quinta-feira, 30 de novembro de 2017

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Feriados



Sobre os feriados, e o trabalhar-se ou não nesses dias, uma coisa houve que nunca ouvi:
“Amanhã é feriado e vou festejar.”
Tal como não oiço:
“Hoje vou festejar, seja ou não feriado!”
Aquilo que é normal dizer-se sobre um feriado é relativo a trabalhar-se ou não, sobre se se paga ou se se recebe mais ou menos, se se aproveita esse dia para fazer algo menos normal (ir para fora, trabalhos domésticos, desporto).
Agora sobre o facto de o feriado ser um dia para ser festejado, relembrando uma data ou facto relevante (político ou religioso), isso nunca se comenta.
E eu, que sou um cidadão não filiado em nenhum partido político e que sou agnóstico (com tendências animistas) pergunto-me porque terei que cumprir os feriados dos outros e não poder celebrar em festa as datas que entendo por realmente importantes, quer da história, da filosofia, da teologia ou da natureza.

Quero os solstícios e os equinócios por feriado, que são datas comuns a todo o planeta e que nos mostram o quão pequenos somos perante a natureza. E, nesses dias, quero poder celebrar usufruindo da luz solar do nascer ao pôr-do-sol, em particular esses momentos.
Sobre a história, quero poder celebrar a invenção do fogo, da roda e da escrita. Três momentos fulcrais na civilização, completamente à margem de conflitos e mortandades.

Quanto ao resto, mais século, menos milénio, acabam por perder importância, que mais não são que meros momentos na curta vida de um ser humano e respectiva espécie. Ficam os resquícios consumistas e os códigos laborais a imperar.

By me

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Magias



É sempre uma sensação estranha circular na cidade naquele período em que a luz do dia se desvanece mas ainda a luz da rua ainda não acendeu.
Um misto de nostalgia (não sei a quê) com tristeza, somada a algum conforto que se aspira.

Mesmo com um telemóvel e de improviso através do vidro sujo de um autocarro, é um momento de luz mágica, um limbo entre o que foi e o que será.

By me 

Perguntas e respostas



Foi uma das perguntas que mais fiz a aprendizes do ofício de produzir e comunicar com a imagem:
“Que história ou estória me queres contar com isto?”
Dependendo da idade, do estádio de conhecimento e do âmbito da formação, por vezes acrescentava:
“Não me respondas agora. Encosta-te sem olhar para ela e escreve a resposta. Depois volta cá com o conjunto.”

Tenho para mim que é importante, muito importante, saber o que se quer contar. Ou, pelo menos, sermos capazes de encontrar uma explicação posterior, mesmo que ao fazermos a imagem não tenhamos pensado nisso.
Uma das respostas à minha pergunta pode ser: “Não quero contar nada, fiz isso porque me apeteceu.” E é legítima a resposta. Mas há que a dar. Conscientemente.
Em seguida conversamos sobre a imagem e sobre o como os demais a podem interpretar. Que elações pode o público tirar daquela imagem, pensando na cultura ancestral, na cultura do momento, nas influências próximas, no contexto é que é acedida…

Depois disto, quero que o autor me diga, com a autoridade de quem criou algo, se quer usar aquela ou qualquer outra.


A sua reposta tem valor de lei.

By me

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Excêntrico



Isto é um excêntrico! Uma peça mecânica em que o seu limite exterior, ainda que seja uma linha curva, não se encontra equidistante do seu centro ou eixo.
Aplicado que lhe seja um movimento de rotação, a irregularidade do seu limite exterior entrará em conflito com o que o circunde, provocando uma acção nos elementos que o rodeiam.
É usado para provocar acontecimentos cíclicos, controlados, em mecânica.
No caso específico da imagem, faz parte do mecanismo de um projector de cinema de 8mm e super 8mm que tenho temporariamente em casa.
Recorri ao empréstimo deste vetusto aparelho para passar para suporte digital velhas películas cinematográficas a pedido de uma colega. De caminho, e a título de pagamento do empréstimo, procedi a idêntico tratamento aos filmes do dono do projector, passando-os para DVD.
Este trabalho levou-me a conhecer bem duas coisas:
- O mecanismo em causa, já que o tive que reparar por diversas vezes face à sua idade avançada;
- Os filmes passados para a tela, recuperados pela câmara de vídeo e reencaminhados para o disco rígido.
Foram várias horas de um tempo que não se repete, em que figuras que não conheço passaram da fase de bebé de colo à de adolescência vistos pelo olhar técnico de seu pai e pela complacência de sua mãe.
Os trajes e os lugares, os penteados e os automóveis, a participação dos adultos nas brincadeiras e as próprias brincadeiras variam enormemente em 30 ou mais anos.
No entanto, ainda me pergunto se terei feito bem em fazer este trabalho.
O prazer da manipulação deste equipamento antigo, o ruído do projector, o ritual das luzes apagadas e dos olhares fixos na tela reflectora perder-se-á. As bobines de metros e metros de milhares de fotogramas serão arrumadas numa qualquer caixa, ganhando bolor e esquecimento.
O ver destas novas imagens na tela emissora que não reflectora ganhará a banalidade de abrir uma gaveta, e fazer click. Tão fácil quanto o ver mais um qualquer filme alugado no clube de vídeo.
A carga mágica do suporte desaparecerá, vulgarizado que for o seu uso.
Será que as gerações vindouras darão ao suporte banal dos bites e dos bytes o mesmo valor que aos fotogramas?

PS – Eu não possuo uma peça destas! A minha excentricidade não se manifesta em peças de teflon, engrenagens e rotações.
Antes em matéria viva, textos e fotografias, pensamentos e intervenções na sociedade.

Como aqui e agora!

By me

domingo, 26 de novembro de 2017

Pedagogias



Li por aí algures que há alguém, no Reino Unido, que quer que a “Bela Adormecida” seja retirada dos programas escolares.
Argumenta a senhora que o beijo que o príncipe dá não é consentido, visto ela estar a dormir e que é anti-pedagógico.
Faz sentido!
Já tinham retirado o eterno cigarro ao Luky Luke. Pelos mesmos motivos.
Já agora:
O Tintim tem que ser revisto, face às atitudes racistas contra africanos e orientais.
O Asterix deve ser censurado igualmente, visto que vai a Roma roubar a coroa de louros a César.
O Super Homem pode ser redesenhado, considerando o mau exemplo de vestir as cuecas por cima das calças.
Não esquecer o Zé Carioca, que vive sem trabalhar e de expedientes pouco claros.
De considerar o retirar de circulação quase todos os livros e filmes do “far west”, face a impunidade com que os bons matam os maus.
Por fim, e não menos polémico, a questão da bíblia, onde Ló oferece as filhas virgens à turba enfurecida para proteger hóspedes em sua casa. Ou a chacina dos primogénitos egípcios, inocentes, para proteger o povo eleito.


Em modo de post scripum: Quando se começa a usar o termo correcto sobre o que aconteceu no continente norte americano aquando da sua conquista pelos europeus – genocídio?

By me

sábado, 25 de novembro de 2017

Cântico negro



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "Vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "Vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "Vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio

O medo



Vivemos com o medo, do medo e para o medo.
Temos medo da carência económica, da falta de saúde, da criminalidade, do desconhecido, das catástrofes naturais, do pecado, dos acidentes de viação.
E, porque temos medo, entaipamo-nos, vigiamo-nos, protegemo-nos. E construímos altos muros farpados, refugiando-nos atrás deles e afirmando estarmos livres e seguros. Dentro de muros!
Claro está que há quem tire lucro dos nossos medos. As polícias, os farmacêuticos, as igrejas, os exércitos, os políticos. Vêm ter connosco e dizem-nos: “Temei, oh gente, que o perigo espreita! Mas regozijai-vos, oh crentes, que nós aqui estamos para vos proteger!”
E nós vamos comprando as mezinhas, permitindo as devassas, engrossando as fileiras, pagando os dízimos e votando em quem afirma que fará ou que faria se.
Àqueles que não o fazem, que dizem não ter medo e que não alimentam os negócios do terror, chamamos nós (eles) de inconscientes, de loucos, de ingénuos, de perigosos agitadores. E marginalizamo-los, prendemo-los, drogamo-los, eliminamo-los da temerosa convivência social.
Claro está que, em tendo medo e em havendo como o minimizar, o medo desaparece e, com ele, o negócio de quem vive e lucra com o nosso medo.
Assim, há que manter, alimentar, reforçar o medo individual e colectivo. Mantendo-o naquele ponto exacto em que não desesperamos mas vamos entregando o que nos pedem para não o ter. E pagamos, permitimos, engrossamos, acreditamos, votamos.
Para manter este nível de medo, temor ou terror, esta ponte entre quem o tem e quem o apazigua, existe uma outra actividade que se alimenta das duas partes: a comunicação social. Procuram as razões para ter medo, divulgam-nas, incentivam-nas. Os vendedores de tranquilidade agradecem e retribuem, fornecendo-lhes as notícias que divulgam, e os temedores, que vão alimentando os seus medos e sossegos com as notícias que lêem, vêem ou escutam, vão consumindo os media. O único medo que os media têm é não haver motivos para ter medo!
O medo é tão velho quanto a outra profissão! E, mesmo que não saibamos em concreto o que está atrás da porta do bordel, vamo-nos prostituindo todos os dias, alimentando os fazedores de medo, cedendo na nossa liberdade e convicções em troca de uma aparente segurança.
Aparente porque não a queremos, aparente porque não a permitimos, aparente porque inconveniente.
E, cada vez mais, os oficialmente chamados terroristas têm o trabalho facilitado. Que as indústrias, os exércitos, as igrejas e os políticos fazem, e bem melhor, o trabalho por eles.
Que os reais atentados, à bomba, a tiro ou de colarinho branco, são cada vez mais inúteis. Basta, no seu lugar, que se diga, que se sussurre, que se sugira que podem acontecer. E o terror virtual instala-se, para gáudio e proveito de quem dele se alimenta.


Entretanto, nós continuamos a viver com o medo, do medo e para o medo!

By me

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Almost black friday



By me

fast-food visual



Digam o que disserem, a grande vantagem da literatura sobre as demais formas de contar histórias (pintura, cinema, fotografia, escultura) é a capacidade de deixar à imaginação de quem a frui tudo aquilo que lá não está contado.
De uma forma genérica assim é. Se eu ler que o homem entrou num restaurante, deixo à imaginação a cor da toalha, o tipo de luz, o formato da cadeira… Ficará até ao critério do leitor se o empregado de mesa é ou não careca. A menos, claro está, que qualquer destes detalhes, ou outros, sejam importantes para aquilo que que o autor e, consequentemente, para o leitor.
Já nas demais formas de contar histórias (ou estórias) esses detalhes têm que estar presentes. Quando o cineasta, ou fotógrafo ou pintor, nos quer mostrar o entrar no restaurante, veremos o dito restaurante, com a cor das toalhas, o tipo de luz, o formato das cadeiras. Até se o empregado é careca, se aparecer na imagem.
Isto deixa pouco à imaginação de quem vê, reduzindo as possibilidades de se fantasiar com base nas experiências ou vivências de quem vê. O restaurante é aquele e ponto final.
É, talvez, este facilitismo que a comunicação plástica nos impõe, este menos exigente esforço de interpretação, que leva a que o consumo de literatura vá sendo menor. Para quê esforçar-me a imaginar se posso deixar-me levar pela imaginação do autor?
Indo mais longe: quando a obra exposta não é explícita (fotografia, cinema, pintura) a reacção generalizada é de não gostar. Ou de não sentir empatia. “Então eu estou aqui para não pensar e este obriga-me a fazê-lo?”
Recordo um filme em particular intitulado “Dogville” e realizado por Lars von Trier. O minimalismo cénico, perfeito dentro do enredo e das emoções (fortíssimas) entre personagens, é algo difícil de digerir e que afasta a grande maioria do público. Apesar de ser uma obra magistral.
De igual modo, uma pintura ou fotografia que não nos conte tudo, deixando ao espectador o trabalho de imaginar o resto é algo que não agrada, merecendo pouco ou quase nada de atenção.
Será necessário que o trabalho exposto seja particularmente bem feito, estimulando fortemente as memórias ou emoções, para que mereça mais que uns segundos, poucos, de observação.
No caso específico da fotografia, que é um “recorte” do espaço/tempo que cercou o fotógrafo, ou o trabalho é explícito ou a primeira questão que é colocada é “o que é isto”. Logo seguida de “onde é” ou “quando foi”.
A necessidade do ser humano de tudo catalogar e organizar, aliada à preguiça de usar a imaginação para completar o que ali se não vê, leva a estas questões, ficando o espectador como agente passivo, incapaz de se relacionar emotivamente com o que assiste ou observa.  
E a actual forma de divulgação massiva da fotografia – a internete – incrementa esta forma de “não consumir” a imagem.
O tempo que a esmagadora maioria das pessoas usa para ver uma fotografia on-line é mais que diminuto. Poucos segundos mesmo. Que à distância de um click estão outras e outras e há que ver todas. E se não for explícita, completa, pouco exigente no que toca a imaginação e uso das nossas próprias experiências, rapidamente é esquecida, merecendo menos atenção que nada.
Aqueles que querem vingar no mundo da fotografia on-line vêem-se na obrigação de executar trabalhos bem explícitos, inequívocos, pouco provocadores da imaginação.
A subjectividade nas formas e conteúdos, nas técnicas e abordagens aos temas, o sair da normalidade, são formas de expressão que, em geral, estão a ser preteridas pela velocidade de consumo e a preguiça de digestão.

O fast-food invadiu a fotografia. E a pintura. E o cinema. E a escultura.

By me

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Ferramentas do futuro



Estávamos em 1975.
Era Páscoa e pouco faltava para se comemorar um ano de revolução.
Os ânimos andavam exaltados mas eufóricos, com algumas (muitas) limitações de bens (vi fazer pão no forno do então 5º andar em que morávamos), mas cada passo que se dava era mais um tijolo que se colocava no edifico do futuro que então construíamos.
Os meus 16 anos faziam-me andar no então chamado 6º ano do liceu, numa vivência lectiva em que poucos se entendiam: os programas eram estranhos a muitos dos professores, a novel vivência rapazes/raparigas era um “desassossego” e o permitido e proibido estavam numa “terra de ninguém” não patrulhada mas muito requisitada.
No final do segundo período as carteiras, mesas e cadeiras escasseavam. Há várias teorias que explicam a destruição do mobiliário escolar, mas nenhuma delas fala em vandalismo ou malvadez: apenas descontrolo juvenil.
Seja como for, a verdade é que tínhamos que partilhar as cadeiras com mais que um rabo e, por vezes, nem assim chegava.
As férias pascais foram passadas no longo, sombrio e frio sótão do Liceu Rainha D. Leonor, em Lisboa.
Armados e equipados com martelos, serras, chaves várias, alicates e, principalmente, muita vontade de fazer, endireitámos, cortamos, pregámos, recuperámos boa parte do material que ali estava acumulado sem préstimo. Enquadrados por um dos contínuos do liceu, criámos felizes e aquosas bolhas nas mãos daquele trabalho árduo e novo para todos nós. Sem distinção de idades ou sexo. O trabalho e a vontade tudo nivelou naquelas duas semanas.
O melhor de todo este trabalho foi a não existência de citações ou medalhas. Todo este trabalho e canseira aconteceu no anonimato e, estou em crer que se antecipássemos algum destaque individual, teríamos protestado com o mesmo vigor com que pregávamos pregos nas rijíssimas tábuas das carteiras.
O pior de todo este trabalho foi a não existência de ferramentas eléctricas que nos permitisse ir mais longe na madeira e menos fundo nas palmas das mãos.

Nenhum de nós sabia o que o futuro nos reservava, mas haveria de sair das nossas mãos!

By me

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Normalidades



Caminhava calmamente pelo corredor, saindo da luz do sol e entrando na obscuridade das lâmpadas do centro comercial.
Entre o seu cabelo alvo, já um pouco rarefeito, e o casaco de cabedal um pouco coçado, um bigode farfalhudo e bem aparado compunha-lhe a cara.
A sua mão esquerda apoiava-se numa bengala, que manuseava com destreza, bem a compasso do seu caminhar e parar.
Porque ele parava! A cada meia dúzia de passos olhava para quem lhe estivesse mais próximo e cantava-lhe. Desafinado e já com falta de voz, repetia sempre os mesmos acordes e o mesmo verso antigo de nem sei quantos anos:
Et maintenant, que vais-je faire…
Eu, bem como os demais que ali estavam a almoçar, olhámos uns para os outros, meio espantados como insólito da situação. Mas nem a empregada que ali atendia, nem o segurança a uns metros de distância, lhe prestaram atenção. Deduzi que se trataria de um frequentador habitual do espaço, como tantos outros reformados que usam os centros comerciais como forma de matar o tempo que lhes sobra.
Este… bem, este ainda verbaliza o seu problema, de quem se viu sem ocupação e, talvez, sem com quem partilhar a sua amargura.

É tão difícil – e absurdo – definir normalidade!

By me

terça-feira, 21 de novembro de 2017

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O que eu oiço, esqueço.
O que eu vejo, lembro.
O que eu faço, sei.

As duas primeiras fazem parte do sistema de educação.
A terceira do sistema de aprendizagem.

Enquanto nos referimos à educação e não à aprendizagem, fica tudo na mesma.

Na escola e na vida!
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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Leituras (outras)



Era noutros tempos. Em boa verdade, em tempos de má memória.
Mas, mesmo nesses tempos, muito se aprendia e muito serviu de base ao que somos hoje. Ainda que nem sempre da melhor maneira.
Uma das coisas que se consumiam em minha casa eram jornais. Não muitos, que o dinheiro não abundava. Não muitos, que a maioria das notícias chegavam-nos após o lápis azul da censura. Mas alguns.
E, durante algum tempo, o Diário de Lisboa fazia a sua aparição em casa regularmente aos sábados.
E se outro motivo não houvesse, as crónicas da “Guidinha”, de Luís de Sttau Monteiro eram lidas com sofreguidão.
Aprendi a lê-las com os adultos. Aquela forma de escrita, sem pontuação alguma que não fosse o ponto final no fim da crónica, era algo que atrapalhava qualquer um a ler.
Mas foi também com isso que aprendi a ler nas entrelinhas, que aprendi o que era a interpretação de um texto para teatro, o que eram outras vidas e censuras que não as do meu próprio bairro e escola.
Os meus professores de Português não gostavam, quando lhes apresentava redacções com as ideias tão intercaladas, tão baralhadas, que poderiam ter mais que uma leitura. E tinham! Excepto uma que tive, de quem eu não gostava nem um nico, mas que ficava a olhar p’ra mim meio de lado e com um muito ligeiro sorriso.
Não creio que aquela escrita ou estilo hoje tivesse o sucesso que teve então. Não há que esconder ideias de censores absurdos, os jornais já não são consumidos da forma que eram e a própria leitura está a perder terreno face às tecnologias de informação.
Mas parar para pensar perante um texto, tentar descobrir-lhe o escondido, rirmo-nos daquilo que não podemos contar fora de portas…
Outros tempos!

Surge esta memória a propósito de um pequeno diálogo tido on-line com alguém que teve a sorte de já não ter que recorrer a esta forma saber as notícias.
No meio de tudo isto, a minha tristeza é nem desconfiar do local onde tenho guardado o livro que re-editou algumas dessas crónicas.


Fica a imagem da capa, palmada da net.

By me

domingo, 19 de novembro de 2017

Rumos



Porque é que chegámos ao ponto em que chegámos, tanto na questão económica quanto no que respeita ao respeito que as instituições governamentais têm pelos cidadãos? Fácil!
Porque, ao longo dos tempos, temos passado carta branca a entidades privadas (partidos) para que, supostamente em nosso nome, decidam por nós.
E, ao passarmos essa carta branca, não apenas nos desligamos da gestão do país, como autorizamos que as decisões sejam tomadas e executadas à revelia da vontade do povo. O tal povo que lhes deu carta branca.
Quando os representantes do povo não deverem mais obediência ao seu partido que a quem os elegeu;
Quando dos cidadãos realmente se interessarem pelos actos que os seus representantes vão fazendo, fiscalizando-os e questionando-os directamente e não apenas e ficticiamente de quatro em quatro anos;
Quando os eleitos possam ser responsabilizados pela lei por má gestão da coisa pública…
Nesse dia não estaremos no fundo de um buraco com políticos a olhar para nós mas no rebordo do buraco a olhar para o fundo.


Até lá, até a democracia estar – de facto – nas mãos do povo, teremos que a tomar nas mãos e pensarmos que leis e decisões que não reflectem a vontade soberana do povo são más leis. E que, como tal, para além de terem que ser alteradas, não lhes devemos obediência.

By me

sábado, 18 de novembro de 2017

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Diz o título da notícia que:
“Situação salarial é ‘insustentável’, insiste Conselho Superior de Magistratura”

Sugeria que recebessem o salário mínimo nacional durante seis meses.
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Atitudes



Quando eu era catraio, ia sozinho de autocarro para o liceu. Dois autocarros para cada lado, com mudança a meio.
Muitas vezes não embarquei no segundo para poupar o dinheiro do bilhete. Quando o tempo o permitia, eu não estava atrasado e tinha algo em mente para comprar, gulosamente cobiçado nalguma montra. O segundo e terceiro factores eram recorrentes, que sempre gostei de chegar a horas e o orçamento familiar era bem apertado.
Os autocarros de Lisboa de então eram bem diferentes dos de hoje. Verdes, alguns de dois pisos, alguns de porta atrás, aberta por onde se podia subir ou descer em andamento se a velocidade e a coragem o permitissem.
E tinham lotação limitada. Ao contrário de hoje, em que se entra nos autocarros urbanos desde que se caiba, na época apenas viajavam se houvesse lugar sentado ou um dos quatro lugares de pé, bem identificados numa placa à entrada do veículo. Fazíamos sempre contas de quantos saíam e de quantos estavam à nossa frente na fila para entrar, tentando saber se a sorte nos batera à porta ou se teríamos que aguardar pelo seguinte.
E eram velhos, os autocarros. Pelo menos nas carreiras que eu frequentava. Conservados na medida do possível, alguns pediam reforma urgente, muito urgente. O fumo que emanava dos seus escapes e as queixas dos seus motores não deixavam azo a dúvidas.
Nesse meu trajecto escolar, os veículos eram sempre os mesmos nas mesmas horas e carreiras. Já os conhecíamos. Não sei se lhes dávamos nomes, mas já lhes conhecíamos as manhas e dificuldades.
Havia um pedaço numa rua íngreme de maior dificuldade na subida. E um dos autocarros, quando com a lotação completa, recusava-se a fazer aqueles talvez vinte metros. O motor esganiçava-se, rugia, mas não havia meio de subir. Mas já o conhecíamos, bem como a solução.
Em o ouvindo assim, saíamos (era um dos de porta atrás, aberta) e o bom do autocarro, aliviado da carga, lá conseguia vencer a ladeira. Parava no cimo, regressávamos ao seu interior e seguiamos viagem.
Interessante factor, quase que impossível nos dias de hoje, é que regressávamos todos aos mesmos lugares que ocupávamos. E quem ia de pé, de pé continuava. Sem protestos e, por vezes, com algum humor entre todos, cobrador incluído.


A imagem? Roubada da net, um desses autocarros de porta atrás, fotografado, suponho, aquando da construção do metropolitano de Lisboa, uns bons anos antes da história contada.

By me

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Liberdade



E porque se aproxima a realização de mais uma “Feira do livro de fotografia”, aqui fica um texto de arquivo sobre o evento, escrito há três anos.

Uma ocasião pediram-me para usarem esta fotografia numa revista electrónica.
Claro que me senti lisonjeado e acedi, com a ressalva que ela tinha sido feita em torno do soneto “Liberdade querida e suspirada”, de Bocage, e que deveria ser publicada junto com ele. Acederam.
Qual não foi o meu espanto quando vejo, tempos depois, o referido soneto escrito sobre o lado esquerdo da fotografia. Letras brancas sobre o fundo escuro.
Não gostei. Nem um nico. Que, ao fazê-lo, todo o jogo claro/escuro que eu tinha criado se perdia com a mancha branca das letras. Não gostei!
Disse-o a quem o havia feito, tive que insistir e ser veemente e, vantagem dos processos digitais e on-line, foi alterado: o soneto escrito ao lado da fotografia, ambos impolutos e originais.
Não aceito que um editor de uma publicação subverta assim o trabalho criativo de um fotógrafo, seja o trabalho bom ou mau.
Sendo dado como pronto pelo autor, qualquer alteração sobre ele é criar nova obra, já não passível de respeitar a ideia original. Não aceito!

De igual modo não aceito que fotografias sejam impressas a duas páginas. Numa revista talvez escape, tal como num jornal. Mas não, de forma alguma, num livro.
A união das folhas, e porque a lombada e espessura do livro assim o obriga, impede o ver-se continuadamente todos os elementos (objectos, formas, cores, luzes, movimentos) que constam na imagem, desvirtuando-a e criando outras formas de leitura.
Uma fotografia impressa a duas páginas não é a fotografia original mas antes uma outra, com outro “ritmo”, gestão de interesses, sentidos de leitura, fraccionando-a mesmo.
E se o fotógrafo que a criou quis colocar algo em determinado ponto do espaço, desvalorizando todos os outros, não faz sentido, melhor, é um aviltar o trabalho original o impedir essa leitura ou importância.
Não gosto, não quero, não consumo!

Vem tudo isto a propósito de ter estado na “Feira do Livro da Fotografia”, em Lisboa. E que ainda decorre hoje, Domingo.
Nesta feira, entre outros aspectos, dá-se ênfase aos trabalhos de autor, às publicações que, mesmo com tiragens reduzidas, representam as abordagens de fotógrafos contemporâneos que usam este meio para divulgar os seus trabalhos. A sua forma de ver e sentir o mundo. Só posso aplaudir.
Acontece que alguns destes trabalhos exibem imagens a duas páginas. Impedindo o acesso integral à fotografia original.
Comentei isso com uma das pessoas que estava numa das bancas e a resposta surpreendeu-me. Ou não.
Perante o meu “Porque é que insistem em publicar fotografias a duas páginas?”, ouvi:
“Ah… e tal… é para dar ritmo ao livro… um livro não é apenas as fotografias exibidas, também tem personalidade própria…”
Ora batatas!
Então quando escolhemos um livro estamos a querer ver as fotografias de um determinado fotógrafo ou estamos a querer ver o trabalho de um determinado editor ou paginador?
Não questiono o trabalho destes. Ao fim e ao cabo, o tamanho das páginas, a ordem pela qual as fotografias são exibidas, se na página esquerda se na direita, se ao alto ou ao baixo, se todas com a mesma orientação ou salteadas… tudo isto faz parte do trabalho criativo de quem concebe e pagina um livro.
Agora, por favor:
Não queiram, com o pretexto da criatividade do paginador ou editor, subverter, adulterar, estragar, o trabalho de quem fotografou e que, no fundo, é a razão de ser do livro em si.

Vim da Feira da Livro da Fotografia com cinco livros. Que me deixaram com a carteira mais leve mas com a alma bem mais alegre. Trabalho de autor, compilações, texto, localização geográfica, históricos.
Mas nenhum com fotografias a duas páginas.



A liberdade criativa de um termina quando começa a liberdade criativa do outro!

By me

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

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Um dos momentos altos na minha carreira profissional, que nunca esquecerei, foi ter tido na minha objectiva e em simultâneo José Saramago, Chico Buarque De Holanda e Sebastião Salgado.
Três “monstros” da cultura e artes. Grandes por aquilo que fazem ou fizeram, muito para além do que dizem deles jornalistas e políticos.

Senti-me esmagado perante tamanha grandeza e agradecido por ter enveredado por este ofício.

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Saiba-se que usamos muito menos músculos faciais para fazer um sorriso que para fazer uma cara de zangado ou triste.

Em tempo de crise, poupe-se energia!
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Maquinetas



E a pergunta é:
Será que em Madrid, Lima ou Buenos Aires aceitariam ter num ministério, numa escola pública ou numa estação de televisão nacional, uma maquineta de café automática com dizeres em Português?
Suponho que levaria uma corrida em regra, recambiada para o distribuidor com uma reclamação pouco simpática.

Então porque nos querem impor tal objecto?

By me

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Matinas



By me

A melhor

A citação do ano, lida por aí algures:

Cagar é uma obrigação!

Fazer merda é uma opção!
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Sobre uma fotografia



Publiquei ontem uma fotografia e respectivo texto.
Nela mostrava um automóvel parado mesmo em frente a uma paragem de autocarro numa concorrida avenida e nele descrevia as circunstâncias em que tinha parado e a indiferença de quem o conduzia perante o autocarro que chegou e os passageiros que desembarcaram.
E publiquei isto em diversos espaços da internete, blogs e redes sociais.
Pois houve, de entre os diversos comentários que foram apostos, quem protestasse contra o facto de a matrícula da viatura estar bem nítida e me aconselhasse a omiti-la ou disfarça-la. Recordando-me, nos entretantos, que é ilegal a publicação de matrículas de automóveis.

Se o post original evidenciava o desprezo com que tantos automobilistas tratam os peões e as regras que os protegem, estes comentários apenas vieram reforçar a ideia original.
Que não observaram estas pessoas o que quer que fosse sobre as centenas de milhar de fotografias publicadas diariamente contendo imagens de pessoas, anónimas ou não. Figuras públicas ou meros transeuntes, captados ao abrigo da actual moda fotográfica “street photography”.
Pessoas que estão bem reconhecíveis, tal como o local e o que fazem ou como interagem com outros. Caminhando, beijando ternamente, repousando num jardim, caricatamente caindo ou descaradamente cometendo um delito ou crime.
Anónimos que nem sequer sabem que foram fotografados, quanto mais darem a sua autorização para tal ou para a divulgação. Pessoas que estão cuidando da sua vida e que, de súbito, a vêem escarrapachada “ad aeternum” na internete.
É crime, dizem-me, divulgar a matrícula de uma viatura. Pouco importante será o divulgar o retrato de alguém.

Suponho que o próximo passo, nesta guerra entre peões e automóveis, será o excluir os primeiros do espaço público para que não atrapalhem os segundos.

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terça-feira, 14 de novembro de 2017

Na paragem



Atrás do carro vinha um autocarro.
Mas nem isso, nem a buzinadela que este deu, nem o ele ter ficado a seu lado na avenida a tapar o trânsito fez demover a dondoca que, mal se imobilizou, se agarrou sofregamente ao telemóvel.
Nem mesmo a palmada na chapa que um passageiro deu ao sair do autocarro fez com que ela reagisse.
Ainda levantou os olhos quando fiz a fotografia, mas rapidamente regressou ao ecrã, que talvez tivesse chegado uma resposta ao que estava a enviar.

Quando oiço conhecidos e desconhecidos falarem em “caça à multa” por parte da PSP ou GNR, penso que isso não existe.
Que se acontecesse, casos como estes seriam registados e coimados às dezenas por dia por todo o país.

Resta-me a esperança (a vingança é um mau sentimento, eu sei) que um dia esta mesma senhora tenha sérias dificuldades em caminhar e subir ou descer de um autocarro. E sentir na pele o que é não estar em segurança ou tranquilidade em relação aos automóveis, mesmo nos espaços reservados aos peões.

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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Rotinas e mudanças



 “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
…”


São as novas e as velhas rotinas, o descobrir as zonas de conforto, a chávena conhecida, a luz sempre nova, as pontes de cá para lá, a fotografia, os afectos…

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domingo, 12 de novembro de 2017

Uma mão cheia de nada



Consta que o velho Sócrates, o tal da velha Grécia, gostaria de se passear pelo mercado. Sem comprar coisa alguma.
Questionado, terá afirmado que gostava de admirar a quantidade de coisas de que não necessitava.

Eu por vezes vou aos centros comerciais, mas não me comparo.

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Justiça e fotografia



A propósito da validade ou não da fotografia como prova na justiça, recordo uma história que me foi contada em primeira mão pela protagonista.
A senhora, brasileira, trabalhava no café da minha rua fazia tempo e vivia em união de facto com um homem português.
A dada altura decidiram formalizar a sua relação, casando-se. Para além dos afectos e projectos de futuro, estava em causa também a questão das autorizações para ela cá residir.
Foram objecto de investigação por parte das autoridades, o SEF, para se apurar se se trataria de um casamento como é geralmente concebido ou de um esquema para que ela cá pudesse viver sem necessitar das autorizações temporárias que os serviços emitiam.
Uma das coisas que os diligentes investigadores procuraram foi fotografias. Na praia, em festas com amigos, namorando, em casa… queriam fotografias que demonstrassem que o seu relacionamento existia de facto e com o conhecimento e vivência com terceiros. E não um mero relacionamento de ocasião.
Claro que se põe sempre a possibilidade de, a existirem, serem encenadas para enganar quem as procurasse. Tal como existe sempre a possibilidade de não terem câmara (a história tem uns anos valentes e o digital não estava assim tão arreigado no quotidiano) ou de terem alguma aversão a serem fotografados. Um, outro ou os dois.
Mas pergunta-se pertinentemente: onde raio está escrito que a vida de alguém tem que estar documentada fotograficamente?


Como conclusão, acrescento que acabaram por se casar e são felizes.

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sábado, 11 de novembro de 2017

Irrepetível



A fotografia funciona como uma tesoira:
Com o seu enquadramento, recorta de um continuo espaço/tempo um pedaço de ambos.
Tal como Prometeu roubou o fogo a Zeus, também o fotógrafo rouba um nico do tempo e do espaço, aprisionando-os entre quatro paredes.

É por isso mesmo que um fotógrafo que o seja não consegue deixar de fotografar: apercebe-se de quão fútil é a sua tentativa, sendo a vida e o universo o que são. E procura, com a multiplicidade dos seus registos, reconstruir aquilo que o obturador e o enquadramento recortam.

O enquadramento perfeito e o instante decisivo são tão mitológicos quanto Prometeu e Zeus. E assim será interpretado quando, daqui por 3.000 anos, estudarem o que fazemos hoje.

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Formas e linhas nocturnas com telemovel



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domingo, 5 de novembro de 2017

Quando o próximo não está próximo



Tinham ambos - um casal jovem com roupas domingueiras - a bíblia debaixo do braço.
E abrigavam-se no interior do prédio do vento fresco que soprava no exterior, aguardando, como soube mais tarde, por alguém que os viria buscar.
Quando tentei sair tive enorme dificuldade em manobrar tudo o que transportava e, ao mesmo tempo, lidar com a forte mola da porta do edifício, que existe para a manter fechada.
Não tugiram nem mugiram.
Quando regressei do contentor de lixo ainda lá estavam. E tiveram que me ouvir.
“Então têm a bíblia na mão, viram-me com toda aquela dificuldade, e não foram capazes de dar dois ou três passos para segurar a porta? O “ajudar o próximo” é bom de ler no Livro, de apregoar em modo missionário e de entoar no templo. Agora a prática quotidiana… Não têm vergonha?”
Ficaram meio sem jeito e disseram, atabalhoadamente e com o seu sotaque de terras de vera cruz, que já ali estava quem os vinha buscar. E zarparam rapidamente.

Mas também não esperava eu qualquer resposta construtiva.

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Três R's



É sempre interessante ver como algumas expectativas não se frustam.
Neste meu “levantar de acampamento”muito tenho encontrado por aqui que me faz perguntar o que faz aqui.
Claro que quando chegou fez sentido, algum pelo menos. Para uso doméstico ou fotográfico. Mas o ter guardado… Ou mesmo construído, adaptado, ajeitado…
Boa parte disso é-me hoje inútil. Pior: prejudicial ou incómodo no futuro próximo.
A solução é livrar-me disso, sem mais emoções que um eventual recordar da função que teve.
Mas tratando-se de objectos não deteriorados, ainda utilizáveis, absurdo seria a sua destruição ou mera entrega à recolha indiferenciada ou selectiva de lixos.
Assim, tenho optado por colocar tais objectos ou grupos de objectos junto dos contentores de lixo, no exterior, na expectativa de que alguém se interesse por eles antes do passar da recolha municipal.
Não me tenho enganado.
Hoje é domingo e esta noite não houve recolha.
Mas às sete e meia da manhã, aquando de um cafezinho que contrarie a frescura do dia, todos esses objectos ali colocados ontem à noite tinham sido recolhidos.
Mais ainda: nalguns casos, alvo de trabalhos específicos, como o desmontar de alguns conjuntos, aproveitando apenas partes deles.
De algum modo fico satisfeito por tudo isso vir a ser útil para alguém. Pena é que se trate de pessoas que fazem dessa recolha selectiva o seu modo de vida, dependendo disso a comida que põem na mesa.
Reduzir, reutilizar, reciclar.

Quanto ao café matinal… pedi um segundo, que o primeiro soube-me a pouco.


Nota adicional: A tal luz de que tanto gosto

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