terça-feira, 30 de junho de 2015

Depois dos orgasmos...



... do redondo dentro do rectangular, a tranquilidade.

By me

Uma hora





Ainda bem que li “há uma hora atrás”!
Que se fosse “há uma hora ao lado” ficaria sem saber se era do lado esquerdo se do lado direito.

By me

Liberdade





A liberdade é algo de vital ao ser humano.
Se em grupo, a democracia é-lhe inerente (se excluirmos a acracia).
Estão tão ligados, um e outro, como um aurículo e um ventrículo.
Se num grupo, pequeno ou muito grande, impedirmos a democracia e limitarmos a liberdade de decidir, teremos algo que já provámos e que nenhum gostou.

E não! Estas palavras não acontecem por mero acaso!
Não antevejo nada de bom se continuarmos a entender que liberdade e democracia são apenas aquelas coisas que fazemos de quando em vez num papel que depois dobramos em quatro. Quando o fazemos. 

By me

Pois





Certo:
Mesmo não sabendo nada de línguas, há quem tenha uma sentido de humor…
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segunda-feira, 29 de junho de 2015

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Alegoria





Temos passado o tempo a ver o mundo através de sombras.
E quando alguém sai e enfrenta a luz do sol, vendo as cores da vida, chamam de loucura àquilo que relata e quer fruir.
Grosso modo, esta é a alegoria da caverna, concebida por Platão há uns milénios.

As sombras da austeridade, as sombras do desemprego, as sombras das ameaças de falência, as sombras da fome, as sombras das imposições de entidades bancárias sobre a forma como devemos organizar a nossa vida…
As nossas vidas são prenhes de sombras!

Sabiam que Platão era grego?

By me

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Correndo o risco de entrar em terrenos pantanosos, a actual crise europeia (sim, porque a crise é europeia não apenas grega, como nos querem fazer crer!) recorda-me uma cena bíblica em que uma figura de destaque se insurge contra os agiotas. 
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Autoclismos





À saída do trabalho costumo passar pelo sanitário. Lavo as mãos e deixo lá ficar outro tipo de dejectos que, em sentido figurado ou real, lá tenha adquirido. Assim, ao cruzar a cancela de saída, deixo ficar para trás algum do lixo que me tenha contaminado. Nem sempre o consigo, mas tento!
Desta feita encontrei um dos urinóis meio coberto por um papel onde nos informavam que o autoclismo estava avariado.
Tecnicamente falando, não se trata de um autoclismo, com depósito e descarga súbita. É, antes sim, um botão de pressão, cuja força, conjugada com a da água na canalização, regula o fluxo de limpeza.
Pensava eu nisto, frente à loiça do lado, e recordei uma historieta bem velha, com barbas ainda maiores que as minhas.

A Senhora Marquesa vivia num palacete antigo. Nos seus aposentos privados havia um sanitário igualmente antigo, cujo autoclismo era contemporâneo ao edifício. Colocado lá no alto da parede, junto ao teto, era accionado por uma corrente metálica com puxador de loiça decorado a condizer com as restantes da sala.
Acontece que, devido à idade, começou a junta de descarga a ganhar folga e a produzir uns pinguitos não muito simpáticos. Jarbas (nome eterno, junto com Baptista, para mordomo) tratou de telefonar para uma empresa de canalizadores a fim de resolveram a questão Com recomendações bem insistentes em que deveriam ser pessoas bem-educadas, já que estariam no interior dos aposentos privados da Senhora Marquesa.
O patrão da oficina escalou os seus dois melhores funcionários para o dia seguinte, acrescentando às instruções recebidas um sério aviso para o caso de não serem respeitadas.
Foram os homens e, no regresso, tinham o patrão à porta, à sua espera, esbracejando, protestando, gritando.
“Seus biltres, o que foram fazer!? Jarbas acaba de me telefonar, protestando contra o vosso comportamento, indigno da tarefa e local! Parece que andaram por lá aos gritos e palavrões!”
“Nós? Nem nada! Correu tudo impecavelmente! "
“Pois foi.”, acrescentou o segundo. “O furo reparado, o lixo e a água apanhados… Tudo muito bem feito. Só se foi quando eu estava a segurar a escada para o João tapar a fuga e eu lhe disse para ter mais cuidado, pois havia acabado de deixar cair um pingo de solda no meu olho!”

Acreditem! Saí do trabalho muito mais aliviado, bem-disposto, com um sorriso de orelha a orelha!

By me

Só para que conste





A subversão não é um movimento, uma organização nem mesmo uma atitude.
Não é nem de esquerda nem de direita.
A subversão é um estado de alma, uma forma de estar na vida, um querer sempre alcançar a linha do horizonte.
E são sempre os subversivos que vencem, mesmo que muito depois de serem esquecidos. 

By me

domingo, 28 de junho de 2015

Outra versão de um clássico


Primeiro quiseram f@&€R-m€ o juízo,
mas como sempre fui louco…
Depois quiseram f@&€R-m€ o dinheiro,
mas como sempre vivi com pouco…
De seguida quiseram f@&€R-m€ a saúde,
mas como sempre abusei das coisas…
Por fim quiseram f@&€R-m€ a vida,
mas como já estava morto
acabou-se-lhes o gozo!

Espero por eles lá em baixo!

By me

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“E ao sétimo dia descansou.”, lê-se num livro importante.
E vai continuar no bem-bom ou levanta-se e vem resolver toda esta confusão que criou? 
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Tralhas





Há uns anos valentes fui chamado de urgência à escola onde tinha trabalhado.
Havia uma turma, vinda inteirinha de outra escola mandada fechar pelo ministério, que estava anormalmente mal preparada e haveria que fazer algo para a melhorar. Algo fora do normal que permitisse aos alunos recuperar tempo perdido.
Ponderadas as diversas possibilidades, juntei uma “task force” de professores e avançámos para um trabalho de ficção. Os conteúdos a aprender surgiriam no decurso do trabalho orientado e à medida das dúvidas e dificuldades.
Acabámos por optar por um texto de algo que então estava em voga televisivamente: “As lições do menino Tonecas”. Nos textos originais, escritos por Oliveira Cosme havia mais meio século, alguns não aconteciam na sala de aula e escolhemos o que se passava numa barbearia.
Permitia isto diversos espaços cénicos num só lugar, vários intérpretes e várias marcações de actores, implicando o recurso a diversas técnicas de captação, tanto de som como de imagem e iluminação com uma só câmara. E as respectivas técnicas de edição posterior.
Concebeu-se um cenário minimalista no estúdio da escola, mas respeitando o conceito de barbearia e de acordo com o texto, e tratei de encontrar os adereços necessários à acção e ao seu complemento.
Recordo que o mais difícil de encontrar foi uma navalha de barba. Não queria eu colocar nas mãos daqueles jovens uma navalha real. Como se imagina, a possibilidade de um acidente era demasiado elevada para que corresse esse risco. Mas acabei por encontrar uma, nas mãos de um velho profissional de teatro, que sendo real tinha-lhe sido retirado o gume. Sem perigo, portanto.
Ainda tenho aqui por casa alguns dos que tive que então fabricar, como os frascos do álcool e do pó de talco, com rótulos inventados como se da época se tratassem. Tal como o lápis hemóstatico, o “Cutolinie”, usado para estancar o sangue nos cortes do fazer a barba, (coisa que é sabido eu não usar). E mais isto e aquilo que o texto pedia ou que os alunos sugeriram.
Aquilo de que não nos lembrámos (ou se lembrámos não encontrámos, já não me recordo) foi uma tesoira destas. Vital num barbeiro que se preze, pelo menos desde que me lembro de ir ao barbeiro, que também é coisa que não faço há muito.
Pois imagine-se a cara daquele senhora chinesa, mal falando e percebendo português, quando entrei na sua loja um destes dias e lhe disse que queria esta tesoira. Olhou para mim e para a embalagem no expositor umas duas ou três vezes antes de se decidir a vender-ma. A preço de loja chinesa, entenda-se.
Pois se um dia tiver que avançar com um projecto semelhante, esta já cá canta, tal como a navalha de barba, que entretanto também encontrei, mas a que ainda não tirei o gume.
Tralhas aqui de casa!


Nota fotográfica adicional: O complicado ao fotografar objectos metálicos polidos é fazer com que os reflexos, em regra incómodos e a evitar, trabalhem em nosso favor, mostrando o material que estamos a fotografar e a eventual ausência de textura da sua superfície.

By me

Ensaio





A fotografia pode ser doce e suave ou amarga e forte ou aquilo que quisermos, dependendo principalmente da forma como a fazemos e a vemos.
Abaixo vos deixo um pedaço, por sinal o fim, de uma obra de Vilém Flusser: “Ensaio sobre a fotografia”.
Recomendo-a vivamente a todos os que se debruçam sobre fotografia, sobre a produção de imagem e, principalmente, sobre a vida.
Deixo, no entanto, o sério aviso de que não sou responsável p’los vossos actos depois de a lerem.

"…/…
A tarefa da filosofia da fotografia é dirigir a questão da liberdade aos fotógrafos, a fim de captar a sua resposta. Consultar a sua praxis. Eis o que tentaram fazer os capítulos anteriores. Várias respostas apareceram:
1. o aparelho é infra-humanamente estúpido e pode ser enganado;
2. os programas dos aparelhos permitem introdução de elementos humanos não previstos;
3. as informações produzidas e distribuídas pelos aparelhos podem ser desviadas da intenção dos aparelhos e submetidas a intenções humanas;
4. os aparelhos são desprezíveis.
Estas respostas, e outras possíveis, são redutíveis a uma: a liberdade é jogar contra o aparelho. E isto é possível.
No entanto, esta resposta não é dada pelos fotógrafos espontaneamente. Só aparece como escrutínio filosófico da sua praxis. Os fotógrafos, quando não provocados, dão respostas diferentes. Quem lê textos escritos por fotógrafos, verifica crerem eles que fazem outra coisa. Crêem fazer, "obras de arte", ou que se comprometem politicamente ou que contribuem para o aumento do conhecimento. E quem lê uma história da fotografia (escrita por um fotógrafo ou por um crítico), verifica que os fotógrafos crêem dispor de um novo instrumento para continuar a agir historicamente. Crêem que, ao lado da história da arte, da ciência e da política, há mais uma história: a da fotografia. Os fotógrafos são inconscientes da sua praxis. A revolução pós-industrial, tal como se manifesta, pela primeira vez no aparelho fotográfico, passou despercebida aos fotógrafos e à maioria dos críticos da fotografia. Eles nadam na pós-indústria, inconscientemente. Há, porém, uma excepção: os chamados fotógrafos experimentais; estes sabem do que se trata. Sabem que os problemas a resolver são os da imagem, do aparelho, do programa e da informação. Tentam, conscientemente, obrigar o aparelho a produzir uma imagem informativa que não está no seu programa. Eles sabem que a sua praxis é uma estratégia dirigida contra o aparelho. Mesmo sabendo, não se dão conta do alcance da sua praxis. Não sabem que estão a tentar dar resposta, através da sua praxis, ao problema da liberdade num contexto dominado por aparelhos, problema que é, precisamente tentar opor-se.
Urge uma filosofia da fotografia para que a praxis fotográfica seja consciencializada. A consciencialização dessa praxis é necessária porque sem ela, jamais captaremos as aberturas para a liberdade na vida do funcionário dos aparelhos. Noutros termos: a filosofia da fotografia é necessária porque é uma reflexão sobre as possibilidades de se viver livremente num mundo programado por aparelhos. Uma reflexão sobre o significado que o homem pode dar à vida, onde tudo é um acaso estúpido, rumo à morte absurda. Assim vejo a tarefa da filosofia da fotografia: apontar o caminho da liberdade. Filosofia urgente por ser ela, talvez, a única revolução ainda possível."


By me

sábado, 27 de junho de 2015

Shhhhhh



Quando os nazis levaram os comunistas, eu calei-me,
porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me,
porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei,
porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei,
porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram,
não havia mais quem protestasse"

Martin Niemöller

By me

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Contou-me um passarinho que se prepara uma proposta a apresentar na Assembleia Municipal de Almada, com o fito de passar a chamar ao pedaço de terra que medeia entre o Parque das Nações e a Torre de Belém de “Almada North Bank”.
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Palmas, claro. E no entanto...





Se gosto da decisão do primeiro-ministro grego? Naturalmente que sim!
No fim de contas, um governante deve cumprir a vontade do seu povo e se tiver dúvidas sobre qual ela é, deve questioná-lo.
Pena é que nos chamados “países democráticos” isto não suceda. Portugal incluído!
Portanto: Palmas para os gregos, que têm a governá-los alguém que sabe o que é democracia! E que a pratica!
No entanto…

No entanto não devemos ter ilusões!
Esta foi uma jogada política de fino recorte, tanto interna como externa. Brilhante, mesmo!
Ao mesmo tempo que apazigua os ânimos internos, desviando de si o ónus de qualquer responsabilidade nas negociações com os governos europeus e troika, confronta estes com a decisão de uns milhões de europeus, tornando pouco significativas ou importantes as opiniões de governos e banca num sistema dito democrático. Está a dizer àqueles com quem se irá reunir hoje e nos próximos dias que aquilo que lhes for imposto afecta milhões e não apenas aqueles governantes gregos na sala. E está a dizer aos demais governantes europeus, bem como à banca, que mais importante que as suas decisões é a opinião do povo que representam. E está a questionar os seus interlocutores sobre se quererão correr o risco de decidirem à revelia dos povos que representam.
Está, em última análise, a questionar os países europeus sobre a democracia que praticam e sobre quem dá lições de rectidão e transparência a quem.

Aconteça o que acontecer nos próximos tempos, a Europa não mais será a mesma.

Imagem: algures da net
By me

O jardim





Esta é uma fotografia daquilo que é hoje o “Jardim do Arco Cego”. Em tempos este espaço foi parte integrante da central rodoviária da cidade. E, antes disso, foi uma das estações de carros eléctricos e autocarros de Lisboa.
Posta esta questão história, a questão pessoal: tenho por este espaço uma relação de amor-ódio ainda não resolvida.
Gosto do lugar pelo seu arranjo paisagístico, pouco comum na cidade, pela frescura e espaço livre que veio criar onde não havia, pelo minimalismo do seu mobiliário urbano (poderia ser melhor e em mais quantidade, mas gosto do que existe).
E gosto das pessoas que o utilizam, tanto dos aqui trazem os seus cães para umas saudáveis corridas e confraternizações como dos estudantes universitários que fazem dele, ao cair da noite, o seu ponto de encontro, mais tranquilo ou mais exuberante como lhes é peculiar. Sei que a vizinhança, conservadora, não gosta destes visitantes ao “seu” espaço, mas a cidade é de todos.
O meu “não agrado” pelo local acontece por ainda não ter conseguido dele fazer uma fotografia da qual possa dizer “este é o jardim”.
Tenho umas dezenas, quiçá centenas, de fotografias aqui feitas, pese embora não ser a minha zona da cidade, e ainda não consegui ficar plenamente satisfeito com nenhuma delas. Não creio que haja em Lisboa um local que me provoque tamanha frustração!

Esta foi feita ontem, quase às dez da noite.
Não estava planeado fazê-la, nem sequer a minha presença no local. Recorri à minha câmara de bolso e ao improvisado suporte de uma aparelho de ginástica de manutenção ali existente.
Ainda não é “A” fotografia deste jardim. 

By me

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Pequenos prazeres fotográficos



Sentar-me num fim de tarde, que não sei se estival se primaveril, num banco de uma rua quase só pedonal, no centro de Lisboa, a estrear um recém-comprado livro com ensaios sobre fotografia.


By me

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“Born in the 90’s”, trazia aquela mocinha orgulhosamente estampadas na T-Shirt bem curva,
Creio que vou mandar imprimir uma outra, igualmente preta e com letras também brancas, com os dizeres “Born in the 50’s”.

Mais abaixo, na curvilínea barriga, constará: “And counting!”
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Bilhete postal



Quem conhecer bem a cidade de Lisboa, nas suas vivências díspares, reconhecerá o edifício. Fica na avenida 5 de Outubro e é um local importante.
Quem não conhecer bem a cidade de Lisboa talvez não o reconheça. Afinal, as reportagens que têm sido feitas junto a ele raramente mostram o que está lá em cima.
Mostram, antes sim estas grades e a quantidade de gente que é por elas contida. Tal como os cartazes, as faixas, os gritos de palavras de ordem e os polícias que vigiam atentamente a ordem pública, fazendo questão de manter as manifestações à distância legal do edifício oficial.
Trata-se, talvez já tenham adivinhado, do ministério da educação.
Triste, mas triste mesmo, é em frente a este ministério, que deveria ser o garante da liberdade do conhecimento, estar permanente preparado com estas grades para conter e impedir manifestantes.
Estão elas aqui vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano.

Para quem queira saber onde têm acontecido manifestações de desagrado à actividade governativa basta procurar onde se arrumam, na via pública, grades. São muitas mais do que gostaríamos que fossem.

By me

Embaraços

Complicado, mas complicado mesmo, é entrar num restaurante onde vou umas três ou quatro vezes por ano, não mais porque é carote, e quem me atende saber que prefiro o pão saloio às tostas, qual o vinho que costumo beber, que fico sempre no mesmo lugar e qual o dia do ano que regularmente lá vou.
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Seguindo o exemplo que vem lá do Norte, proponho que se faça em Lisboa uma cerimónia única:
A queima do coelho, o tal.
Poderá ser bárbaro e coisa e tal, mas acredito que alguns milhões de Portugueses haveriam de aplaudir, incluindo os defensores dos direitos dos animais.
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Vendo de longe





Muito se vai dizendo e escrevendo (e pensando) sobre a questão grega.
O País, a EU, as instâncias internacionais, as vontades dos cidadãos e as vontades das bancas, atribuindo culpas ao passado, ao presente e antevendo futuros mais ou menos sombrios. No curto e nos médios e longos prazos.
Aquilo que não vejo, ou oiço, é uma análise bem mais alargada. Fala-se da dor de cabeça e da aspirina, mas não do motivo da dor.

Do meu ponto de vista, decorre neste momento uma guerra mundial.
Não como conhecemos as anteriores, com bombas e baionetas, mas económica, em que os cidadãos, tal como nas outras, são carne para canhão.
Acontece, porém, que ao contrário das anteriores, existem não duas mas três as forças em conflito. A saber: União Europeia, EUA e China.
Qualquer uma delas a tentar impor-se às restantes, com duas frentes de combate cada uma.
Acontece que não é fácil manter duas frentes de combate com dois oponentes. Não é militarmente racional nem logisticamente eficiente.
Aquilo que se faz, e fez, são alianças ou tréguas temporárias entre dois dos beligerantes, para derrotarem o terceiro, guardando para mais tarde o embate entre si.
A Europa é o elo mais fraco nestes três. Nem se entende dentro dela, quanto mais ter força para enfrentar os restantes!
De um modo ou do outro, quer seja através do estrangulamento de recursos financeiros, quer seja através de uma invasão de produtos, quer seja com “acordos” notoriamente vantajosos para uma das partes, a Europa vai perdendo terreno aos poucos, quer com as questões internas, quer com a submissão económica exterior.
Quando a Europa e a sua União mais não for que a manta de retalhos que já é mas completamente rota e desfiada, assistiremos então ao embate entre os gigantes, de um lado e do outro do Pacífico.

A questão Grega? Uma batalha nesta guerra global. Os Gregos? Aqueles que ficam a defender a barbacã, sabendo-a condenada mas cujo sacrifício servirá, eventualmente, para obter resultados numa estratégia bem mais alargada.
A questão Portuguesa? Outra batalha. Os Portugueses? Defendendo uma segunda linha, sabendo que as muralhas atrás de si estão fechadas e que serão esmagados se a primeira linha cair.
Quando a primeira linha cair! 

By me

Chamem-me o que quiserem





Uma das questões que mais atrapalha e comanda os comportamentos é o estar-se ou não integrado numa dada sociedade ou grupo.
E, com isso, controlar os seus comportamentos pelos comportamentos medianos, por aquilo que a “sociedade” define como correcto e não criticável.
Nada de mais errado, absurdo, contraproducente e castrante!

Esta atitude não permite o desenvolvimento e a felicidade do indivíduo, com todas as suas características e potencialidades!
Apenas o transforma em mais um número, ajustando-se à mediania, com receio de ser diferente, notado, apontado a dedo, marginalizado em última análise.
E o erro, a meu ver e ainda ninguém argumentou e me convenceu em contrário, está na definição de “pertencer à sociedade”!
O que de facto acontece, e que poucos são os que o reconhecem ou afirmam e menos ainda os que agem em conformidade, é que no lugar de se pertencer, é-se a sociedade.
A sociedade é o conjunto de todos, com todas as vantagens do grupo e de cada um dos indivíduos. Não se integra a sociedade mas antes molda-se a sociedade à medida de cada um. E a soma de todos os “uns” forma o conjunto!
A contribuição que cada um faz nela, o empurrão que cada um dá no seu trajecto é que define o seu rumo, as suas regras, as suas leis e os comportamentos do todo.
Estas não são definidas por uma qualquer entidade obscura, mítica e autocrática, mas antes pela vivência e vontade de cada um dos seus componentes.
Andar nu, de fraque ou com nariz vermelho e grande é igualmente legítimo!
Ter este ou aquele comportamento apenas porque o grupo o define e não porque o queremos, é integrar um grande rebanho onde os pastores, filósofos, gestores ou políticos nos conduzem pela certa através de um pasto verdejante até ao matadouro ou altar onde nos sacrificam aos seus interesses privados ou entidades divinas.

Pela parte que me toca, tenho comportamentos que estão de acordo ou em desacordo com os que me cercam, não porque eles o querem ou o censuram mas antes porque eu o quero e eu sou a sociedade.
Sem todos os eus, a sociedade não existia!

By me

quinta-feira, 25 de junho de 2015

A pessoa mais importante





O universo existe e nós apercebemo-nos disso e interagimos com ele. Lá longe, com sondas espaciais e rádio-telescópios e aqui mesmo ao lado, à distância de um braço.
Mas, e para termos a noção dessa tri-dimensionalidade, e antes de usarmos qualquer tipo de equipamento, recorremos ao que a natureza nos deu: a visão.
Mas e como raio a visão nos dá essa noção das três dimensões? De variadas formas, todas conhecidas mas sobre as quais há que pensarmos um nico.
Desde logo, e de um ponto de vista meramente fisiológico, pela convergência maior ou menor que os nossos olhos assumem ao olharem um mesmo assunto. Essa posição relativa, e o consequente esforço muscular para o conseguir, diz ao cérebro a que distância se encontra o objecto em causa. Transpusemos isso mesmo ao construirmos telémetros, tanto para efeitos civis como militares.
Também do ponto de vista fisiológico, a questão da nitidez ou focagem. Temos a noção de distância pelo esforço muscular na correcção do cristalino: quanto maior a curvatura que provocamos, mais perto de nós está o assunto.
Em seguida, e por questões meramente neurológicas, as diferenças entre as imagens que ambas as retinas enviam ao cérebro. Aprendemos a interpretar essas diferenças e a deduzir delas a distância a que se encontra o objecto que vemos. Chamamos a isto “visão estereoscópica”.
Acrescente-se aquilo que aprendemos: os tamanhos relativos de objectos conhecidos. Sabemos que uma caneca é maior que uma chávena. Se a chávena aparentar ser maior que a caneca, deduzimos que estará mais perto de nós. A isto damos o nome de “perspectiva”.
Some-se a sobreposição dos objectos. Se um objecto estiver à frente de outro, estará mais perto. Perspectiva, novamente.
Por fim as sombras. Temos a noção mais ou menos real do momento solar em que nos encontramos e as sombras dos objectos dão-nos, pelo seu tamanho e orientação, o volume que corresponderá à terceira dimensão. Chamamos a isto iluminação. Quer seja a oriunda do sol, quer seja a que produzimos com os nossos equipamentos.

Repare-se que a nossa actividade – produtores de imagem – é na sua essência o transformar a nossa percepção da tridimensionalidade do mundo num suporte de duas dimensões. Quem não souber o que acima descrito, desta forma ou de qualquer outra, e não souber tirar partido da perspectiva e da luz para reproduzir com eficácia as três dimensões em apenas duas, bem pode ir limpar as botas. Não passa de um fotocopiador com pernas.

Nota adicional: alguém sabe quem é a pessoa mais importante nesta fotografia? Ou mesmo porque é que é a mais importante? 

By me

As cadeiras





Não tem muito que saber:
Estou velho, c’os pés p’ra cova, fora de moda, membro de uma geração em vias de extinção!

À porta do supermercado cá do meu burgo os artigos de praia que não cabem lá dentro. Drapejando ao vento, um exemplar em exibição em cima das caixas virgens, apelando à frescura e tranquilidade do seu uso.
Achei-lhes graça. Mais ou menos.
O riscado colorido desta em primeiro plano apelava à minha memória de sombras fresca em praias quentes ou de refrescos bebidos sob frondosos pinheiros em fins de semana quase campestres.
O padrão da cadeira do fundo nada me disse que não fosse recordar-me de azulejos de casa de banho, igualmente frescos em dias de calor, mas não apetecíveis para sentar e desfrutar.
Fui olhar com mais atenção.
A lona é fina e as costuras antecipam poucos verões. Faz sentido, numa sociedade de consumo como a nossa. Mas retira o prazer de, todos os anos, usarmos a nossa cadeira favorita, que não existirá.
As travessas de madeira têm, se a memória bem mo recorda, metade da largura das antigas. Mais leves de transportar, mais fáceis de arrumar e menos resistentes a corpos pesados ou brincadeiras mais pueris ou nem tanto. A tal ponto o são que o sistema de encaixe não comporta integralmente a respectiva travessa e teve que ser reforçado com pecinhas em plástico. Um ano? Dois anos? Nem me atrevo a especular na sua durabilidade.
Mas achei graça ao regresso ao passado.

Fiz as compras que haveria de fazer e, já de saída, vejo uma das empregadas da loja com ar de quem não tem muitos afazeres no momento. E, tendo eu um nariz mais comprido que a minha barba, abordei-a.
Questionei-a sobre quais as cadeiras que mais se vendem: as riscadas ou as de azulejo.
Qual não foi a minha surpresa quando me disse que são as azulinhas. Que as de riscado colorido quase não têm saída.

Confesso que não me vejo a procurar a frescura e tranquilidade nas paredes de uma casa de banho. Agora nas paredes de uma barraca de praia…
Mas talvez seja eu que estou velho, c’os pés p’ra cova, fora de moda, membro de uma geração em vias de extinção!

Nota fotográfica adicional:
O difícil mesmo foi encontrar um momento de calmaria na brisa fraca e inconstante, por forma a conseguir aquela sombrinha em forma de barriga que demonstrasse a curvatura do tecido em ambas as cadeiras.


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A lei do funil





Estávamos no trabalho, numa pausa entre tarefas.
Para exemplificar o que estava a explicar tive que recorrer a uma fotografia que havia publicado recentemente. E puxei do meu portátil, ligando-o e inserindo a pen de acesso à rede.
Perguntou-me o meu interlocutor:
“Então mas tu usas isso aqui? Não usas a rede wi-fi interna?”
“Não!” respondi. “A rede interna é para questões de serviço e agora é uma questão particular. Tal como não uso o que é particular para trabalho.”
“Mas… assim estás a pagar!”
“Estou! Mas se nunca ultrapassei o plafond contratado, viver de acordo com os nossos princípios é bem mais importante que apenas apregoa-los. E eu faço questão de não ter vergonha ao olhar para o espelho.”
“Ahhhhhhh…”

Não creio que o meu interlocutor tenha entendido a minha posição. Nem quem estava por perto, que se riram e acrescentaram umas graçolas pouco edificantes.
Mas sei, para além de qualquer dúvida, que de pouco adiantaria ir mais longe. Que, para alguns, a lei do funil e o chico-espertismo são as molas da vida que se sobrepõem a tudo o resto. 

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quarta-feira, 24 de junho de 2015

Just for the fun – pseudo simetrias



Ou, se preferirem, como por vezes é a imagem que se sobrepõe ao objecto.
Ou ainda, por outras palavras, como o protótipo se anula perante a sua reprodução.
Note-se que o que se vê é uma fotografia de uma fotografia: o corrimão e a torneira e cano tornados perceptíveis não por eles mesmos mas pelo que a luz e sombra dele nos mostram.
Será mais importante a fotografia (ou a imagem) ou o objecto fotografado? Nos tempos que correm, e do modo como a fotografia – fazer e observar – se tornou omnipresente e omnipotente, as mais das vezes o valor é dado a ela, fotografia, e não ao que ela representa.

A título de exemplo, refiro Kim Phuc, a menina queimada por napalm, no Vietnam em 1972 e fotografada por Huynh Cong. Hoje sobrevive a fotografia e pouco ou nada da menina, hoje mulher, em sofrimento terrível.

By me