quinta-feira, 31 de março de 2011

Não me obriguem



Há coisas que me fazem sair do sério! E a subserviência é uma delas.
Fazer variar comportamentos em função da posição social ou do poder político ou económico é uma das atitudes que se pode considerar de subserviência e que me faz sair do sério!
Em frente da minha objectiva já esteve todo o tipo de gente. Políticos, gente criadora, desportistas, figuras mundialmente conhecidas e outras notoriamente desconhecidas. Para alguns destes, o simples facto de poder estar em frente a uma câmara e de ter a sua imagem registada e/ou difundida é momento ímpar e digno de evidência. Para outros, é um acto corriqueiro e que faz parte da sua actividade normal.
A todos faço questão de tratar por igual, pelo menos enquanto estou a exercer o meu ofício, e independentemente da simpatia ou antipatia que possa sentir por eles. Claro que quando a câmara é a minha e estou a fazer o que faço para meu prazer e satisfação mútua, as atitudes são diferentes. Mas enquanto profissional, sou neutro.
E ao dizer “tratar por igual” entendo não apenas a forma como faço a captação da imagem mas também a cordialidade com que trato os intervenientes, a urbanidade da minha linguagem, a habitualidade dos meus gestos e a normalidade dos meus trajes.
Enoja-me constatar que alguns que comigo ombreiam no quotidiano, ao saberem da presença de um poderoso, alteram comportamentos. Os sorrisos, as vénias, as expressões delicodoces, as satisfações dos mínimos desejos… Alguns e algumas há que, em sabendo com antecedência o estatuto da figura que se apresentará, alteram o tipo de vestuário, mudando de informal e de trabalho para formal e cerimonioso.

A tolerância e aceitação das preferências e comportamentos alheios é algo que devemos praticar a cada minuto.
Mas, por favor, não me obriguem a privar, para além do estritamente necessário, com gente subserviente.


Texto e imagem: by me

Boris Vian: Barcelone

Faz sentido!



Uma para quando há incêndios, outra para quando não há.

By me

quarta-feira, 30 de março de 2011

Gestões temporais



O tempo é uma tirania. Melhor dizendo, a forma como gerimos o tempo – relógios, calendários, afazeres e compromissos – resulta em tirania, já que nos deixamos levar por eles, deixando de parte coisas importantes como a nossa própria satisfação e prazer.
Fruto desta tirania e da educação que fui tendo, há uma coisa que odeio: chegar atrasado onde quer que seja. Incomoda-me! Chateia-me! Aborrece-me!
Para o evitar, tento gerir o tempo por forma a que tal não suceda, procurando não atribuir a tarefas e compromissos mais tempo que aquele que sei poder cumprir e que não ponham em causa o seguinte.
Assim aqui em casa tenho inúmeros relógios e de vários estilos e tecnologias, de bolso a parede, de corda a electrónicos, até mesmo de areia, faltando-me uma clepsidra e um atómico para que o conjunto fique completo.
Acontece, porém, que esta coisa do mudar a hora legal duas vezes por ano redunda numa trabalheira em os acertar a todos sendo que acaba sempre por escapar este ou aquele e as consequentes discrepâncias temporais.
Um há, no entanto, que faço questão de não acertar. Aquele para onde olho mais vezes ao longo do tempo que estou em casa: o que está na minha mesa de trabalho, mesmo por cima dos computadores.
Talvez que por rebeldia, talvez que por ser do contra, talvez mesmo porque sou enxertado em corno de cabra. Certo é que o sabê-lo ajustado noutra hora (ou não) que a legal, me leva a que, de cada vez que olho para ele, pense realmente no momento temporal em que me encontro e não apenas no quanto tempo passou ou faltará para uma dada circunstância.
Para ser mesmo rigoroso, este relógio deveria mostrar a hora de Inverno menos quase 20 minutos. Para que correspondesse à hora solar – ao meio-dia horário, o sol estar no zénite. Na prática, mantenho-o na hora de Inverno.
Entre todos os outros motivos que possam estar por detrás desta minha atitude, talvez que o principal seja que o que mais me importa, mesmo, é o sol, a luz, e o que ela me permite ou impede de fazer. Enquanto ser Humano e enquanto photógrapho.
Quanto ao resto, lá me vou adaptando, entre as combinações com os demais e a minha própria satisfação.
Manias!

Texto e imagem: by me

terça-feira, 29 de março de 2011

Volta e meia dá-me na telha



Em dando com uma situação que me incomode e para a qual suponho ter uma solução válida, ainda que de execução dependente de leis ou da sua alteração, entro em contacto com os grupos parlamentares.
Sei que de pouco serve, que não sendo eu membro de nenhum deles e nem sequer deles ser conhecido, o mais natural é ignorarem por completo o que lhes digo.
Mas entendo que faz parte da minha posição de cidadão interventivo fazê-lo.
Desta vez fui surpreendido!
Recebi uma missiva electrónica com o seguinte conteúdo:
“Venho, pelo presente, acusar a recepção do e-mail, datado do dia 19 do corrente mês de Março, que mereceu a nossa melhor atenção e que muito agradecemos.”
Completamente pró-forma, inconsequente e, portanto inútil. Fica a satisfação, no entanto, de saber que alguém o leu e que se deu ao trabalho de responder, ainda que desta forma.
E fica a frustração de ter apenas recebido uma resposta. Dos seis grupos parlamentares, apenas um se deu ao trabalho de responder.
Estão, muito provavelmente, muito ocupados com o escrever de leis, o votar de leis e, nos dias que correm, em salvaguardar o lugar que ocupam.
Esquecem-se que o lugar que ocupam depende dos votos que recebem e ignorar um cidadão é, garantidamente, um voto a menos que recebem.
Esquecem-se estes nossos deputados, que fazem o que fazem para benefício de todos os portugueses e que são por eles pagos para tal. Por outras palavras, é dos meus impostos que sai o seu salário e demais mordomias que recebem. E serem despedidos por incompetência ou descortesia é um risco que correm, quer seja em momento de eleições (que se aproxima a passos largos), quer seja de outras formas, algumas não contempladas na constituição.
Quem foi que me respondeu? Para o caso pouco interessa e não o irei dizer, que me não interessa propagandear um grupo que defende ideais bem divergentes dos meus.


By me
Não me apetece remar contra a maré.
Mas também não quero ser levado por ela.
Alguém me arranja um motor fora de bordo?
Uma Kalash e uma dúzia de carregadores cheios também servem!

A coroa de lata



Personagens:
El-Rei Pestana
Conselheiro Campainha
Diabo

Cenário
Sala do trono de El-Rei Pestana, que tem uma bonita coroa na cabeça

I Cena
El-Rei Pestana – Conselheiro Campainha, é preciso descobrir a maneira de arranjar dinheiro para eu dar uma festa.
Conselheiro Campainha – Magestade, eu não tenho ideias. Há dois dias que não como…
El-Rei Pestana – Aperta o cinto! E arranja ideias. Eu ajudo-te! (Pega numa moca e dá com ela no conselheiro) Toma lá uma ideia! (bate-lhe outra vez) Duas ideias! Três ideias! Quatro ideias!
Conselheiro Campainha – (Tirando a moca ao Rei e dando-lhe com ela): Ora pense Vossa Magestade também um bocadinho (dá-lhe com a moca) Uma ideia! Duas ideias! Três ideias!
El-Rei Pestana – Pára! Olha que dás cabo da minha coroa! Pára!
(Sai, perseguido pelo Conselheiro)

II cena
(Entra o Diabo, com um chapéu de plumas e uma capa vermelha)
Diabo – Já sei o que hei-de fazer. O Rei Pestana quer dinheiro para uma festa? Pois vou dar-lho em troca da coroa. E depois terá que pôr uma de lata e eu hei-de de dizer a toda a gente que é de lata! Ih! Ih! Ih! Que bom vai ser! O rei há-de dicar muito envergonhado, muito envergonhado, muito envergonhado!

III Cena
(Entra o Conselheiro, perseguido pelo Rei, que lhe dá cacetadas)
El-Rei Pestana – Cinquenta ideias! (Cacetada) Cinquenta e uma ideias!... Alto lá! Quem é este?
Conselheiro Campainha – Até parece o diabo.
Diabo – Sou um amigo de Vossa Magestade. Vim trazer-lhe dinheiro para a sua festa.
El-Rei Pestana – Dinheiro? Dinheiro a valer?
Diabo – Dinheiro a valer!
El-Rei Pestana – Do bom? Daquele que não é falso?
Diabo – Daquele que não é falso! Mas com uma condição: Vossa Magestade dá-me, em troca, a sua coroa.
El-Rei Pestana – A coroa?
Diabo – Sim, a coroa!
El-Rei Pestana – Esta coroa?
Diabo – Essa coroa!
El-Rei Pestana – Pronto! Negócio feito. Toma a coroa, dá cá o dinheiro.
(O Diabo entrega um saco ao Conselheiro e o Rei a coroa ao Diabo. Este sai)

IV Cena
El-Rei Pestana – Rico negócio! Campainha, vai já preparar a festa.
Conselheiro Campainha – Então agora Vossa Magestade vai à festa sem coroa?
El-Rei Pestana – Sem coroa? Vai já ao meu quarto e trás a outra coroa que lá está. Não demores!
(O Conselheiro sai e volta com a nova coroa. O Rei põe a coroa na cabeça)

V Cena
(Entra o Diabo furioso. Trás uma moca)
Diabo – Fui enganado! Brrrrrrrrr! Fui enganado! Aquela coroa era de lata!
Conselheiro Campainha – De lata?
El-Rei Pestana – Pois claro que era de lata. Era a coroa da semana. E esta é de oiro, que é a coroa de pôr ao domingo, nos feriados e nos dias de festa.
Diabo – É essa que eu quero!
El-Rei Pestana – Não foi isso o combinado. Tu pediste a outra coroa e eu dei-te o que pediste.
Diabo – Ou me dás essa e ficas com a outra, ou eu… (Dá com a moca no Rei) dou-te com o cacete! Dá-me já essa coroa!
(O Rei e o Conselheiro pegam nas mocas e dão com elas no Diabo)
El-Rei Pestana – Vou já dar-te a coroa! (dá-lhe com a moca) Uma coroa!
Conselheiro Campainha – (dá-lhe com a moca) Duas coroas!
El-Rei Pestana – Três coroas! Quatro coroas!
Conselheiro Campainha – Cinco coroas! Três escudos!
(O Diabo foge raivoso)

VI Cena
El-Rei Pestana – Campainha, podes ir almoçar!
Conselheiro Campainha – Magestade, pode mandar fazer a festa!
Cai o pano

Texto: in "Camarada", 1961, by João Cigarra
Imagem: by me

Não há nada como realmente



EUA devem agir quando os seus "valores são ameaçados
Os Estados Unidos devem agir quando "os seus interesses e os seus valores" são ameaçados, afirmou segunda-feira o presidente Barack Obama para justificar a intervenção norte-americana na Líbia.
No entanto, Obama mostrou-se "consciente" dos "riscos e dos custos" colocados por tal operação.
"Conscientes dos riscos e dos custos de uma ação militar, estamos naturalmente reticentes face ao uso da força para resolver os problemas mundiais. Mas quando os nossos interesses e os nossos valores são ameaçados, temos a responsabilidade de agir", afirmou o presidente Obama.
"Foi o que aconteceu na Líbia", acrescentou Obama, durante uma alocução televisiva na Universidade de Defesa Nacional em Washington, sublinhando que "há gerações que os Estados Unidos desempenham um papel único na segurança mundial e na defesa da liberdade".

In: Diário de Notícias


Com base nestas declarações, convém que todos, repito, todos estejamos muito atentos ao que fazemos, dizemos ou até, quem sabe, pensamos ou escrevemos na web (já nem me refiro ao uso do telemóvel!).
Corremos o risco de pôr em causa ou ameaçar os valores ou interesses dos Estados Unidos.
E, já agora, a que “Liberdade” se refere Obama? Àquela que o povo Palestiniano vive? Àquela que é o quotidiano na Coreia do Norte? À que os Machupe sentem, no sul do Chile? Kurdistão?
Ou a Liberdade só é defensável além fronteiras se sob os pés dos oprimidos jazer petróleo?
Por favor! Se fazem o que fazem, ao menos não venham com argumentos falaciosos.

Comentário: by me
Imagem: algures na web

segunda-feira, 28 de março de 2011

Tugas no seu melhor



A geração está à rasca, todos os cidadãos estão à nora, o país está à brocha!
Por outras palavras, estamos todos fortemente prejudicados, com outra letra de início.
Apesar disso, enviamos e continuamos a enviar militares em missões para o estrangeiro, quer seja no terreno, quer seja assumindo compromissos futuros de apoios a intervenções militares noutros países.
Estamos todos entalados, mas continuamos a ostentar posses que não temos.

O cantor de ópera



Não sabemos o que diria o júri do Ídolos, mas Pedro Passos Coelho tem voz de barítono e canta ópera, frequentou aulas de canto com uma professora profissional e até foi aprovado num casting de Filipe la Féria para o musical My Fair Lady. É uma biografia em processo de cristalização, que faz parte do marketing do líder do PSD, para não parecer apenas mais um cinzentão de fato a pedir votos.
Investigações recentes sobre o cérebro dos músicos podem ajudar a perceber melhor quem é Passos Coelho. Por exemplo: o treino musical tem efeito no cérebro e faz aumentar o número de células de massa cinzenta no córtex. Oliver Sacks, o famoso neurologista norte-americano, escreveu no livro Musicofilia (Relógio d’ Água, 2008) que um anatomista teria alguma dificuldade em identificar o cérebro de um artista visual ou de um escritor ou de um matemático, mas podia reconhecer facilmente o cérebro de um músico.

De que serve então a Passos ter cabeça de cantor de ópera?
Primeiro, tem uma boa noção de performance, como um actor em palco: em 2009, Boris Kebler, um cientista alemão, estudou 10 cantores profissionais de ópera e 21 estudantes de canto, verificando que, enquanto cantavam, activava-se o córtex somatosensorial (que recebe informação do tacto, vibração, temperatura, ou dor mas que também influencia a empatia ou a capacidade de simulação). A equipa de Kebler especulou sobre se o facto de a ópera envolver cantar e actuar ao mesmo tempo obrigava os artistas a desenvolveram mais recursos para monitorizar a expressão do seu corpo durante a actuação.
As pessoas com formação musical também têm melhor memória verbal, apontou outro estudo de neurologistas da Academia Chinesa de Ciências, publicado na revista Neuroscience. Indivíduos que tinham aprendido piano desde os 7 anos conseguiam memorizar mais palavras do que as pessoas sem formação musical. O estudo sugere que há um efeito do treino musical no sistema nervoso e que a prática até ajuda a reorganizar o cérebro: os músicos da experiência usavam áreas do cérebro para processar informação verbal que estariam destinadas à informação visual.
Assim, segundo a experiência de Kebler (publicada na revista Cerebral Córtex, de Oxford) Passos Coelho pode ter desenvolvido um autocontrolo superior à média com o seu treino a cantar ópera, do qual pode tirar partido em público. Para um político é uma arma valiosa. Passos parece que nunca se enerva, coloca a voz para dar credibilidade às palavras e, por isso, tanto adversários como eleitores devem estar atentos e desconfiados porque o córtex somatosensorial direito dele ajuda-o a criar empatias, mas também rege a sua capacidade de simulação. Em suma, é um actor treinado.
Quanto à capacidade de memorização verbal, pode ser a força ou a fraqueza de um político. Não se trata apenas da vantagem de poder falar sem teleponto. Trata-se de se lembrar bem do que já disse, para não ziguezaguear tanto como nas últimas semanas a propósito da dramatização em volta do Orçamento do Estado.

In: Revista Sábado

domingo, 27 de março de 2011

O aviso



Com esta idade já não é fácil de me enganar. Não é impossível, nem pouco mais ou menos, mas já não é fácil.
Quanto mais não seja porque sei aquilo de que gosto e aquilo de que não gosto, o que facilita as coisas. Quanto àquilo que não conheço e que possa ouvir, perdão, provar, dou o benefício da dúvida.
No caso concreto, eu sabia que não gostava. Em definitivo. Mas tanto insistiram comigo, e que “dá uma oportunidade”, e que “podes até estar enganado”, “vais ver que até gostas”, que lá acedi em ouvir, perdão, em provar o coelho à caçador.
Pois eu não estava enganado!
Não apenas não gostei em definitivo como as dúvidas que pudesse ter sobre a veracidade do que estava a ouvir, perdão, a comer se dissiparam quando o brinde me saiu em cheio: o guizo.
O coelho, de facto, era gato. E mal disfarçado ou confeccionado pelos chefs e ajudantes que trataram de o preparar para esta crise, perdão, refeição que nos está a ser servida.
Fica o exemplo em tom de aviso!

Texto e imagem: by me

Ora batatas!



Roubam-nos uma hora de sono;
Um tipo, quando acorda, anda meio desnorteado, em casa, sem saber bem as horas que são e, em olhando para cada um dos relógios, tentando lembrar-se se já acertou aquele ou ainda estará p’la hora antiga;
No café da rua, as conversas versam sobre o mesmo assunto e os protestos contra os sonos reduzidos, generalizam-se;
E, em chegando à estação de caminho-de-ferro e olhando para os avisadores, dou com isto!
E fico com aquela dúvida terrível sobre se a greve às horas extra da CP me fará chegar tarde ao trabalho, apesar de ter (a custo) saído de casa a tempo.
Só passados alguns segundos, depois de ter parado para pensar, constato que o avisador está certo, o maldito do relógio é que não.
E se eles se deixassem todos destas fitas de uma-hora-p’ra-cá uma-hora-p’ra-lá e afinássemos os relógios p’la hora solar? O trabalho que poupávamos…

Texto e imagem: by me

sábado, 26 de março de 2011

Desajustes climatéricos



Março marçagão, de manhã Inverno, de tarde verão!
Este é o adágio popular que tem tanto valor como aquele outro que diz: Chuvas em Novembro, Natal em Dezembro.
Sair de casa de manhã cedo e, por entre as abertas do nevoeiro, as nuvens pesadas ameaçavam a descarga. Ao almoço, o céu clareara e prometia uma tarde bonita. A meio da tarde uma carga de água de afugentar os mais afoitos. Ao fim da tarde, um céu com abertas, de cor bonita. Ao cair da noite fico sem saber se o cinzento que vejo no alto é da ausência de luz solar na atmosfera se de uma cobertura de nuvens.
Já não há ditados populares como antigamente!

Texto e imagem: by me

sexta-feira, 25 de março de 2011

Que raio, diria eu



Miguel Cadilhe não é figura que me seja particularmente grata, vá-se lá saber porquê.
Mas certo é que a sua afirmação, publicada como titilo de notícia num Dário on-line faz todo o sentido:

"Entendam-se. Que diabo! É o País que está em causa"


Imagem: algures na web

É verdade, é!



Esta frase ouvi-a eu, meio distraído, no autocarro a caminho de casa. A minha mente ia mais virada para o que tinha lido de manhã, no comboio em sentido inverso e a tomar balanço para retomar a leitura poucos minutos depois.
Mas o tom com que foi dito fez-me regressar de onde estava e prestar atenção ao que me cercava.
A dona da voz peremptória não tinha mais que uns doze anos, tal como as suas interlocutoras. Não fixei o assunto, que talvez não fosse importante, mas tão só a importância daquela afirmação. E a minha satisfação por a ter ouvido, vindo de quem veio.
Para aquelas mocinhas, com aquelas idades, ler algo num livro é a atribuir ao que leram a carga do sacro-santo e nega-lo pecado capital. E, tão ou mais importante, o referente naquela conversa foi um livro e não uma pagina de web ou um programa de TV. Pelo aspecto e pela idade, as tecnologias de informação não lhes serão estranhas, mas o peso da importância de um livro, aparentemente, sobrepõe-se à sabedoria virtual do ecrã fosfórico.
E isto é tanto mais satisfatório para mim quanto a leitura é um dos meus vícios e prazeres, ainda que, para minha tristeza, não lhe possa dar o tempo e atenção que gostaria. Mas sempre o vou fazendo, em pausas acompanhadas de cafeína e nicotina (cada vez mais difícil esta conjugação) ou embalado pelo trepidar das férreas rodas do quotidiano trajecto de e para a labuta.
No meu saco tenho sempre um ou dois livros, entremeados com o caderno de escrita, o tabaco de reserva, a câmara fotográfica, papeis em tempos úteis e agora não tanto e tantas outras ninharias.
Mas, apesar do peso, quando calha passar por uma livraria sempre entro e dou uma olhada. Rara é a vez que não acabo por aumentar a pilha dos que tenho por ler aqui por casa. Das pilhas, em boa verdade.
Pois um destes dias, em passado por uma das boas livrarias da cidade, não resisti e entrei, dirigindo-me de imediato à secção da fotografia. Tinha este espaço um dos maiores e mais completos catálogos na matéria. E digo “tinha” porque, gradualmente e por força da concorrência feroz das grandes superfícies e das grandes cadeias da especialidade livreira, tem vindo a decair o número de títulos que ali podemos encontrar. Mas, ainda assim, vim de lá com um novo.
Confesso que não gosto de falar de um livro sem o ter acabado. Nem sempre o início tem um tão bom fim, ou as promessas da introdução acabam por se tornar sensaboronas e insípidas. Não é o caso deste.
Escrito por Laurent Gervereau em 1996, o “Ver, compreender, analisar as imagens”, publicado nas Edições 70, Lisboa, acaba por ser um livro bem apaixonante sobre o tema, pese embora a frequentes citações e referencias a outros autores. Em qualquer dos casos, é dos mais fáceis de ler que encontrei sobre o tema sempre complexo que é a semiótica e a análise de imagens.
Sendo que tenho cerca de um terço do livro lido, e porque vem a propósito no contexto de uma discussão sobre fotografia, cito uma pequena passagem, logo na página 20:

Erwin Panofsky […] insiste na especialidade da obra de arte: “Qualquer objecto pode ser visto esteticamente, e a maioria das obras de arte pode, segundo determinado ponto de vista, ser vista como objectos práticos. Mas aquilo que distingue a obra de arte de qualquer outro objecto é o facto de ela ter a “intenção” de ser considerada esteticamente.”

Faz muito tempo que procurava uma definição de arte. Tentei eu mesmo criar uma, na falta de encontrar algo que me satisfizesse e aos meus conceitos. Falhei, claro, que “a arte e o engenho” para tal não chegaram. E eis que encontro algo de muito plausível e simples.
Talvez que contradiga o que alguns autores de renome afirmam muito sabiamente. Mas…

É verdade, é! Li num livro que sim!


Texto e imagem: by me

quinta-feira, 24 de março de 2011

And now, some thing completely different



Acho que vi a Lua a nascer mesmo aqui no meio da rua.
Ou isso ou não me apercebi do que tinha bebido ao jantar!

By me

E já vai acontecendo

Pois é!
Alguém que não representa nenhum cidadão porque não eleito fora do seu próprio partido, dá-se ao luxo de discordar, em nome de Portugal, da opinião de representantes eleitos de outros países.
É este cavalheiro que se propõe governar o País!
Notícia no jornal Público:

“…
O líder do PSD, que falava à entrada para um jantar-debate com militantes sociais-democratas na capital belga, foi igualmente confrontado por jornalistas estrangeiros com as declarações de Merkel a lamentar a reprovação do PEC, aos quais respondeu em, inglês, “bem, não concordo com ela…”.
…”

Recomenda-se que se abram bem os olhos ou que, quem não o puder fazer, que abra bem os ouvidos!

Nada de confusões



Isto não é o resultado da demissão do governo ou mesmo um retrato do País.
É mesmo e só um tijolo quebrado no meio do chão.

By me

O voto em branco



É um tema cada vez mais recorrente entre os cidadãos: o recurso ao voto em branco aquando de eleições.
As razões invocadas por quem tal advoga são legítimas e entendem-se bem: uma forma de protesto contra as instituições existentes e aqueles que as ocupam e gerem.
Para ser sincero, só posso concordar com estes motivos de protesto.
No entanto…

No entanto o voto em branco é uma armadilha escondida, é um tiro no pé, é um acto de autofagia!
O sistema de Democracia em que vivemos define que do acto eleitoral assumirão os cargos aqueles que obtiverem maior quantidade de votos. Quantidade absoluta ou pelo método de Hondt. O que significa que serão considerados todos aqueles votos que contiverem uma e uma só cruzinha. Todos os outros, brancos ou nulos serão considerados para efeitos de estatística mas não para a eleição dos dirigentes.
Acontece assim que os votos em branco, sendo um protesto válido e previsto na lei, em nada influenciam o resultado eleitoral.
Acontece também que nos actos eleitorais os próprios candidatos também votam, assim como as suas famílias, amigos e aqueles que contam ganhar algo com a eleição deste ou daquele.
Assim, mesmo que num universo de 5 milhões de eleitores 4.999.500 votassem em branco, haveria 500 (candidatos e família) que fariam uma cruzinha válida. E esses 500 votos seriam os que decidiriam o resultado da votação e respectivos eleitos.
O mesmo se aplica à abstenção e aos votos nulos.
Esta situação, por muito perversa que seja, é a realidade em que vivemos.
E, lamento muito, mas não deixo que sejam outros a decidir pelo meu próprio destino.
Quer seja pelo acto simples, cómodo e egoísta de apenas participar na vida e destinos do País através do meu voto, quer seja através de intervenções directas junto dos meus pares.
Dizer mal ou manifestar desagrado é o que mais sabe fazer este povo: no trabalho, em torno de umas imperiais ou nas noveis redes sociais! Ou no voto.
Mas, sendo certo que alguém tem que gerir o que é público (bem que gostaria que assim não fosse, mas é irrealista na actualidade) ou bem que se faz uma escolha entre os candidatos - se não o melhor, pelo menos o menos mau – ou se assume a responsabilidade de ir até lá e fazer melhor que os que lá estão.
Que o voto em branco, mais que um protesto, é um alijar de responsabilidades e deixar aos outros o ónus das decisões.

Se você, que está a ler isto, de facto não quer a governar este País os que lá estão ou têm estado, chegue-se à frente e mostre que faz melhor! Ou escolha algum dos que lá não têm estado!
Mas não se esconda atrás de um protesto inconsequente!

Texto e imagem: by me

quarta-feira, 23 de março de 2011

Pobre Geppetto



O que um pai sofre...

By me

Vontades

Não sei sem me apetece ver e ouvir cair um governo desta forma.
Mas sei que me não agrada ver na primeira fila da bancada parlamentar do partido do governo alguém que furtou frente a câmaras de televisão, gravadores de som de jornalistas porque não estava a gostar do tom da entrevista!

Um olhar .- Filipa


By me

Ou bem que pensas, ou...



Esta “crise” resulta de não haver riqueza no país!
Não há riqueza nos bolsos dos cidadãos nem há riqueza nos cofres do estado. Sendo que esta segunda só existe quando houver a primeira, quanto menos a primeira, menos a segunda.
É fácil fazer estas contas.
Podemos então perguntarmo-nos porque é que não há riqueza.
A riqueza advém da existência de bens: de comer, de vestir, de habitar (os mais básicos), e da capacidade de os transaccionar. A isto acrescente-se a possibilidade de fazer chegar esses bens a quem deles precisa, a capacidade e os conhecimentos de bem os produzir, o bom estado de saúde que quem os produz…
Claro que a riqueza advém também da capacidade de se produzirem e comercializarem coisas e serviços que, não sendo as mais básicas, proporcionam bem estar a quem as usa e que, sendo produzidas para além do necessário aos produtor, permite comercializar junto de quem não as tem: automóveis, electrónica de consumo, turismo.
Nestes últimos anos, talvez vinte, talvez trinta, temos vindo a descurar a produção dos bens mais essenciais, os que produzem a riqueza básica: importamos mais que produzimos em comida, em vestuário, em materiais de construção. Vergados ao peso de acordos internacionais, temos vindo a incentivar o fecho de explorações agropecuárias, a abater os navios de pesca, a reduzir a capacidade de produção mineira… E a incentivar igualmente a aprendizagem de ofícios que, numa sociedade rica seriam úteis, mas que numa pobre de pouco servem: profissões de actividades não produtivas de bens (e de riqueza): advogados, historiadores, politólogos…
Por outras palavras: perdemos a capacidade de auto-suficiência e passámos a depender quase que em exclusivo daquilo que outros países produzem e que nos vendem para riqueza… deles.
Esta alteração da sociedade e da capacidade de produzir riqueza tem vindo a acontecer aos poucos desde há uma vintena de anos, mas a passos decididos. Conduzindo-nos ao ponto em que nos encontramos: incapazes de produzir riqueza e dependentes das boas vontades exteriores, governamentais ou privadas.
Será então pertinente perguntarmo-nos quem nos tem levado a esta situação.
Os nomes são muitos, uns mais públicos, outros mais privados, uns mais odiados, outros cujos nomes chegamos mesmo a ignorar.
Mas o certo é que os agrupamentos a que pertencem, pelo menos boa parte deles, são conhecidos. Pelo menos aqueles cujas decisões ou acatamento de decisões acontecem supostamente em nosso nome: são partidos políticos com assento na Assembleia da República, que vão redigindo e aprovando leis que têm vindo a incentivar ou aceitar a permanente redução da capacidade de produção de riqueza no país.
Na sua essência, são três partidos políticos que isoladamente ou coligados o têm feito, passando o tempo cada um deles a atribuir as responsabilidades dos acontecimentos aos outros.
Mais interessante ainda é que esses mesmos partidos políticos, e os membros que os constituem, têm ocupado os diversos cargos porque nós, cidadãos, ao votarmos, é neles que confiamos: nos agrupamentos e nas pessoas.
Por outras palavras, fomos nós que os incumbimos de fazer o que fizeram, quer decidindo, quer acatando as decisões de outros.
Está na altura, provavelmente, de pormos a mão na consciência e de concluirmos que a situação que atravessamos é culpa nossa. E que, quando ou se tivermos que tomar novamente decisões, devemos aprender com o que estamos a viver e as suas causas.
Chamando pelos nomes, o exercício da governação tem sido, nos vinte ou trinta anos, executado pelo PS, PSD e CDS, sozinhos ou coligados. E, com maior ou menor velocidade, foram estes agrupamentos partidários e os seus membros que nos conduziram a este ponto. E fomos nós, os cidadãos, que exercendo a Democracia os escolhemos para tal.
Se em breve tivermos que escolher gente para remendar este buraco em que nos encontramos, não nos esqueçamos de quem o criou e alimentou!
E sejamos capazes de, 2.000 anos passados, demonstrar que já não é verdade o que afirmou um general Romano ao seu imperador:
“Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa nem se deixa governar!”

Texto e imagem: by em

Um olhar - Sofia



Tenho para mim, e que me perdoem os que seriamente discordem da minha opinião, que chamar de “ciência” à psicologia é um disparate.
Uma ciência baseia-se em certezas, postulados, fórmulas testadas e demonstradas, ao mesmo tempo que é uma busca de novas soluções ou respostas.
Mas o relacionamento tem de tudo menos de ciência. É que, à medida que vamos dividindo a Humanidade em grupos e subgrupos de comportamento padrão, acabamos, invariavelmente, por constatar que cada indivíduo tem o seu próprio comportamento, acções e reacções, motivações, que diferem de todos os outros. O mais que se pode dizer é que há comportamentos ou reacções mais ou menos comuns, que, genericamente, este ou aquele grupo ou subgrupo funciona mais ou menos de um modo regular e previsível. Mas a possibilidade de erro nessa afirmação existe e não é desprezível.
Assim, ao lidar com alguém, esqueçam-se as regras ou etiquetas, as fórmulas generalizadas. Mande-se um isco e aja-se em função da reacção, mande-se novo isco para nova adaptação até que, finalmente, se se encontrará a forma correcta de lidar com (ou antecipar) os comportamentos de alguém.
Ciência? Muito pouco! Empirismo ou palpite? Muito, ajudado por uma grande capacidade de adaptação.

Prova prática disto é o meu projecto “Oldfashion”, agora hibernado no tocante ao trabalho de campo.
Não quis pedir a ninguém para ser fotografado. Isso subverteria o objecto de estudo. Donde, para que a fotografia acontecesse, haveria que captar a atenção, no caso pela surpresa. E, em função de como essa surpresa se manifestasse, alimentá-la e à curiosidade até se transformar em vontade de ser fotografado. Tenho um pouco mais de 1200 fotografias em três anos para atestar a validade do que digo.
Outra demonstração prática é a minha colecção “Um olhar”.
Não é rigorosamente nada fácil convencer um estranho ou semi-estranho a deixar-se fotografar assim. A proximidade física que este tipo de fotografia implica, a quase agressão de uma grande objectiva apontada de perto à cara, o facto de serem os olhos o assunto focado (os olhos, o tal espelho da alma, que tantos segredos podem atraiçoar…), tudo isto quase que garante uma recusa por parte de um desconhecido. Então, como o faço?
Bem, começando pelo meu próprio aspecto que, não sendo convencional, faz parte do tal elemento de surpresa; depois, garantir previamente que a pessoa a fotografar está de bom-humor e sem pressas; assegurar também que o ambiente circundante não é de molde a provocar embaraços ou vergonha. Recorrer a frases ou expressões diferentes que, pela sua originalidade ou por serem tão “frases-feitas” ou ditados populares, provoquem um sorriso. E, em este vindo, metade da abordagem está garantida. Resta um pouco de alimentar o ego ao modelo, assumir uma atitude humilde, acrescida de um niquinho de cumplicidade, mais formal, mais marota ou mais filosófica, e a coisa acontece.
Sempre? Nem pouco mais ou menos! Volta e meia lá aparece alguém que, logo de início, recusa terminantemente, ou que me deixa usar de todo o meu “charme” e arsenal de argumentos e, no fim, sorridentemente, me diz que não. Por vezes com uma justificação, outras nem isso.
E eu, não ficando com a fotografia, fico mais rico porque aprendo mais qualquer coisa: senão o como fazer, pelo menos o como não fazer.
Eu disse no início que a psicologia não é uma ciência? Lamento! Enganei-me. É uma ciência e bem complexa! E o que ela tem de mais difícil é que nunca se acaba de praticar e de aprender, todos os dias e em todas as circunstâncias.
E um fotógrafo, além do domínio das técnicas e de algum jeito com as estéticas, tem que saber de psicologia prática para conseguir trabalhar com os seus modelos.
E eu tenho muito que aprender!

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terça-feira, 22 de março de 2011

Sem luz



Ao fim da tarde, o Parlamento Português ficou sem energia eléctrica. As únicas luzes que se viam eram as provenientes dos ecrãs dos computadores e dos telemóveis.
Pelos vistos, no Palácio de São Bento já nem luz ao fundo do túnel há!

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Saída de emergência



Puseram isto na porta da crise.
O problema é que por lá não se sabe ler!

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A escada



Cada vez menos tenho paciência para aturar estes políticos de pacotilha, que mais se preocupam em garantir um lugar na pirâmide do poder que em satisfazer os anseios daqueles que os elegem.
A escada de acesso ao poder é feia e decrépita. Mas a luz que brilha lá em cima age sobre os pouco escrupulosos como na noite a lâmpada sobre o insecto.

A escada



Cada vez menos tenho paciência para aturar estes políticos de pacotilha, que mais se preocupam em garantir um lugar na pirâmide do poder que em satisfazer os anseios daqueles que os elegem.
A escada de acesso ao poder é feia e decrépita. Mas a luz que brilha lá em cima age sobre os pouco escrupulosos como na noite a lâmpada sobre o insecto.

Equinócio



Acabou o dia. O dia da árvore, o dia da poesia, o primeiro dia da primavera.
Havendo dias para tudo, este está cheio de referências que os homens lhe dão. Bem curioso mesmo é que, de todas as que ouvi e li, nenhuma falava numa ocorrência particular: o Equinócio.
Talvez porque não criada pelo Homem e, como tal, de menor importância. E, no entanto, nem sempre foi assim.
Antes da invenção da poesia, pelo menos da poesia escrita, antes de se descobrir que as árvores podiam ser plantadas e podadas e enxertadas, antes de se perceber o que era a primavera e o que a motivava, já o Homem celebrava o Equinócio.
Que é, traduzido por miúdos, um dia em que a noite iguala em tempo o dia. Aliás, há dois durante o ano: o da Primavera e o do Outono.
E o Homem, sem saber o que era a rotação e a translação da Terra, sem saber o que é a escrita do jeito que a concebemos, tendo uma esperança de vida reduzida em comparação com a actual, soube observar o fenómeno dos dias e das noites e da sua duração.
E considerou-o tão importante, bem como os dias de excepção, que sem ferramentas pesadas, sem mecanismos elaborados, sem engenheiros ou matemáticos, soube erguer monumentos compostos de grandes pedras, algumas vindas bem de longe, e perfeitamente alinhados com os fenómenos solares. Que acontecem apenas duas vezes por ano, no caso dos Equinócios e uma vez cada um dos Solstícios.
Que a civilização tenha chegado onde chegou, não me espanta. Quase qualquer aspecto daquilo que fazemos, usamos ou pensamos hoje é fruto natural da evolução e da partilha dos saberes. Agora que os antepassados, sabendo o “pouco” que sabiam, tenham erguido tais templos, isso sim, deixa-me de boca aberta.
A árvore, a poesia e a Primavera foram celebrados, e bem! Mas o Equinócio, um dos quatro feriados mais antigos da humanidade…


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domingo, 20 de março de 2011

Dificuldades



Ao passear na rua encontrou aquele insólito objecto caído no chão. Baixou-se, pegou-o e sacudiu-lhe o pó.
De imediato de lá saiu um estranho ser que lhe disse:
“Meu amo e senhor: Obrigado por me libertares. Tendes direito a um desejo!”
“Mas…. Quem és tu?”
“Sou um aprendiz de génio da lâmpada e tens direito à satisfação de um desejo.”
“Um desejo?! Mas o génio dá sempre três desejos!”
“Pois é, mas eu sou apenas um estagiário, pelo que só posso conceder um. E pede-me uma coisa simples, que ainda estou a aprender isto da magia.”
“Se é só um, tenho que pensar bem!
Podia ser um carro… Um monte de dinheiro… Juventude…
Não! Vou ser magnânimo!
Se é apenas um, será algo para bem da humanidade!
Desejo que termines com a guerra no médio Oriente! Esse é o meu desejo!”
“Eh lá! Olha que isso é muito difícil! Pede antes uma coisa mais fácil, por favor, que ainda estou a aprender…”
“Bem, então sendo assim… Desejo que termines com a crise em Portugal!”
“Ora bem, vejamos! Onde é que era mesmo essa guerra?”

Texto e imagem: by me

?!?!?!?!?!

“Portas promete governar sem mentir aos portugueses”

Este é o título de uma notícia do jornal Público de hoje.
E, a este respeito, apenas me vêem à cabeça duas observações:
1 – Prometer aquilo que tem que ser obrigatório?!
2 – Se cumprir, será o primeiro!

Sapato fumador



A minha caça a sapatos abandonados na rua tem, ocasionalmente, situações caricatas.
Este foi fotografado hoje de manhã na minha rua, a meio caminho entre o meu prédio e o café onde vou buscar a cafeína e o açúcar que me hão-de fazer ficar acordado.
Esse trajecto faz-se invariavelmente (a menos que chova) de câmara no ombro, não vá dar-se o caso, como hoje.
Dei com o dito entre os contentores de lixo e os eco-pontos. Mesmo de cigarro na mão (não o iria desperdiçar) registei. E, antes de completar os 30 metros que me separavam do café, olhei em redor, por via de carros que se aproximassem.
Não vinha nenhum, mas vinham dois casais, cada um de seu extremo da rua, suponho que também em busca de um café matinal.
Segui eu para onde queria mas, já ao balcão e p’la janela, fiquei vendo o que se ia passando na pacatez da manhã dominical.
Pois os casais, à vez que estavam a distâncias diferentes do local do crime, foram espreitar o que me havia feito parar e fotografar. E olharam, e circundaram, e olharam de novo para as caixas e sapato, bem como para o meu lado, como se, de onde eu estava, lhes fosse dar uma pista sobre o que havia feito. Não dei.
É por estas e por outras que a minha fama por aqui não é das mais lisonjeiras e que, volta e meia, sou abordado por algum vizinho, como ontem, que ganha coragem e me pergunta se sou fotógrafo de algum jornal ou coisa assim, andando sempre de câmara no ombro.
Isto da necessidade de se ter tudo bem arrumadinho na cabeça e de se dar rótulos a tudo e todos…

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Imagem e realidade



Por vezes, pensando nisto e naquilo, chegamos a conclusões estranhas!
De acordo com as lei da física em geral e da óptica em particular, uma lente positiva – ou um sistema óptico positivo – formam uma imagem real, invertida e menor que o objecto.
Vem nos compêndios, aprendemos na escola e usamo-lo no quotidiano. Nas lupas, nas objectivas, no cristalino.
O que me leva a constatar que as imagens que temos e fazemos do mundo são, na sua essência original, o inverso do que pensamos e com que lidamos. Para chegarmos ao universo como o entendemos temos que inverter as imagens que produzimos, quer sejam a da câmara ou a do olhar.
Daqui que possa concluir, sem grande esforço, que o mundo que nos cerca e que constatamos com as imagens que construímos, é real, verdadeiro, muito maior do que o vemos e invertido à forma como o vemos.
Pergunto-me assim se, sendo o universo o inverso do que vemos, será que nós, seres humanos, temo motivos para assumirmos a importância que nos atribuímos?
E será que quando nos travamos de razões com alguém, o facto de vermos a vida de pernas para o ar não nos porá a ver o mundo com uma distorção diferente da do nosso interlocutor?
E vale a pena agredirmo-nos e matarmo-nos porque vemos e sentimos a vida do avesso?


Texto e imagem: by me

sábado, 19 de março de 2011

Lua cheia



Depois de jantar

O pai



Na minha câmara, caixa, artefacto, o que lhe queiram chamar, tinha um mostruário.
Não é particularmente grande – três fotografias de cada lado – e faz muito que não o mudo. Tenho andado com vontade e de o fazer, mas a preguiça tem-se imposto e lá vai ficando. Ainda bem!
Uma das fotografias é de uma senhora e de sua filha. Romenas, a mãe não tem ofício certo que não seja andar a pedir, ao que me parece.
Uma ocasião um garoto, igualmente romeno e que as conhece, orgulhoso da sua recente aquisição – uma bicicleta – viu-me e veio cumprimentar-me. Tão orgulhoso estava que insistiu em ser de novo fotografado – tinha-o sido uns meses antes – mas desta feita aconteceu montado no corcel.
Enquanto a imagem se processava, sempre me foi dizendo que aquela senhora tinha estado ausente para a sua terra natal mas que regressaria na semana seguinte.
Umas semanas depois constatei que ela tinha regressado!
Sou abordado por dois homens, com uma terrível dificuldade em se exprimirem em português. Mas ao verem a fotografia da senhora, todas as barreiras linguísticas se derrubaram. Um deles soube dizer-me que a criança era linda, conhecendo-a pelo nome. E que era linda, e que era linda, e tão linda ao ponto de beijar a fotografia ali pendurada.
O seu companheiro lá se fez entender e comunicou-me que era a filha que ali estava fotografada.
Claro que quiseram ser fotografados e se a fotografia não fosse gratuita passaria a sê-lo.
Poder unir, ainda que com corantes jorrados num papel, uma família nómada e de parquíssimas posses, é pagamento que baste. E se a tarde rendeu pouco em quantidade, sobrou em qualidade!


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11.000.000 de euros



Muito se vem falando nestes tempos conturbados que atravessamos sobre a crise e a falta de dinheiro nos cofres do estado.
Pois eu tenho uma solução relativamente simples de aumentar a receita para os cofres do estado, sem aumento de despesa, em que essa receita se basearia no cumprimento das leis vigentes e na contribuição dos cidadãos faltosos: aplicação das coimas aos infractores ao código da estrada.
Pensando apenas na cidade de Lisboa, se se colocassem nas ruas 30 patrulhas de dois agentes com funções específicas de identificar e multar quem estacionasse indevidamente o automóvel ou conduzisse usando um telemóvel, considerando vinte e dois dias de trabalho por mês, oitenta multas por dia e usando os valores intermédios das coimas previstas, seria arrecadada a módica quantia de 11.616.000 Euros em seis meses.
Esta contribuição seria justa, já que desta forma contribuiriam apenas aqueles que entendem que as leis se aplicam a todos excepto a eles mesmos.
E se a lei existe, ou bem que é cumprida em toda a sua extensão, sanções incluídas, ou mais vale apaga-la dos livros, porque inútil.
Além do mais, a segurança de veículos e peões seria notavelmente aumentada, com menos acidentes e consequentes recursos aos serviços de saúde. Menos despesa e maior produtividade.

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Interrupção de serviço



E veio aquela senhora que conheço da rua ter comigo.
Temos vindo a conversar de diversas coisas ao longo dos anos em que nos conhecemos e um dos temas tem sido informática, coisa em que lhe tenho dado uma mãozinha de quando em vez. Até porque ela tem tido azar ou ignorância com algumas coisas que compra ou contratos que faz.
Desta feita foi o contrato de serviço de internet que foi cancelado. E a questão que me foi posta era muito simples:
“Qual a empresa que lhe punha internet em casa mais depressa.”
Bem, o que conheço de mais rápido é mesmo a banda larga móvel, mas com o inconveniente de não ser particularmente rápida nos acessos, quando comparada com outros serviços, e de ser razoavelmente cara quando ultrapassados os plafonts contratados.
“Mas, perguntei eu, qual a urgência?”
“Bem, é que lá em casa tanto eu como o meu marido e as minhas filhas temos aquele quinta na net e não queremos que as galinhas, as ovelhinhas e as couves morram se não tratarmos delas. Temos ido a casa de uma amiga usar a net dela, mas não dá muito jeito.”
Ainda tentei demovê-la de tal propósito e vício, mas cedo percebi que seria trabalho inútil. E alvitrei-lhe a instalação de um cabo comprido para um vizinho que a tal se dispusesse, passado pela janela ou parecido. Ou a partilha de uma rede sem fios, também com um vizinho de prédio simpático.
Não sei se aceitará isso, ou se terá um vizinho simpático. Mas sei que os fornecedores de acesso à interenet têm naquela família um consumidor compulsivo por via de um jogo on-line.
Tamagoshi, por favor volta, que és muito mais barato, viajas no bolso e não dependes de contratos morosos!

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sexta-feira, 18 de março de 2011

Paciência



Paciente
(latim patiens, -entis)
adj. 2 gén. s. 2 gén.
1. Que ou quem sofre sem reclamar. = CONFORMADO, RESIGNADO, SUBMISSO ≠ INCONFORMADO, REVOLTADO
2. Que ou quem tem paciência. ≠ IMPACIENTE
adj. 2 gén.
3. Que espera tranquilamente. = CALMO, SERENO
4. Que não desiste. = PERSEVERANTE, PERSISTENTE ≠ IMPERSISTENTE, VOLÚVEL
s. 2 gén.
5. Pessoa que vai sofrer a pena de morte. = PADECENTE
6. Qualquer pessoa sujeita a tratamentos ou cuidados médicos. = DOENTE
s. m.
7. Filos. O que recebe ou sofre a acção! de um agente.
8. Gram. O complemento directo! do verbo; o sujeito do verbo passivo. (Contrapõe-se a agente.)

in: Priberam.pt

O que se vê desta janela é uma grande ajuda para quem, pacientemente, aguarda a sua vez de o médico chamar pelo paciente seguinte.
Quanto ao resto, nem o primeiro nem o quinto pontos se aplicam. Até ver!

By me

Negócio



Para que serve? É difícil de dizer!
Na opinião de quem o fabrica, a sua utilidade é decorar porta-chaves.
Na minha opinião, é um elemento de integração social, de introdução à indústria e ao comércio. E servirá também ao desenvolvimento da argumentação e da desinibição perante estranhos.
Eu explico:

Foi-me proposta a sua compra por uma mocinha de uns 11/12 anos, filha de uma das empregadas do café que frequento para o café e linhas matinais.
Trata-me ela por “pai natal” (vá-se lá saber porquê!!!!) e até que é simpática e sociável.
Fez ela estes artefactos de um fio de nylon flexível e vai-os vendendo junto dos clientes do café e, suponho, pelas colegas e professores da escola que frequenta.
Em boa verdade, o artigo é de uma inutilidade quase atroz, já que um porta-chaves é um daqueles utensílios que, sujeitos a algum tipo de moda, têm que ser personalizados e práticos.
Mas, em meio de um texto que escrevia, particularmente difícil de desenvolver, não resisti e aceitei o negócio. Serve ele para a garota ter uma noção do valor do seu trabalho, do que é negociar, fabricar, comprar e vender e, com isso, integrar-se na sociedade.
Mas, que digo eu?
Acabei foi por fazer um disparate! Que esta questão do lucro, da mais-valia, do vender por cem aquilo que vale dez é um dos males desta nossa sociedade de consumo. Ao comprar esta inutilidade, apenas estive a reforçar-lhe a convicção de que tudo se vende e compra e que, com uma boa argumentação, até o mais disparatado artigo é negociável. Fui cúmplice na formatação de mais uma consumista!
Mas o seu sorriso de satisfação por ter tido mais um cliente que se interessou por aquilo que “inventou” talvez tenha sido mais útil que uma conversa esclarecedora sobre as perversidades do dinheiro e do negócio e de como ele está na raiz de tantos males!
Comprei, por cinquenta cêntimos, um sorriso. Foi um bom negócio!


Texto e imagem: by me

Assustador



Passo meia hora de volta de um programa onde um grupo de “especialistas” se debruçam sobre a situação política nacional.
De seguida, passo outra meia hora de volta de um programa onde alguém se debruça sobre as próximas eleições de um clube de futebol.
Se não tivessem mudado os intervenientes, eu não me teria apercebido que o tema de conversa tinha mudado!
Realmente assutador!

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quinta-feira, 17 de março de 2011

Um olhar - Ana



By me

Danos co-laterais



E depois da tempestade… fazem-se balanços!
O terrível sismo que sacudiu o Japão e cujas consequências ainda estão por determinar em pleno, com algumas das suas centrais nucleares a estarem em sérios ricos de ruptura, afectou todo o mundo.
E, naquilo que pode aparentar ser um egoísmo terrível, também nós, os fotógrafos, fomos afectados, mesmo que neste cantinho do outro lado do mundo.
Veja-se este artigo com data de 16 de Março, retirado da página da Adorama, uma loja on-line especializada em equipamento fotográfico:


UPDATED: Japan Photo Industry Affected by Earthquake and Tsunami

As of this writing, it looks like there were no serious injuries or fatalities among employees of Japanese camera and consumer electronics companies. We will continue to monitor the situation and update this report as needed.

With scores of factories and corporate headquarters around the country, the Japanese photo industry has been severely disrupted by Friday's earthquake, tsunami, and nuclear crisis.
While most companies report that they are still assessing the damage caused by the most powerful quake in Japanese history, it seems that there have been no deaths, and injuries to camera company employees. Structural damage to company facilities vary. Most companies are subject to rolling blackouts that are being imposed by the Japanese power authorities due to the evolving crisis at the nuclear power plants.
The following is an updated run-down of how the quake has effected manufacturers of photographic and other related products.
Epson announced that the Color Imaging Exhibition trade show, which was planned for March 19-21 in Tokyo, has been cancelled due to the crisis. Epson reports that while no casualties were reported at its facilities, one of its factories was hit by a one-meter tsunami, while three other facilities have been temporarily shut due to rolling blackouts as a result of the quake. Two buildings that are within 16km from the Fukushima nuclear plant have sustained some damage and are being shut for now.
Sony was hardest hit. Japan's biggest exporter of consumer electronics, and a growing player in the still photography world, was forced to stop operations at ten factories and two research centers due to quake-related damage and power outages caused by emergencies at nuclear power plants. 1,000 Sony employees reportedly took shelter on the second floor of a nearby chemical products factory.
Nikon has confirmed light injuries to some of its employees but no serious or fatal injuries. Nikon's Sendai factory, which manufactures the D3S, D3X, D700 and F6, has been forced to close due to damage to equipment and buildings. Work at at least three other facilities has been temporarily suspended so the company can assess damage.
Canon has suspended operations at eight factories located in Northern Japan, and reports at least 15 employees were injured. The company said it may move some production to other factories that weren't damaged.
Olympus's photographic division was not affected by the quake, but some emplyees at other locations sustained minor injuries, possibly in the company's endoscopy-related business. Japanese-language press releases indicate that a repair facility is expected to resume operations in 2-4 weeks.
A Sigma employee tweeted that there has been some damage to machinery and the building at Sigma's Aizu factory, but no injuries. Due to the rolling blackouts, Sigma has decided to suspend operations in two of its facilities.
Ricoh reports no injuries. Five of its facilities have stopped operations and four have no set plan to reopen.
Fujifilm reports that its Taiwa-Cho factory, which is located 20 miles from Sendai, was damaged by the quake, but fortunately none of the workers were reported injured. Production of the FinePix X100, which was being done at that factory, has been temporarily stopped and delays can be expected for this highly-anticipated camera. The company says the rest of its operation is not affected.
Hoya Corporation, which owns Pentax, reports that several employees were slightly injured but none seriously. Some production facilities were damaged, although the company is still trying to assess. It isn't known how the camera and lens facilities have been effeccted but due to traffic problems and blackouts, production has been disrupted.
Casio reports no major injuries, and the company is currently trying to ascertain the condition of its facilities. In the meantime, business activities are expected to be disrupted due to rolling blackouts.
In a statement, Tamron reports no structural damage or injuries, but the rolling blackouts and severely curtailed train service have caused the company to close its facilities for at least the next few days.
Panasonic reports minor injuries in one of its northern Japan factories, in Fukushima, where production of Lumix digital cameras has been suspended. The company is evaluating damage and says the long-term effect is still being determined.
Sandisk, whose facilities are 500 miles from the epicenter, appears to have escaped unharmed. The factories were shut immediately after the quake, but resumed opearations by Friday morning.
However, due to possible meltdowns at several of Japan's nuclear reactors, the Japanese government has instituted rolling blackouts, which are disrupting companies even if they were not otherwise affected by the quake or tzunami.
The tsunami has also destroyed many freighter ships, some of which may have been preparing to ship photographic equipment to destinations around the world. This situation is currently being assessed by the companies, but it is likely there will be shortages of some gear as a result.
Epson, Canon, Panasonic, Sony, Ricoh and Nikon have all reported that they have donated hundreds of millions of Yen to the relief effort and are contributing in other tactical ways to help survivors.
This report was based on information published by TIPA, Amateur Photographer, Reuters, and statements from several manufacturers.

O preto e o azul



Na noite de 31 de Dezembro de 1999 eu estava de serviço.
O trabalho acabou cerca das 22.30 e, não tendo nada de particular previsto para essa noite, fui para casa. Autocarro e comboio, ao que se seguiriam 1800 metros a pé.
Não sei se por uma questão de tradição ferroviária se por cautela com o então chamado “bug do ano 2000”, a verdade é que o comboio suburbano em que seguia parou numa das estações do seu percurso em faltando uns dois minutos para a meia-noite se só retomou a marcha em passados uns bons cinco minutos da hora certa.
Na carruagem onde seguia estava uma meia dúzia de gatos-pingados. Bem, talvez uma dúzia! Brancos, pretos, suponho que amarelos mas não me recordo, e nenhum azul, que me teria ficado na memória.
Vestidos como sempre, tal como eu, ou com fatiotas de festa, certamente a caminho de uma qualquer celebração para regar bem regado o ano novo e o falso novo século.
Ao bater da meia-noite – melhor, ao estalar, que nem sinos nem carrilhões ouvi, mas foguetes foram muitos – o maquinista saudou o momento com repicados toques da sua buzina, em coro com a demais chinfrineira que se fazia ouvir. E, na carruagem onde eu seguia, a festa começou. Pelo menos em metade dela.
Os brancos ficaram impávidos e serenos, como se nada acontecesse, talvez apenas um esticar de pescoço para ver, ao longe, o fogo de artifício. Se algum sorriso animou as suas expressões, ou foi de fugida ou eu estava de costas para o seu dono.
Agora os pretos… E saltaram, e bateram palmas, e gargalharam, e abraçaram-se, e cumprimentaram conhecidos e desconhecidos, pretos, brancos, algum amarelo que por lá estivesse e só não se riram para algum azul porque primava pela ausência.
Confesso que na minha cara se estampou um sorriso divertido. Não apenas pelos contrastes a que assistia como por duas moças, de vinte e picos, terem-se abraçado, beijado, borrado a maquiagem que traziam e uma delas ter gritado entusiasmada:
“Conseguimos! Conseguimos cá chegar!”
Não sei se se referia à estação se ao minuto, mas estou em crer que o motivo da alegria seria o novo século, fosse ou não aquela a sua fronteira.
Para os que franzem o nariz às cores diferentes da sua, aqui fica um reparo:
“As cores escuras ficam muito mais facilmente coradas de alegria que os cara-pálidas, que viram verdes de sensaboria!”
Quanto aos azuis não sei, que ainda não vi nenhum!

Texto e imagem: by me

quarta-feira, 16 de março de 2011

Este é meu



Gosto deste candeeiro. Está no meu bairro, junto à estação de caminho-de-ferro, tal como outros iguais, duplos ou singelos.
O que me leva a gostar deste candeeiro em particular? Vários motivos, cada um de seu género bem distinto.
Para já, e porque sou fotógrafo, ele emite luz, quando o sol está escondido. E a luz é a minha matéria matéria-prima. Um candeeiro de rua, não fazendo a vezes de sol, faz com a sua luz uma outra ambiência, tantas vezes estranha. E boa de fotografar.
Depois porque quem o desenhou soube usar de linhas curvas, rectas e quebradas de forma harmoniosa. Ainda que a perspectiva aqui mostrada não o evidencie, o modo como se “abre” a partir do poste central para os três suportes das lâmpadas tem uma suavidade e naturalidade que quase não parece feito pela mão humana. A sua simetria dá-lhe o toque que a natureza, em regra, não produz.
Por fim, mas não menos importante, porque me parece robusto. Ainda que a sua estrutura seja tubular, os três braços no topo confere-lhe uma boa dose de equilíbrio. Senão real, pelo menos aparente.
E é essa robustez e equilíbrio que eu quero aproveitar. Quando chegar o dia, este candeeiro é meu! Para nele pendurar pelo pescoço uns quantos que eu cá sei.
Neste só cabem três. Mas se os outros não forem ocupados por mais ninguém, o que me não falta são candidatos ao penduranço.
Olhar para este candeeiro faz-me pensar nesse dia. Até porque o nó já o sei fazer!

Texto e imagem: by me

Agora entendo



Leio, no jornal Público que, sobre uma indemnização pedida pela câmara de Santo Tirso pela criação do concelho da Trofa:

"A responsabilidade pelos danos decorrentes do exercício da função legislativa pela AR pertence, em exclusivo, ao Estado por força do princípio da irresponsabilidade dos deputados consagrado no artigo 157.º, n.º 1 da Constituição da República e no artigo 10.º do Estatuto dos Deputados"


Consultada a respectiva Constituição da República Portuguesa, leio no referido artigo:

“1. Os Deputados não respondem civil, criminal ou disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitirem no exercício das suas funções.”

Entendo agora muito do que vai acontecendo neste país, quando a irresponsabilidade começa por cima!

By me

Óh p'ra mim!



Me by me

terça-feira, 15 de março de 2011

À nora



Depois da “geração à rasca”, temos agora os “camionistas à brocha”!
Mas se os primeiros encheram avenidas pelas cidades do país, estes enchem os estacionamentos de pesados p’lo país.
E se a geração à rasca fez festa nas ruas, com música, faixas, cartazes e a energia própria da maioria dos presentes – jovens -, os camionistas à brocha lançam frases de protesto nem por isso simpáticas de ouvir (mesmo que não seja directamente connosco), fazem ameaças veladas por palavras e gestos, confrontam-se com as “forças da ordem”, que não sabem se estão à rasca se à brocha mas que cumprem ordens.
E se a geração à rasca fechou avenidas, fez o que tinha que fazer e o país seguiu o seu curso, melhor ou pior, os camionistas à brocha estão a fechar o país, com o bloqueio ao trânsito de mercadorias e passageiros.
Grave mesmo é que aqueles que não da geração à rasca nem camionistas à brocha encheram-se de medo e estão a piorar as coisas: vão correndo (ou andando se a idade não permite mais) para as lojas e bombas de gasolina e açambarcam. Enchem os depósitos e carrinhos de compras e quem quer que queira fazer a sua vida, mais ou menos normalmente, vai dando com stocks esgotados.
No Domingo, após as notícias confirmadas que a paralisação dos transportes de mercadorias iria acontecer, vários foram os que encontrei que me perguntaram se não me iria abastecer de comida, não fosse dar-se o caso… Hoje, e apesar de ser terça-feira e meio do mês, bem vi na rua vizinhos com anormais quantidades de sacos de compras… E as notícias vão dando conta do mesmo, com mais ou menos exageros, com mais ou menos sonegação de detalhes.
O que me está a deixar mesmo fora de mim, e para além destes medos e exageros (quem viveu os anos de 74 a 78 sabe como isto são contos para meninos de mama) é que já não vou encontrando tabaco. Pelo menos do que gosto e uso.
Se esta situação que estamos a viver, que de complicada não tem nem a sombra – ainda – servir para alguma coisa, que seja para que deixem de fumar!
Mas que estamos à rasca, à brocha, à nora e muitos outros “à…”, isso estamos. Mas não façam por piorar as coisas, por favor!

Texto e imagem: by me

Liberdade à Rasca


Eu sabia que haveria quem o documentasse bem melhor que eu.
Este é um exemplo!

Conversas de café



A conversa surgiu naturalmente. Sabem como é, como as cerejas…!
De um lado para o outro do balcão, às saudações matinais seguiram-se os queixumes regulares nas conversações portuguesas: o tempo, o trabalho, o dinheiro… Deu direito até a frases feitas como: “Odeio o dinheiro! Não descanso enquanto não me vejo livre dele!” ou ainda “ Se a merda valesse dinheiro, os pobres nasciam sem cu!”
Mas depois a conversa descambou. Descambou para o sério, com algumas noções sobre a origem do dinheiro, sobre a importância que ele tem na afirmação social e individual, da relativização do seu valor.
E sobre as classes sociais e as teorias socialistas e comunistas, com Marx, Lenine e Mao pelo caminho. Da beleza das ideias e ideais e de como, para as aplicar, se fizeram atrocidades entremeadas com coisas muito belas.
A conversa durou um café acompanhado com uma bola com creme, seguida de outro café igualmente cheio.
Não foi, portanto, uma conversa nem longa nem profunda, aflorando uns pontos aqui, arranhado outros ali.
Quando acabou, melhor, quando a interrompi para pegar na câmara e no chapéu e vir cá para fora tratar de fumar um cigarrito, olhei em redor e fiquei assustado.
Tinha uma plateia de mais de uma dúzia de gente em silêncio, nas mesas ou, como eu, ao balcão e de pé, ouvindo o meu discurso, que até nem era acalorado.
Passei os olhos por aquela gente, que de súbito, ficou muito ocupada em mexer a bica fria ou em sorver as últimas gotas da meia de leite. E fiquei com uma certeza:
De ora avante ficarei com um rótulo na testa que se sobreporá a todo o resto. O tipo do chapéu e das barbas é um perigoso comunista, um subversivo radical, quem sabe até se um membro da Al Qaeda.
Ao tomar consciência disto, sorri. Sorri tristemente por serem aplicados rótulos estereotipados, não havendo distinções entre estes e os sonhos, ideais ou utopias. Que, com boa vontade e trabalho, vou (vamos) construindo, não pelos caminhos dos outros mas antes pelo que nós mesmos vamos traçando.
Resta-me uma consolação: esta conversa teve lugar agora, já na segunda década do séc. XXI.
Se tivesse acontecido há trinta e muitos anos atrás, daria direito a prisão e complicações. Para todos os envolvidos, comigo à cabeça.
Ou, pelo andar da carruagem, se tiver lugar daqui a mais trinta anos (talvez nem tanto) e se não tivermos cuidado até lá, dará azo igualmente a prisão, recondicionamento intelectual ou pior ainda.
Aproveitemos enquanto somos livres de o fazer!

A propósito: a pessoa com quem conversei ficou curiosa e quis saber mais.


Texto e imagem: by me

segunda-feira, 14 de março de 2011

Obscenidades



Leio este anúncio e penso que esta seria uma bela ocasião de eu extravasar a minha violência latente e destruir este cartaz publicitário.
Porque me parece como extremamente obsceno exibir isto quando há gente que tem por refeição principal meia dose, quando não apenas uma sandocha.
O despudor com que alguns produtos são publicitados ultrapassa a imaginação do cidadão comum.
Mas também é verdade que o ponto a que a estupidez humana pode chegar sempre me surpreenderá!

Texto e imagem: by me

Protesto/festa



E pronto: é uma mania minha!
Quando vejo alguém com uma câmara fotográfica na mão, arremelgam-se-me os olhos, não se vá dar o caso de ser mais uma Pentax.
Porquê? Bem, eu sou um feliz utilizador de câmaras Pentax e, a menos que algo corra muito mal, não tenciono mudar de marca. Mas também é verdade que esta marca não prima pelo seu marketing a nível mundial e menos ainda em Portugal. Pelo que são poucas as que por cá se encontram.
E eu, em vendo uma e em o podendo fazer, registo a feliz coincidência.
Neste Sábado, as câmaras fotográficas abundavam na rua e na avenida. E o meu olhar não parava, de uma para outra, numa busca quase inútil.
E digo quase porque ainda consegui encontrar uma. Meti conversa com a sua portadora e fiz o estranho pedido para a fotografar. Consegui-o, mas fez ela questão de a afastar do corpo, não fora eu dar-me ao trabalho de fotografar a sua dona. Que também me soube dizer que a tinha por falta de orçamento, que o seu sonho era uma Leica. Mal ela sabe como estria enganada na opção, mas seria problema dela.
Mais tarde, uma outra situação também invulgar nos tempos que correm: um cavalheiro já meio idoso ia fotografando com uma Minolta. Não consegui perceber-lhe o modelo, mas não pude deixar de constar que, na frente da zoom, vinha montado um filtro amarelo. Aos mais recentes nestas coisas da fotografia, principalmente a quem entrou já aquando da era do digital, pouco dirá, mas é um sinal, inequívoco de haver película monocromática no seu interior. Pequenos detalhes…
Mas a pérola foi mais tarde ainda: uma senhora que usava uma Lomo. Das mais pequenas e das primeiras. Com alegria fui ter com ela e perguntei-lhe há quanto tempo a tinha. Disse-me que não era dela, mas de uma amiga e nem sequer me soube dizer se ela, a câmara, era mesmo das primeiras ou se já depois da queda do muro de Berlin. Mas quando lhe fechei parcialmente a protecção frontal, lá estava: “Made in U.S.R.R, em vez da referencia mais tarde usada de “made in russia”.
Igualzinha à minha, com perto de 20 anos.
Para além do protesto de 12 de Março ter sido também uma união de vontades e desagrados, foi uma festa fotográfica.

Texto e imagem: by me

Naturalmente



Eu tinha a obrigação de saber. Já tinha passado por uma parecida mas varreu-se-me.
Quis eu colocar uma prateleira. A encaixar certinha entre duas paredes, num recanto da dispensa.
As medidas foram feitas. Largura e profundidade. Calculado o peso a suportar, a espessura da madeira bem como as polés de fixação de suporte e as respectivas fixações.
Fui à loja, comprei o que faltava, e regressei para “dar uma de construtor civil”.
Mas não pude!
Não pude porque o rigor não faz parte do vocabulário e da prática dos construtores civis.
A prateleira não cabia no espaço! Furioso, refiz as medidas e estavam certas. O que não estavam certos eram os cantos das paredes. O que deveria ter 90º tinham a mais ou a menos. Suponho que, por aproximação, a média dos dois cantos daria 90º, mas não fui medir.
Tratei foi de, só mesmo para tirar as dúvidas, verificar se haveria alguma esquina em casa com 90º. Ou 270º, se quisermos.
Munido de um esquadro de carpinteiro, aferido por dois de desenho e por um transferidor, parti a inspeccionar os cantos à casa.
Da casa passei ao prédio. Parecia um tontinho, munido de um esquadro de meio metro na mão, a medir esquinas e cantos.
E nem um! Nem um só que fosse a excepção que confirmasse a regra. Não encontrei um só ângulo recto em alvenaria. Encontrei-os, isso sim, em trabalhos de carpintaria e de serralharia. Agora de pedreiro…
Vivemos numa sociedade quantificadora.
Sabemos quanto tempo leva um fotão a viajar do sol até à terra; Sabemos quanto vale o deficit e qual o peso médio do cérebro humano.
Aplicamos limites mínimos e máximos em tudo quanto é coisa: velocidade, avaliações académicas, salários.
Justificamos, com padrões industriais ou aleatórios, os limites da arte, impondo-lhes molduras (em talha dourada, alumínio anodizado ou pixels coloridos).
Transpomos para números tudo o que fazemos: produtividade, xadrez, regra de ouro.
Calculamos, com uma margem de erro mínima, a trajectória de um cometa e se acertará no nariz de uma ovelha tresmalhada nas estepes transiberianas.
Mas não sabemos aplicar um ângulo recto num edifício!
Num simples edifício!
Um entre muitos milhares!
A moldura é aquilo que molda, a teoria dos limites tende para infinito e o ângulo recto ferve a 90º, naturalmente!

Texto e imagem: by me