos!



Foi por pouco. Mais um nico e acontecia coisa rara: eu ficar sem ter resposta para dar.
Mas o Diabo é sábio porque é velho, e eu já levo uns anitos de retóricas e argumentações.

Estava eu em casa, entretido quase que em silêncio, e oiço um “vuuuump” por sob a porta de casa. Estranhei, fui ver, e tratava-se de um par de folhetos de uma qualquer seita religiosa. Chateei-me! Este método de enfiar a propaganda mesmo por baixo do nariz, perdão, da porta tem, entre outros inconvenientes, o ser um convite aos assaltos. E deitei-os no lixo.
Aproveitei o ter feito uma pausa no trabalho, pequei na câmara, enfiei colete e chapéu e saí para um cafezinho. Sempre é um motivo de ir arejar e ver um pouco de sol.
Mexia eu o açúcar no café quando as três entraram no estabelecimento. Reconheci-as pelo que traziam na mão e, não querendo perder a oportunidade, abordei-as.
E expliquei-lhes que este panfletos, deixando um cantinho à vista por sob a porta são um indicador precioso para quem andar em reconhecimento para assaltar apartamentos: se ali estiver por uns dias, significa que os locatários estão ausentes e que o “trabalhinho” será mais tranquilo.
Ficaram surpresas com a abordagem e conteúdo e prometeram ter cuidado em os enfiar por inteiro sob as portas.
Saiu-me o tiro pela culatra, que o que eu queria mesmo era que deixassem de os colocar ali. E sugeri que os colocassem nas caixas de correio, como todos os outros fazem.
- Pois, sabe, mas assim as pessoas pensam que se trata de publicidade normal e deitam-nos fora. E isto tem uma mensagem especial que todos devem ler…
“Ok”, pensei, “resistentes mas tenho artilharia pesada.”
- Qual a primeira coisa que fazem quando, de noite, abrem a porta de casa? - perguntei
- Acendo a luz - respondeu uma, sorrindo junto com as outras.
- Não! - retorqui. - A primeira coisa que se faz é dar um ou dois passos dentro de casa e só depois se acende a luz. E, às escuras, nada mais fácil que escorregar nuns papeis ignorados em que pisamos, quando supomos que o interior de casa está seguro e limpo.
Abanaram um pouco, mas uma das outras chegou-se à frente. Tinham a vantagem de serem três para um.
- Sabe, estes papeis não têm só palavras escritas. Têm a mensagem de deus, e ele não quererá fazer mal a ninguém, como escorregar nele ao entrar em casa. São folhetos protegidos por deus.
“Lá vou ter eu que carregar a fundo, que estas não desistem!” decidi. E ataquei de novo, com estocada a fundo e sem piedade:
- Acontece que o vosso deus não é o meu, que professo a religião Shintoísta. Donde, à luz da vossa lei, estou condenado porque não sou crente. E condenado também a, se não olhar para o chão ao entrar em casa, dar um trambolhão com os papeis que lá põem.
Isto dito com cara muito séria, juntando as palmas das mãos em frente ao peito e fazendo uma vénia ligeira.
Fatal!
Olharam umas para as outras, fizeram de conta que arrumavam os papéis que traziam, a terceira pediu cafés para todas, saudaram-me com um “Que deus o proteja”, e foram sentar-se.

Confesso que me tiram do sério estes “recadinhos” personalizados por sob a porta, quer sejam religiosos, políticos ou comerciais. Aliás, haverá diferença?
E não creio que debaixo da minha (que sabiam qual era, que me viram dela sair) voltem a deixar mais papéis que, garantidamente, irão direitinhos para o lixo.

Texto e imagem: by me

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