terça-feira, 29 de março de 2011
A coroa de lata
Personagens:
El-Rei Pestana
Conselheiro Campainha
Diabo
Cenário
Sala do trono de El-Rei Pestana, que tem uma bonita coroa na cabeça
I Cena
El-Rei Pestana – Conselheiro Campainha, é preciso descobrir a maneira de arranjar dinheiro para eu dar uma festa.
Conselheiro Campainha – Magestade, eu não tenho ideias. Há dois dias que não como…
El-Rei Pestana – Aperta o cinto! E arranja ideias. Eu ajudo-te! (Pega numa moca e dá com ela no conselheiro) Toma lá uma ideia! (bate-lhe outra vez) Duas ideias! Três ideias! Quatro ideias!
Conselheiro Campainha – (Tirando a moca ao Rei e dando-lhe com ela): Ora pense Vossa Magestade também um bocadinho (dá-lhe com a moca) Uma ideia! Duas ideias! Três ideias!
El-Rei Pestana – Pára! Olha que dás cabo da minha coroa! Pára!
(Sai, perseguido pelo Conselheiro)
II cena
(Entra o Diabo, com um chapéu de plumas e uma capa vermelha)
Diabo – Já sei o que hei-de fazer. O Rei Pestana quer dinheiro para uma festa? Pois vou dar-lho em troca da coroa. E depois terá que pôr uma de lata e eu hei-de de dizer a toda a gente que é de lata! Ih! Ih! Ih! Que bom vai ser! O rei há-de dicar muito envergonhado, muito envergonhado, muito envergonhado!
III Cena
(Entra o Conselheiro, perseguido pelo Rei, que lhe dá cacetadas)
El-Rei Pestana – Cinquenta ideias! (Cacetada) Cinquenta e uma ideias!... Alto lá! Quem é este?
Conselheiro Campainha – Até parece o diabo.
Diabo – Sou um amigo de Vossa Magestade. Vim trazer-lhe dinheiro para a sua festa.
El-Rei Pestana – Dinheiro? Dinheiro a valer?
Diabo – Dinheiro a valer!
El-Rei Pestana – Do bom? Daquele que não é falso?
Diabo – Daquele que não é falso! Mas com uma condição: Vossa Magestade dá-me, em troca, a sua coroa.
El-Rei Pestana – A coroa?
Diabo – Sim, a coroa!
El-Rei Pestana – Esta coroa?
Diabo – Essa coroa!
El-Rei Pestana – Pronto! Negócio feito. Toma a coroa, dá cá o dinheiro.
(O Diabo entrega um saco ao Conselheiro e o Rei a coroa ao Diabo. Este sai)
IV Cena
El-Rei Pestana – Rico negócio! Campainha, vai já preparar a festa.
Conselheiro Campainha – Então agora Vossa Magestade vai à festa sem coroa?
El-Rei Pestana – Sem coroa? Vai já ao meu quarto e trás a outra coroa que lá está. Não demores!
(O Conselheiro sai e volta com a nova coroa. O Rei põe a coroa na cabeça)
V Cena
(Entra o Diabo furioso. Trás uma moca)
Diabo – Fui enganado! Brrrrrrrrr! Fui enganado! Aquela coroa era de lata!
Conselheiro Campainha – De lata?
El-Rei Pestana – Pois claro que era de lata. Era a coroa da semana. E esta é de oiro, que é a coroa de pôr ao domingo, nos feriados e nos dias de festa.
Diabo – É essa que eu quero!
El-Rei Pestana – Não foi isso o combinado. Tu pediste a outra coroa e eu dei-te o que pediste.
Diabo – Ou me dás essa e ficas com a outra, ou eu… (Dá com a moca no Rei) dou-te com o cacete! Dá-me já essa coroa!
(O Rei e o Conselheiro pegam nas mocas e dão com elas no Diabo)
El-Rei Pestana – Vou já dar-te a coroa! (dá-lhe com a moca) Uma coroa!
Conselheiro Campainha – (dá-lhe com a moca) Duas coroas!
El-Rei Pestana – Três coroas! Quatro coroas!
Conselheiro Campainha – Cinco coroas! Três escudos!
(O Diabo foge raivoso)
VI Cena
El-Rei Pestana – Campainha, podes ir almoçar!
Conselheiro Campainha – Magestade, pode mandar fazer a festa!
Cai o pano
Texto: in "Camarada", 1961, by João Cigarra
Imagem: by me
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